BLOODLINE escrita por Meewy Wu


Capítulo 18
I - Mudanças Não Muito Ruins




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—Onde está sua irmã? – Draco perguntou, sentando-se no seu lugar habitual na mesa de jantar para tomar café da manhã com Scorpius.

—Acabou de sair, comeu uma torrada e não disse a aonde ia – falou Scorpius, dando os ombros.

—Não a vi chegar ontem à noite – Draco pensou alto, e então olhou para o filho – Na verdade, não a vejo chegar em casa a vários dias. A onde sua irmã tem estado até tão tarde?

—Com as amigas dela, eu imagino – ele deu os ombros de novo. É claro que Calisto não havia contado para o pai sobre o novo ‘emprego’ – Deve ser coisa de menina...

—O que é isso? – perguntou Draco, olhando para as cartas sobre as mesas.

—Os resultados dos NOM’s – falou Scorpius, entregando os dois envelopes para o pai.

—Você ainda não abriu? – Draco perguntou, abrindo a carta – Ótimo em Aritmância, Feitiços, História e Poções. Um Aceitável em Transfigurações. O resto Excede Expectativas. Imagino que as expectativas em você eram bastante altas, não?

—Creio que sim – assentiu Scorpius, vendo o pai olhar abismado para a carta de Calisto – Algum problema, pai?

—Sua irmã prestou os NIEM’s?- ele perguntou, provavelmente pensando que era algum erro de escrita, ou algo do tipo.

—Sim, foi isso mesmo – ele concordou, enquanto o pai lia as notas de Calisto.

—Aceitável em Aritmância e Herbologia, de restante apenas O – ele falou em voz alta – Na verdade O+ em história da magia. Eu não sabia que isso era possível.

—Nem eu – falou Scorpius, pegando a carta assim que o pai soltou.

—Vocês não fizeram nada no seu aniversário, vamos sair para comemorar está noite, avise sua irmã quando ela voltar – falou Draco, se levantando e saindo da sala.

Scorpius assentiu, suspirando. Havia tido algumas dessas conversas curtas e superficiais com o pai desde o início do verão, que geralmente acabavam assim, tão de repente quanto começavam. Falavam de quadribol, da comida, sobre o tempo, sobre Calisto. Nunca sobre nenhum deles.

Ele queria que a irmã estivesse por perto para ver isso, mas ela parecia determinada a passar o maior tempo possível longe de casa, passeando com seus amigos e com seu trabalho naquele clube.

Quando ficava a noite, ele a ouvia chorar e gritar enquanto dormia. Os pesadelos que um dia apenas o preocupavam, agora lhe deixavam assustado depois de tudo que descobrirá sobre sua família e sua irmã.

...

 -Tudo bem, acabe de se arrumar, eu vou esperar lá fora! – Anunciou Calisto Malfoy, saindo do quarto de Lilly ao mesmo tempo em que Harry saia do próprio quarto – Sr. Potter!

Ele tentou seu melhor olhar de adulto responsável. O que o monstrinho de Draco Malfoy fazia na sua casa tão cedo? – Calisto.

Calisto recuou um passo, como se notasse que não era bem vinda. O veneno nos seus olhos foi notável logo em seguida, mas é claro que a língua da cobra é sempre mais venenosa.

—Imagino que esteja indo para o ministério... Agora eu sei por que meu pai está sempre reclamando da sua pontualidade – ela falou, encolheu os ombros e sorriu – Tenha um bom dia!

Ela falou em um tom tão amigável que ele demorou um minuto para raciocinar, enquanto a menina loira descia as escadas e sumia. Ele olhou para o relógio do outro lado do corredor, e viu que a pestinha estava certa. Ele estava atrasado... De novo.

Ele desceu correndo para a cozinha, onde Ginny estava tomando café sozinha – Onde estão os meninos?

—James disse que ia tomar banho antes do café e Albus está lá fora – ela falou, parecendo conter um sorriso. Ginny não admitia, mas Harry sabia que ela estava adorando a nova fase “atlética” do filho. – Ele disse que vai tomar café depois. Provavelmente só está tentando adiar as notas dos NOM’s.

—Chegaram? – ele olhou as cartas em cima da mesa, tentado a abrir, mas já estava atrasado, ele lembrou a si mesmo – Acho melhor esperar que ele abra. Lílian falou para você que ia sair?

