Experimento Vermelho Sangue escrita por Bolinha Roxxa


Capítulo 8
Alfie


Notas iniciais do capítulo

OK. Eu sei, eu quero pedir um milhão de desculpas por isso. Passei mais de um mês sem postar, e não sei se posso dizer que foi por culpa das provas, pq eu também estava meio sem criatividade. Não sei se esse capítulo vai ser exatamente o que vocês queriam, mas eu prometo que postarei um bônus dele o mais rápido possível. Apenas não postarei junto pq ficaria muito comprido o cap. :P
Bom, espero que gostem, e por favor pessoal, comentem se vocês gostaram. É muito chato saber que vocês leem o capítulo, mas não comentam nada...
Bjos...



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– O garoto mais novo saiu com um olho roxo e o pulso torcido, enquanto o mais velho ficou com o braço quebrado e acabou perdendo parte da orelha! - a irritação era evidente na voz firme e forte da diretora. – Eu espero que os seus filhos arquem com as responsabilidades que seus atos causaram aos meus dois alunos. A conta do hospital será debitada em sua conta, Senhora Merle, e eu realmente espero que você dê um exemplo para as suas pestes e pague ela.

Alfie sentiu a irritação de sua mãe mascarada pela calma que ela exibia naquele momento. O garoto revirou os olhos e observou a sua irmã gêmea que encarava a diretora e possuía um leve sorriso no canto dos lábios. Ele não conseguiu deixar de esboçar um sorriso ao ver o sangue seco na bochecha e no queixo da garota.

– Eu falarei com os meus filhos sobre o ocorrido e me certificarei de que eles nunca mais façam algo assim. – ela falou de modo firme e calmo.

– Eu espero que isso seja verdade. – a mulher murmurou com certa repulsa.

– A senhora poderia pelo menos me relatar como tudo aconteceu?

A diretora arrumou os óculos e pegou os papéis em cima de sua mesa. Ela limpou a garganta e então começou. – Aparentemente Alfie começou tudo quando resolveu atacar um garoto de oito anos, dois anos mais novo que ele, sem um motivo claro. Ele torceu o seu pulso, como eu disse anteriormente, porém ao ver o que o seu filho estava fazendo, o irmão mais velho do garoto apareceu para defendê-lo. Pelo o que eles me contaram, o menino mais velho conseguiu fazer Alfie parar. – a mulher torceu o nariz. – E foi aí que a sua linda princesinha apareceu para defender seu filho. Ela pulou nas costas do irmão mais velho e simplesmente mordeu a orelha dele e a arrancou!

Alfie sorriu pela lembrança e então olhou para sua mãe, que continuava com a mesma expressão séria de antes. Seu cabelo castanho estava preso em um coque espantado, exibindo que a aparência era a menor de suas preocupações. O garoto arqueou a sobrancelha levemente.

– E quanto a Octávio? – sua mãe questionou com calma.

A diretora a analisou por um momento e por fim respondeu.

– Ele foi o único que não fez nada. Pelo menos você criou um direito.

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Alfie sentiu o coração bater de modo forte e desconfortável em seu peito. Ele perdeu o ar por alguns segundos e então acordou abruptamente. A primeira coisa que fez foi abrir as pálpebras, exibindo os seus belos olhos para o mundo, e em segundo foi visualizar o lugar em que estava. Por um momento ele se esqueceu de tudo o que havia acontecido depois de que sua mãe morrera, contudo as lembranças vieram rapidamente. O garoto retornou a fechar os olhos e apenas abriu-os quando sentiu uma repentina dor em seu braço direito.

As íris verdes deslizaram de maneira rápida em direção ao seu braço, e o que viu o fez suspirar. Uma enorme agulha saía de sua pele de modo automático. Ele tentou mover a cabeça, porém ao fazer isso os eletrodos grudados no seu couro cabeludo o impediram.

