Fazia frio aquela noite, um frio que até mesmo para o inverno de Boston, parecia exagerado.

Maura estava cansada, embora o dia no Departamento de Polícia não tenha exigido tanto dela, ela parecia exausta, mas não era preciso ser médica pra saber que aquele cansaço não era físico, era emocional, uma tristeza angustiante lhe tomava aquela noite.

Uma tristeza, e um nó na garganta que a incomodava com insistência.

O que a incomodava tanto? Por que sentia que seu peito explodiria, mesmo sabendo que isso é impossível?

Maura caminha de uma lado para outro, impaciente, incomodada, e angustiada.

Há cinco anos, Maura não sabia o que era passar uma noite de sexta-feira, sozinha em casa, somente acompanhada do silêncio, silêncio em partes, já que sua mente gritava-lhe o tempo todo, mas ela insistia em ignorar.

*-Jane, Jane …. O que você estará fazendo nesse momento? * -Pensava a loira, olhando pro pulso e conferindo as horas.

-20:48 horas, tempo suficiente para ela estar de volta! *

- Maura pensava e verbalizava, não percebendo a tristeza que seu tom de voz adquiriu.

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Naquele dia, mais cedo, no BPD, Maura e Jane arquitetavam um plano, para ser posto em prática, logo mais, às 20 horas.

-Então Maur, se meu encontro com Dean, tiver parecendo um encontro às escuras, já que terminamos há tanto tempo, e muita coisa entre nós mudou significativamente -Ela tenta prosseguir mas é interrompida por Maura:

-Jane ... onde você quer chegar? - Maura pergunta apreensiva, pois percebeu o sorriso “pidão" de Jane, e o tom de voz da morena tornando-se cada vez mais afável aos seus ouvidos.

Jane se assusta, ao ver que Maura já imaginava que ela faria parte de uma operação, e tenta explicar e convencer a amiga.

-Então Maur ...

-Então ... -interrompe Maura esperando que ela seja mais direta- Então? ...

-Maur, se você não parar de me interromper você não vai saber tão cedo! -Responde a Morena com a sobrancelha arqueada.

-Okay Jane, prossiga! -Diz a loira, com desdém, ainda temendo o pedido da amiga.

-Então Maur, eu estava pensando em ...-a morena hesita - E .. eu, bom ,eu estava pensando que eu podia deixar uma mensagem de texto destinado à você nos rascunhos pedindo socorro.-Jane sorri sem jeito , e disfarça a insegurança no pedido.

-E então? -interrompe Maura com o rosto erguido buscando explicação da morena

-Onde eu entro nisso, digo, o que eu faço depois disso? Pergunta a médica, temerosa pela resposta.

-Well,essa seria a deixa pra você pegar seu smartphone -Ma-ra-vi-lho-so e ...-mas é interrompida novamente pela médica impaciente .

Jane! Nós não temos o dia todo! -esbraveja a legista.

-Ok ! Maur , você definitivamente é o gênio mais burro que eu já vi !Diz a morena com as mãos à altura da testa , enquanto pensava em como explicar.

-Ok , Jane , quando o sangue voltar a irrigar seu cérebro e você parar de agir de maneira áspera, você me conta qual seu plano - e dá as costas em direção ao laboratório , mas é interrompida pela detetive que se adianta e pondo-se à sua frente gritando:

-Você só precisa me ligar Maur, só isso, apenas isso, viu? Nem é tão difícil assim vai? -Diz a morena cutucando o ombro da mulher mais baixa enquanto estudava sua reação, que já não parecia mais irritada. -E então...-completa a morena

-Você finge uma emergência qualquer pra me tirar de lá, não é um ótimo plano? -Pergunta a morena com um sorriso amarelo e apreensivo no rosto.

-Bom, seria um plano simples, sobretudo pra detetive mais brilhante de Boston, se não houvesse um pequeno detalhe impedindo -o!

-Qual? -interrompe Jane com os olhos arregalados

-Você esqueceu que eu não posso mentir my friend? -diz Maura com o rosto levemente pendurado pro ombro direito, avaliando a reação da morena, que logo lhe dá a solução.

