A Imperatriz e a Princesa escrita por Melissa França


Capítulo 10
Não há mais o que temer


Notas iniciais do capítulo

Oi, amorinhas! *-*

Capítulo delicinha, que eu amei escrever e espero que vocês gostem de ler. Dedicado a uma grande amiga minha, Jess!

Boa leitura!



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A Imperatriz estava parada em frente à caverna e, como se estivesse preparando-se para uma enorme batalha, suspirou pesadamente tentando planejar cada passo que seria dado. Ao entrar no lugar repleto de flores, a primeira coisa que seus olhos viram foi a imagem doce e amorosa de Gabrielle. A jovem usava uma fita nos longos cabelos loiros e um lindo vestido verde, que combinava com seus olhos, ele era longo e deixava as curvas extras da gravidez ainda mais evidentes. Uma pequena faixa amarela separava o busto do ventre arredondado e dava um ar angelical a jovem.

Gabrielle estava sentada perto de uma fogueira, contando histórias a um menino, Solan. Ao ouvir o ruído das botas da guerreira, sua atenção foi voltada imediatamente para ela. A barda sorriu, até pensou em levantar-se e dizer que finalmente tudo acabara, imaginou-se abraçando a Imperatriz e dizendo que elas estavam livres, finalmente livres de César e da torre, mas tudo o que a jovem fez foi olhar para o garoto deitado em seu colo e sorrir ainda mais.

– Ele está dormindo. – Ela sussurrou com uma forte emoção embargando sua voz.

Xena não disse uma palavra, não era necessário dizer. Ela se aproximou dos dois, abaixou-se e sentou frente à fogueira também. A Imperatriz passou sua mão no cabelo de Solan, pensando em quão lindo seu filho era. Lágrimas enchiam seus olhos, faziam a visão ficar um pouco distorcida, uma mistura de felicidade por finalmente conhecer o seu menino, com a tristeza de não tê-lo conhecido antes, se instalara na guerreira. Recusando-se a derramar suas lágrimas, ela recebeu um pequeno conforto da moça ao seu lado.

– Está tudo bem, Imperatriz, derrubar algumas lágrimas não irá lhe fazer mal. – Gabrielle alisou o rosto da mulher, tentando não olhar diretamente para os olhos dela.

– Sabes que eu não sou sua Imperatriz, sou sua amiga. – Ela sorriu ternamente.

A poetisa voltou-se para Solan e o acordou delicadamente. Ela recebeu um sorriso desajeitado do pequeno, um sorriso que lhe lembrava tanto Xena. Ele sentou-se e deu um olhar curioso à mulher desconhecida, parecia tentar analisá-la ou, talvez, seu coração a reconhecia, porque seus olhos brilhavam com uma intensidade única.

– Quem é ela, Gabrielle? – O garoto perguntou com a voz sonolenta.

Uma simples pergunta, uma única questão que fez o coração da guerreira entrar em colapso. Quem ela era? Sua mente lhe dizia que não havia uma resposta para isto. A Imperatriz de Roma? A Princesa Guerreira? A mãe de Solan? Não! Ela era apenas uma mulher sem um coração completo, sem a outra metade de sua alma.

A barda olhou para o garoto, sem tirar o sorriso doce do rosto, e o respondeu.

– Esta é Xena, uma grande amiga minha. Ela vai ficar com a gente por um tempo, tudo bem? – Um pouco desconfiado, ele acenou positivamente com a cabeça.

– O que aconteceu com seu nariz? – Ele apontou para o local sangrando, com uma curiosidade que Gabrielle bem conhecia.

Sem jeito, com a voz embargada e o rosto ainda molhado pelas lágrimas, ela disse:

– Eu sou um pouco desastrada, caí do cavalo enquanto vinha para cá. – A mulher mentiu e se aproximou um pouco mais.

Solan logo se interessou pelo assunto, montaria era algo que ele sempre teve um saudável interesse em aprender. Percebendo que ambos haviam encontrado um assunto em comum, Gabrielle se calou. Deixando mãe e filho se conhecerem. O pequeno não se sentia tão confortável sozinho apenas na companhia de Xena, por esta razão sempre se encolhia um pouco para o lado da loira.

