BLOODLINE escrita por Meewy Wu


Capítulo 7
Ano I Capítulo VI




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Após passar mais de uma semana sem nem falar com a irmã, Scorpius sentiu-se aliviado quando ela se afastou em direção a seus amigos assim que entraram no trem. Ele não sabia exatamente em que momento ele deixara de ignorar Calisto e passara a ser ignorado por ela. Era difícil conviver com Calisto, mas nos últimos meses era simplesmente mais difícil.

Ele se encolheu sozinho em um vagão, se perdendo entre as manchetes e as palavras cruzadas do jornal do dia, sem notar o mundo a sua volta, nem pensar na frieza do pai, na suade da mãe ou nos problemas com a irmã.

—Com licença – as batidas fizeram Scorpius virar-se para a porta, ajustando os óculos e encarando Albus Severus Potter ali parado e ofegante – Se importa se eu ficar aqui?

—Hm, não, sem problemas – o loiro deu os ombros, percebendo o olhar ocioso do outro garoto – Minha irmã não está aqui.

Vermelho, Albus entrou no vagão – Eu...

—Você não é a única pessoa que tem problemas com Calisto, Albus – ele deu om riso amargo – De qualquer modo, ela quer me ver tanto quanto a você, então aqui deve ser seguro.

—Certo – ele se sentou, dando um olhar receoso à Scorpius - Obrigada. Meu irmão me atrasou e não tem mais nenhum vagão livre, sabe. Mas onde estão seus amigos?

Scorpius deu os ombros – Não sou de nenhum deles o feriado inteiro. De qualquer forma, eu queria ficar sozinho.

—Desculpe, eu vou parar de falar – Albus se encolheu, abrindo uma revista e folheando lentamente.

O trem partiu. Levou quase uma hora para que Scorpius voltasse a falar com Albus.

—Espero que não se importe, mas posso perguntar algo? - o loiro se voltou bruscamente da janela para o outro lado do vagão.

—Você é da Ravenclaw, eu ficaria preocupado se não perguntasse – Brincou Albus, mas Scorpius seguia sério.

Albus suspirou. Sem dúvidas, aquele era mesmo o irmão de Calisto Malfoy.

—Como seus pais reagiram, você sabe, por ter ido para a Slytherin – Scorpius observou a surpresa do outro com a pergunta – Desculpe, não quis ser tão – ele parou por um minuto para pensar, o que não queria ser? Direto? – Invasivo.

—Tudo bem, não tem problemas – Albus pensou por um minuto – Bom, eu acho que eles não fizeram nada muito diferente se eu fosse para qualquer outra casa. Passaram o feriado me engordando e enchendo de perguntar, igual foi com James no ano passado.

Scorpius assentiu, sem saber o que falar. Havia sido preenchido de perguntas no primeiro dia, mas nenhuma verdadeira sobre ele, e então simplesmente parecia que nunca havia ido embora – o pai estava sempre no trabalho e a mão indisposta e só pareciam estar juntos quando tinham de manter a aparência de família perfeita em frente as visitas.

—Mas apesar de tudo, eu ainda sinto que estou falhando com eles – Albus completou, suspirando – Ainda mais com James por perto o tempo inteiro.

—Sei como é – Scorpius Concordou – Com Calisto é a mesma coisa, e o pior é que ela sequer percebe.

—Eles nunca percebem – suspirou Albus, olhando em volta um pouco desconfortável, sentido algo no bolso do casaco e tirando uma caixa de feijõezinhos – Você quer?

—Meu pai não gosta que eu coma doces – Scorpius franziu a testa – Aceito.

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Calisto empurrou Damon aos socos para fora do vagão - ele saiu rindo e gritando coisas sem sentido. Não era como ela se importasse com Marie, ou qualquer outra das conquistas de Damon, mas era nojento ouvi-lo falar daquela forma de alguma garota, e quando ele começou a descrever a curva do decote dela Calisto decidiu que era demais para a dor na sua cabeça. 

—Idiota – ela resmungou, assim que fechou a porta, se sentando sozinha no vagão. Não demorou muito para que a porta se abrisse – Se você vai seguir me... 

—O que aconteceu aqui? - perguntou Evanna, com um sorriso gentil na fresta da posta – Vimos Damon Parkinson saindo daqui, rindo e tropeçando mais do que um bêbado. 

—Provavelmente ele exagerou seu limite de cerveja amanteigada nas festas – ela suspirou – É a única explicação para o comportamento deplorável dele.  

—Nós não achamos mais nenhum vagão vazio, se importa de ficarmos com você? - Evanna tentou, um pouco amedrontada – Prometemos não incomodar. 

