Iniciada escrita por Dorothy Bass


Capítulo 1
Capítulo I: Acordada.


Notas iniciais do capítulo

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Capítulo I: Acordada.
O início de tudo.

Minhas pálpebras pesavam, e meu cérebro parecia latejar dentro do crânio. Eu sentia meus músculos se contorcendo, e uma dor aguda se instalava por todo o meu corpo. Podia jurar que estava gritando muito alto, já que eu me esforçava para fazê-lo, mas tudo o que eu ouvia era um zumbido. Um zumbido quase ensurdecedor. E quando eu achava que não aguentaria mais um segundo estando naquela situação, tudo parou. De repente, todas as minhas dores foram embora, e eu consegui abrir os olhos.

Olhei ao redor, me pondo sentada no chão úmido de pedra. Eu estava em uma rua sem saída, cercada de lixeiras e cobertores velhos e rasgados. Podia ouvir o barulho dos ratos, as baratas caminhando, e o que eu achei mais estranho: ouvia o barulho da água do esgoto passando debaixo do chão. Passei a mão pela minha cabeça e tampei meus ouvidos. Todos aqueles barulhos... não era pra eu estar escutando tudo aquilo. E todos os ruídos ecoavam na minha mente, me deixando inquieta. Levantei-me dali o mais rápido que pude e saí correndo em direção à rua, tentando fugir daquilo tudo. Porém, as coisas pioraram quando eu cheguei na rua: a respiração dos motoristas, as músicas dos rádios, o tique-taque dos relógios... eu ouvia tudo.

Comecei a correr em direção a uma placa que indicava o metrô, tentando ignorar todos aqueles sons que invadiam a minha cabeça, mas meus passos foram desacelerados quando senti um cheiro... um cheiro maravilhoso. Parecia... ferro. E então comecei a procurar a fonte daquilo que me deixou com tanta água na boca. Olhei em volta, mas não tinha nada. Havia carros, lojas fechadas e um homem. Alto, de cabelos curtos, vestindo uma camisa regata. Assustei-me quando percebi o barulho do sangue fluindo pelas suas veias. Aquele sangue todo, debaixo da pele intocada, tão... delicioso. Peguei-me lambendo meus lábios, encarando o pescoço do homem e pensando nos muitos modos como eu podia dilacerar sua jugular e drenar seu sangue. Meus pensamentos foram interrompidos pelo barulho de uma buzina na avenida, e eu voltei a correr, aterrorizada por ter pensado em tudo aquilo.

Quando finalmente cheguei na frente do metrô, senti meu estômago se revirar. Eu estava faminta. Minha barriga doía, e eu só consegui pensar que precisava, antes de qualquer coisa, conseguir algo para comer. Por isso, olhei em volta. Havia um homem ali, vendendo chocolates quentes e pedaços de bolo. Por um impulso, lancei-me em direção ao bolo em cima da mesa improvisada do vendedor, colocando tudo o que eu podia na boca. Não estava bom. Não estava ruim, também... Estava neutro. E não satisfazia minha fome. O barulho do sangue nas veias do homem à minha frente me desviava a atenção do que eu estava comendo, e aquilo me deixava louca. O cheiro emanado pela pele dele entrava pelas minhas narinas, invadindo meu corpo e minha mente. Olhei para ele com desejo, e senti as veias em volta dos meus olhos saltando. Eu teria pensado que aquilo era preocupante, e que não devia realmente estar acontecendo, mas cada vez que eu parava para raciocinar, ouvia mais alto o sangue dentro do senhor à minha frente. Senti as pontas dos meus caninos tocarem meus lábios inferiores, e quando me dei conta, estava jogada em cima do homem, mordendo seu pescoço. Fechei os olhos e suspirei, tirando cada gota que eu conseguia tirar de sangue daquelas veias, até que o vendedor parou de se debater. Limpei minha boca e soltei um “ah...”.