—Sim, ela disse que queria comprar algumas roupas para a volta as aulas, eles pediam roupas quentes junto à lista desse ano. Eu dei dinheiro a ela, ela pediu mais para você?

—Não, não pediu. Mas você sabe com quem ela vai sair?

—Ela me disse que Calisto viria busca-la, ela deve estar ai a qualquer minuto!

—É ela está – ele tentou parecer indiferente – Não te preocupa que Lilly sai com essa garota, que já fez mal a dois dos nossos filhos?

—Você precisa parar de ouvir tudo que Dominique e Roxanne falam Harry – ela riu – Eu pensei nisso também, mas desde que começou a andar com Calisto nossa Lilly parece mais madura. Parou de se trancar no quarto, ajuda em casa, joga vídeo game com Hugo na sala, conversa com os meninos... Quanto tempo eu não via esses três terem uma conversa civilizada!

—Então, por você não tem problemas? – perguntou ele.

—Não quero proibir uma amizade que faz bem a Lilly, e ela é bem grandinha, já ensinamos a ela o que é certo e o que é errado – Ginny torceu o lábio – Mas pode conversar com ela, se isso lhe preocupa.

Foi à vez de ele torcer o lábio. Uma conversa com a filha adolescente? Não era algo que Harry acreditava estar pronto para passar... Já era bem difícil entender o que se passava na cabeça de James e Albus.

—Não, só estou preocupado com os meninos – ele deu os ombros, terminando seu café – James e Albus...

—O que tem James e Albus? – pergunta James, entrando na cozinha – Onde Lilly foi? Ela estava saindo quando eu desci!

—Sua irmã foi sair com uma amiga – falou sua mãe, com suavidade.

—Que amiga? – perguntou James, erguendo uma sobrancelha.

—Calisto Malfoy! – Harry falou, mas James não apresentou reação nenhuma.

—Que novidade. É a única pessoa que consegue aturar Lilly sem ter o mesmo sangue – ele riu – Me assusto dela não ter ido para a Slytherin, se daria muito bem por lá.

—Sua irmã tem mais qualidades da Gryffindor do que você pode ver James – sorriu Ginny, entregando um prato de torradas para ele.

...

Albus deu outro soco no saco de pancadas. Estava completamente suado, exausto, mas parar não parecia uma opção. Na verdade, mesmo se ele quisesse parar imaginava que seus músculos não parariam e ele seguiria socando.

Era assim desde que as férias começaram: no início, tudo estava bem, então ele começou a acordar de noite com uma raiva súbita, jogando os travesseiros e o que mais estivesse por perto longe, fazendo barulho e assustando o resto da família. Ele nem entendia o porquê daquilo, era como se todas as coisas ruins que já aconteceram em sua vida e começassem a sussurrar no fundo do seu cérebro, e ele estava pirando com aquilo.

Foi ideia de Lilly o saco de pancadas. Na verdade, ela estava apenas brincando, falando de um dos desenhos animados que via com Hugo, mas acabou sendo uma boa ideia. Desde então, ele dormia a noite inteira, e quando algo parecia perturbador demais, ele fugia para os jardins.

—Vai quebrar a mão desse jeito.

Ele se virou, surpreso. Calisto Malfoy estava encostada em uma das pilastras do jardim, com aquele ar de sabe tudo, olhando as próprias unhas. Não parecia estar vestida para aquela hora da manhã, mas o que ele sabia? Podia ser a última moda no mundo das meninas ricas que gostam de se intrometer na vida alheia e acham que são melhor que todo mundo. Soco. Soco. Soco.

—O que está fazendo aqui? – ele perguntou, franzindo a testa e parando de socar.

—Sua irmã e eu vamos comprar umas coisas para a volta as aulas – ela desfez com a mão, o encarando com – Não deixe o polegar dentro do punho, vai consegui uma torção. Não soque com o pulso para cima, você é idiota? Afaste mais as pernas para melhorar o equilíbrio e se afaste mais para conseguir uma visão melhor do alvo. Se isso fosse uma luta de verdade, você tá estaria no chão chorando... E, com uma mão quebrada!

—Como você sabe disso? – ele olhou para os próprios pés, os afastando, e percebendo que ainda estava sem camisa e contendo a apreensão para correr até o banco e vestir sua camiseta. Não que Calisto parecesse se importar com isso, afinal, ela era o tipo de menina que dava festas na piscina.