Fazia dias que as suas manhãs começavam e terminavam daquele jeito. Alfie se sentia cansado por todos aqueles testes que estava sofrendo sem receber nenhuma resposta. Ele queria ver os seus irmãos, saber como estavam, e principalmente queria saber o real motivo de estarem ali. A única coisa que sabia era que não estava louco. Antes de tudo começar, as noites intensas e agitadas o fizeram ter questionamentos sobre o que poderia estar acontecendo, porém agora ele tinha certeza que aquelas coisas não eram apenas de sua cabeça.

– Aconteceu mais uma vez? – ele questionou desinteressado enquanto continuava olhando a agulha se afastar.

Atrás do vidro, que separava o ambiente em que Alfie estava do lugar em que as máquinas estavam, uma linda mulher se fazia presente. Ela possuía a pele clara e os olhos frios e cinzentos, que eram cobertos pelos óculos finos e escuros. A elegante mulher possuía a postura perfeitamente ereta e observava o garoto de longe.

– Sim. – ela respondeu de modo firme. – Assim como todas as vezes que você dorme.

O garoto a ouviu enquanto analisava a cadeira em que estava sentado e preso. Desde quando ele retornara a ser um prisioneiro?

– Você não sabe me dizer quando estes testes irão acabar, não é?

A mulher desviou o olhar em direção ao computador em que um homem digitava rapidamente e observou tudo o que lá estava. Seus olhos retornaram a encarar o garoto de modo firme.

– Não tenha muitas esperanças, Alfie, mas eles podem terminar mais cedo do que imagina.

O garoto arqueou levemente a sobrancelha direita e finalmente olhou em sua direção. A mulher continuava séria em posição de descansar, o que era até engraçado. Ele não pôde deixar de rir da situação em que se encontrava.

– Então vocês descobriram o que realmente acontece comigo. – ele afirmou com um sorriso no rosto.

– Um pouco. – ela respondeu. - Conseguimos identificar uma presença de descargas generalizadas de complexo ponta-onda, polipontas e de ondas lentas sempre com acentuação frontal direita. Estas descargas elétricas sempre ocorrem quando você está dormindo. Não conseguimos entender como elas ocorrem e nem o porquê, mas descobrimos que logo depois que estas descargas iniciam, o seu “dom” parece acordar.

Alfie não respondeu nada de imediato, apenas continuou com o sorriso na face.

– Imagino que você também tenha alguma ideia sobre o que está acontecendo com os meus irmãos.

– Sim, eu tenho.

– E o que é?

– Receio não poder contar para você, - ela respondeu – mas logo você saberá, garoto.

Ele permaneceu em silêncio mais uma vez, pensando em tudo aquilo. No momento os cientistas e técnicos na outra sala sabiam muito mais sobre o que estava acontecendo com o seu corpo do que ele mesmo. É claro que Alfie já tinha uma ideia do que possivelmente poderia ser. Não era ao acaso que ele acordara dias seguidos em lugares estranhos. O garoto tinha as suas especulações.

– Vocês ainda não confiam em nós. – ele lambeu os dentes de maneira irônica e então olhou para a mulher. – Você já sabe o que nós podemos fazer, e não é segredo que você precisa de mim e meus irmãos para alguma coisa, mas do mesmo jeito vocês não se permitem de me deixar alcançar as minhas habilidades, ou o que isso seja. Toda vez que eu acordo tem uma agulha enfiada em meu braço, e eu sei muito bem que ela serve para bloquear de alguma forma os meus dons, como você disse.

Seus olhos verdes brilharam quando ele encarou a mulher atrás do vidro e percebeu que ele estava certo.

– Vocês não querem arriscar. Acham que a gente irá se rebelar e fazer alguma contra vocês, e quer saber de uma coisa? – ele sorriu perversamente. – Vocês tem toda a razão.

O garoto continuou sorrindo enquanto a linda mulher o fitava. Ela deu alguns passos em direção ao vidro de modo que ficasse mais perto de Alfie. Seus olhos cinzas estavam escuros no momento.

– Você está certo, garoto. Não podemos confiar em vocês ainda. Temos o homem que vocês querem, mas isto não é suficiente. – pela primeira vez ela esboçou um sorriso. – Mas não se preocupe, temos uma ideia em mente que talvez funcione.

