Experimento Vermelho Sangue escrita por Bolinha Roxxa


Capítulo 7
Franklin


Notas iniciais do capítulo

Oiiie, pessoas lindas. :) Bom, eu quero me desculpar por não ter postado como falei, mas ficou meio difícil, hehe. Este é o primeiro capítulo que repete um personagem já escrito antes, então aproveitem para conhece-lo melhor.
Queria agradecer imensamente para a Laurinha120, que mais uma vez comentou. Menina, você tem se conectado com essa história de uma maneira que nenhum outro leitor tem feito (sabe, já que eles não comentam o que gostaram ou não gostaram...).
Espero que gostem :3



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Franklin... Uma voz suave sussurrou em seu ouvido. Franklin... Ela era doce, e ele poderia continuar ouvindo aquela mesma voz por toda a sua vida. Não sabia dizer onde estava, e muito menos como chegara lá, mas ele tinha essa forte sensação de que conhecia aquele lugar. Não era exatamente apenas um lugar, e sim vários.

Primeiramente começava com uma visão vermelha e quente que o envolvia, e som de bebês chorando preenchia os seus ouvidos de uma maneira ensurdecedora. Aquela imagem logo era substituída por um lugar calmo e pacífico, onde ele percebia que estava dentro de um grande galpão de dois andares. O local era um tanto velho; as madeiras do teto estavam quebradas, peças aleatórias de ferro estavam jogadas em um canto, e havia poeira por todo o canto. Porém ele ainda conseguia ser reconfortante. O sol adentrava o lugar pelas madeiras quebradas, criando um belíssimo jogo de luzes; o cheiro no ar era doce, disfarçando as partes podres do lugar; e finalmente ele percebia que não estava sozinho. Nunca conseguiu distinguir as faces daquelas pessoas, pois no mesmo momento a visão era trocada por uma escuridão.

Ele sabia que estava de joelhos, pois sentia um chão úmido e frio sob as suas canelas. A única coisa que conseguia avistar eram olhos. Havia três pares deles, para ser sincero, e cada um diferente do outro. No meio, duas íris azuis dominavam, olhando para o garoto de forma inexpressiva. No canto direito havia um par de esmeraldas, que o fitava de forma divertida, fazendo Franklin quase vislumbrar um reflexo de seu sorriso. E finalmente no outro lado havia a junção dos dois. O olho direito era do mesmo verde intenso que predominava no outro, e o esquerdo era azul igual ao do meio.

Sentia que aqueles olhos se aproximam lentamente, fazendo o coração do garoto acelerar um pouco. Ele fechou suas pálpebras com força, tentando sair daquele sonho, porém algo o trouxe de volta quando ele sentiu uma mão em seu ombro. Imediatamente o garoto abriu os olhos e percebeu que o cenário havia mudado. Agora um espaço branco e pequeno se estendia a sua frente. Franklin virou a cabeça para o lado em direção da mão delicada e firme que segurava o seu ombro, e encontrou um sorriso doce e um olhar simpático. Uma mulher já adulta sorria de maneira alegre para o menino, exibindo os seus dentes incrivelmente brancos e seus olhos dourados. Lentamente ela estendeu sua outra mão para ele, tentando o ajudar. Franklin encarou por alguns segundos a sua palma e finalmente a aceitou, se levantando. A ruiva de cabelos grandes estava vestida totalmente de negro, deixando amostra apenas as suas mãos e o seu pescoço pálido. O garoto não pôde deixar de notar que havia uma pequena tatuagem em seu pescoço. Ele observou por um tempo e constatou que eram duas letras – VS. Apenas voltou a olhar para o seu rosto quando a mulher levou sua mão até o pescoço, sorrindo para ele.

– Percebi que você já notou a marca. – ela murmurou.

Franklin não conseguiu dizer nada, ele apenas ficou estático em sua frente encarando a mulher com os seus olhos cor de mel.