Ela o encarou como se perguntasse por que não saberia, e ele preferiu não discutir. Aquilo já estava estranho demais.

—Eu podia perguntar o porquê de tanta raiva, mas imagino que não vá me contar – ela falou, andando em volta da pilastra e pegando algo de sua bolsa – Aqui!

Ele olhou para o papel. Era um panfleto de um clube noturno, do tipo balada e bebidas, anunciando uma noite de luta na próxima semana.

—Que lugar é esse? – ele perguntou confuso.

—Um lugar que eu conheço – ela deu os ombros, olhando para o panfleto como se tivesse cometido um grande erro, ele pensou por um minuto que ela fosse pular nele e arrancar o papel das suas mãos, mas ela apenas deu um daqueles sorrisos falsos que dava para as crianças do primeiro ano – Aparece. Ou não. Eu tenho que ir, sua irmã deve estar louca atrás de mim.

Ele assentiu, quando ela dava as costas e saia, esbarrando no ombro de ninguém menos do que Crystal, que se aproximava pelo jardim.

—Você? – Crystal perguntou, enquanto a encarava, mas Calisto passou reto esbarrando no ombro dela.

—Grandeste. – Cumprimentou a loira, sem parar de andar.

...

—O que ela estava fazendo aqui? – perguntou Crystal, apontando sobre o ombro para o caminho onde Calisto fora.

—Andando – Albus deu os ombros – Esperando Lilly, elas combinaram de fazer comprar para a volta as aulas.

—Eu deveria fazer algumas compras também, não tenho muitas roupas quentes – ela falou, franzindo a testa – recebeu seus resultados?

—Sim, mas eu ainda não abri. E você?

—Aceitável em Poções, Feitiços e Astronomia. Excede Expectativas em Runas. – ela fez uma careta – O resto tudo Péssimo e Deplorável.

—Pelo menos não teve nenhum Trasgo – ele sorriu, tentando faze-la se sentir melhor – Eu garanto que eu tirei um em História da Magia.

Deu certo, ela deu um sorrisinho – O que é isso?

Ele olhou para o panfleto na sua mão. De certa forma, não queria explicar para Crystal que Calisto lhe dará aquilo, por que implicaria explicar que havia feito um acordo com ela durante o período de Aulas e eles estavam sendo quase não desagradáveis um com o outro desde então.

—Só um panfleto – ele deu os ombros – Por um momento eu pensei em ir, mas... Acho que não é pra mim.

Crystal olhou para ele como se soubesse que tinha algo a mais ali – Com certeza, não é. Quer dizer, é legal esse negócio de saco de pancadas, mas...

Ele assentiu, olhando para ela de verdade desde que ela chegará ali. Estava horrível. Quer dizer, ela era linda, mas suas roupas não. Ele costumava a gostar das roupas coloridas, das bijuterias de plástico e das estampas antes, quando eram diferentes e esse diferente gostava dele, ao contrário dos outros.

Mas aquilo deixará de ser uma novidade já fazia algum tempo, e as roupas de Crystal vinham passando a ser apenas estranhas. Como os enormes brincos de pedras de plástico e os sapatos com laços de retalhos. A essa altura ela já deveria ter se acostumado com o jeito como as coisas funcionavam na Inglaterra.

—Está me ouvindo? – perguntou ela, o fazendo desviar os olhos do padrão do vestido e o fazendo olhar para ela – Deveríamos entrar, parece que vai chover... A gente podia assistir TV, ou ir para o seu quarto...

—James está em casa – ele falou, provavelmente mais rápido do que deveria – Ele invade meu quarto toda hora!

A expressão dela mudou para algo entre um cachorrinho e um lobo faminto – Al... Estamos quase no final das férias. Nós não ficamos... Juntos, desde que as aulas acabaram!

Ele queria discordar. Eles ficaram bastante juntos, Crystal ia para a sua casa todos os dias das nove da manhã até às nove da noite. Mas ele não era idiota, sabia o que ela queria dizer.

—Vamos olhar televisão – ele falou por fim – James vai ter que sair uma hora ou outra, mamãe não está dando moleza para ele desde que todas as cartas de Hogwarts chegaram.

Ela pareceu brava, depois triste, e depois sorriu – Tudo bem. Mas eu escolho o canal!

