Esquadrão Inexistente escrita por Viscond3


Capítulo 2
Capítulo 1 - Quem é esta mulher?


Notas iniciais do capítulo

A história pode parecer bagunçada, mas aguente firme que tudo será explicado!



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23/09/2135 - República Militar Brasileira - Quarto alugado na Área Industrial da Cidade do Rio de Janeiro, 21h53.

Cinco homens conversavam em volta de uma mesa com inúmeros papéis, documentos e mapas da atual cidade do Rio de Janeiro. Em uma parte da mesa, encontrava-se uma pistola H17 prateada, pertencente a algum oficial pacificador. A pistola H17 atirava projéteis feitos de uma mistura química de água, nitrogênio e gelo seco, que quando atirados, viajavam a uma velocidade e distância bem mais elevadas, e tinham a duração de cinco minutos, até derreterem. Eram comumente utilizados pelos oficiais pacificadores, que tinham entre suas variadas funções, eliminar pessoas. Como o projétil derretia depois de certo tempo, era difícil a identificação da causa de morte, uma vez que o dano da munição era apenas um furo de meio centímetro; Na mesa também havia uma foto de uma mulher muito bonita, que beirava os quarenta anos.

Os cinco homens estavam discutindo algo sério. Suas expressões eram fechadas e muito pensativas. O quarto era iluminado por um flutuador de LED, um pequeno quadrado de lâmpadas azuis que flutuava usando ímãs e um campo magnético. As paredes do quarto eram bem velhas, e o ambiente parecia nunca ter sido limpo. As janelas eram cobertas com jornais velhos.

–Não podemos colocar o carro na frente dos bois, Stuart! - Exclamou um dos homens, que parecia ter por volta de 35 anos. Era alto, magro e sua voz era muito firme. Seus cabelos pendiam desarrumados por sua cabeça cansada. Usava uma camisa branca surrada e uma gravata amassada decorava seu colarinho. Era conhecido como Lamarc.

–Não me chame de Stuart! Sabe que não uso mais esse nome! - Respondeu o outro homem batendo na mesa. Era jovem, não tinha mais que 23 anos. Seu físico estava em forma, usava uma camisa regata que realçava seu peitoral e seus braços. Em sua cintura havia uma pistola H17. Seus cabelos estavam penteados para trás, e tinham uma tonalidade castanho escuro.

–Stuart! - Exclamou outro homem sentado na ponta da mesa. Este era velho, tinha mais que 50 anos. Os cabelos brancos enfeitavam a cabeça, misturando-se as rugas de sua testa velha, em contrapartida mantinha um físico impecável. - Nós ainda não temos certeza de nada! E seria prudente que não fizesse mais barulho!

–Leonel, não podemos ficar parados aqui! Nós temos o carregamento de armas, podemos tirá-la de lá! - Retrucou Stuart, virando-se para o velho de nome Leonel. - E quantas vezes eu terei que pedir para que me chamem de Paulo ao invés de Stuart?!

–Pelo menos mais uma vez... - Comentou um homem repousando a mão sobre o ombro de Stuart. - Fique calmo, fique calmo.

Este tinha por volta de 30 anos. Seus cabelos negros e cacheados dançavam em sua cabeça jovial. Os olhos azuis transmitiam uma paz alegre, que fazia com que todos se esquecessem dos problemas. Sua voz era como um calmante.

–Até você, Chico? - Indagou Stuart, parecendo mais calmo. Todos se perderam em risos sinceros e Stuart sentou-se novamente a mesa.

–Esse é Francisco Beau, nosso conciliador! - Comentou Lamarc dando uma gargalhada. Francisco sentou-se logo em seguida, gargalhando também.

–Menos barulho... - Pediu Leonel. Rapidamente o silêncio se restaurou. -Maringhel, continue, por favor.

–Certo... - Maringhel estava na casa dos 40, mas aparentava ser mais velho. Tinha grandes entradas no cabelo, e sofria com isso desde sua juventude. Abaixo de seu olho esquerdo havia uma pinta muito característica, conhecida como sua marca. Antigamente ele fora o chefe da ERA (Esquadrão Renovador Armado), antes do Presidente Hernest M. Garruzto destruir a organização, com o auxílio de Filipi Müller. O homem mais procurado de todo o Brasil é Carlos Maringhel. - Como eu ia dizendo, recebi o comunicado da base de Niterói. Ao que tudo indica, ela foi realmente capturada. Recebemos ainda, informações de que o maldito Filipi Müller ainda está investigando a antiga ERA, e que dois dos nossos agentes de confiança estão com o maldito Fleiury nas fábricas!

–Malditos... - Comentou Lamarc por entre os dentes.

– Fleiury é um canalha! Aquele cachorro foi treinado pra torturar. Ele é sádico, é cruel. Às vezes não tortura por busca de informação e sim por puro e sádico prazer! - Exclamou Leonel extremamente desgostoso.