—Você e quem mais? - Calisto tentou ver por cima do ombro dela, enquanto a outra puxava Rose pelo braço - —Ah, a menina do dever de herbologia – falou Calisto, em reconhecimento – Weasley, não? Cabelo ruivo... 

—Rose Weasley – concordou ela, pensando como a loira podia esquecer seu nome. Elas tinham metade das aulas juntas, e tinha passado três dias refazendo aquele trabalho. 

—Isso – ela concordou, pensando por um minuto – claro, fiquem à vontade. Não acho que Damon vá voltar. 

Calisto observou as outras duas se sentarem na sua frente, e esticou as pernas no banco em que estava, ficando com os pés pouco abaixo da janela, onde a luz do sol aquecia seus dedos. Ela fechou os olhos, pensando em quão pouco tinha dormido nos últimos dias. Estar em casa era como estar cercada de todos os segredos e pesadelos que lhe assombravam, como se tudo pudesse alcança-la – como se ela pudesse alcança-la. Ali, se afastando de Londres, ela se permitiu fechar os olhos e dormir ao som da conversa das duas meninas. 

—Nós já chegamos? - foi tudo que ela perguntou para as meninas, quando suavemente como o frear do trem ela despertou, vendo as duas juntarem as suas coisas – Parece que só fechei os olhos por alguns minutos... 

—Você dormiu a viagem inteira – falou Evanna, acenando e saindo correndo atrás de Rose, que já estava do lado de fora do vagão. Calisto esticou os braços e se levantou, pegando Íncubos e em seguida olhando pela janela. Já era noite agora, e todos haviam tido seus jantares servidos no trem, enquanto ela dormia. 

Íncubos se acomodou melhor em volta de seus ombros enquanto ela seguia para fora do vagão, vendo saírem de um outro vagão não muito distante seu irmão com ninguém menos que Albus Severus Potter. 

—Olhe só, se o desgosto de Hogwarts não se uniu afinal – ela riu, se encostando na parede do trem, erguendo uma sobrancelha – Fez um amiguinho novo, Hyperion? 

—Pelo menos eu tenho amigos Calisto, é mais do que você tem – Scorpius grunhiu, revirando os olhos – Só Íncubos consegue te aturar, por que é igual a você. 

Ela bufou, passando por ele e seguindo para o ar gelado. Irmãos podiam ser cruéis. 

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Conforme as semanas passavam e o sol começava a dar suas aparições mais frequentes e radiantes, o humor na escola começou lentamente a melhorar. Era claro para todos que os gêmeos Malfoy ainda não haviam voltado a se falar, sempre mantendo uma distância quase respeitosa nas aulas que tinham juntos, ficando perto de seus respectivos grupos de amigos. Rose e Evanna, envolvidas em suas próprias casas, provas e interesses tão pouco se falavam e Albus, com todos ocupados com os próprios deveres, viu-se preocupado com os seus também. 

Se sentia, acima de tudo solitário - não tinham ninguém para dividir o fardo do primeiro ano de provas. Seus amigos tinham datas e prazos diferentes, e seus colegas de casa faziam questão de lembra-lo que não era um deles a cada chance que podiam. Damon e Sarah estavam tão ocupados agora, que sequer perdiam tempo fazendo piadas com ele – sequer se juntavam a desocupada Calisto, que parecia não tão pouco se importar em estudar, e passava os dias e as vezes as noites, como ele diversas vezes presenciou em seus percursos até a cozinha, sozinha na sala comunal. 

E uma atrás da outra, as semanas seguiram passando até o dia do último jogo de Quadriboll, o clássico Gryffindor vs. Slytherin, e a escola estava em extasse.  

Poucos dias antes da páscoa, os alunos animados seguiram para fora do castelo em direção ao campo. Calisto, segurando um copo de café, caminhava devagar até o campo, esperando que Sarah a alcançasse em algum momento.  

—Desculpe – James Potter esbarrou contra ela, com seu uniforme suado, e parou em sua frente – Parece que nos encontramos de novo. 

—Onde é que você se esconde o ano inteiro? - ela riu, dando um gole em seu café, olhando em volta procurando por Sarah – Parece que você só aparece nos dias de jogos. 

—Uma estrela tem que se poupar – ele deu os ombros, enquanto ambos seguiam em direção ao campo – Acho que não veio torcer por mim, não é mesmo? - ela negou, e ele franziu os olhos – Tem algo no seu cabelo. 

—Onde? - ela ergueu a mão até a cabeça, procurando sem achar nada. 