...

—E então, já falou com ela? – perguntou Rose, balançando os pés dentro d’água. Ela e Scorpius estavam sentados na beirada da piscina da casa dele, com os pés dentro d’água e um guarda sol atrás deles.

—Como foram seus NOM’s? – perguntou ele, ignorando a pergunta dela.

—Todos em Ótimo, menos Runas... Mamãe está um pouco brava, ela não acredita que eu tirei um Péssimo!

—Quem precisa de Runas? – ele perguntou desdenhoso.

—Isso é verdade, mas... – ela parou, olhando para ele de forma fuzilante – Não era disso que estávamos falando!

—Tem razão, não era – ele concordou amargo – Vamos lá, pode perguntar.

—Não falou com ela, falou?

—Não, eu não falei Abobrinha – ele puxou um fio do cabelo dela, e se jogou para trás, deitando no chão – As coisas não são tão fáceis quanto parecem.

—Ela é sua irmã, quão difícil pode ser? – perguntou Rose, enfática.

—Eu tenho medo de que ela se feche de novo, Rose – ele explicou – Calisto... Duvido que ela não saiba disso, e provavelmente de muito mais. Estou começando a entender a forma como ela pensa, como ela age, o porquê de fazer o que faz... Mas tem mais coisa, eu sinto isso.

—Talvez ela saiba o que é – falou Rose – Nunca vai saber se não conversarem.

—Se ela quisesse que eu soubesse, talvez tivesse me falado – Agora ele estava com raiva – E talvez, eu não queira saber.

Rose grunhiu, ficando nervosa também – Talvez ela se afaste. Talvez eu não queira saber. Talvez, talvez, talvez... Você precisa começar a decidir o que quer Scorpius! – ela se levantou, andando até uma cadeira e calçando as sandálias – Se quer respostas, precisa fazer perguntas. Não pode esperar que as pessoas adivinhem o que você quer!

Ele suspirou. Tinha a ligeira impressão de que aquilo não era só sobre Calisto, no fim das contas.

—Aonde você vai? – perguntou ele, enquanto ela marchava para dentro.

—Ligar para minha mãe e avisar que estou indo para casa almoçar – ela falou, sumindo dentro da casa.

Scorpius chutou a água, a vendo esguichar até o outro lado da piscina. Ele fazia mesmo tudo errado!

—O que é isso? – perguntou Rose, voltando para o lado de fora com a bolsa na mão e na outra, uma caixinha preta aberta, mostrando uma gargantilha de ouro rose em forma de flor– estava na minha bolsa!

—Não era para você ter encontrado ainda – ele falou, tirando os pés de dentro d’água e se levantando – Feliz aniversário!

—Você lembrou? – ela ergueu uma sobrancelha, desconfiada.

—Bem, eu vi no calendário – ele deu os ombros – Mas eu sabia que seu aniversário estava próximo, e Calisto me fez ir à joalheria com ela por que encasquetou que eu precisava de abotoaduras novas, e eu vi e... Bem, eu pensei em você.

—Deve ter sido muito caro... – ela falou pensativa, quase como se estivesse pensando em devolver – Não devia ficar gastando dinheiro à toa assim...

—Não estou gastando dinheiro à toa – ele falou, sorrindo – Estou gastando com você!

Rose corou. Abriu a boca e fechou de novo e abriu de novo, mas nada saiu.

—Será que eu consegui deixa-la sem fala, Abobrinha? – ele riu.

—Nem nos seus sonhos – ela franziu a boca. – Eu tenho que ir, minha mãe vai ficar esperando.

—Mande minhas lembranças – ele falou, seguindo ela até a sala e deixando que ela jogasse Pó de Flú na lareira e desse seu endereço e sumisse no fogo verde. Scorpius suspirou, se jogando no sofá.

Garotas eram tão complicadas. Ele sentia falta de ter um amigo para conversar. Não falava com Carter desde o último passeio a Hogsmead, ele ainda estava com raiva dele por deixar Evanna tão triste, mas mesmo antes não era tão fácil conversar com Carter.

Ele não queria admitir, mas sentia falta de conversar com Albus, dos tempos em que os dois eram apenas dois peixes fora d’água na grande Hogwarts.

...

—Gostei do que fez no seu cabelo – falou Calisto, enquanto lanchavam na praça de alimentação de um shopping trouxa – Quer dizer, as cores... Parece que estão dançando.