– Você é um bom garoto, Franklin. – ela sorriu. – Não merecia pelo o que vai passar.

– O que? – ele finalmente conseguiu questionar.

– Você quer viver, meu filho? – ela foi direta.

Franklin hesitou em responder, sem saber o que ela quis dizer com aquilo. Ele acenou positivamente.

– Então confie nela. Confie nela com a sua própria vida, pois ela sabe o que precisa fazer. E principalmente – seu sorriso sumira. – me encontre...

Tudo aconteceu muito rápido. Algo o sugou daquele sonho, e Franklin acordou de modo abrupto, com a respiração intensa e o coração acelerado. Ele se sentou na cama com a sensação de que tinham jogado água fria em todo o seu corpo. O garoto olhou de modo nervoso para todos os cantos de seu quarto e não conseguiu ver nada com nitidez. Ele finalmente parou por um segundo e respirou fundo, sentindo o seu peito subir e descer. Coçou os seus olhos e procurou pelos óculos na cômoda. Ao coloca-los em seu rosto, sentiu um enorme peso sobre os seus ombros.

As lembranças da semana passada ainda o assombravam. A casa de seu sonho era real, e se mostrara perigosa ao encontrar uma menina armada dentro dela. As coisas que aconteceram naquele dia poderiam ser classificadas como mais que estranhas, porém Franklin não sabia se decidir se era um estranho bom ou um estranho mau.

A menina, que depois parecera ser amigável, fugiu com ele da casa antes que homens armados chegassem. O jovem não soube dizer como ela descobrira aquilo e principalmente o que eles queriam com ela, e até o momento aquelas dúvidas o incomodavam de uma maneira surpreendente. Ainda conseguia se lembrar de forçar a madeira da enorme porta da igreja para abri-la. O lugar estava quase caindo aos pedaços, por isso foi abandonado por causa da questão de segurança. Tirando esse pequeno detalhe, a igreja era o lugar mais seguro e secreto para a menina ficar que Franklin conhecia. Ela tentara convence-lo de alguma coisa, contudo o garoto saiu correndo de lá, deixando-a falando sozinha.

Durante toda a semana, Franklin não conseguiu pensar em outra coisa a não ser na menina sem cabelos.

Ela era misteriosa e ele curioso. Uma combinação mortal.

Ele parou de prestar a atenção nas aulas e quase não comia, passando o dia inteiro pesquisando coisas na internet relacionadas aquele assunto. Quando finalmente percebeu que não iria descobrir nada no computador, apesar de suas habilidades acima da média, ele resolveu sair. Nem percebeu quando comprou uma coisa para a garota.

Franklin desviou o olhar para sua escrivaninha e percebeu que o objeto continuava lá. Era horrível, ele sabia, contudo ao vê-lo na loja, não pôde pensar em outra pessoa que não fosse ela.

O garoto passou alguns segundos pensando sobre o assunto e finalmente decidiu fazer o que queria ter feito há muito tempo. Ele se levantou da cama e tomou uma café-da-manhã apressado, logo saindo para a rua sem conseguir responder os seus pais. Franklin havia pegado o objeto e saiu correndo para a igreja. Com a respiração acelerada, ele se deparou com o enorme local a sua frente.

Quando ele adentrou o lugar de modo lento, o cheiro de poeira e mofo entrou por suas narinas, fazendo o garoto franzir o cenho com o odor. Seus olhos demoraram um pouco para se acostumar com a escuridão, obrigando-o a forçar a vista. Ainda na entrada da igreja, Franklin começou a procurar pela garota por entre as madeiras caídas e bancos quebrados. No final do lugar ainda estava presente a enorme cruz escura e pesada na parede e o púlpito onde o padre costumava falar para os fiéis. Havia alguns panos no altar, indicando que a garota estranha estava dormindo ali. Franklin se sentiu mal por dormir em sua cama confortável quando soube que ela estava ali no chão.

