Esquadrão Inexistente escrita por Viscond3


Capítulo 3
Capítulo 2 - Pra não dizer que não falei das armas




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20/09/2135 - República Militar Brasileira - Área Civil Sul da Cidade do Rio de Janeiro, 16h45.

Lamarc caminhava ao lado de Leonel pelo calçadão repleto de pessoas com andares apressados. Ele usava uma bermuda branca, uma camisa vermelha com estampa florida e um chapéu panamá. Leonel usava uma camiseta regata verde, bermuda branca e um óculos escuro.

–Já encontrou algum? - Cochichou Leonel ao pé do ouvido de Lamarc, tudo com extrema discrição.

–Somente dois. Um está ao lado da máquina de livros digitais à sua direita; O outro está sentado no banco enfrente ao monumento do Garruzto.

Leonel rapidamente olhou para os pontos que Lamarc lhe dissera e viu Oficiais Pacificadores disfarçados de civis. Levando a mão a lateral do óculos, apertou um botão e fotografou os homens.

–Pronto? - Indagou Lamarc parando próximo a uma banca de cachorro quente. Era uma enorme caixa, com mais ou menos um metro e setenta. Tinha uma entrada para inserir o cartão e alguns botões para escolher o recheio do cachorro quente; Lamarc inseria seu cartão.

–Sim... Você vai pedir um deste? É uma droga!

–Disfarce! Tem dois Oficiais Pacificadores vindo em nossa direção... - Observou Lamarc aguardando seu cachorro quente ficar pronto; Leonel começou a assoviar distraidamente.

Os dois assistiram aos oficiais cruzarem seu caminho, sempre com os rostos carrancudos e sérios, uma tática militar, para dar medo a população e inibir qualquer sentimento ou tentativa de revolta.

–Filhos da mãe... - Lamarc retirou seu cachorro quente da máquina e atirou no lixo.

–As fotos foram tiradas, temos que ir agora! - Leonel respirava aliviado.

Os dois continuaram caminhando pelo calçadão até chegarem em seus flutuadores, que era uma espécie de moto que não possui rodas e flutua a meio metro do chão, podendo chegar a uma velocidade de 100km/h.

...

20/09/2135 - República Militar Brasileira - Quarto alugado na Área Industrial da Cidade do Rio de Janeiro, 17h33.

–Finalmente! - Exclamou Stuart cumprimentando Lamarc e Leonel. Os dois entraram rapidamente no cômodo e se sentaram à mesa.

–Como foi? - Perguntou Francisco puxando uma cadeira para sentar. Stuart estava com luvas de borracha enchendo algumas cápsulas explosivas com nitrogênio líquido.

–Têm dois a paisana e dois que fazem ronda. - Contou Lamarc. Leonel apertou alguns botões na lateral do óculos, e um raio de luz projetou na parede do quarto, as fotos que ele havia tirado.

–Acho que dá pra enfrentar... São só quatro! - Observou Stuart entusiasmado. Lamarc riu.

–O problema não é matar, filho. Eu mesmo cuidaria dos quatro. A questão é mais profunda: Não podemos ser vistos. Poupar um confronto é uma estratégia prudente neste caso.

–Exato! - Maringhel entrou no cômodo. - Se pudermos evitar ser vistos, teremos sucesso. Caso contrário, iremos fracassar.

–É por isso que estamos tão preocupados. Garruzto criou uma propaganda tão suja de nós, que os civis acreditam que somos monstros que comem criancinhas! Qualquer um que vir nossos rostos irá nos delatar pensando estar ajudando a pátria. - Observou Leonel desligando o projetor de seu óculos.

–Creio que teremos que seguir o meu plano então. - Lamarc colocou-se em pé. - No cruzamento da Rua C tem um bueiro, eu estarei lá embaixo. Um de vocês irá acompanhar o caminhão com o armamento, porém pela frente. Quando chegarem no cruzamento da Rua C, vão parar, alegando uma falha no sistema de flutuação. Eu abro o bueiro, uso os ímãs pra inibir o campo magnético do flutuador do caminhão e em seguida entro dentro dele. Você solucionam o problema do flutuador, seguem seu rumo e me deixam lá dentro.

–Lamarc, isso é suicídio! - Colocou Leonel - Confio no seu potencial, mas você quer invadir o caminhão de armamentos do OP sozinho?!

–Basicamente. - Concluiu em tom de deboche.

–Francamente... - Leonel fechou a cara em desaprovação. - E como você vai sair de lá?

–Eu tomo o controle do veículo. Eu terei um milhão de armas pra usar! - Lamarc gargalhou. O riso contagiou a todos os outros que estavam presentes, até mesmo Leonel, que sorriu contrariado.

–Quem vai prestar reforços se você falhar? - Indagou Maringhel.