Por mais que o coração da guerreira batesse no ritmo do de Gabrielle, por mais que ela quisesse abraçá-la e, talvez, até mesmo beijá-la, Solan, seu filho, sangue do seu sangue, estava a sua frente, contando histórias divertidas de uma infância feliz. A morena apenas esqueceu a dor que emanava de seu rosto e continuou ouvindo os contos do menino.

Os dias foram passando rapidamente, eles queriam viajar logo, sair de Roma o mais rápido possível, mas a gravidez avançada da barda impediu estes planos. Com o tempo, a emoção e estranheza do primeiro encontro entre mãe e filho foram suavizando e ambos já possuíam vários aspectos em comum. Para ele, ela era uma boa amiga que lhe ensinaria várias habilidades novas. Para ela, cada olhar de carinho e sorriso genuíno preenchia um pedaço de seu coração.

Em uma noite mais fria que as anteriores, Xena percebeu algo incomodando Gabrielle. A jovem estava sentada na entrada da caverna, os olhos direcionados a infinita floresta e as mãos estavam depositadas em seu ventre. A Imperatriz olhou para o filho, certificando-se que ele estava dormindo e seguiu rumo à amiga. A barda não olhou de imediato para ela, continuou fitando a floresta, a guerreira não se importou, apenas ficou do lado dela esperando que a moça começasse a falar.

– Ele é o pai. – Gabrielle disse baixinho, triste e envergonhada, depois de um tempo. – César é o pai do meu filho.

Xena fitou a amiga, mas esta ainda não a olhava, seus olhos estavam direcionados ao seu ventre e de maneira nostálgica ela o acariciava.

– Eu sei, Gabrielle. – A Imperatriz revelou.

Por mais insana que a mente de César fosse, Xena sabia que ele apenas confiaria em seu próprio sangue para governar Roma. Infelizmente, a mulher de cabelos negros não conhecia os detalhes, nem compreendia os motivos, mas ela sabia que a criança que a escrava carregava era do seu marido.

– Eu gostaria que me contasse como tudo aconteceu, poderia fazer isso? – Xena perguntou com cuidado. Sua curiosidade era grande, mas ela tinha medo de trazer memórias dolorosas para a jovem.

O coração da jovem barda parecia ter parado de pulsar por um segundo. Xena sabia. Gabrielle tentou começar uma explicação, mas sua voz falhou várias vezes. Sua mente ainda se sentido confusa e em dúvida. A poetisa confiava totalmente na guerreira, mas se expor desta maneira era deveras complexo. Em um ato de coragem, ela começou sua história.

– Ele tentou me conquistar, várias vezes. – Gabrielle tentou fitar a amiga, mas não conseguiu. – Levava-me belos vestidos, mandava preparar banquetes fartos para mim. Inicialmente, ele apenas queria que eu fizesse companhia para ele no quarto, Alti me odiava, odiava o fato de eu ter mais atenção que ela. – A barda ficou inquieta por um segundo e finalmente olhou para a guerreira.

– César sempre foi assim, Conquistador. Ele sempre conseguia o que queria. – Xena disse pesadamente, sabendo que ela fazia parte de uma das muitas conquistas dele.

– Mas, eu não podia, não conseguia amá-lo. – Gabrielle forçou um sorriso, que passava apenas tristeza. – Um dia, porém, César e Alti discutiram muito, eu e os outros escravos estávamos no dormitório quando ele veio com dois guardas, eles vieram em minha direção e me levaram até os aposentos do Imperador. – As lágrimas começaram a vir como um rio sem rumo, não pareciam que iria cessar tão cedo. – Bem, você deve imaginar o resto. Isso aconteceu várias vezes depois, até que fui cuidar de Solan e ele descobriu que eu estava grávida.

– Ele descobriu? – A guerreira sussurrou.

– Sim, eu não sabia até então. Talvez fosse o medo ou a vergonha, não sei dizer o que tampou meus olhos em relação a isso.

– Eu sinto muito, Gabrielle. – Não haviam palavras para serem ditas naquele momento, todo o conforto que a barda precisava era resumido em um abraço que veio da parte de Xena.

– Mas... – Ela suspirou pesadamente, havia algo pior vindo. A loira saiu dos braços da amiga e olhou para a floresta novamente, ela precisava contar tudo. – Eu não fui enviada para a torre apenas porque o bebê precisava nascer lá... – Ela engoliu em seco um par de vezes antes de conseguir continuar. – Eu tentei... – A barda hesitou. – Eu tentei interromper a gravidez.

