Interlúdio escrita por Lab Girl


Capítulo 9
Testemunha


Notas iniciais do capítulo

O capítulo passado mexeu mesmo com vocês, hein?! Muito obrigada pela chuva de reviews, foi uma delícia receber as impressões de cada um que se manifestou sobre as emoções daquele capítulo.

E desculpem pela demora em atualizar, acabei atrasando por motivos alheios à minha vontade, mas aqui está o capítulo novo. Antes de darem início à leitura, é bom ressaltar que eu não entendo de medicina, mas, como isto aqui é um trabalho de ficção, então tomei uma certa liberdade para criar esse quadro que vocês vão ler a seguir. Espero não deixar ninguém muito deprê.

Música sugerida: "Witness" by Sarah McLachlan https://www.youtube.com/watch?v=cIuif-wc6yo


Beijos e boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/630420/chapter/9

Davi sabia que a equipe do socorro estava dizendo coisas em voz alta, mas só conseguia distinguir seus próprios batimentos cardíacos ecoando furiosamente contra seus ouvidos enquanto acompanhava a maca que transportava Megan atravessar a porta da emergência.

“Moço, por favor. A gente vai cuidar dela, fica tranquilo.”

Só quando uma mão forte de um dos enfermeiros tocou o ombro de Davi, ele pareceu fazer registro do entorno.

“A gente vai cuidar dela, agora você precisa ficar aqui e preencher a ficha de entrada da paciente, tá bem?”

“Tá” Davi enxugou uma lágrima que nem tinha percebido ter deixado escapar e pegou prancheta que o enfermeiro lhe estendia, dando uma última olhada no corpo frágil e pálido de Megan sendo carregado na maca pelos socorristas, afundando hospital adentro. “Eu vou avisar a família dela também” ele murmurou.

“Faça isso” o enfermeiro meneou a cabeça. “Depois pode ir falar comigo ali naquele balcão” o sujeito apontou a área que ficava a alguns passos de distância.

“Certo” Davi limpou a mão direita na calça, puxando a caneta da prancheta e começando a preencher a ficha.

Os dados que ele sabia não foram problema. Outros, mais detalhados, porém, ele precisou consultar na agenda que por sorte ela trazia na pasta que ele resgatou do asfalto após o atropelamento, quando a ambulância chegou. O tipo sanguíneo estava anotado na primeira página, assim como alergias (ausentes, graças a Deus) e o contato de emergência que era o nome de Jonas riscado de vermelho, o nome e o número de Pamela escritos ao lado em azul.

Assim que terminou de preencher tudo, Davi entregou a folha ao enfermeiro no balcão, ansioso por informações.

“Por favor, o que está acontecendo? Como ela está?”

“Ela já está sendo atendida. Vou pedir para entregarem isto aqui ao médico encarregado. Logo vamos ter mais notícias, é preciso um pouco de paciência.”

Davi sabia que sim. Mas não conseguia evitar o nó de ansiedade na boca do estômago. Afastando-se do balcão da recepção e sacando o celular do bolso, tentou chamar o número de Pamela, mas foi atendido pela gravação informando que estava fora da área de cobertura ou desligado.

“Droga” ele murmurou baixinho, tentando o número de Ernesto então.

A voz do amigo atendeu ao segundo toque, mas não do jeito que Davi esperava.

Você ligou para Ernesto Avelar, o servo fiel da eterna Princesa Shelda e um dos cabeças da startup Brazuca…

“Caixa postal?! Mas será possível?”

Deixe o seu recado após o sinal que eu respondo assim que puder.

Suspirando, Davi reuniu forças para deixar um recado o menos assustador possível, mas estava nervoso demais e acabou dizendo apenas que tinha acontecido um acidente e estava no hospital com Megan e pedindo a Pamela ou a Ernesto que retornassem assim que pudessem.

Ao desligar, Davi sentiu o peso do corpo e da exaustão causada pela agitação inesperada da noite se abater sobre ele. Arrastou-se até as cadeiras de espera e fechou os olhos por alguns segundos, respirando fundo. Estava tudo tão perfeito… por que tinha que ter acontecido algo assim?

“Moço?”

Ele abriu os olhos de imediato, vendo o enfermeiro da recepção se dirigindo a ele.

“É Davi meu nome.”

“Davi, levaram a moça com quem você veio para o andar de cima. Se quiser, pode subir e esperar lá. Assim que o médico terminar o atendimento ele vai sair para falar com alguém que esteja acompanhando a paciente.”

“Certo” Davi se levantou, tomando o rumo do elevador.

Enquanto fazia o trajeto, levou a mão ao celular, checando se havia alguma nova mensagem. Mas nada ainda. Lembrando-se do telefone de Megan, procurou na pasta dela e logo viu que o aparelho estava desligado. Tentou ligá-lo, mas percebeu que estava sem bateria. Droga.

Algumas pessoas, certamente acompanhando outros pacientes, estavam espalhadas pelo segundo andar. Umas sentadas nas cadeiras dispostas para a espera, outras de pé, poucas conversando baixinho a um canto. A única semelhança entre todas elas eram as expressões cansadas e preocupadas. Davi imaginou logo que seu rosto refletia a mesma aparência.

Em vez de sentar-se numa das cadeiras vazias, ele preferiu ficar de pé perto de uma janela. O ar da noite o fez sentir-se menos sufocado. Depois de alguns longos minutos de agonia, um médico atravessou a porta que ficava ao fundo, fazendo todas as cabeças ali se virarem na direção dele.