Alfie ergueu as sobrancelhas em desafio, expressando uma pergunta: é mesmo?

– Logo você se encontrará com os seus irmãos e irá descobrir.

Ela continuou sorrindo e se virou, deixando o garoto para trás.

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– Você poderia pelo menos me contar o porquê de atacar aquele garotinho. – sua irmã o questionou de maneira um tanto curiosa. Ela ergueu a sobrancelha em sugestão. – Acho que eu mereço uma explicação depois de levar retirada por morder a orelha daquele gorducho.

Alfie desviou o olhar para a pequena garota que se apoiava no armário da escola e lhe lançou um sorriso.

– Acho que você pode estar surda, minha irmã. – ele respondeu. – Já lhe disse que a cara dele me irritava.

Kaila se aproximou rapidamente do garoto e o encarou de perto, levantando-se com as pontas dos pés para ficar cara-a-cara. Alfie estufou o peito ainda magrelo e continuou sorrindo. Ele nunca contaria aquilo para a sua irmã. Ele não poderia contar... O garoto nem sabia o que estava acontecendo com ele mesmo, por que teria que envolver Kaila nisso? A menina não conseguiria entender que seu irmão explodira por ter sido chamado de bichinha. Na verdade, nem ele ao menos entendia.

– Sei que está escondendo algo, Alfie. – ela murmurou se afastando, com o seu olho azul brilhando. – Ainda irei descobrir.

– Quando você descobrir pode me contar, eu também quero saber.

Ele falou e desviou o olhar para a multidão que passeava pelos corredores no horário de intervalo. Sabia que Kaila era sua irmã, e que ela havia entrado na maldita briga por ele, mas não conseguia contar aquilo. Alfie olhou para o seu silencioso irmão que ouvia a conversa dos dois.

– E você, Octávio? – o garoto questionou de modo inquieto. – Por que não fez nada, por que não foi nos ajudar?

Octávio deslizou o olhar azulado e frio em direção ao irmão. Era incrível como ele possuía apenas dez anos, porém aparentava ter muito mais.

– Se vocês querem ser brutais e idiotas o suficiente para sair brigando com qualquer um, isso não é problema meu. – ele falou. – Mas eu não sou sujar minhas mãos por bobeiras.

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Seus passos lentos e largos e ecoavam pelo corredor. Apesar de o garoto estar com as mãos livres e poder andar em seu próprio ritmo, ele não sentia estar em liberdade. Três homens armados e protegidos caminhavam em sua frente, enquanto quatro permaneciam atrás e dois de cada lado. Aquela senhorita elegante falara que a presença dos soldados era requerida por questão de segurança, contudo Alfie não conseguia compreender. Ele podia não saber de nada sobre o que estava acontecendo e o porquê, porém de uma coisa tinha certeza; suas habilidades apenas funcionavam quando ele estava adormecido.

Ele soltou um leve sorriso ao encarar ambos os pulsos e vislumbrar os metálicos braceletes sobre a sua pele. A mulher não explicou para o que servia o objeto quando Alfie acordou com aquilo, porém o garoto se limitou a sentir graça. Tudo o que estava acontecendo com ele era uma piada sem fim, porém isso não importava mais, pois logo ele iria encontrar os seus irmãos. Alfie questionava como Kaila e Octávio deveriam estar. Eles estariam sofrendo testes assim como ele? O garoto tentou tirar esse pensamento de sua cabeça e então continuou andando tranquilamente pelo caminho que lhe era definido.

O garoto sentiu o coração bater no mesmo ritmo em que seus passos. Pela primeira vez Alfie estava nervoso por ver os seus irmãos. Tinha que admitir que sentia saudades deles depois de passar uma semana separado de Kaila e Octávio. Quando o garoto vislumbrou a porta metálica no final do corredor ele suspirou e fechou os olhos por alguns segundos. Não sabia dizer, porém tinha certeza que seus dois irmãos se encontravam ali. Ao abrir os olhos um sorriso brotou ao mesmo tempo.