O garoto deslizou os seus olhos pelo lugar, contudo não a encontrou. Quando ele deu alguns passos para dentro da igreja, a menina apareceu encostada na parede ao lado da enorme porta. Franklin se assustou ao vê-la ali, fazendo o apertar o objeto em suas mãos de maneira forte. A única coisa que conseguiu distinguir na escuridão do lugar foi os olhos dourados que brilhavam de maneira intensa. Eles piscaram e então se aproximaram do jovem, fazendo com que ele conseguisse ver melhor a face doce e bronzeada da garota. Ela possuía uma expressão um tanto curiosa.

– Vejo que você resolveu voltar. – ela murmurou com os braços cruzados.

Franklin não soube o que responder imediatamente. A única coisa que ele conseguiu fazer foi esboçar um sorriso forçado e coçar a sua bagunçada e enrolada cabeleira.

– O que você está fazendo aqui? – ela se aproximou. – Pensei que não quisesse ouvir o que eu tenho a dizer.

– Bem... – ele hesitou e recuou alguns passos. – Eu só... Queria entender o que aconteceu naquele dia.

Franklin olhou para a menina e encarou os seus olhos desconfiados. Ele compreendia a sua confusão. O garoto havia saído correndo quando ela começara a dizer coisas sem sentido, e agora ele aparecia querendo entender. Porém ele não estava ali apenas para saber o que aconteceu e ouvir o seu lado. Ele também queria ajuda-la.

– Eu também vim porque queria... – ele fraquejou e desviou o olhar. – Queria lhe entregar isso. Acho que você vai gostar.

O menino se aproximou dela, e mesmo sendo dois palmos mais alto, sentiu certo medo e insegurança ao falar com ela. Franklin apertou o tecido em sua mão, e então de modo inesperado ele o estendeu em direção á garota. Ele não teve coragem de olha-la nos olhos, contudo conseguiu perceber a surpresa dela ao ver o que ele tinha nas mãos. A menina hesitou um pouco, e depois de engolir em seco ela deu um passo em frente para pegar o gorro de Franklin.

Seus finos e curtos dedos seguraram o gorro de maneira delicada, analisando o tecido com atenção. O gorro era azul com linhas rosa, tendo um desenho de um pequeno diamante no centro. Nas laterais havia duas pequenas tranças feitas de tecido para proteger as orelhas. Ele sabia que não fazia frio naquele lugar, porém devido a situação da menina, ele achou que seria uma boa escolha.

Quando ele finalmente teve coragem de olhar para a sua face, Franklin não encontrou o que realmente gostaria. Ela parecia estar um pouco irritada.

– Por que... Por que achou que eu iria gostar disso? – ela apertou o gorro com força, fazendo o menino recuar alguns passos. – Você acha que eu... Que eu tenho vergonha de como eu sou? Acha que eu preciso esconder a minha aparência?!

– Não foi isso que eu... – ele estendeu as mãos no ar, vendo os olhos um tanto furiosos da garota.

– Eu sei que você não quis dizer isso! Sabe o porquê? Porque você não liga para as outras pessoas, não pensa no que irá causar a elas quando fizer o que lhe vier a cabeça.

Franklin começou a sentir que suava, mesmo que o ambiente estivesse normal.

– Eu...

– Você o que? – ele o interrompeu. – Não pensou que eu ficaria irritada com isso?

O garoto apertou o seu punho de modo forte e deu um passo em frente, reunindo toda a coragem que tinha para mirar o olhar na jovem e lhe falar o que queria.

– Não, – ele respondeu – eu não achei que ficaria irritada. Pensei que me agradeceria como qualquer outra pessoa! Você diz que não tem vergonha de como é, mas se esconde de tudo e todos como um rato desesperado, espreitando na escuridão de um lugar qualquer a espera de um futuro melhor.

