A manhã do dia 27 de março de 1977, veio de mansinho, com uma temperatura amena de primavera, apenas esperando o seu aniversariante acordar. No dormitório masculino do sexto ano da Grifinória, três jovens garotos se preparavam para uma pequena peça de aniversário ao líder dos Marotos. Afinal, não era todo dia que alguém fazia 17 anos. E quando isso acontecia, a pessoa deveria ser acordada com estilo. Por isso, as seis e meia da manhã, foi possível ouvir os gritos de James Potter ecoar pela Torre da Grifinória ao ser acordado com três jatos de água.

— Feliz aniversário, Veado! — Sirius Black, ou mais conhecido como o melhor amigo - quase irmão - de James, disse dando um abraço apertado no amigo, não se importando com o fato de ele estar molhado.

— Parabéns Prongs! — disseram em coro Remus Lupin e Peter Pettigrew, os outros integrantes do grupo auto-intitulado "Os Marotos"

— Mas que mer...

— Olha a boquinha, James... Não é porque você já é de maior que pode falar qualquer coisa por ai... O que seria da sua reputação? — interrompeu Sirius de forma dramática.

Praguejando baixo, o aniversariante jogou em si mesmo um feitiço para se secar e se pôs a abrir a pilha de presentes que se encontrava aos pés da sua cama. Ganhara vários presentes. Dos seus pais, uma camiseta original do seu time favorito de quadribol, Harpias de Holyhead. De Padfoot, uma miniatura que voava da mais nova e mais rápida vassoura do mundo, a Nimbus 1900. Moony lhe deu uma coleção de livros sobre todos os times de quadribol do Reino Unido — obviamente, James não gostava de Quadribol. Wormtail, escolheu presentear o amigo com uma cesta de doces, partindo do pressuposto de dar a alguém o que se deseja ganhar. Marlene e Dorcas se juntaram e deram um lindíssimo xadrez de bruxo, decorado com o carmim e dourado da Grifinória. O resto do monte, James teve muito cuidado em abrir, pois pertenciam a várias admiradoras e ele não queria ficar enfeitiçado por uma poção do amor logo no seu aniversário. Porém, sua felicidade não estava exatamente completa.

— Qual o problema Prongs? — Sirius notou que algo incomodava o capitão.

— Não é nada, na verdade eu...

— Estava esperando um presente da Lily? — Remus indagou astutamente.

— É... — retrucou James vagamente.

— E depois você reclama quando eu lhe chamo de Veado! — bradou Black — Qual é, acho que já passou da hora de você desistir da Evans. Você mudou completamente sua postura esse ano e ela não deu a mínima. Somos testemunhas do quanto foi difícil para você não azarar o Snivellus sempre que ele aparecia, sem contar com você não ter ficado com mais nenhuma garota, porque meu amigo, eu não aguentaria uma semana.

— Mas também não podemos achar que Lily confiaria de uma hora pra outra nele Padfoot — Remus interveio — O histórico de James é ruim demais para em uma semana de outro comportamento ela já aceitar sair com ele. Tudo bem que já se passaram sete meses, mas a Lily é cabeça dura. Agora, não podemos ignorar que, ultimamente, temos visto vocês dois conversarem muito civilizadamente no Salão Comunal.

— É exatamente por isso que eu fiquei frustrado. Eu achei que pelo menos tínhamos virados amigos — o Potter bagunçou os cabelos exasperado.

— Talvez ela queira dar pessoalmente... — Peter disse hesitante.

— Talvez... — Prongs não estava confiante disso, porém tratou de tirar isso da cabeça por um tempo. Era seu aniversário, isso significava que... — Tudo pronto para a grande festa?

Todo ano, os Marotos davam uma grande festa no aniversário de cada um dos seus membros. Eram quatro eventos anuais que todos os alunos de Hogwarts ficavam ansiosos para serem convidados. Afinal, o nome do grupo não era por acaso. Eles sabiam dar uma festa.

— Tudo nos conformes, Prongs — assegurou Remus.

— Muita Bebida — respondeu Sirius

— Muita comida! — complementou Peter.

— A Lily confirmou? — James não segurou a língua.

Os outros três se entreolharam.

— Ainda não — falou um hesitante Moony.

— Mas a gostosa da Vance sim... — retrucou Pads com um sorriso malicioso.

— Boa sorte com ela então, Padfoot — Potter bufou e se dirigiu ao banheiro. Certamente não foi um bom começo de aniversário.

— — —

Ao descerem ao Salão Principal para tomarem café, os quatro marotos sentaram perto de Lily Evans e suas amigas.

— Bom dia, Lírio! — disse James sentando ao lado da ruiva e lhe dando um beijo estalado na bochecha.

— Bom dia, James — a garota respondeu simplesmente.

Os amigos a encararam embasbacados. A monitora percebeu.

— O que foi gente?

— "Bom dia, James"? Quem é você e o que fez com a minha amiga que gritaria "NÃO ME CHAME DE LÍRIO, POTTER!"? — Marlene perguntou.

— Não posso estar de bom humor hoje? — retrucou Lily.

— E esse bom humor é devido a quê? — James questionou com um sorriso esperançoso.

— Não está vendo que lindo dia está hoje? — ela apontou para o teto encantado que mostrava o dia ensolarado e de temperatura agradável.

— Ah eu estou sim, mas é só por isso? — o maroto a olhava com um brilho divertido nos olhos.