A porta metálica abriu automaticamente quando ele e os soldados se aproximaram. Os militares da frente, assim como os dos lados, fizeram uma fila no lado direito e esquerdo da porta para que Alfie entrasse. O garoto observou aquilo com um sorriso satisfeito, e então seguiu em frente.

A luz da sala era bem mais forte do que fora dela, e machucou um pouco a visão desacostumada do garoto. Quando o barulho da porta se fechando ecoou até os seus ouvidos ele levou as mãos até a testa e impediu que a luz chegasse aos olhos. Neste mesmo momento Alfie conseguiu ouvir algo que fazia muito tempo que não escutava; o riso de sua irmã.

– Olha quem não morreu, Octávio. – o barulho de seus pés pousando no chão fez o garoto olhar em sua direção. – Aparentemente ainda tem todos os membros inteiros, mas parece ter levado uma surra feia.

O garoto sorriu para si mesmo ao ver a imagem da irmã se aproximando. Nunca se sentira tão feliz por ver sua irmã. Kaila estava um pouco diferente do que ele se lembrava, contudo ela continuava bela como sempre. Incrivelmente o seu cabelo estava do mesmo jeito, sem ter perdido nenhum fio, porém suas roupas estavam diferentes. Quase toda a superfície de sua pele estava coberta por um tecido da roupa azul escura, tirando apenas o pescoço e o rosto. Suas duas mãos eram cobertas por luvas negras e em seu peito repousava a figura de uma mariposa negra dentro de um círculo branco. Com toda aquela visão para absorver, Alfie apenas se concentrou nos braceletes de metais escuros que havia em seus pulsos, assim como os dele.

O garoto sorriu para a menina e se aproximou.

– Você iria adorar isso, mas eu apenas não consegui dormir bem. Agora, você parece que foi muito bem tratada, está até cheirando a flores.

Kaila ergueu uma sobrancelha e soltou um leve sorriso. – Não posso falar que tive um tratamento tão ruim, mas gostaria que tivesse sido melhor. Eles não explicaram quase nada sobre o que está acontecendo.

– Não se considere especial. – o garoto falou desviando o olhar pelo lugar. – Eu também estou perdido.

A sala era bem parecida com a qual eles ficaram no primeiro dia, tirando o fato de que não havia nenhum buraco na parede para eles se deitarem. Desta vez havia mesas e cadeiras, várias luzes no teto e nas paredes e até mesmo uma cesta com frutas. Tudo isso era muito impressionante, contudo não podia negar que o que mais chamava atenção era a enorme tela digital presente.

No canto do lugar, sentado em uma cadeira arrastada, Octávio permanecia sério e silencioso como sempre fora. Ele estava focado em apenas uma coisa; os braceletes que havia em seus pulsos.

– Octávio. – Alfie murmurou, porém o garoto não respondeu. – É bom ver você também, meu irmão.

Ao falar aquilo, Octávio levantou o olhar sombrio e encarou por alguns segundos o irmão. Ele pareceu analisar todo centímetro da face de Alfie, e então por fim voltou para o seu bracelete.

– O que fizeram com você?

O garoto o observou com cuidado.

– Apenas uns testes. – ele murmurou de modo natural. – Colocaram alguns eletrodos em minha cabeça e ficaram monitorando o meu cérebro, ou algo assim.

– E então?

– Bom... – Alfie coçou a sua nuca. – Acho que eles descobriram alguma coisa. Aquela mulher falou algo sobre descargas elétricas e mais algumas coisas.

No momento em que o irmão mais forte falou da mulher, Octávio guiou os seus olhos frios em direção a ele. Um leve calafrio passou por sua espinha. – Descargas elétricas? Hum... – então o garoto desviou o olhar mais uma vez e retornou a analisar os braceletes.

Alfie revirou os olhos ao perceber que seu irmão continuava o mesmo depois de tudo o que havia acontecido, e quando decidiu sair de perto dele Kaila apareceu de repente ao seu lado e começou a fitar Octávio com seriedade. O jovem de olhos verdes a encarou de modo curioso por um momento até ela desviar o olhar sobre ele. Os seus olhos naturalmente claros tinham um aspecto escuro no momento. O garoto conseguiu sentir a tensão no ar que havia acabado de surgir.