A menina pareceu ficar surpresa pelo olhar que emitiu ao ouvir as poucas palavras de Franklin, e presenciar sua brava atitude em um momento raro. Ela recuou disfarçadamente um passo para trás, enquanto segurava de modo forte o gorro que ele dera.

– Você pode ter um bom motivo para se esconder, mas nenhum envolve ficar sozinha e depressiva dentro de um lugar sujo e escuro pelo resto da sua vida. Então quando eu lhe dei o gorro por pensar que tem vergonha de andar normalmente por aí, eu provavelmente estou certo!

A menina ficou em silêncio por alguns segundos, pensando nas palavras de Franklin. Ela não possuía sobrancelhas, porém se tivesse, elas certamente estariam arqueadas. A garota deslizou o olhar para o gorro na sua mão, e não se atreveu em encarar o jovem mais uma vez.

Franklin passou a suada mão pela testa e recuou alguns passos quando percebeu o que havia falado.

– E-eu – o garoto gaguejou. – eu preciso ir.

Quando ele se virou para ir embora, uma voz suave ecoou pela igreja vazia, fazendo-o parar.

– Me desculpa... – a menina murmurou. Franklin desviou o olhar sobre o ombro em direção a ela e arrumou os óculos. – Você tem razão. Eu gostei.

________________________________________________

Franklin estava sentado em cima dos panos e das cobertas que a menina usava para dormir. Ela já havia colocado o gorro, fazendo as duas tranças que pendiam na lateral de sua cabeça se moverem de acordo com os seus movimentos. Assim como o garoto, ela também estava sentada no chão do altar, onde havia deixado as suas coisas. Os dois não conseguiam se encarar, e muito menos conversar. Parecia que pela primeira vez a menina estava insegura de si mesma diante de Franklin, e o garoto se sentiu melhor ao perceber isso, pois agora sabia que não era o único com medo.

– Você sonhou com ela, não é mesmo? – ela questionou de modo repentino.

Franklin olhou em sua direção e franziu o cenho.

– Quem?

– Ela. – a garota parecia estar falando alguma coisa óbvia pelo o seu tom de voz.

– Ela quem? – retornou a perguntar.

A menina que estava com os joelhos envoltos por seus braços lançou um olhar demorado em direção à Franklin. Quando fez isso, as duas trancinhas do gorro se moveram de maneira doce, fazendo o menino desviar a atenção para eles.

– Antonella. Ela apareceu em seu sonho, não é? Eu me lembro.

Franklin ficou alguns segundos em silêncio até conseguir responder.

– Do que está falando?

Ela suspirou profundamente e retornou a fitar o fundo da igreja. Seus olhos dourados brilhavam de maneira intensa pela chama do fogo que havia em sua frente. O único modo de iluminar aquele lugar era por velas, e a menina parecia utilizar muito delas.

– Esquece... – ela estendeu as pernas pelo chão e coçou o gorro em sua cabeça. – Você quer ouvir o que eu tenho a dizer?

Ao escutar aquilo o menino sentiu o seu sangue bombear. Ele se virou em direção a ela de maneira ansiosa e ficou observando sua face doce e delicada.

– Eu vim aqui para isso. - ela lançou um olhar desconfiado para Franklin, como se duvidasse de suas verdadeiras intenções. – Eu juro.

– Apesar de parecer estranho?

– Apesar de parecer estranho.

A menina parecia segura de si quando Franklin a conheceu, contudo desta vez ela pareceu estar um pouco receosa. Ele entendia a garota, pois da última vez que tentara explicar para ele, o menino saiu correndo e dizendo que ela era maluca. Isto era uma coisa que Franklin se arrependia.

– O que você quer saber? – aquela pergunta pareceu tão vasta e imprevisível que ele se viu perdido em seus pensamentos. – Começaremos por ai.