— Claro que é só por isso! O que mais teria hoje para eu ficar de bom humor?

Essas palavras foram como facas no coração de James. Quer dizer, ele estava acostumado com os foras da ruiva, mas daquela vez foi diferente. Como se Lily nem se importasse com o garoto. Engolindo em seco e tentando disfarçar o quanto aquilo tinha doido, Potter levantou da mesa e seguiu para fora do Salão, deixando seu café da manhã intocado. Ele andava rapidamente pelos corredores de Hogwarts, a esmo, apenas querendo ficar sozinho. Quando se deu conta, havia chegado a parede que levava a Sala Precisa. Andou de um lado a outro três vezes e a porta se revelou. Entrou e se deparou com o seu quarto. Aquele que ele só usava nas férias. Cheio de pôsteres de quadribol e bandas bruxas. Com roupas jogadas pelo chão, alguns retratos das pessoas que amava e uma cama de casal gigante, que foi onde ele se jogou e se pôs a pensar em tudo o que passara com a ruiva.

Não entendia o porquê de Lily o tratar assim. Já cansara de demonstrar seu amor por ela e a ruiva insistia em não acreditar e desdenhá-lo. Entretanto a maneira com que ignorou seu aniversário, como se não fizesse a mínima diferença na sua vida, foi a gota d'água. Talvez Sirius estivesse certo. Talvez ele tivesse que desistir dela. Não valia a pena dar murro em ponta de faca. Quem sabe realmente existisse alguém que ele poderia amar mais que a monitora dos olhos verdes mais extraordinários que já pudera ver.

James ficou o dia inteiro lá se preparando. Não queria demonstrar que ficara abalado por causa dela. De novo. Saiu somente quando já estava na hora da sua festa. Afinal ainda era seu aniversário. E embora tenha sido o pior que já tivera, ele ainda queria aproveitá-lo. Seus amigos já deviam estar preocupados.

Então, o maroto saiu da Sala Precisa e se dirigiu a Torre da Grifinória, absorto em pensamentos. Ao virar a esquina que o levaria ao quadro da Mulher Gorda, viu Lily Evans sentada no chão. Ele não achou que sua decisão ia ser posta a prova tão rápido.

— James! — ela se levantou ao vê-lo.

— Evans — retrucou seco passando reto pela garota.

Um momento de silêncio se seguiu e quando o garoto ia dizer a senha para entrar no Salão Comunal, ele pode escutar:

— Você realmente acreditou que eu ignoraria seu aniversário? — Potter congelou.

— Como? — ele se virou para ela.

— Eu não acredito! — a ruiva tinha um brilho divertido nos olhos e um sorriso maroto no rosto.

— Isso é sério? Quer dizer que depois de todos os seus foras que eu levei, você realmente achou que eu pensaria que você estava tirando uma com a minha cara? — o maroto não sabia de onde tinha vindo aquela raiva.

— Eu pensei que tínhamos virados amigos.

— Eu também pensei, até eu ver que você não tinha me dado um presente. Nem um mísero "Feliz aniversário, James".

— Você está assim porque não recebeu um presente meu? — Lily não acreditava em como o garoto era mimado, mas isso já não importava para ela. Estava achando extremamente divertido tudo aquilo — Passou pela sua cabeça que eu talvez queria lhe dar pessoalmente?

— Não! Não passou! Porque convenhamos, eu nunca sei o que se passa pela sua cabeça, Evans!

— Pelo jeito eu também não — devolveu com um sorriso leve.

— Isso quer dizer que... Você comprou um presente para mim? — Potter perguntou num tom mais baixo.

— Comprar não é a palavra certa. Eu realmente não sabia o que lhe dar. Quer dizer, sabia, mas não era o que eu queria dar. Entende?

— Não — seu rosto demonstrava confusão.

— Eu queria lhe dar algo diferente. Algo que quando você se lembrasse desse aniversário, você se lembraria de mim e de como eu te dei o melhor presente de todos.

— Quanta modéstia... — ele foi irônico.

— E então — ela o ignorou — eu pensei no presente perfeito.

— Que seria...?

Lily deu um sorriso maroto.

— Feche os olhos e estenda as mãos!

Desconfiado, James o fez. Em seguida sentiu as mãos de Lily depositando um pequeno papel em sua mão. Quando ele estava para abrir os olhos, sentiu então, a ruiva pegando em suas mãos e colocando na cintura dela, para em seguida envolver o pescoço do maroto com os braços e então finalmente, encostar seus lábios nos dele. Surpresa foi pouco para expressar o que James sentira no momento, mas ele não tardou em retribuir e aprofundar o beijo. As mãos de Lily se perderam nos cabelos arrepiados do garoto que ainda não acreditava que aquilo estava mesmo acontecendo. Ela tinha gosto de chocolate. O melhor chocolate do mundo, aliás.

Quando o beijo acabou, Lily se afastou. James ainda estava em choque pelo o que acontecera.

— Feliz Aniversário, James — ela lhe deu um selinho e entrou no Salão Comunal.

Por um segundo, ele não esboçou reação alguma, mas logo um sorriso enorme surgiu em seu rosto e tratou logo de ler o bilhete.

”Sábado às 09:00 no Hall de Entrada. Passeio em Hogsmeade.

Não se atrase,

Seu Lírio."

Aquele definitivamente tinha sido o melhor aniversário de todos.