– Eles te falaram alguma coisa, Alfie? – ela questionou de modo sério. – Qualquer coisa sobre o que estamos fazendo aqui.

No momento em que essas palavras saíram de sua boca, Octávio pareceu perder o interesse sobre os braceletes e então começou a prestar atenção na conversa dos irmãos.

Alfie se lembrou de todos os momentos que presenciou durante aquela conturbada semana que ficou afastado dos dois, e percebeu o quão angustiado estava por não saber de nada.

O garoto olhou para a menina e respondeu meio ressentido. – Eles... Eles não me falaram nada. Nem uma única explicação do por que estamos aqui.

Ele conseguiu perceber a decepção no olhar de sua irmã, seguido por uma expressão de raiva. No momento em que Kaila abriu a boca para responder, uma forte voz feminina a interrompeu antes mesmo de começar.

– Nem Alfie e nem vocês sabem o exato motivo de estarem aqui. – ela murmurou com naturalidade.

Ambos os irmãos viraram para trás e observaram a enorme tela na parede que projetava a imagem da mulher que eles conheceram muito bem na última semana. Alfie sentiu os seus membros ficarem tensos. Talvez fosse um reflexo por parte de seu inconsciente, pois toda vez que a via a única coisa que se lembrava era exaustão.

Kaila sorriu para tela e deu alguns passos a frente. – Olha, se não é a querida anfitriã que planejou nossa reuniãozinha.

A mulher na tela digital não pestanejou ao ouvir aquilo e responder de forma direta. – Não sou sua anfitriã, Kaila. Também não sou sua chefe e nem sua amiga. Assim como vocês não são meus empregados ou convidados, e sim, meus prisioneiros. Eu apenas sou a mulher que obtém o poder sobre a sua liberdade e sua vida.

Alfie não gostou nenhum um pouco do que acabara de ouvir. A palavra “prisioneiros” não era nada agradável aos seus ouvidos. Ele percebeu que sua irmã sorriu ao ouvir seu discurso, pois ela não esperava nada menos do que aquilo. O garoto sentiu a presença do irmão mais velho ao seu lado, permanecendo com todos os três em frente da enorme imagem da mulher. Como Kaila não se pronunciou ela retornou a falar.

– Preciso admitir que é um alívio eu finalmente poder encontrar vocês reunidos aqui hoje. Uma semana se passou desde que vocês chegaram e apenas agora eu posso ter certeza que nós estamos preparados para o que está para vir. Eu espero que vocês sejam receptíveis e escutem o que eu tenho a lhes dizer, pois isso é de muita importância. – ela parou por um segundo e arrumou seus óculos.

Alfie sentiu as suas mãos suarem depois de ouvir a voz firme e feminina da senhorita em sua frente. Aquela mulher que ele nem sabia o nome estava prestes a contar o que o garoto mais queria saber nos últimos tempos, porém ele continuava receoso quando aquilo. O jovem cerrou o punho e contraiu seus músculos.

– Qual é o nosso problema? – Alfie se pronunciou em um ato impulsivo antes que a mulher pudesse continuar. – Por que essas coisas estranhas estão acontecendo conosco, e por que estamos aqui?

A elegante senhorita olhou para o menino através da enorme tela e pareceu pensar por alguns segundos. Ela o analisou com cuidado e então finalmente retornou a falar.

– Vocês são diferentes, Alfie. Acho que isso está mais do que claro.

O garoto franziu o cenho, nada satisfeito com a resposta. Ao ver aquilo a mulher finalmente resolveu falar.

– Tudo começou há exatamente dezoito anos quando o Experimento Vermelho Sangue teve sua iniciação. – ela pareceu hesitar um pouco em falar aquilo. – O Brasil era o lugar perfeito para este experimento ganhar vida, já que era um país sem destaque global, mas principalmente por ser um lugar com grande diversidade. Todas as crianças eram geneticamente diferentes e misturadas ao mesmo tempo, criando uma ótima oportunidade para testar qual genótipo era mais favorável aos testes.