Meu alívio de fome durou alguns poucos segundos. Eu logo estava faminta novamente, e desesperada por ter acabado de matar alguém. Encarei o corpo do homem no chão. Estava branco e sem vida. Olhei em volta. Ainda era muito cedo para ter alguém passando por lá. Fiquei andando de um lado para o outro, com as mãos em cima dos ouvidos, tentando me concentrar apenas no que minha mente me falava e ignorar os ruídos que eu ouvia com tanta intensidade de tudo aquilo que emitia uma mera onda de som. O que eu poderia fazer com o homem? Deixá-lo ali? E se alguma câmera tivesse me filmado? Eu deixaria ele ali, jogado no meio da rua?

Os barulhos de passos na esquina me fizeram sair dos meus devaneios, e então fiz algo que eu nem imaginava que podia fazer: levantei o homem com muita facilidade, e saí correndo em tal velocidade que, em alguns segundos, eu já estava de volta ao beco em que acordei, com o corpo do vendedor jogado sobre minhas costas. Fiquei paralisada, de olhos fechados, tentando raciocinar o que eu havia acabado de fazer. Meus ouvidos que ouviam demais, minha fome, a morte daquele vendedor, minha força e rapidez... era muito pra digerir. Desabei em lágrimas, me ajoelhando no chão ao lado do corpo do homem.

Quando as lágrimas pararam de descer, decidi: tinha que ir para casa. Tinha que deixar o homem ali, ir pra casa, tratar de matar minha fome – que estava absurdamente grande àquele ponto – e esquecer que tudo aquilo havia acontecido. E foi o que eu fiz. Coloquei o corpo estendido atrás de uma das lixeiras e saí do beco. Chamei um táxi que passava na rua, mesmo sem estar carregando dinheiro algum comigo, já que meus pais poderiam pagar quando eu chegasse em casa.

No carro, comecei a pensar na hora em que acordei, tentando espantar os pensamentos que iam e vinham na minha cabeça sobre como seria o sabor do sangue do motorista. Eu não tinha ideia do porquê fui parar ali. Eu não conhecia o lugar, e não lembrava de nada que havia acontecido na noite anterior. Minha última lembrança era de estar saindo de casa com minhas amigas para ir para uma balada, que, estranhamente, eu também não lembrava qual era. E o resto da noite, até eu acordar naquele beco, ficou como um borrão.

Quando cheguei em casa, pedi ao taxista que esperasse, e comecei a bater desesperadamente na porta de entrada, rezando para que alguém já estivesse acordado. Ouvi o barulho da tranca, e meu pai apareceu. Antes mesmo de eu pedir o dinheiro, ele já o havia estendido para mim. Fui pagar o homem e voltei, mas, quando cheguei em frente à porta, ele se pôs à minha frente.

– Não. Você não entra na minha casa. – ele disse, com um olhar sério. Eu tentava me concentrar na sua fala, mas seu cheiro ruim me distraía.

– Como? – perguntei, confusa, sem ter muita certeza do que ele havia acabado de me dizer – Pai! Sou eu! Sua filha!

– Não, Thalia. Não é mais minha filha.

– Oi? Me deixa entrar, eu... – comecei a falar, mas parei quando senti as veias em volta do meu olho se sobressaltando. Virei de costas, tentando esconder o que tinha acontecido.

– Vê? Não é mais. E se quiser, pode tentar entrar. Não vai conseguir. – ele falou baixo, e abriu espaço para que eu passasse. Dei um passo em direção à porta, mas quando tentei dar o segundo, fui impedida por... algo. Algo que me empurrou para trás e queimou meu joelho. Olhei para o meu pai, assustada, e ele me olhava com uma mistura de nojo e incredulidade.

– Você não é mais minha filha. – sussurrou, e fechou a porta na minha cara.

Fiquei confusa, paralisada, com a boca aberta. Depois, passei a andar de um lado para o outro na frente de casa, esperando o momento em que minha mãe apareceria na porta e me pediria desculpas por meu pai ter agido de forma tão estranha. E esse momento chegou. O problema é que ela passou da porta com uma mala nas mãos e com uma expressão mais confusa que a minha.

– Filha... precisamos conversar. – ela disse.


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Notas finais do capítulo

E aí, curtiram?