–O Tuti e o Chico. Tuti me dá reforços seguindo o caminhão em um flutuador e Chico vai controlando o drone.

–Falando assim parece tão simples... - Debochou Leonel.

–Acredito que você não tem um plano melhor. - Colocou Lamarc, em tom de desafio.

–Eu não arriscaria a vida desta maneira! Poderemos trabalhar de uma forma mais eficiente! - Leonel cerrou os punhos.

–Francamente, Leonel! Você só está assim porque vai ter que ficar aqui no quarto esperando. Você queria ir no meu lugar! - Exclamou Lamarc em um tom cínico.

–Por favor, Lamarc! Não se comporte como uma criança! Você está indo roubar um carregamento de armas do OP! - Os olhos de Leonel pareciam cuspir fogo.

–Chega! - Exclamou Maringhel colocando-se entre os dois. - Parecem um casal de velhos idiotas brigando! Este plano é o melhor que temos, e não temos tempo para pensar em algo melhor. Nós já nos arriscamos outras vezes, acredito que desta vez não será diferente...

–Então deixe o Stuart de fora... Eu vou no flutuador! - Pediu Leonel preocupado. Lamarc riu e disse baixinho “não falei que ele queria participar?”.

–Não, eu quero ir! - Discordou Stuart. - Eu piloto flutuador melhor que todos aqui!

–Mas não é o melhor atirador. - Colocou Leonel; O rosto de Stuart esquentou e ficou corado de raiva. - Viva hoje pra lutar amanhã.

–Às vezes vocês se esquecem que eu fui o líder da Guerrilha Estudantil, e já enfrentei perigos antes! - Exclamou Stuart.

–Eram outros tempos, Stuart. E você não chegou a enfrentar perigos de verdade. Nunca precisou atirar em ninguém. - Comentou Leonel.

–Mas já atiraram em mim. Que diferença faz? Dê-me uma arma, eu aprendo a atirar! - Stuart estava irritado. Seu tom de voz era exaltado. Ele sentia a raiva rasgar-lhe o peito. Sozinho liderou a fuga de centenas de estudantes de uma prisão, participou de perseguições frenéticas usando seu flutuador. Ele estava cansado de ser tratado como inferior.

–Esse é o meu garoto! - Comentou Lamarc abraçando-o o garoto irritadiço.

–Você não vai, Stuart. -Ordenou Maringhel - Tenho outras coisas pra você. Hoje você vai aprender a atirar, então. Leonel, você vai com Lamarc. Chico, forneça apoio com o drone. Eu vou ensinar este cabra a matar dois com uma bala só.

A tarde demorou a acabar naquele dia. Lamarc e Leonel combinavam estratégias; Chico atualizava o sistema de vôo de seu drone; Maringhel levou Stuart até uma área de preservação ambiental e lá passou o resto da tarde ensinando o menino a atirar.

–Precisa unir as duas miras em uma só. Respire fundo. Não trema o braço. Comece mirando de baixo pra cima. - Instruía Maringhel.

20/09/2135 - República Militar Brasileira - Bueiro da Rua C, 18h40.

Os bueiros tinham duas funções. Eram responsáveis pelo esgoto da cidade em sua parte mais baixa, e em sua parte mais elevada, passavam grandes cabos revestidos de materiais impermeáveis. Eram esses os grandes dutos que levavam a energia dos reatores de fusão à frio para a cidade inteira.

–Aqui embaixo fede pra caralho! - Comentou Lamarc, caminhando pelo esgoto com os joelhos submersos.

Você não queria ação?– brincou Leonel do outro lado da linha.

–É... E que ação! Pronto, estou exatamente em cima do bueiro.

Ótimo. Eu estou esperando o caminhão passar. - Leonel estava em um beco velho e cheio de lixo. O seu flutuador estava coberto com um pano preto ao seu lado. Ele iria esperar o carregamento de armas passar por ali e ia segui-lo.

Lamarc vestia um traje militar. Botas impermeáveis, joelheiras, calça cumprida e a prova de fogo, camisa de manga cumprida com protetores de cotovelos, luvas e um cinto cheio de utensílios. Retirou deste teu cinto um pequeno flutuador de LED e deixou-o flutuando ao seu lado, clareando todo o ambiente. Retirou também de seu cinto, um bastão retrátil de aço, que seria usado para abrir o bueiro.

O caminhão acabou de passar pelo beco. Já estou no flutuador, vou pelas ruas da lateral, estarei à frente dele em trinta segundos. Em um minuto estaremos na Rua C. – Informou Leonel, dirigindo o flutuador em alta velocidade, por ruas paralelas a rua que o caminhão seguia.