Assim como Alfie seus irmãos começaram a escutar de forma atenta a mulher em sua frente. Pela primeira vez eles apenas queriam ouvi-la.

– O experimento tinha o objetivo de investir e criar “super soldados”, como os militares da época gostaram de chamar, de um modo que ninguém tinha visto antes, para que no futuro eles trabalhassem para nós em serviços mais complicados. O Experimento Vermelho Sangue foi programado para fazer testes em crianças recém-nascidas que foram abandonadas pelas mães. No total foram testadas cinquentas crianças saudáveis de diversos locais do país, contudo apenas vinte delas sobreviveram sem nenhuma sequela.

Alfie sentiu o coração apertar em seu peito. Parecia que a respiração ficava cada vez mais difícil.

– Nós conseguimos êxito no experimento, mas algo aconteceu que não estava previsto em nossos planos. – a mulher pareceu ser atingida por aquilo. – Todos os bebês que foram testados, até mesmo os que morreram, desapareceram de uma hora para outra. Não conseguimos explicar como aquilo aconteceu e nem o porquê, apesar de termos nossas suspeitas. Procuramos por todos os lugares essas crianças, contudo não conseguimos achar nenhuma delas. Como havíamos gastado quase todos os nossos recursos para que o experimento se tornasse realidade, não poderíamos iniciar outro, ignorando as crianças desaparecidas.

O garoto engoliu em seco quando ela fez a pausa. Ele secou o suor de suas mãos na calça.

– Apesar disso nós não nos rendemos. Gastamos boa parte de nosso tempo e dinheiro restante criando máquinas e fórmulas de como conseguir identificar esses bebês no futuro, quando as consequências das experiências estivessem fazendo efeito. – ela ergueu levemente a cabeça. – Felizmente nós conseguimos avançar nessa área, e agora o nosso objetivo é encontrar essas crianças perdidas.

Quando ela terminou de falar e o silêncio dominou Alfie ficou estático. Ele não sabia o que pensar sobre aquilo, era muito informação para absorver em pouco espaço de tempo. Todo o seu corpo não parecia obedece-lo, já que ele permanecia parado lá no meio da sala. Ela estaria realmente falando a verdade quanto aquilo? A história não parecia ser muito verídica, contudo o que poderia explicar as coisas estranhas que estavam acontecendo com eles se não aquilo?

– Nós fazemos parte dessas crianças. – pela primeira vez Alfie ouviu a voz de Octávio se manifestar. – Se o que você estiver dizendo for verdade, nós somos três das crianças que sobreviveram ao experimento, não é?

Não importava o que acontecesse, Octávio sempre permanecia firme e calmo no que falava. O garoto fitou o irmão ao seu lado e observou a mesma expressão séria dele. Seus olhos azuis brilhavam com a forte luz que havia no local, e pela primeira vez ele reparou como o seu cabelo estava caindo.

– Sim, Octávio. – a mulher respondeu. – Vocês são umas das crianças que sobreviveram ao sucedido experimento.

– Isso... – Kaila murmurou mais para si mesma. – Isso não faz sentindo. Nós sofremos experiências?

– Como você acha que conseguiu suas habilidades, Kaila? – a mulher questionou de uma forma tanto que irônica. – Ou você acha que foi coincidência do destino o seu corpo aparentemente ser imune a choques elétricos?

A garota emitiu um olhar raivoso para a tela digital e cerrou ambos os punhos. Alfie vislumbrou as luvas em suas mãos e sentiu certa tensão no ar. Ele desviou o olhar e deu um passo a frente.

– Se tudo isso que você acabou de falar for verdade, - o garoto iniciou – vocês nos consideram nada mais do que simples empregados. Você disse que o experimento tinha objetivo de criar “super soldados” que trabalhassem para vocês. Então vocês querem que nós trabalhemos para vocês.

Alfie concluiu e desferiu o olhar para a tela que continha a imagem da mulher. Seus olhos cinzas encararam o garoto no meio dos irmãos.