Todas as perguntas sem respostas voaram dentro de sua cabeça, e apesar de todas essas questões incomodarem-no, Franklin não conseguiu falar outra coisa que não fosse:

– O que aconteceu com os seus pais, e por que você está sozinha?

Aquela pergunta parecia ser simples e fácil, contudo a reação da menina provou o contrário. O garoto percebeu que ela estremeceu levemente, como se um vento frio tivesse passado por seu corpo. A menina juntou as pernas outra vez, depositando o queixo em seus joelhos.

– É uma longa história... – ela começou. – Acho que você se lembra da casa abandonada onde nos encontramos. Aquele lugar era o meu lar, e eu nunca poderia sair dali, não importa o que acontecesse. Talvez você não tenha percebido, mas a minha casa estava queimada, assim como os móveis lá de dentro. Para resumir as coisas, há três anos houve um grande incêndio na mata atrás da minha casa enquanto eu brincava na minha amiga, e o fogo atingiu meu lar de maneira rápida. – a garota fez uma breve pausa. - Os policiais disseram que meus pais estavam dormindo, e que eles morreram antes de se queimar, por inalação da fumaça.

Franklin se sentiu mal por ter perguntado. Ele desviou o olhar e encarou o chão de maneira envergonhada.

– Nunca acreditei neles. – ela declarou. – Eu sempre soube que eles apenas falaram aquilo para não me deixar mais triste do que já estava. E naquele momento eu tive a certeza que eu nasci para ficar sozinha.

– Eu sinto muito. – Franklin murmurou baixinho, porém ela não disse nada. – Como você ficou sozinha, não tinha nenhum parente?

– Não sei. Acho que não. – ela respondeu. – Não fiquei muito tempo perto da polícia para eles descobrirem. Aquele era o meu lugar, e ninguém me tiraria de lá. Então eu fugi, e quando o caso abafou e o tempo passou, eu voltei para a minha casa e comecei a viver com restos... Comecei a viver como ratos desesperados.

Houve um silêncio intenso antes de Franklin falar. Ele arrumou seus óculos

– Ratos desesperados...

– Ratos desesperados. – ela o imitou.

Ambos se olharam por alguns segundos. O garoto percebeu certo brilho no olhar dourado da menina, assim como ela viu o mesmo brilho no olhar de mel dele. O fogo da vela tornava os olhos mais belos. Ela lambeu os delicados lábios e fitou o garoto. Eles não conseguiram ficar assim por muito tempo, então logo desviaram o olhar. Franklin pensou que ficaria um clima pesado, contudo ao ouvir uma leve risada feminina, teve certeza de que isso não aconteceria.

– Ratos desesperados. – ela riu, exibindo os seus dentes perfeitos.

Franklin ficou estático no início, contudo logo cedeu e um sorriso também alegre brotou de seus lábios.

– Sim. Ratos desesperados.

Eles ficaram rindo por mais algum tempo até finalmente retornaram a seriedade. A garota limpou uma lágrima de seu olho e retornou a falar.

– O que mais você quer saber?

Franklin pareceu pensar. Como ele havia acabado de fazer uma pergunta muito inapropriada, ele tentou ser mais leve dessa vez.

– Você abandonou a escola?

A garota emitiu uma expressão enjoada ao ouvir a palavra escola. O jovem não conseguiu conter um leve sorriso ao ver aquilo.

– Bom, quando meus pais morreram, eu não vi mais motivo para sair ou fazer qualquer coisa. Já havia coisas de mais na minha cabeça que eu não conseguia explicar, não precisava de outra. Então com os meus quinze anos que eu tinha na época eu desisti da escola e...

– Espera ai. – ele a interrompeu, se virando para ela. – Quinze anos? Quando que isso aconteceu?

Ela pareceu pensar por um momento. – Acho que foi há três anos. Sim, foi três anos atrás.

Franklin ficou em silêncio por um tempo.

– Você tem dezoito?

– Sim. – ela respondeu de modo confuso, fazendo o garoto se sentir meio mal por aquilo.

