A Imperatriz e a Princesa escrita por Melissa França


Capítulo 8
Há um mundo a te esperar


Notas iniciais do capítulo

Olá, amorinhas! Eu tenho um aviso bem legal para dar, bom, os capítulos serão um pouquinho maiores a partir deste! E, como forma de agradecimento, este capítulo é dedicado à Valéria Rib! Espero que gostem!

Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/630414/chapter/8

Apesar de a lua estar presente no céu, seu efeito era quase imperceptível e a floresta estava extremamente escura, tão escura que mal se enxergava um palmo a frente dos olhos, os barulhos de animais noturnos chegavam aos ouvidos dos dois amigos, enquanto eles iam rumo ao desconhecido. Gabrielle estava em cima do cavalo que Joxer havia levado para tirá-la dos domínios de César, um animal marrom e totalmente dócil, ele parecia saber que Gabrielle carregava uma criança, pois mantinha um ritmo constante e agradável. Autolycus e Joxer caminhavam ao lado do cavalo e conversavam com a barda sobre tudo o que acontecera.

– Então, o que trouxe o Rei dos Ladrões de volta a Roma? – Indagou a jovem, tentando manter-se acordada. – Pensei que havia se instalado em Atenas.

– Realmente. – O homem possuía uma moeda de ouro na mão e ficava jogando ela para cima durante toda a conversa. – Entretanto, recebi uma carta de um amigo contando sobre um tesouro que eu precisava roubar.

– Autolycus! – Ela o repreendeu. Gabrielle entendia que o amigo era bom nisto, gostava disto, mas detestava quando ele contava suas façanhas sujas para ela. Antigamente o Rei dos Ladrões apenas roubava dos mais ricos senhores de escravo, entretanto com o domínio de César as coisas haviam mudado e ele acabara roubando de algumas pessoas simples para sobreviver.

– Estou falando de você, bardinha. Joxer contou que precisava de ajuda. – Ele ergueu uma sobrancelha, quando Gabrielle corou. – Além do mais, eu prometi que voltaria antes do pequeno nascer.

– Eu ouvi o Imperador dizendo aos guardas para buscá-la, Autolycus havia chegado um par de dias antes, foi fácil armar a emboscada para a carruagem. – O soldado atrapalhado completou.

– Irá nos contar para onde estamos indo ou teremos que adivinhar? – Autolycus perguntou divertido.

– Eu... eu tenho alguém. – Ela ficou ainda mais vermelha. – Palavras não parecem suficientes para explicar o que acontece em meu coração agora. Apenas, preciso ajudá-la.

Ambos os homens pareciam um pouco atordoados. Um fitou o outro em busca de respostas, mas sentindo que nenhuma chegaria, olharam novamente para Gabrielle, que se encontrava realmente deveras envergonhada.

– Está apaixonada? – Os dois homens disseram em harmonia, o que aliviou um pouco o clima e fez a jovem rir.

– Estou, mas é uma coisa complicada. – Era a primeira vez que ela dizia ou admitia isto em voz alta e pareceu algo extremamente certo em sua alma. Ela estava apaixonada pela Imperatriz, a moça só esperava que isso não trouxesse problemas futuramente. – Não tenho tempo para explicar nada agora, infelizmente.

– Gabby... – Joxer tentou confortar a amiga.

– Não digam nada, apenas me sigam. – A poetisa incentivou o cavalo a dar uma partida maior e seguiu rumo a seu destino.

Quando eles estavam próximos o suficiente da cabana em que Solan estava, Gabrielle desceu do cavalo e começou uma breve explicação sobre o motivo que a levava a salvar o garoto. Pediu para que Joxer montasse no cavalo e amarrasse a mão dela com um pedaço de corda, que servia de sinto para Autolycus, o ladrão não gostou muito da ideia de se desfazer do adereço, mas concordou. Apenas dois guardas se encontravam em pé de frente a porta, enquanto um terceiro cobria o perímetro. Uma pontada em seu coração fez com que Gabrielle parasse por um segundo, a jovem pensou em Solan, machucava tanto a alma dela ao pensar na terrível vida que o pequeno levava, contudo ela sabia que estava ali para mudar isso.

O Rei dos Ladrões ficou escondido entre as árvores, como um segundo plano, enquanto a poetisa e o soldado romano foram em direção à singela cabana. Ambos pararam perante aos guardas e, para uma maior veracidade na cena, Joxer puxou a corda que prendia as mãos de Gabrielle para que ela ficasse mais perto dele.

– O Imperador ordena a presença imediata da criança no castelo. – Joxer disse em bom som, enquanto retirava o capacete de sua cabeça que fazia parte do uniforme romano.