—Aqui – ele pegou uma folhinha, balançando em frente ao rosto dela – Eu... Bem, acho melhor eu ir. Eles não podem jogar sem mim. 

—Você é tão convencido... – ela revirou os olhos, mas quando ele se afastou um pouco, ela gritou mesmo assim – James! 

—Sim? – ele perguntou, se virando na mesma hora. 

—Boa sorte – ela falou, assentindo de lado cordialmente. Ela deveria estar fora de si, só podia. Ele ergueu uma sobrancelha e Calisto aproveitou a brecha pra complementar - Você vai precisar! - Ele revirou os olhos, e lhe deu um grande sorriso antes de se afastar correndo. 

Em menos de um minuto, Sarah apareceu ao seu lado – Eu vi isso... 

—Você quase não viu o início do jogo – grunhiu Calisto, olhando feio para ela – E nem eu. Podemos ir? 

—Você estava falando com James Potter – continuou a morena, acelerando o passo para acompanhar Calisto – Ele é bonito.  

—Se você acha... - ela procurou por seus colegas no meio das arquibancadas. 

—Bem, não bonito como Damon, mas ainda sim – Sarah seguiu tagarelando - Você não acha? 

—O que? - Calisto gritou sobre as outras vozes, franzindo a testa. 

—Não concorda que são bonitos? - Sarah perguntou, quando finalmente acharam um lugar – James e Damon... 

—Pare de falar bobagens Sarah... – ela falou, empurrando a amiga levemente. Sarah riu, mas calou-se, e as duas assistiram junto aos colegas o jogo se desenrolar até o inesperado empate. 170 a 170, com o pomo para a Slytherin. Não era apenas o empate do jogo, era o empate de todo o campeonato. 

—É inacreditável senhoras e senhores, o maior e mais esperado jogo da temporada acabou em um glorioso empate – anunciou Lia – A professora McGonagall está aqui anunciando que ambas as casas dividem a vitória do campeonato este ano. Isso não acontece desde 1886... Mas não se decepcionem, sempre há um novo campeonato! 

—Eu não consigo acreditar que você simplesmente deixou todas aquelas bolas passou – Calisto falou para Damon, enquanto o time recebia parabéns e risos debochados em medidas iguais do resto da casa, seguindo para o castelo – Às vezes eu realmente acredito que você é um bastardo. Não herdou mesmo o lado do seu pai... 

—Todos nós temos dias ruins, certo? - ele a empurrou de leve – Queria ver se fosse você lá! 

—Eu com certeza não fugiria cada vez que a bola viesse na minha direção - ela alegou, fazendo uma careta – Parecia estar fazendo de propósito... 

—Por favor Malfoy, cale a sua boca um minuto certo? - ele pediu, se afastando alguns passos – Em alguns momentos você é mesmo irritante. Parece até que está fazendo de propósito. 

—Só por que você é um péssimo goleiro Parkinson, não te dá o direito em descontar na garota – James Potter apareceu na multidão de alunos, sorrindo para Calisto – Ela só está falando o que ela pensa. O que todos pensam, alias. 

Damon deu um sorriso cansado - Não é isso que ela faz sempre? Pode perguntar para o seu irmão se não acredita em mim. 

—O que ele quis dizer com isso? - James perguntou, enquanto Damon se afastava. 

Ela deu de ombros - Não importa – ela olhou em volta, até ver Damon se afastando sozinho pela multidão – Melhor eu ir atrás dele. Mas hein, jogou bem hoje! 

Ele deu um sorriso convencido, do tipo que já sabia daquilo, e ela saiu quase correndo, passando por um grupo de alunos da Ravenclaw, ela encontrou os olhos calorosos e preocupados de Scorpius. Toda a raiva dos meses passados havia passado dele e diante a raiva injustificada de Calisto eles perguntavam “O que aconteceu?” 

Ela deu os ombros, e sorriu, antes de seguir, ainda mais rápido, para dentro do castelo. Alguns alunos da Slytherin haviam começado a festejar contra toda a possibilidade na sala comunal, mas ao encontrar Damon ela percebeu que era melhor ficar longe. Ela apenas seguiu para o quarto, onde apenas Íncubos a esperava, dormindo em seu aquário novo, que Sarah havia lhes dado de Natal.  

Sentada nos pés da cama, tirando os sapatos, Calisto pensou em todos aqueles garotos idiotas. Em Damon, James e Scorpius, e em toda a dor de cabeça que estavam lhe dando naquele minuto. Ela se jogou para trás na cama, observando os detalhes do teto até que pegou no sono. 