– Desculpa, é que... Você não tem cara de quem tem dezoito anos. Você parece ter quatorze anos, no máximo quinze.

– Ah, sim. – ela murmurou. – Eu tenho um problema hormonal de crescimento. Isso me faz parecer mais jovem do que realmente sou por causa da minha altura. Eu tomava alguns remédios quando meus pais estavam comigo, contudo quando eles se foram, eu abandonei o tratamento. – ela sorriu de modo envergonhado. - Não é todo mundo de dezoito anos que tem 1,48 m, não é mesmo?

– Uau. – ele se impressionou. – 1,48m?

Ela não disse nada, apenas acenou positivamente com uma expressão de que “foi o que eu falei, não foi?”. Ambos sorriram, contudo Franklin logo desfez o sorriso. Sabia que agora ele poderia fazer um questionamento mais intenso.

– Por que eles estavam te seguindo e como você sabia que eles estavam chegando?

A garota fechou a cara no exato momento em que ouviu aquelas palavras. Ele sabia que ela poderia ficar daquele jeito, contudo a sua curiosidade estava o matando. Franklin queria respostas. Ela suspirou e abriu a boca para falar.

– Na verdade, eu não sei dizer. – ela murmurou.

Franklin ficou encarando ela de maneira estática, esperando por uma resposta que não veio. Era tudo aquilo, ela não sabia dizer?

– Como?

A garota ergueu o olhar e fitou Franklin nos olhos. Ele percebeu certo pesar em seu rosto, contudo aquilo não diminuiu a decepção dele.

– Eu não sei.

– Como assim você não sabe? – ele questionou de modo que não demonstrasse a leve irritação. – Não sabe o porquê deles te quererem, ou como você soube que eles estavam chegando?

– Bom... Eu acho que os dois.

– Você acha?

– Não, tenho certeza! – ela elevou o tom, sabia que Franklin estava irritado.

O garoto levantou do lugar em que estava e fitou a menina de cima.

– Antes você não tinha toda essa certeza de não saber de nada quando queria me contar. – ele comentou. – Você parecia estar bastante desesperada para falar as coisas para mim.

A menina também se levantou, não deixando ficar por baixo. Ela o encarou com os olhos irritados, mostrando toda a segurança e coragem que possuía.

– Eu estava bastante animada para contar, sim, mas por acaso, você saiu correndo como se fosse uma garotinha com medo de baratas. – ela retrucou. – Não teve bolas para aguentar a verdade, então me deixou sozinha nesse lugar para que ficasse longe de você.

– Bom, mas eu voltei! – Franklin aumentou o tom, assim como ela. Apesar dos dois estarem em pé, o garoto continuava a olhando de cima. – Voltei porque queria explicações. Voltei porque queria retornar a dormir e estudar em paz. Voltei porque queria ver se estava bem.

A garota ficou em silêncio ao ouvir aquilo, contudo as suas expressões continuavam irritadas; seus olhos estavam escuros, sua testa enrugada e seus lábios comprimidos. Apesar da pequena garota estar visivelmente raivosa, o gorro azul e rosa que estava usando a tornava menos perigosa do que parecia antes.

Como se lesse pensamentos, a menina levou os ágeis dedos até a cabeça e o retirou, exibindo a pele lisa e brilhosa que possuía. Ela abaixou o olhar e suspirou levemente.

– Eu pensei que tudo seria mais fácil se eu te contasse. Tudo iria se resolver se soubesse das coisas de uma maneira rápida e entendesse o meu lado. – ela murmurou, ainda fitando as mãos. – Mas eu finalmente entendi que eu não posso mudar o futuro. Algumas coisas foram destinadas a acontecer, e se não acontecer daquele modo, irá ocorrer de uma forma pior.

Franklin a encarou de maneira intrigada e um tanto surpresa. Por que ela estava dizendo aquelas coisas?