– Não recebemos ordens para liberá-lo, soldado. – O mais forte respondeu.

– Está aqui, documentado. Olhe com seus próprios olhos. – Ele entregou um pergaminho que estava em sua bolsa.

O guarda desenrolou a escritura e balançou a cabeça, entregando imediatamente para o seu companheiro. O pergaminho possuía apenas uma receita de coelho, contudo nenhum dos homens de César pôde ler, pois ambos não possuíam a instrução necessária para leitura. Um olhou para o outro e com vergonha da verdade e acenaram em permissão para Joxer.

– O menino está dormindo, terá que entrar para acordá-lo.

– Venha aqui escrava. – Joxer desceu do cavalo e puxou a corda que prendia o braço de Gabrielle. – Entre lá e traga a criança.

A barda balançou positivamente a cabeça e adentrou a cabana assim que o amigo lhe soltou os pulsos. Ela reparou que Solan dormia pesadamente embaixo de algumas cobertas e teve certo receio em acordá-lo. A jovem se aproximou da criança aos poucos, sacudindo carinhosamente seus ombros, enquanto sussurrava seu nome da maneira mais maternal encontrada por ela.

O garoto abriu os olhos e sorriu imediatamente para a mulher de cabelos loiros que estava sentada a sua frente, tirando um peso enorme dos ombros dela, porque Gabrielle temia que Solan não se lembrasse dela ou sentisse raiva por ela o ter deixado, mas não, ela recebera um belo sorriso. Um sorriso tão parecido com o de sua Imperatriz.

– Gabrielle! – No mesmo instante ele pulou nos braços dela e a apertou. – Sabia que te veria novamente.

– Eu vim te tirar daqui, Solan, o que achas? – O sorriso no rosto do menino aumentou ainda mais. – Você precisa fingir que não me conhece, tudo bem? – Indagou acariciando o cabelo dele. – Pode fazer isso? – Ele balançou a cabeça. – Ótimo, só confie em mim. – Ela sussurrou.

Gabrielle colocou um cobertor nas costas do filho de Xena, beijou sua testa e o amarrou. Os dois guardas observaram atentamente eles desaparecerem em meio à escuridão da floresta. Contudo, antes de poderem sair do perímetro, o terceiro guarda finalmente apareceu. O homem era alto e loiro, não parecia querer conversar e logo desferiu um chute no joelho de Joxer, que caiu instantaneamente no chão.

A jovem grávida viu que o guarda estava vindo em direção a Solan, então ela derrubou o menino no chão e procurou rapidamente algo para se defender. Os outros dois homens que anteriormente haviam os deixado irem embora, se aproximaram também para a pequena batalha. Gabrielle encontrou um pedaço de madeira no chão e bateu no guarda que estava mais próximo a ela, derrubando o mesmo no chão no exato momento.

Autolycus percebeu a raiva de ambos os guerreiros que eles haviam enganado e engoliu em seco ao ver que ele estava em desvantagem. Ele desembainhou sua espada e cutucou Joxer com seu pé.

– Uma ajudinha aqui seria bem vinda. – O ladrão disse apreensivo.

Recuperando-se do baque, Joxer seguiu os passos do amigo e fez a mesma coisa que ele. Com a espada em mãos, ele partiu para cima de seu rival. Ele atacou imediatamente seu inimigo, partindo para cima com vários golpes. Seus músculos estavam um pouco tensos, o que fez com que ele vacilasse algumas vezes. Entretanto, quando o guarda o derrubou, ele usou o solo seco ao seu favor e jogou terra no rosto do rival, que recebeu um golpe com o punho da espada e caiu inconsciente no chão.

O ladrão, ao contrário do amigo, deixou seu oponente gastar todas as suas energias em seu ataque, enquanto ele apenas se defendia, logo em seguida desferiu um golpe com a extremidade da espada no guarda, o que fez seu adversário cair sangrado imediatamente.

– Até que foi fácil. – Autolycus sorriu e embainhou sua espada novamente.

– Já tive dias piores. – Joxer resmungou.

– Claro, eu sou brilhante! – O ladrão tirou os sacos de dinares dos bolsos dos guardas e sorriu.

– Você não... – Joxer olhou para Gabrielle e quando viu que ela estava apenas sorrindo, completou. – Tudo bem, você tem seu mérito. Parabéns!

Os dois continuaram a andar, enquanto a barda desamarrava os pulsos de Solan.

– Desculpe por isso. – A jovem estava preocupada com o bem estar do menino.

– Tudo bem. – Ele fitou os olhos da barda por um segundo e perguntou. – Por que você voltou?