—Evanna disse a mesma coisa – sorriu a menina, enrolado as mechas nas mãos – Nunca comprei tanta coisa... Mamãe vai me matar.

—Ela te deu o dinheiro, não é? – Calisto ergueu uma sobrancelha – Não é como se não esperasse que você não gastasse. E as promoções que nós encontramos foram muito boas.

—Só estou com medo de não ter o suficiente para o resto do material no beco diagonal – falou Lilly, cautelosa – Não deveria ter trocado tantos galeões por dinheiro trouxa.

Calisto suspirou. Os Potter’s atualmente eram uma das famílias-bruxas mais ricas da Europa – Mesmo que não chegasse um quarto de todo o ouro que estava destinado a ser dividido entre ela e Scorpius um dia – mas não haviam ensinado os filhos a lidar com a própria riqueza. Ela sempre achou isso estranho quando estava com James, e Lilly não era diferente.

—Você parece cansada – falou a menina, franzindo a testa.

—Um pouco, eu não dormi muito nos últimos... Quarenta dias – ela deu os ombros, tomando um gole do seu shake – Mas eu estou bem, quer dizer... Eu não pareço bem?

—Talvez você devesse ir para casa dormir um pouco – sugeriu Lilly – Posso ir ao Beco com minha mãe e com os meninos, e podemos deixar o museu para outro dia.

—Não – falou Calisto, decidida, encarando Lilly – Hoje é meu dia de folga, vou dormir a noite inteira. Eu prometi que sairia com você hoje! E em falar nisso, sobre o que queria conversar comigo? Está evitando isso a manhã inteira...

—Talvez não seja uma boa ideia – falou Lilly, apertando os lábios.

—Uma má ideia? Deixe-me adivinhar – falou Calisto, cruzando as pernas e suspirando sonhadoramente – Tem esse garoto... E quando eu estou com ele parece que o mundo faz sentindo e... Ele é tão... Tão... Aah...

—Tudo bem, você está certa – falou Lilly, enquanto Calisto gargalhava da sua própria atuação - O que eu faço?

—Compras – falou Calisto, parando de rir – Deixe os garotos para quando for mais velha, Lilly. Acredite em mim quando eu digo isso, eles só dão problemas!

—Mas...

—Mas... – continuou Calisto, de uma forma um pouco sonhadora – Se não conseguir ficar longe dele... Chame-o para ir no cinema.

—Ele não é muito do tipo que curte diversões trouxas – ela falou, enrolando uma mecha do cabelo.

—Se ele gosta de você, ele vai querer ir – Calisto garantiu – Se não quiser, bem... Ai você faz compras!

—Tá, mas mesmo assim... O que você fazia com Damon? – Lilly falou rapidamente, temendo que Calisto ficasse chateada se ela falasse em James.

—Damon é mais velho do que eu, e não éramos um bom exemplo. Nossa diversão era brincar com a vida alheia, e... Bem... Ele ficava me ouvindo cantar e tocar piano, e brincava com meu cabelo enquanto eu estudava, e dançávamos juntos no meio da sala – um sorrisinho brinco na boca dela.

—Ainda gosta dele? – perguntou Lilly, com os olhos brilhando.

—O que? Não! Damon Pearkison não é alguém que você possa gostar sem se ferir um pouco – falou Calisto, torcendo a boca – Ainda somos amigos. Bebemos juntos e conversamos, e ele adora me dar lição de moral e bancar o dono da verdade, mas não romance.

—Então... Como eu sei se vai dar certo? – perguntou Lilly, insegura.

—Essa é a graça do amor, Lírio – falou Calisto, se levantando e pegando suas sacolas – Você não sabe!

Lilly parou por um minuto, enquanto Calisto se afastava – Lírio?

...

—Ah, você chegou – Sorriu Luna para Evanna, assim que ela entrou em casa – Ficamos com medo que você chegasse tarde, e nós não pudéssemos ir.

—Ir? – perguntou Evanna, confusa – Ir a onde? A essa hora? Aconteceu alguma coisa?

—Não, não, só vamos jantar na casa de um amigo – falou Rolf, descendo as escadas com uma gravata dourada nas mãos – Pode me ajudar?

—Claro – falou Luna, arrumando a gravata dele – A propósito, querida, abrimos suas notas. Parabéns pelos NOM’s!