– Sim. – ela finalmente falou. – Isso é exatamente o que queremos.

– E o que lhe garante que nós obedeceremos? – Kaila ameaçou, se juntando a Alfie ao seu lado.

Um sorriso maroto brotou nos lábios marcados pelo batom escuro que a mulher havia passado. Mais uma vez ela ajeitou os óculos e desviou o olhar para baixo, ainda sorrindo.

– Você quer saber o porquê de eu ter tanta certeza que vocês irão me obedecer? – a senhorita olhou para a garota. – Porque vocês não tem escolha. Estão vendo os braceletes que possuem em seus pulsos? Ou vocês me obedecem ou estes incríveis objetos diminuíram de tamanho e vocês ficaram sem pulsos, ou pelo menos com eles estraçalhados.

Imediatamente todos os irmãos olharam para os seus pulsos. Alfie fitou o brilho metálico sobre a sua pele, e então tentou tira-los de alguma forma, entretanto não conseguiu. Ele voltou a olhar para a tela de modo irritado.

– Claro, há o risco de vocês não se importarem de terem os pulsos quebrados, e quiserem se revoltar do mesmo jeito, porém lhes informo. Quando um bracelete é ligado para apertar o portador, os braceletes dos outros também são acionados. Qualquer tentativa de retirar o objeto, e ele será ligado. – ela sorriu. – Mesmo com esses avisos, ainda há o risco de vocês não ligarem, então mais uma vez eu informo. O metal com que são formados os braceletes foi programado para liberar o veneno do sapo Phyllobates Terribilis caso um de vocês não se importem de ter os pulsos partidos ao meio. Apenas dois décimos de micrograma desta toxina pode matar um humano em poucos minutos.

Assim como Alfie, Kaila e Octávio não conseguiam esconder a surpresa e raiva que sentiam quanto aquilo. O garoto sentiu o sangue subir a cabeça, então ele apertou os punhos com força. Ele se sentia tão bobo e enganado.

– Se vocês ainda preferirem cortar as mãos e tentarem sair daqui... Bom, eu espero que vocês sobrevivam com a hemorragia ou achem um médico a tempo.

Alfie sentiu o coração bater rapidamente em seu peito, dando a sensação de estava eufórico. O garoto olhou para as próprias mãos mais uma vez e tudo o que sentiu foi angústia. Como que aquilo realmente poderia estar acontecendo? Ele lançou um olhar mortífero para a mulher, e quando foi avançar um passo em sua direção, uma inesperada maçã atingiu com força a tela, despedaçando-a em mil pedaços que caíram sobre o chão.

O garoto lançou o olhar para o lugar de onde viera a fruta e encontrou uma Kaila raivosa. Sua irmã estava com a respiração um tanto que acelerada, com o cabelo sobre o rosto, e assim como ele, seus olhos estavam em chamas. Alfie nunca havia visto ela assim.

Após o barulho da tela se quebrando o silêncio tomou conta do lugar. Nenhum dos irmãos tinha coragem para dizer nada, pois todos estavam tendo um debate em suas mentes. Apesar de terem a prova concreta que algo de errado acontecia com os seus corpos, eles simplesmente não conseguiam aceitar aquilo. A única coisa que podia ser ouvida era a respiração dos três.

Alfie olhou para os seus dois irmãos irritados, e então finalmente quebrou o silêncio.

– E agora?

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Os três irmãos estavam sentados no final da sala em suas respectivas cadeiras. Alfie conseguia sentir a brisa em seus cabelos castanhos claros que entrava pela janela enquanto escutava as crianças brincando ao seu redor. Assim como ele, seus irmãos nunca foram muito de brincar, principalmente Octávio. Quando ele e Kaila entravam em algum jogo logo eram expulsos por “não saber brincar direito” com as outras crianças. Alfie não se importava muito com aquilo, pois a sua vida inteira ele encarava como se fosse uma brincadeira, contudo sua irmã ficava com raiva na maioria das vezes.