Com uma expressão de derrota e total vergonha, Gabrielle fitou diretamente os olhos da Imperatriz.

– Eu tentei matar o meu filho. – Uma crise de soluços, causada pelo choro sufocado se iniciou e outro abraço foi recebido. – César não confiava em mim para manter a criança, nem eu mesma confiava, não podia suportar a ideia de carregar o Imperador dentro de mim por mais tempo.

– Mas, você mudou de ideia, não foi? Vejo em seus olhos o puro arrependimento, vejo que teve medo de perdê-lo. – Xena alisou os cabelos loiros da barda, em seguida limpou as lágrimas da moça com seu polegar.

– Eu tive, ainda tenho. – Gabrielle se deleitou com o toque macio em sua pele, tão diferente de qualquer outro que ela recebera, tão suave e gentil. – Não posso ficar aqui, esperando para César aparecer e tomar meu filho.

– Prometo a você, assim que ele nascer, nós partiremos para Amphipolis e nos livraremos de César, de Roma e tudo isso. – Xena olhou para Gabrielle e, dela, olhou para os lábios da jovem, uma tentação de levar os seus lábios até os da moça a invadiu, contudo o momento pedia algo menor, algo mais sutil, mais doce. Por esta razão, a guerreira apenas deu um leve beijinho na testa da loira e sorriu. – Vai ficar tudo bem.

Um tempo se passou, um tempo que ambas desejaram que fosse eternizado, um tempo que apenas elas existiam e o ritmo de seus corações batia em sincronia. Gabrielle havia parado de chorar, Xena inalava o aroma dos cabelos da barda e ficava inebriada com tanto amor que seu coração evidenciava possuir.

– Agora você, definitivamente, sabe tudo sobre mim. – A mais nova sorriu genuinamente, ainda que estive triste. – Mas, eu... bom, eu mal sei sobre você.

– O que queres saber? – Xena sabia o que vinha e não tinha medo disso.

– A torre. – Gabrielle disse decidida, cheia de curiosidade. – Como foi parar lá?

Com um suspiro pesado, indicando que uma longa história estava por vir, a Imperatriz começou.

– Havia este recém-chegado, Eli, ele era um homem bom, cheio de amor ao próximo e palavras de sabedoria. Alguns o chamavam de profeta, outros de demônio. Os romanos começaram a julgá-lo, pediam que o Imperador o crucificasse, César acatou a vontade do povo, mas eu não pude permitir isso. Ele era um bom homem, então, o libertei, o coloquei em um navio e o mandei para Tebas. – Ela disse sem rodeios.

O Profeta, Gabrielle se lembrava de ouvir alguns murmurinhos no castelo sobre ele, mas nunca parara realmente para ouvir sobre Eli.

– César descobriu rapidamente o que eu havia feito. – Ela continuou. – Pensei que iria me crucificar no lugar do homem, mas não. Ele mandou os guardas crucificarem minha dama de companhia, outra inocente. – Não havia lágrimas, mas havia um profundo sentimento de tristeza que deixava a voz de Xena mais fraca.

– Eu sinto muito. – Foi um sussurro, que apenas Xena entenderia.

– Tudo bem, foi há algum tempo já. – A morena sorriu para confortar a amiga. – Depois disso, nós discutimos, eu disse que iria embora. Havia planejado tudo, pegaria Solan e o levaria junto de Kaleipus para Amphipolis, ficaríamos lá e seríamos felizes. Entretanto, algo deu errado. A próxima coisa que lembro foi acordar na torre com Alti.

– César aparentemente moldou nossas vidas e acabou nos colocando no mesmo lugar. – A barda sorriu tristemente, mas de maneira apaixonante.

– Apesar de ser um bastardo, ele me deu você e eu até poderia o agradecer por isso. – Xena brincou.

Depois de alguns segundos, ela abraçou Gabrielle e a deixou descansar sobre o seu peito. Tudo ficaria bem.


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Notas finais do capítulo

Espero que ele tenha cessado algumas dúvidas e, se houverem mais, podem perguntar para mim, fiquem à vontade!

Até o próximo capítulo!



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