—Espera, vocês o que? – perguntou Evanna, correndo para a cozinha e pegando a carta. Pais, eles não tem mesmo senso de privacidade. Mas ela havia ido bem mesmo, tudo Ótimo, com exceção de História da Magia, mas um aceitável não era nada para se preocupar.

—Vamos? – perguntou Luna, entrando na cozinha e pegando a bolsa sobre a mesa, olhando para a filha.

—O que? Agora? – perguntou ela, apavorada – Mas eu ainda estou com a roupa do...

—Está adorável – falou Luna, apetando a bochecha dela – Neville pode ficar preocupado se nos atrasarmos.

—Estamos indo para a casa dos Longbottons? – perguntou ela, dando um passo para trás. Isso não era bom. Estava evitando falar com quase todo mundo desde o último passeio a Hogsmead. Ficar frente a frente com Carter? Ela era covarde demais para isso, mesmo que ela não tivesse feito nada de errado. E se começasse a chorar? E se enlouquecesse e começasse a gritar no meio do jantar? E se ficasse nervosa e começasse a falar um monte de abobrinhas. Ela sentia que ia vomitar – Eu acho melhor irem só vocês... Eu estou muito cansada, e vou demorar para me trocar.

Ela olhou para as roupas. Estava aliviada pela mãe deixa-la fazer as aulas de balé, mas era muito cansativo. Tivera que pegar carona com uma das meninas por que as sapatilhas não eram feitas para caminhar na rua, e suas sandálias estavam machucando bem nas suas bolhas. O vestido não era ruim, só era um daqueles que os outros alunos de Hogwarts olhariam torto se a vissem usando. Diferente das garotas trouxas, elas adoravam passar horas olhando a paisagem se mover enquanto Evanna andava.

—Não precisa se trocar, está ótima – falou Luna, pegando a varinha e dando uma batida na cabeça da filha – Agora sim, está ótima.

Evanna olhou o próprio cabelo no espelho, mas o que viu foi à mãe sorrindo atrás dela. Tudo bem, ela faria aquilo por ela!

—Minhas garotas estão prontas? – perguntou Rolf, entrando na cozinha – Então vamos!

Ela nunca se acostumaria a viajar na rede de Flú, pensou Evanna enquanto entrava nas chamas verdes, se vendo em seguida sendo cuspida pela lareira da casa dos Longbottom em Londres.

—Aqui querida – falou Luna, lhe ajudando a levantar.

—Achei que tinha ouvido vocês – falou Neville, entrando na sala de estar com um avental levemente chamuscado – Luna, fico feliz que tenha vindo! Olá também Rolf, como está à perna?

—Muito melhor do que da última vez que nos vimos – sorriu o pai de Evanna, dando um abraço em Neville.

—Olá Evanna, como vão as férias? – ele perguntou, sorrindo. Ela imaginou que o filho não teria contado a ele o que tinha acontecido.

—Muito bem, Professor Longbottom – falou ela, sorrindo da melhor forma possível.

—Fico feliz em ouvir isso – ele sorriu – Venham, o jantar será servido daqui a pouco. Carter já deve estar descendo também, ele lhes fará companhia.

Maravilha.

A casa não era muito grande, tinha apenas um andar. O que fazia sentido, já que provavelmente o professor só ia para lá durante as férias de verão. Mas era muito bonita, embora mal cuidada. Tinham retratos cheios de poeira e cortinas rosa chá por todo o canto, o que deveria significar que o professor e Carter não mudará nada desde a morte da esposa.

Evanna balançou a cabeça, enquanto entravam na sala de jantar. Não era da conta dela.

—Fiquem a vontade – falou Neville, deixando a sala. Não demorou muito para Carter aparecer, um tanto receoso, e cumprimentando os pais dela.

Evanna não tinha a mania de sentir raiva dos outros, ou guardar mágoas, mas pela primeira vez isso estava acontecendo, e era algo muito forte. Como ele podia agir tão naturalmente perto dos pais dela depois de tudo?

Eles não se falaram durante o jantar, o que os adultos pareceram nem notar, já que não pararam de falar por um minuto. Ela estava morrendo de sono, e a cada minuto percebia o quão melhor seria ter ficado em casa. Aquelas sapatilhas não ajudavam, também.