– Preciso ir ao banheiro. – o garoto anunciou e se levantou, contudo algo o surpreendeu.

Octávio havia segurado seu braço, impedindo-o de avançar. Alfie lançou um olhar confuso ao irmão, entretanto não obteve respostas. Seus olhos azuis estavam longe dali. O garoto ergueu uma sobrancelha.

– Posso ir?

– Fique por mais um tempo. – ele murmurou sem sequer olha-lo.

No momento em que ele iria puxar o braço para si e finalmente partir, o barulho da porta sendo aberta com violência chamou a atenção de todos na sala. Alfie olhou imediatamente para a porta e vislumbrou os três guardas de segurança do colégio entrarem com a diretora.

– O que significa isso? – a professora se levantou de modo brusco da mesa e derrubou as provas que estava corrigindo.

– Professora, precisamos falar imediatamente com o aluno Théo Marques. – a diretora murmurou enquanto deslizava o olhar mortífero pela classe.

Quando ela avistou o garoto gordinho que falava com outros alunos, ela apontou para ele e os três seguranças foram em sua direção. Um deles segurou o seu braço de modo firme, enquanto a diretora se aproximou.

– Onde você está sentado, Théo?

O garoto confuso que possuía as bochechas vermelhas, um braço quebrado e um grande curativo na orelha não conseguiu falar de imediato.

– Ali. – ele disse de modo receoso.

A diretora olhou para o lugar e foi até lá, pegando a sua mochila e trazendo para perto de si. Ela fitou mais uma vez o aluno. – Tem algo que você precise compartilhar com nós, Théo? Está é a hora.

O garoto assustado e confuso negou com a cabeça rapidamente, ainda não entendendo o que eles estavam fazendo ali. A diretora suspirou decepcionada e entregou a mochila para outro segurança.

– Reviste. – ela murmurou.

O homem pegou o objeto e o abriu de um modo que apenas ele poderia ver. Ao fazer isso ele projetou um olhar estranho para a diretora. Ele pegou o que havia lá de modo muito delicado, e tentou mostrar apenas para a sua chefe, contudo isso não pareceu dar certo, pois um dos alunos gritou no mesmo momento.

– Uma arma! – todos os outros começaram a gritar depois disso, e tanto a professora como a diretora tentaram acalma-los, sem muito sucesso.

Os seguranças seguraram o garoto com mais força e começaram a arrasta-lo para fora da sala.

– Isso não é meu! – ele gritou. – Não sei o que está fazendo aí, não é meu!

Alfie observou toda aquela cena de maneira confusa e surpresa, contudo não conseguiu esconder o sorriso que havia brotado em seu rosto. Ao se virar para ver a reação de seus irmãos, o que vira o fez ficar boquiaberto. Pela primeira vez em sua vida ele vislumbrou uma marca de sorriso nos lábios do irmão. Seus olhos brilhavam de uma maneira intrigante que Alfie nunca havia presenciado. Quando desviou o olhar para sua irmã ela apenas estava surpresa, parecendo até um pouco inocente.

O garoto não soube exatamente o que pensar, contudo ele sabia que Octávio estava envolvido naquilo. A última coisa que ele ouviu depois daquilo foi a voz da diretora.

– Vamos até o outro irmão, e rápido. Ele também tem uma.


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Notas finais do capítulo

Ok, ok. Espero que você tenham gostado. ;) E por favor, gente. Eu não gostaria de ter que falar isso, mas é muito chato receber apenas um comentário quando eu tenho 8 leitores no total. Eu não estou pedindo por elogios e mais elogios, apenas a sua opinião. Quero melhorar, e não dá quando ninguém fala nada. Eu acredito que caguei sem querer com a minha personagem favorita, a Kaila, mas ninguém sequer fala nada dela --'.
Enfim... O próximo vai ser apenas um bônus do Alfie, mostrando como aquela situação vai se resolver. Mas o próximo de verdade vai ser : Esmeralda!!
Vai ser a apresentação dela, e espero que vocês gostem. Eu prometo que postarei mais regularmente, como eu fazia antes.



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