B1

Sinto uma movimentação estranha na cama, e um som típico de falta de ar...Merda!

— Lucca! - Grito levantando da cama.

Nada.

Dou a volta no quarto e o vejo todo encolhido perto da varanda, corro até seu encontro.

— Hey, calma... - Peço envolvendo seu enorme corpo em um abraço - estou aqui contigo, vai dar tudo certo.

Lágrimas começam a encharcar meu pijama. Levanto sua cabeça e ele imediatamente encosta sua testa na minha, seu olhar é de desespero...pura dor.

— Respira fundo. - Peço e vejo sua respiração se estabilizar.

— Eu...eu tive...um sonho. - Fala em meio as lágrimas.

Desde que voltou ele vem tendo inúmeros ataques de pânico, voltou a ter consultas com o doutor Luís, acabo indo junto. Me doí tanto vê-lo sofrer.

— Eu sei, mas agora já está tudo bem, você está em casa. Comigo e com os seus filhos. - Explico calmamente e vejo suas pupilas se dilatarem em meio à luz da noite.

— As crianças... - Sussurra e sai do abraço bruscamente, correndo até a porta de saída

Ele também está com medo de que algo aconteça com nossos filhos, está totalmente debilitado e assustado, já não sei mais como ajuda-lo.

Quando o encontro ele está do lado da cama de Lucca, o encarando atentamente, quase que esperando para que algo aconteça e ele esteja ali para socorrer.

— Amor, ele está bem. Todos estamos bem, nada vai acontecer. - Sussurro ao pé de seu ouvido.

— É que... - Começa a falar, mas é interrompido por um choro fininho, que o deixa mais alarmado ainda.

— Ela só está com fome. - Mal termino de falar e ele já correu para o quarto da frente.

Corro até o quarto de nossa menina e ele está a segurando protetoramente em seus braços, tentando de tudo para que ela pare de chorar, mas só eu tenho a cura para isso.

— Dá ela aqui. - Peço, estendendo meus braços, e ele me entrega nossa bolotinha.

— Me desculpe, eu não queria que você tivesse que passar por isso. - Fala enquanto me vê alimento Alice.

— Lucca, estamos juntos. - Explico e ele me olha triste. - O seu sofrimento é o meu sofrimento, assim como sua felicidade é a minha. Escolhemos ficar juntos, dividir uma casa, ter filhos... e eu estarei aqui para você todos os momentos, assim como sei que você estará para mim. Eu escolhi isso por que te amo, e vamos superar isso juntos, certo? - Pergunto e espero que ele assinta, mas apenas me encara, meio desnorteado.

— Eu nem sei como te agradecer por tudo que fez por mim. - Olha diretamente em meus olhos e se senta no braço da poltrona. - Eu realmente não te mereço.

— Não mesmo, mas fazer o que? Decidi me apaixonar por você... - Brinco um pouco e o vejo sorrir.

— Eu te amo. - Declara e vem para mais perto, quando está prestes a me beijar, Alice começa com o berreiro.

— Parece que tem alguém com ciúmes. - Faço uma voz fininha e Lucca olha encantado para a filha.

— Vem com o papai. - Pede estendendo os braços e eu a entrego, e em seguida ele a coloca para arrotar.

— Mamãe? – Luquinha adentra ao quarto coçando os olhos.

— O que aconteceu? – Indago, caminhando em sua direção, seguida por Lucca.

— Posso ficar com vocês? – Indaga estendendo os bracinhos em minha direção.

— Claro! – O acalento em meu colo e ele esconde a cabeça na curva do meu pescoço.

Olho ao redor e Lucca encara a situação com os olhos brilhando, em seus braços Alice já se encontra adormecida

— Vai dar tudo certo, né? – Pergunta, ficando mais perto de nós.

— Pode ter certeza que sim. – Afirmo, e ele beija calmamente meus lábios.

A guerra acabou por assim dita, não existem mais explosões, tiros, pessoas estiradas, desmembradas...isso acabou. Mas a guerra mental de Lucca, e de todos os outros soldados, não vai acabar nunca.

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B2

A areia começa a pinicar meu pé no mesmo instante que Lucca começa a falar seus votos.

— As coisas nunca começaram fáceis, e mesmo com o fim delas, sempre vinha uma dificuldade, essa que eu sempre tive certeza querer passar ao seu lado. Bom, nós realmente não começamos as coisas com o pé direito, foram quase dez anos para finalmente nos reencontrarmos e enxergar que seria muito melhor se continuássemos juntos. – Respira fundo e olha intensamente em meus olhos. – Quando digo que você me salvou de meu próprio abismo, é por que é verdade, e sabe que não foi apenas uma vez. Quando digo que você é a mulher da minha vida, nem ouse achar que é mentira. Quando digo que depois de você e nosso filho voltei a sorrir, é a mais pura verdade. Mas, quando digo que te amo, aí você pode desconfiar, pois nomear o que sinto por você é impossível, e o amor é uma palavra muito pequena. – Fala por fim e agora as lágrimas que pinicam o meu rosto.

— Uou, será que dá? – Pergunto emocionada e risadas misturadas de lágrimas invadem a praia. – Você reapareceu em um momento nada esperado, assim como o sol radiante surge no inverno, você apareceu para mim. E como poderia eu negar a sua presença? Como poderia negar que aquilo era realmente para acontecer? Então, meti a cara, me entreguei de corpo e alma para você. Não consigo contar nos dedos a quantidade de coisas que fiz por pura impulsividade por você, e também não sei medir o tamanho de meu amor por você. Nada nunca foi um mar de rosas, foram acontecimentos ruins seguidos por acontecimentos ruins, mas creio eu que conseguimos achar uma luz nesse mar de coisas ruins. Consegui finalmente encontrar a felicidade completa e concreta. Consegui as últimas duas peças para completar meu quebra cabeça, esse que de hoje em diante, é indestrutível. – Acabo e ele me olha com lágrimas brilhando em seus olhos.

— Então, eu vós declaro marido e mulher. – O Juíz de paz dita. – Pode beijar a noiva. – Consente e Lucca puxa meu rosto para si, me beijando até o ar faltar e escutando a salva de palmas dos ali presentes.

E claro, agora duas mãozinhas puxando meu vestido de noiva em busca de atenção.

— Agora que a gente vai ver o Mickey? – Luquinha pergunta ao lado da irmã, que acaba de completar dois anos.

— É agora que nossa vida começa de verdade. – Lucca declara puxando os dois para mais perto.