—Crianças, por que não vão para a sala assistir televisão? – perguntou Luna, sorrindo. Evanna não queria ir, mas bastou olhar para o pai para ver que eles queriam ter alguma ‘conversa de adulto’ e não discutiu.

—Quer olhar TV? – perguntou Carter, quase como se estivesse com medo de ser jogado pela janela da própria casa. Ela queria ter coragem para fazer algo assim.

—Não – foi tudo que ela conseguiu falar, tirando o telefone da bolsa e vasculhando o aparelho. Assim como as aulas de balé, foi uma pequena conquista que ela conseguiu após muito implorar para os pais.

—Então... Agora você faz balé? – perguntou Carter, enquanto alguma coisa gritava na televisão. Ela não levantou os olhos nem para ele, nem para a tela. – Ou só ficou com vontade de usar sapatilhas?

Silêncio. Olha só, mais uma celebridade qualquer tinha sido presa. Parecia quase interessante.

—Vestido legal – falou Carter – É bem... A sua cara.

—Você quer dizer esquisito? – ela não conseguiu se conter. Ele não conseguia ficar em silêncio e deixa-la fingir que não estava incomodada?

—Evanna, sobre o passeio...– ele começou, agora que tinha conseguido sua atenção – O que você viu não foi...

—Eu sei o que eu vi – ela falou, se levantando – E não quero falar sobre isso. Na verdade, eu não quero falar com você, então por favor, não fale comigo!

—Mas...

—Crianças, eu trouxe sobremesa – Rolf falou, entrando na sala com dois pratos com bolos. – Você está bem querida?

—Não – falou Evanna, se virando para o pai – Estou com dor de cabeça. Muitos rodopios hoje. Acho que eu vou vomitar. Pode me mandar para casa?

—Venha, vamos falar com sua mãe e todos vamos – falou Rolf, puxando a filha pelo braço – Você precisa de uma poção e se deitar um pouco.

Por um minuto, enquanto ela saia, Carter pensou que havia estragado tudo de vez. E então, ele viu Rolf Scamander o encarando, como quem não acreditou na história da dor de cabeça, e teve certeza que tinha estragado tudo.

...

...

Albus se sentou sozinho no quarto, depois do jantar. Ele havia convencido os pais a lhe deixarem ver suas notas sozinho, mas não conseguia coragem para abrir o envelope.

Ele fechou os olhos, e puxou o selo de Hogwarts e respirou fundo antes de abrir os olhos.

Podia ter sido pior. Podia ter sido melhor.

Tinha dois Ótimos, em Herbologia e Trato de Criaturas. Excede Expectativas em Transfiguração, Astronomia e Feitiços. Aceitável em Adivinhação e Estudo dos Trouxas. Péssimo em Poções e Trasgo em História da Magia. Ele já esperava por essas.

Ele olhou para as notas até dormir. Tinha acontecido tanta coisa no ano anterior. A Ascenção a popularidade ao lado de Crystal, e depois toda aquela história dos boatos. Ele poderia ter mais alguns Ótimos. Poderia ter sido até aceitável em poções. Mas deixou aquilo tudo lhe distrair e tirar seu foco.

Ele se pegou imaginando que nota seus amigos haviam tirado, quando percebeu há quanto tempo não falava com eles. Mesmo com Rose, que uma vez viverá na sua casa, agora ia lá com os pais raramente e falava apenas com James e Lilly. Evanna e Carter, ele ouvirá o que acontecerá no último passeio a Hogsmead, mas desde então não virá nenhum dos dois. Scorpius. Ele fora o melhor amigo de Albus um dia, mas agora, depois dos boatos sobre Calisto que se espalharam pela Slytherin, e de alguma forma acabaram levando ele ao clero da casa, Scorpius deveria odiá-lo.

Ele não se importava com as notas de Sarah Goyle ou algum de seus colegas de casa, a quem virá um ou outra vez durante festas de aniversário que Crystal insistirá que eles tinham que ir, durante o verão. Ele queria saber como Rose, que sempre sonhará com os NOM’s havia se saído. Como Scorpius, que perderá a mãe messes antes havia se saído. Como Carter, com toda a pressão de ser filho dos professores havia se saído. E como Evanna, sempre com a cabeça na lua, havia se saído.

Mas ele não sabia. Em algum momento, ele afastará todos eles. Perderá todos eles.