“Algum familiar ou acompanhante de Megan Lily?”

Davi correu até o homem de jaleco branco. “Eu sou o acompanhante dela. Davi Reis.”

“Pois não, Davi, queira me acompanhar” o médico, um sujeito moreno do alto de seus trinta anos, abriu uma porta a esquerda e fez sinal para que ele entrasse.

A sala era pequena, bem iluminada, parecia um pequeno consultório. Davi tomou assento na cadeira que ficava de frente para a mesa onde o médico se sentou.

“Como é que ela tá, doutor?” Davi perguntou antes mesmo que o homem tivesse chance de começar a falar, mas não conseguiu contar a ansiedade.

“A paciente sofreu alguns ferimentos, nada muito grave, no entanto.”

Davi sentiu a respiração escapar pela boca numa onda de alívio, as costas tocando, enfim, o encosto da cadeira. “Graças a Deus!”

“Mas ela perdeu algum sangue com o baque e precisamos fazer uma transfusão o quanto antes se quisermos salvar o bebê que ela está esperando.”

“O… bebê?” Davi conseguiu murmurar, sentindo-se repentinamente zonzo enquanto encarava o médico.

“Sim, ela está grávida. Não sabia?”

“Na verdade, não” ele respondeu, surpreso por conseguir pronunciar as palavras.

“Precisamos da autorização de um familiar ou responsável ou não teremos tempo, a vida dela não corre risco, mas a da criança sim.”

Davi suspirou, a cabeça girando depressa demais como se tivesse acabado de levar um soco. A realidade iminente, porém, o obrigou a arrancar-se do estado de torpor.

“Eu já liguei para mãe dela, mas tive que deixar recado. Se é urgente, eu me responsabilizo pela paciente, doutor. Pode fazer a transfusão.”

“Ótimo. Vou iniciar o procedimento agora mesmo. Preciso que você assine o formulário de responsabilidade antes.”

“Agora mesmo” Davi secou as mãos suadas no jeans.

As letras do formulário dançaram diante de seus olhos por alguns segundos, forçando-o a inspirar e focar no papel. Preenchendo as lacunas, ele entregou à enfermeira que entrou na sala antes que o médico pedisse licença para voltar ao atendimento. Quando Davi se viu sozinho, ele, enfim, suspirou, deixando o ar escapar de uma vez pela boca. Caminhando para fora da sala, arrastou-se até as cadeiras do corredor, deixando o corpo, mais pesado que o normal, cair sobre uma delas.

“Grávida” a palavra escapou de seus lábios num sussurro.

E, mesmo dizendo em voz alta, ainda custava a acreditar. Por que ela não tinha dito nada antes? Por que tinha escondido algo assim dele? Por que, mais uma vez, Megan o tinha enganado?

Mas ele sabia que haveria tempo para que essas e outras peguntas fossem respondidas. No momento, o que realmente importava era que ela ficasse bem.

Virando o rosto, ele avistou Pamela ventando pelo corredor. Levantou-se de imediato para recebê-la.

“Davi! Davi, como ela está? O que aconteceu com a minha baby girl?”

Ele viu Ernesto vir logo atrás dela.

“Fica calma, Pamela. O médico já tá cuidando de tudo, ela tá bem.”

“Mas o que aconteceu? Ernesto disse que no recado você falou em acidente, que tipo de acidente?”

“Ela foi atropelada quando ia atravessar a rua da Plugar…”

“Atropelada? Oh, my God!” Pamela se virou, assustada, para Ernesto, que a abraçou.

“Calma, Pam. Não ouviu o Davi dizer que ela tá bem, que já estão cuidando dela?”

“Mas ela está…” Pamela deixou escapar, percebendo a tempo o que ia dizer e se calando.

Davi, no entanto, a encarou, sério. “Grávida, eu já sei. O médico solicitou autorização para fazer uma transfusão para salvar o bebê. Como você ainda não tinha chegado, eu autorizei.”

Pamela pareceu ficar aliviada com a notícia ao mesmo tempo que sem graça por saber que Davi tinha descoberto a gravidez da pior maneira. “Oh, muito obrigada, Davi.”

“Megan vai ficar bem, não se preocupe. A prioridade do médico agora é a criança” ele afirmou mecanicamente.

Davi viu a Pamela engolir em seco. Ernesto olhou para ele, aparentando também estar surpreso com a novidade. Pelo visto ele também não sabia de nada até então.

“Eu vou procurar um café, tô precisando” foi tudo que Davi disse antes de sair dali e se afastar dos outros dois.

Sua cabeça ainda estava zonza com os últimos acontecimentos e a notícia totalmente inesperada. E, para piorar, Pamela já sabia. Bem, era de se esperar. As duas dessa vez tinham se unido para manter o segredo. Davi não sabia como se sentir a respeito. Era assim que elas queriam que ele assumisse a Marra? Se não confiavam nele para contar uma coisa dessa natureza, como ele podia confiar nelas?

Mas logo Davi se repreendeu mentalmente. Não era hora para pensar nisso. Estava atordoado e as ideias se embaralhando em sua cabeça. Talvez fosse melhor ir para casa, deitar, respirar. Pamela já estava lá, cuidaria bem da filha. No momento ele precisava urgentemente de espaço. Precisava respirar. Ao atravessar as portas do hospital, encheu os pulmões de ar, sentindo o ar frio da noite cortar seu rosto e percebeu que chorava.

~


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Interlúdio" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.