– Eu... – O que ela deveria dizer? – Eu senti saudades. – Gabrielle sorriu.

– Mesmo? – O pequeno indagou cheio de esperança, o que quebrou mais uma vez o coração da moça.

– Sim, mesmo. – Ela sentira saudades, contudo não tanto quanto gostaria.

Logo eles chegaram a uma caverna repleta de flores, um lugar que Gabrielle chamara de lar temporário. Joxer e Autolycus logo se deitaram, eles dormiam em sacos de dormir próximos a entrada do local, enquanto a barda e o menino estavam deitados perto da fogueira que se encontrava no centro da caverna. Tudo o que a moça podia pensar era em como seu filho seria, ela observava Solan dormindo novamente, alisava os cabelos loiros do menino e ainda cantava a canção de ninar que ele havia pedido. A barda pedia aos Deuses para que ela pudesse ter um momento assim com seu filho.

Um sentimento de culpa a tomou de repente, parecia preencher sua alma de uma maneira sombria como se tudo o que quisesse no momento fosse Xena. Ela queria poder dizer a amada que seu filho estava vivo e a salvo, mas não havia nada para fazer neste momento, pela manhã ela cuidaria de pensar no reencontro de mãe e filho.

Gabrielle foi a primeira a acordar, seus pensamentos ainda focados na Imperatriz e sua prole. Ela chamou Autolycus para lhe mostrar até onde o perímetro era seguro, o que, logicamente, foi apenas uma pequena desculpa para mandá-lo a uma missão.

– Preciso que me faça um imenso favor, Autolycus. – Ela olhou para seu ventre em forma de desapontamento. – Infelizmente eu não pos...

– Qualquer coisa por você, bardinha. – Ele sorriu.

– Preciso que você vá até o mercado e compre comida decente para todos nós. E me traga uma coruja. – Ele iria perguntar o porquê do último item, mas foi interrompido pela barda. – Não discuta, por favor.

Em seguida, ela voltou para a caverna e pegou dois pergaminhos, um já usado e outro em branco. O usado, Gabrielle usou para traçar um mapa na parte contrária da de uso. No em branco, ela escreveu três palavras e o enrolou novamente. Quando o Rei dos Ladrões retornou, ela colocou o pergaminho com as três palavras junto de uma rosa vermelha nos pés da coruja e entregou o mapa para o amigo.

– Leve essa coruja até o local indicado no mapa e deixe-a encontrar a Imperatriz, traga Xena para mim. – Ele sorriu imediatamente, sabendo que descobrira quem era o amor de sua amiga. – Tenha cuidado. – Gabrielle aproximou-se do amigo e o abraçou. – Boa sorte!

Longe dali, Xena andava de um lado para o outro em sua cela. Era angustiante pensar que Gabrielle poderia estar sofrendo, sendo punida ou até mesmo sendo induzida a um parto prematuro. Ela voltaria ver a barda algum dia? Voltaria a ver aqueles belos olhos verdes e se perderia neles por segundos intermináveis? Ficaria sem palavras apenas com um toque macio vindo da alma mais bondosa que ela já conhecera?

Os sentimentos de Xena começavam a assustar. Tudo parecia tão sombrio, tão frio sem a presença de sua amiga ali. Ela não podia respirar de tanto medo, de tantas saudades de uma jovem que ela conhecia há apenas meses. A mulher de cabelos negros não entendia como podia sentir tantas coisas em relação a esta escrava, ela não compreendia como podia amá-la em tão pouco tempo. Um ruído começou a vir da janela de sua cela, chamando sua atenção imediatamente.

Xena aproximou-se e descobriu uma coruja sobrevoando ao redor da fenda. Fazia tanto tempo que a Imperatriz não via uma dessas, que instintivamente ela colocou a mão para fora a fim de acariciá-la. A coruja, no entanto, apenas a entregou algo e foi embora. A guerreira parou para analisar o que era e se surpreendeu ao ver que era um pergaminho, porém a surpresa maior se deu quando ela viu uma rosa dentro do mesmo. Gabrielle. Ela estava viva, sua amada estava viva. Os olhos de Xena correram para ver o conteúdo do pergaminho e seu coração saltou ao ler as três palavras.

– “Solan está livre”.

Sem pensar duas vezes, a Imperatriz chutou a porta de sua cela o mais forte possível e sorriu. Depois de tantos anos aposentada, ela finalmente estava de volta à batalha.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Sinto que as coisas estão esquentando agora, o que acham? Deixem-me saber sua opinião! Até o próximo capítulo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Imperatriz e a Princesa" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.