–Então minha mãe pode estar com esse filho da mãe?! - Indagou Stuart, preocupado. Francisco hesitou em dizer alguma coisa, ele sabia que a chance de Fleiury estar com a mãe de Stuart era alta, e também sabia que a probabilidade dela estar viva era baixíssima.

–Não vamos negar que a chance é grande. - Observou Lamarc. Maringhel lançou-lhe um olhar de censura. - Sua mãe é muito inteligente, Stuart, a pesquisa dela tem muito valor... uma mente como aquela interessaria a qualquer um...

–Chega! - Exclamou Maringhel. - Zuleica é uma mulher inteligente. Além disso, ela foi treinada conosco, sabemos que ela é incrivelmente habilidosa.

– Quando a informação chegou? - Perguntou Francisco. Leonel levantou-se da mesa e chamou Lamarc para conversas lá fora.

–Tem cerca de três horas. - Respondeu Maringhel consultando seu pequeno computador digital de pulso.

–O período de inspeção dura uma hora. Se ela foi realmente capturada em Niterói, levou cerca de uma hora para chegar aqui no Rio. Provavelmente ela não estava portando uma arma ou algo que a fizesse ser presa, então ela foi levada para o escritório de Filipi Müller. Ele deve ter tentado convencê-la, persuadi-la... Se a lei foi cumprida, o que eu acho difícil, ela foi levada para alguma fábrica... Mas acredito que Müller não daria o gostinho de deixar Zuleica com Fleiury... Ela deve estar no escritório dele...

–Mas ainda assim, estará sendo torturada! - Colocou Stuart com violência. - Vocês não entendem? É a minha mãe! Não podemos deixá-la pra morrer!

– Fique calmo, Stuart! - Suplicou Francisco. Stuart começou a ficar ofegante. Levou a mão até a cintura e segurou sua H17.

–Nós entendemos a gravidade do assunto, Stuart! - Começou Maringhel - Nós todos conhecemos o peso de uma sessão de tortura... Nós todos sabemos como é difícil, mas temos que agüentar! Você, graças a Deus, não enfrentou nenhuma, não sabe como é enlouquecedor passar por tudo aquilo... - Ele respirou fundo - Mostre a ele Chico...

–Não sei se... - Maringhel lançou-lhe um olhar severo e o homem colocou-se em pé, virou suas costas a Stuart e levantou sua camisa, revelando inúmeras marcas de queimaduras que deformavam toda a sua costa; Stuart sentiu o estômago embrulhar.

–O que fizeram com você, Chico... Conte a ele... - Pediu Maringhel, mesmo sabendo que o assunto não deixava Francisco Beau a vontade.

–Eu fui capturado em uma emboscada, aquele foi o meu primeiro encontro com Fleiury. O departamento de Oficiais Pacificadores tem métodos muito eficientes de conseguir informação, na época, devem ter hackeado o meu computador de pulso, eu não era tão cauteloso como sou agora. Na época eu tinha recém entrado pra ERA, fui chamado por um colega, Titto. Eu freqüentei as reuniões e desde cedo, forneci meus talentos com tecnologia pra ajudar a organização. Finalmente eu iria me encontrar com Maringhel, eu estava ansioso, me lembro bem. Titto estava comigo no planador. Chegamos ao local de encontro e fomos surpreendidos por disparos, o tradicional som das H17. Acelerei o planador, mas eles atiraram em cheio nas costas do Titto... Assustei-me e perdi a direção... Antes de bater com a cabeça em poste de luz, vi a silhueta de Fleiury se aproximando de nós. Apaguei. Acordei em um lugar abafado, tinha muitas dores abdominais. Era como se eu tivesse sido pisoteado por centenas de cavalos-vapor. Titto estava logo a minha frente, nu... Três homens batiam nele com cassetetes metálicos. Eu ouvia o estampido abafado do metal amassando seus músculos, era doloroso, não consegui olhar. Por vezes, ouvia ossos se quebrando. Titto não disse uma palavra. Fleiury me puxou pelos cabelos, apagou um cigarro em meu peito nu e cantarolou “Onde é que está Lamarc? Onde é que está Maringhel?”. Respondi que não sabia. Alguém puxou meu cabelo para trás, naquele momento notei estar amarrado em uma cadeira. Antes que eu pudesse encarar os olhos de meu agressor, jogaram sal em meu rosto... Aquilo queimou o mais profundo porão de minha alma. Ardia como se fosse brasa. Ele tornou a perguntar e eu nada respondi. Chutavam minhas costelas. Fleiury perguntou mais uma vez e eu permaneci em silêncio. Ele trouxe um “eletro-bastão Boilensen”. Vou explicar o que é: É um bastão, de mais ou menos, 30 centímetros. Na ponta, há uma pequena agulha. Há um botão no centro do bastão, que quando pressionado, a ponta emite uma descarga elétrica altíssima. Ele enfiou a pequena agulha em meu braço e apertou o botão. Minha visão piscava luz, trevas, luz, trevas. Minha boca secou depois das primeiras três horas de choques. Me deixaram jogado no chão. Perguntaram novamente e eu não disse nada. Fleiury se zangou, eu acredito. Jogaram um balde de água fria em mim. Bateram mais um pouco em meu rosto. Me desamarraram e me deitaram no chão. Pressionaram minha cabeça contra o chão; “Se gritar, dói mais.” Minhas costas começaram a queimar feito mármore do inferno. Meus dentes rangiam e meu corpo parecia circular fel. Derramaram soda caustica em minhas costas. Meus ossos pareciam girar dentro de meu corpo, não, não havia corpo, havia um saco de ossos... Eu desmaiei.