–Certo. Vou ativar o “pé de cabra” agora. - Lamarc apertou um botão na lateral do bastão retrátil de aço e instantaneamente ele aumentou de tamanho, firmando-se ao chão e chocando-se contra o bueiro. O impacto ecoou por todo o esgoto. Uma luz verde acendeu em um pequeno painel no bastão. Quando ele apertasse novamente o botão, a força do bastão iria arremessar a tampa do bueiro para cima.

–Preciso regular a força... Não posso arremessar, tenho só que empurrar. - Resmungou Lamarc mexendo no minúsculo painel do bastão. Só havia dois botões. MAIS e MENOS, que serviam para aumentar ou diminuir a força de impacto.

–Estou na frente do caminhão. Vinte segundos pra chegarmos à rua C. Entendido?

–Afirmativo. Estou no aguardo. - O coração de Lamarc batia acelerado. O homem era um ex capitão do exército de Garruzto, mas não conseguiu compactuar com as injustiças e desertou. Conheceu Maringhel e juntou-se ao ERA, foi lá que ele também conheceu Leonel. Lamarc era um homem habilidoso, corajoso e inteligente. As vezes podia exagerar no sarcasmo, nos cigarros ou no álcool, mas era excelente no que fazia, porém o medo e a adrenalina eram inevitáveis em tal situação. Ele sentia o coração pulsar tão fortemente, que parecia ouvir os próprios batimentos, o silêncio do esgoto não ajudava em nada.

Parei o flutuador. Que Deus nos abençoe! -Exclamou Leonel antes de finalizar a chamada e descer do flutuador reclamando que não estava funcionando.

Lamarc respirou fundo e apertou o botão. Em segundos o bueiro havia sido empurrado para cima, exatamente como ele previra que aconteceria. Ele recolheu o bastão com extrema precisão e o virou estendeu para cima, mas deste vez, de lado. apertou o botão e instantaneamente, o bastão cresceu e chocou-se contra as paredes do esgoto, formando uma barra. Ele estralou os dedos e saltou, segurando-se na barra. Rodopiou rapidamente por ela, e ficou em pé, sua cabeça já estava no asfalto da rua. O Coração acelerava. Levou a mão novamente ao cinto e retirou o “inibidor magnético”, antes da missão ele já havia regulado o campo do inibidor para sustentar o seu peso. Saiu do bueiro rapidamente, deitou-se no asfalto e pregou um ímã na lataria inferior do caminhão que flutuava a cinqüenta centímetros do chão. O outro ímã estava anexado em seu cinto. Quando os ímãs foram ligados, ele foi sugado para a lataria do caminhão com extrema força e brutalidade. Os ímãs se grudaram. Ele se apoiou em alguns canos e cabos que pendiam embaixo da lataria e suspirou agradecendo a Deus. Seu suor escorria pelo rosto.

–Droga de flutuador! - Exclamou Leonel quando um Oficial Pacificador se aproximava. - Não quer ligar!

–Algum problema, senhor? - Indagou o oficial com a mão na arma presa a cintura.

–Meu flutuador não quer ligar! - Explicou Leonel.

–Permita-me verificar. - Ele apertou fortemente o botão no painel do flutuador e o veículo voltou a funcionar.

–Muito obrigado, oficial! Salvou meu dia! - Agradeceu Leonel teatralmente e acelerou.

–Flutuador suspeito, número de registro 9731. Requisitando escolta. - Disse o oficial em um pequeno rádio, depois que o trânsito voltou a fluir.

Como você tá?! – Perguntou Leonel iniciando uma chamada com Lamarc.

–É horrível ficar aqui embaixo, mas estou bem! Eu não calibrei o inibidor magnético corretamente, então está um pouco mais difícil de me segurar. Os ímãs funcionaram tranquilamente.

Graças a Deus. Estou a trinta metros de vocês. Vão passar na ponte de vidro agora, cuidado com a vertigem.

A ponte de vidro era uma enorme construção que ligava uma parte da cidade a outra. Era feita de uma chapa grossa de vidro cristalino. Era completamente transparente. Sua finalidade era o transporte de energia, de um ponto ao outro. Olhando atentamente para ela, era possível observar os lampejos coloridos de energia percorrendo-a. A paisagem lá embaixo era o mar violento se chocando contra rochas.

–Puta merda! - Exclamou Lamarc sendo cego pela claridade que a ponte emitia. Ele soltou acidentalmente suas pernas e elas se arrastaram por alguns segundos na ponte, mas ele rapidamente se recompôs. Enquanto sua perna se arrastava no chão, ele pode sentir pequenos choques na região dos pés.

O que foi?! - Perguntou Leonel preocupado.

–Nada, a ponte me assustou! - Brincou Lamarc. - O mar está violento hoje não é mesmo?

–Só não está mais violento que eu! - Comentou Leonel rangendo os dentes.


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