– Tem coisas na vida que são necessárias, e nós devemos enfrenta-las, apesar do quão difícil possa parecer. Eu descobri tudo isso que está acontecendo conosco de uma maneira estranhamente desconfortável, e poderia afirmar que não gostaria de passar por aquilo novamente. – ela fez uma breve pausa. – Mas eu entendi, eu finalmente entendi que eu precisava daqueles momentos para ser o que sou hoje.

O garoto não quis ser mal educado, contudo não estava entendendo mais nada do que ela falava. Qual era a relação daquilo com os homens?

– O isso tem a ver com o que eu perguntei?

Ela o encarou de maneira irritada, fazendo os seus olhos de pantera brilhar.

– O que eu quero dizer... – ele entendeu o gorro que estava em sua mão. – Eu quero dizer que não posso tirar esse momento de você. Eu não posso introduzir você nessa bagunça de modo avulso. Você, e apenas você, pode descobrir essas coisas sem pirar. Esse é o único jeito de você crescer.

Franklin encarou a menina de maneira confusa. Aquilo não podia ser verdade. O que poderia ter acontecido com ela durante aquela semana que a fez mudar de ideia quanto contar o que acontecera? Ele recuou alguns passos, chacoalhando levemente a cabeça. Ele não fora até ela para acabar do mesmo jeito, não sabendo de nada.

Ele olhou para ela de modo decepcionado, e então fitou o gorro que ela estendia. Franklin negou com a cabeça e recuou mais alguns passos, tentando se afastar da figura da menina misteriosa. O garoto levou as mãos até sua cabeça e então se virou rapidamente. Ele começou a andar até a saída da igreja, e então começou a correr, deixando a menina para trás.

Sozinha.

Mais uma vez.

_____________________________________________________________

Franklin nunca havia se sentido daquela maneira. Os momentos e conversas voavam em sua cabeça de modo bruto, como se quisessem esmagar o seu cérebro. Não conseguia controlar os seus passos, muito menos os seus pensamentos. Queria que nunca tivesse voltado lá para ver ela, queria que nunca tivesse comprado o gorro, e principalmente queria que nunca tivesse entrado na casa dos sonhos. Como o garoto se arrependia daquilo.

Franklin parou por um momento e retirou os seus óculos. Ele fitou o chão e coçou os olhos, tentando esquecer-se de tudo aquilo. Ele respirou profundamente e retornou a colocar os óculos, olhando para o céu. Quando fez isso, a primeira coisa que viu foi um azul claro, e a segunda foi fumaça. Franklin encarou aquilo com dúvida, e seguiu com o olhar a direção de onde vinha. Coincidentemente a fumaça vinha da mesma direção que sua casa.

O garoto não conseguiu deixar seu coração calmo, então começou a correr até o seu lar. Ao chegar lá com a respiração rápida e intensa, a única coisa que viu conseguiu fazer seus olhos ficarem molhados e seu coração bater brutamente. As chamas eram ferozes. Elas eram vermelhas, quentes e perigosas. Mas principalmente quentes...


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Notas finais do capítulo

E aí??????????????????????????????? Gostaram? Não gostaram? Please, comentem que eu não aguento mais!
O que vocês acham que aconteceu com Franklin? Prometo que vocês logo irão saber (lê-se que não irão logo saber) Mas eu adoraria saber o que vocês pensam. É obvio que aconteceu alguma coisa com os seus pais, mas quero que me falem o que? Eles estão mortos, vivos, feridos? E o que acontecerá com Franklin? O programa Sem-Nome vai pega-lo ou a garota misteriosa irá salva-lo.
E quanto a ela, o que vocês acham que ela é? Agora que eu expliquei que ela tem dezoito, ao invés de quatorze, ela pode ser um bebê que sofreu o Experimento Vermelho-Sangue, ou não... não sei....
Próximo capítulo: Alfie, meu divo.



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