Francisco sentou-se e permaneceu calado. Maringhel sentia toda a dor e sofrimento do amigo, que foi torturado por sua tão grande culpa. Sentiu também uma sensação confortante, que apesar do sofrimento, seu amigo não disse uma palavra. Uma lágrima escorreu dos olhos de Stuart. Imaginar um homem tão carinhoso e alegre sendo submetido a métodos tão horríveis de tortura era inacreditável. Ele pensava “Por que tanta violência?!”

–Nós conhecemos a dor, filho... Todos nós. Sabemos que sua mãe é forte. Prometo a você que vamos tirá-la de lá o mais rápido possível, mas por agora, não podemos fazer nada. Agüente pelo menos mais esta noite, por nós.

–Certo... - Concordou Stuart ainda com o estômago embrulhado com tudo que vira, ouvira e imaginara.

Lamarc e Leonel voltaram ao cômodo. Um cheiro de nicotina adentrou o ambiente junto aos homens.

–Ainda fumando estes circuitos cibernéticos, Lamarc? - Perguntou Francisco sorridente.

–Não era um Cigarro Elétrico, Chico. Era um Hollywood, da nossa época de jovem! - Comentou Lamarc satisfeito. Não se fabricava mais cigarros como antigamente, todos foram substituídos por cigarros eletrônicos, que tinham a capacidade de imitar a nicotina, mas não havia nenhum risco a saúde.

–Não acredito! O cigarro do sucesso! - Chico sorria e seus olhos brilhavam.

–Tenho uma cartela guardada desde 2023! - Explicou Lamarc retirando a própria do bolso. - Quer um?

–Guardem os cigarros pra depois, precisamos decidir o que fazer agora. Já estamos neste quarto a três dias, provavelmente não poderemos ficar quatro. Leonel, o caminhão já está pronto?

–Sim. Todo o armamento que roubamos do depósito do OP já foi carregado no caminhão. Só precisamos esperar o sinal da base de Niterói.

–Não dá. Se ficarmos mais tempo aqui, seremos descobertos. Chico, envie uma mensagem decodificada pra base e solicite o auxílio dos drones. Iremos amanhã ao meio dia!

–Certo! - Respondeu Chico, colocando uma maleta de metal prateado sobre a mesa. A maleta era na verdade um computador portátil codificado. Usava um serviço de rede próprio, sendo impossível conectar-se a ele usando um computador conectado em outra rede. Ele tinha acesso a internet e um link direto com a base de Niterói. Do centro da maleta, havia um pequeno canhão de luz, que emitia um holograma, sendo este o sistema operacional do computador. Mas só era possível ver os dados que continuam dentro da memória do computador, ou enxergar qualquer coisa que o holograma fazia, com o auxílio de um óculos com lentes especiais, que possuía uma senha de nove dígitos bloqueando o uso. Quando Francisco colocou os óculos de lentes azuis, a mesa de reuniões se tornou uma gigantesca área de trabalho em 3D. Ícones flutuavam a sua frente, arquivos, vídeos e documentos jaziam inertes sobre todo o cômodo, mas só ele podia acessá-los e vê-los.

–Lamarc vai pilotar! Stuart vai com ele. Eu e Leonel vamos nos flutuadores atrás. Chico vai ir dentro da carga pilotando nosso drone.

–Carlos...! - chamou Francisco com as lentes do óculos piscando. - As comunicações da base de Niterói foram bloqueadas. Eles deixaram uma mensagem de alerta, dizendo que a torre sul foi derrubada pelos homens do Fleiury. A situação lá está tranqüila. Zuleica fugiu em um flutuador junto a dois militantes e atraiu a atenção de Fleiury pra fora da base. Eles não descobriram o esconderijo subterrâneo.

–Eu sabia que Zuleica não tinha sido pega! - Comentou Lamarc alegre. Stuart sorria junto a ele.

–Temos que torcer para que ela não tenha sido pega... - Colocou Leonel, fazendo com que a preocupação voltasse à tona.

–Ela deve estar bem. - Finalizou Maringhel. - Então teremos que transportar o armamento sozinho. Isso vai ser muito difícil!

–Isso vai ser interessante. - Comentou Lamarc, lançando um olhar sugestivo a Leonel, que retribuiu com um sorriso.

–Muito interessante. - Concluiu.


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