-C'mon Maur , você não precisa falar nada ok ? Você só precisa, hmn....só precisa me segurar ao celular por alguns instantes e .... Bem eu sei que você ama a minha voz! -Disse Jane segura do poder que sua voz exercia em todos, mas ao mesmo tempo, de maneira descontraída, pois sabia que deixaria a loira sem jeito.

-Oh, o que? Jane?! Você é muito convencida! -diz Maura ruborizando, e desviando-se do campo visual de Jane.

-Qual é Maur, pode confessar-Jane insiste em provocá-la.

-Jane ?! -Maura desconversa, pois sabe que se negar, as urticárias a entregará sem piedade

-Vá trabalhar Jane, você já perdeu e me fez perder tempo demais, e logo mais você precisará estar des-lum-bran-te -diz a médica com um olhar meigo e triste no rosto.

-Okay Doutora, mas você sabe que é verdade -diz a detetive com uma piscadela e um sorriso sapeca dançando em seu rosto, evidenciando sua covinha -

*-Meu Deus, como pode ser, e ficar ainda tão mais linda quando sorri, e essas covinhas insistem em aparecer?* -Pensava a legista quando saiu do transe com Jane passando a mão diante de seu rosto :

-Maur? Maur ? MAURA!!! ? Terra chamando, Maura, terra tentando contato!

Jane não aguenta e ri com o susto que a legista tomou ao ser despertada de seu transe.

-Oque? O que foi Jane? -pergunta assustada e envergonhada.

-Conto com você caso dê errado ok?

-Tá, tá, tá bom Jane, satisfeita? Agora vá trabalhar! Temos um trato, se por acaso o agente Dean continuar sendo o mesmo idiota que te deixava de quatro -diz com um olhar triste e enraivecido no olhar -eu telefono pra você e fazemos o que você planejou, salvando você daquele ogro. A propósito eu juro, que até hoje não acredito que senti atração por ele quando nós o conhecemos -Completou a legista fazendo cara de nojo.

-Eu lembro -disse Jane, lembro também que você abandonou a batalha quando propus que nós lhe duas mostrássemos nossos seios pra que ele escolhesse, e você ameaçada, abandonou a batalha –diz a detetive com uma gargalhada que desconserta a médica.

-Jane! -Corta a médica, num tom um pouco mais grave - Estou pensando seriamente se ainda faço parte da operação de lhe salvar!

-Não Maur , por favor , eu não sou boa em abandonar encontros por piores que sejam.Por incrível que pareça eu tenho um coração , e qualquer um morreria só de pensar em ser rejeitado por essa figura escultural - diz a morena alisando seu corpo de maneira sexy, mordendo a caneta que há alguns segundos atrás prendia seus cabelos que agora parecia absurdamente selvagem.

-Tudo bem, tudo bem! O que eu não faço por você detetive cabeça dura?

Maura diz com um sorriso bobo e um tom tão doce que assim que pôde assimilar, ruborizou, pois sabia que qualquer um que a ouvisse com aquela feição e com aquele tom tão afável, até mesmo pra ela, estranharia. Saindo do transe ela responde:

-ok! Temos um trato! Eu salvo a princesa indefesa dos poderes do troll -diz tentando disfarçar o mal estar após sem perceber parecer melosa demais. Maura tenta seguir seu caminho para o escritório, mas é surpreendida com o abraço inesperado de Jane, que de tão empolgada nem percebe que a tirou do chão.

-EU TE AMO Maur ! Te amo, te amo, te amo! Você é a melhor amiga que alguém pode ter -diz a detetive beijando carinhosamente as bochechas ruborizadas da médica, que não tem reação alguma, mesmo minutos depois de Jane deixá-la lá sozinha.

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Agora, em sua casa , em meio a solidão , Maura lembra desse momento com um sorriso doce, pra não dizer bobo no rosto , inconscientemente leva sua mão à bochecha , como se buscasse encontrar ainda pousada ali a temperatura dos lábios da amiga, que fora suficiente pra lhe causar um espetáculo de borboletas no estômago, mas o sorriso tão logo desaparece quando ela verifica o relógio mais uma vez , são agora 20:57 , quase Uma hora desde que Jane deveria ter assumido as reservas no Bistrô.

Verifica seu celular e nota que Jane não enviara qualquer sms, o que lhe dava a triste certeza de que o encontro estava indo bem.

No impulso, Maura não hesita em discar: #1 send, na discagem rápida .......