Perderá todos os seus amigos.

Ele sentiu lágrimas nos olhos, e então se levantou, descendo a escadaria. Estava chovendo lá fora, mas ele não se importava. Começou a estapear o saco de pancadas até suas mãos doerem, e mesmo assim ele ainda estava com raiva.

Por meses ele se perguntou por que estivera com tanta raiva, se aquilo tinha a ver com os boatos, mas não. Ele estava com raiva de si mesmo, por sempre deixar tudo lhe afetar.

Ele voltou a bater no saco de pancadas até ficar tão exausto que não se aguentava em pé. Aquilo não estava ajudando mais, precisava de alguém real, antes que começasse a bater em si mesmo de tanta raiva.

...

Rose deitou na cama depois do jantar, e se virou para o criado mudo. Já era meia noite. Ela pegou a caixinha de veludo preto, e tirou o colar dali. Ele cintilou na luz fraca do abajur e ela riu, notando algo a mais. Tinha uma inscrição atrás, uma palavra em cada pétala.

From. Rose. One. Rose. Rosê.

Ela mordeu o travesseiro para não gritar, ou rir, ou dos dois. Ele era tão... Maldito Scorpius Malfoy e sua mania de mexer com a cabeça dela!

Era pedir demais que ele não fosse tão lento ao ponto de não perceber que ela estava esperando que ele desse o primeiro passo?

...

Scorpius olhou para o pai, e depois para a irmã, e então para o seu próprio prato. Estavam em um restaurante em Londres, daqueles em que os pratos são do tamanho de um disco de fresbee e a comida de uma tampa de garrafa de refrigerante.

De alguma forma, tanto seu pai quanto Calisto havia comido apenas metade do que lhes fora servido. Ele sabia por que, era um prato com ervilhas, e ambos odiavam ervilha. Também era o primeiro prato do cardápio, o que significava que eles haviam pedido a primeira coisa que viram.

Nenhum dos dois parecia estar realmente ali.

—Deveríamos ir em algum lugar depois do jantar – falou ele, tentando aliviar o clima – Ao teatro, ou ao cinema. Você entende disso, tem algo que queira ver Calisto?

—Na verdade, não sei – Calisto deu os ombros – Estou bastante cansada, caminhei a tarde inteira hoje.

—Eu também gostaria de ir para casa – falou Draco para os filhos – Foi um dia bastante corrido no ministério, minha cabeça está doendo um pouco.

—Oh, está bem, quem sabe outro... – Scorpius tentou manter a conversa, mas Calisto o cortou.

—Onde doí? – ela perguntou para o pai, os olhos cinzas arregalados de repente.

—Deste lado – falou Draco, um pouco confuso – Mas não é nada, é apenas muito trabalho querida.

—Deveríamos... Ir para casa... O senhor precisa descansar – falou Calisto, estendendo a mão e tocando a testa do pai – Está... Está com febre...

—Calisto? – perguntou Scorpius, mas a irmã já havia se levantando e começado a puxar o pai.

—Calisto, o que pensa que está fazendo? – perguntou Draco.

—Hospital... Temos que ir, para o hospital! – falou ela, apavorada. As pessoas começaram a olhar para eles, Scorpius se levantou e puxou a irmã para longe do pai.

—Calisto... Calisto! – gritou ele, e então ela começou a chorar e se encolher, abraçando ele.

—Está acontecendo de novo Scorpius... Temos que leva-lo para o hospital... – ela falou, aos prantos nos ombros dele – Não podemos... Não podemos perder o papai também...

E então ele entendeu – Está tudo bem, Calisto. Calma, é só uma febre... Eu tenho febre na semana de provas. Você tem febre na semana de um jogo. Papai teve um dia cansativo, só precisa dormir um pouco.

Ele começou a ir para fora, enquanto o pai pagava a conta, mas por mais que tentasse acalma-la Calisto seguia murmurando “está acontecendo de novo” sem parar.

Eles aparataram até em casa, onde ele teve que prometer para ela que seu pai tomaria um remédio e se deitaria, para que ela enfim fizesse o mesmo. Ele não dormiu aquela noite. Ficou andando de um quarto ao outro da casa, garantindo que os dois estavam bem.


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Notas finais do capítulo

E bem vindos ao sexto ano! Espero que tenham gostado, não se esqueçam de comentar.
Bjs, Meewy!



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