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Enquanto o último jantar era servido, Albus observou com cuidado o salão principal. A professora McGonagall estava prestes a anunciar os pontos das casas, e o êxtase preenchia o ar em volta deles. 

—Em quarto lugar, com 340 pontos, está a Huffle Puff, seguida pela Gryffindor, em terceiro lugar com 410 pontos – ela parou por um minuto, dando um olhar triste para a mesa da Gryffindor onde todos os alunos ainda olhavam feio para James e Fred, afinal as chances de ganharem seriam muito maiores se não fossem as brincadeiras dos dois – Em segundo lugar, Ravenclaw com 460 pontos. E a grande campeã do ano, com 505 pontos, a Slytherin! 

Enquanto seus colegas de casa gritavam em comemoração, as bandeiras e toda a sala ganhava as cores e as cobras da casa. Os outros alunos não pareciam nada felizes com a noticia, mesmo assim educadamente aplaudiram enquanto os alunos da casa das cobras brindavam e se felizavam entre si. 

—Albus! - Molly riu, sentando-se ao seu lado e lhe entregando uma caneca – Fique feliz primo, nós vencemos. Brinde comigo! 

Aquela não era a casa dele, ele queria dizer, mas brindou com a prima de qualquer forma. Ela amava aquele ninho de cobras, e era a única pessoa que não perdia cada minuto possível sendo cruel com ele. E mesmo que Albus não fosse admitir, ali em meio aos risos e comemorações, era bom ter alguém para brindar também. 

Aos poucos alguns outros vinham brindar com Molly, e consequentemente brindavam com ele também. Albus quase acreditou que o ano seguinte pudesse ser um pouco melhor. 

Enquanto o jantar chegava ao fim, alguns grupos de alunos começaram a se levantar e sair do salão. Em um desses grupos, estava James, que olhava fixamente para a mesa da Slytherin. Demorou para Albus perceber, que o irmão encarava Malfoy, que seguia Damon para fora da mesa. 

—Vamos Albus! - Molly o puxou, seguindo com a multidão até as janelas mais próximas do lago. Os alunos do último ano estavam partindo para a estação nos barcos, e entre eles estava Victoire, acenando para a família e os amigos, e talvez até mesmo para as pedras do castelo depois de sete anos. 

Albus se espremeu na janela, entre Rose e Jullie, acenando de volta, e na escuridão da noite ele viu algo brilhar na janela ao seu lado. Calisto Malfoy tinha metade do corpo para fora, o ar frio jogando os cabelos dela para trás, limpando seu rosto muito branco. Parecia um fantasma, ele pensou, se perguntando se era muito cruel querer que ela caísse dali. Ela o encarou por meio seguindo e um estranho brilho refletiu nos seus olhos por um instante, antes dela se virar com os olhos fora de foco para os barcos novamente. 

Eles se afastaram até que apenas as luzes fossem vistas, e depois, nada. 

Eles haviam ido. 

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O primeiro ano acabou tal como começou. Exceto eu, nenhum dos sete no vagão eram mais os mesmos. Quando Calisto parou na porta do vagão, com Sarah parada logo atrás dela, ela sabia que muito tinha mudado. 

—Entre, Europa – Scorpius sorriu, apontando para o lugar ao seu lado. Ela soltou o arque nem sabia que estava preso, sentando entre o irmão e Sarah que pegou o último lugar ao seu lado.  

De alguma forma, embora não gostasse particularmente da companhia daquelas pessoas, ela estava feliz por estar com o irmão. Deitou a cabeça no ombro dele e fechou os olhos, ignorando as vozes de Albus Potter e de Sarah, as mais incomodas entre as outras. 

Ela sentiu um aperto na cabeça, uma sensação de que aquilo era errado. Abriu os olhos, vendo a brecha ainda aberta da porta, pensando em sair dali, mas quem eram aquelas pessoas para tira-la de algum lugar? 

Ela fechou os olhos novamente, sentindo o perfume do irmão, que era o mesmo perfume do pai, que era o mesmo perfume do avô. Quando abriu os olhos, a luz da lua iluminava o vagão com luzes apagadas, todos deveriam estar dormindo. 

—Hein, Europa – sussurrou Scorpius, mas ela não ouviu. Seus pensamentos já estavam muito longe daquele vagão, em uma casa quente, confortável e luxuosa, onde seus pesadelos atacariam por mais um verão. Há não ser que ela pudesse evitar. 

Afinal, as pessoas só veem o que realmente querem ver. Essa não era apenas a opinião de Calisto Malfoy, sobre todos os seres do universo: Incluindo ela mesma. 

Fim do 1º Ano 


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