Death Memories: Operação Marshall escrita por Nael


Capítulo 3
Contra o Tempo


Notas iniciais do capítulo

Heyy! Bom, como esse começo é bem básico, leve e até meio cômico eu não vou postar toda semana até porque tem capítulos adiantados. Quando as coisas começarem a ficar sérias talvez eu tenha que demorar mais pra poder fazer os fatos se encaixarem.



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“A partida mais longa, terminada em vitória, é a que Wolf ganhou de Duras (Calsbad, 1907). 168 lances. Durou, 22 horas e meia.”

P.O.V Matt

Mello e eu corremos para o refeitório a tempo de sermos os primeiros a tomar café. No verão a Wammy’s parecia um prédio abandonado e mal assombrando de manhã, um parque de diversões de tarde e uma festa de quinze anos a noite com as inúmeras confraternizações que o pessoal fazia.

Voltamos logo pro quarto sem tocar mais no assunto, mas cada vez mais eu pensava em como aquilo poderia afetar o Mello de todas as maneiras. Seja na convivência com o Near, seja na tentativa de impressionar o L ou mesmo durante as partidas de xadrez. Ele estava decidido então eu não falei nada do que tinha em mente porque tentar impedir o Mello de fazer alguma coisa é sempre pior do que deixá-lo fazer. Então eu estaria lá para levantá-lo como devia ser.

— O que foi? – o loiro perguntou depois de eu ficar divagando enquanto encarava o monitor do notebook.

— Nada, estou pensado em como vamos sobreviver em um torneio com o Near.

— Esqueça isso. Pensar é pior. Vamos ver logo esse caso e resolvê-lo, assim pelo menos teremos dinheiro.

— Tá. – abri os arquivos que Carter havia mandando. Estávamos os dois sentados no chão com as costas apoiada na cama de modo que se alguém abrisse a porta eu poderia jogar o aparelho pro canto sem que a pessoa se desse conta. – Ah! Mello, rola muito dinheiro em campeonatos oficiais? Ou mesmo online?

— Que conversa é essa?

— É que eu tava pensando, em vez de lidar com a Carter, com o Pyros e todas as outras coisas se a gente jogasse poderíamos ganhar dinheiro mais fácil e de forma mais segura.

— Sabe que eu não jogo, não assim. – ele ficou sério. Saber eu sabia muito pouco e era justamente isso que me irritava.

— Mas está indo pro Torneio Internacional, além disso nem iriam saber quem somos ou...

— Não! – ele falou mais alto. – Eu nunca mais vou competir sem um bom motivo. – ele mordeu a barra que tinha em mãos e eu cerrei os olhos.

— E comprar seus chocolates não é bom motivo? – ele me fitou e ergueu a mão mostrando o chocolate.

— Sabe que eu trocaria tudo isso facilmente se pudesse... – de repente seu olhar pesou. Ele se levantou dando a volta na cama e se jogando na dele.

— Desculpa, eu não queria insinuar nada disso. Só estou pensando num jeito da gente acabar não se metendo em encrenca.

— Eu não faço isso só pelo dinheiro, é uma forma de treinamento. – ele encarou o teto por um momento e então cobriu os olhos com o braço. Conhecia bem aquele sinal, não era vergonha, mas era quase como se ele fosse admitir fraqueza em suas próximas palavras. – Matt se eu surtar lá, se eu não consegui aguentar a barra... – ele suspirou. – esfrega tudo aquilo na minha cara.

— O que? – ele queria que eu simplesmente dissesse que ele era culpado de uma coisa que não era? Que eu o relembrasse da dor de perder sua irmã? – Claro que não! – ele não se alterou mesmo eu me levantando e falando alto.

Tudo que eu sabia sobre essa parte da vida do Mello é que e ele jogava por dinheiro, não sei exatamente se em casinos porque em locais assim não há xadrez e jogos de tabuleiro. De qualquer forma ele lidou com gente da pesada para poder cuidar e proteger sua irmã mais nova que acabou morrendo, como eu não sei, mas ele diz que foi por erro dele e por isso não jogaria nunca mais, não sem um bom motivo.

— Vai me colocar nos trilhos de novo.

— Já disse que não, porra. – joguei o notebook na cama furioso como rumo que as coisas tomaram.

— Você é o único que sabe, o único que posso confiar isso, Matt. Você é o único que não tem medo de mim. – aquilo me pegou de surpresa e eu me sentei na cama de costas pra ele cerrando os olhos. Pude ouvir ele se remexer. – Mail?

— Eu vou te manter sob controle, não se preocupe. – me virei e vi que ele me encarava sério. – Tem minha palavra, irmão. – um leve sorriso apareceu em seu rosto.

— Então... Cinco dias, vamos pegar um ladrão de joalherias.

P.O.V Mello

— Merda! – ouvimos pelo rádio Carter exclamar. Era o dia 4 de junho de 2001, um domingo quente pra caralho. Estávamos na casa, loja, porão sei lá do Pyros. Sentados em uma bancada eu e Matt ouvíamos e transmitíamos para Carter que agora perseguia o ladrão de joalherias em Londres. Era 4:12 da madrugada, tínhamos fugido do orfanato e eu só torcia pro L não dar uma louca e chamar a gente num horário daqueles. Porque aí sim eu estaria completamente ferrado.

— O que houve? – Matt parecia irritado e ansioso. Aquele caso tinha sido um porre, o cara era um gênio para roubar, entendia de sistemas e alarmes perfeitamente o que para o ruivo do meu lado foi um insulto quando o maldito escapou da armadilha que ele fez tentando hackear o computador que ele usava para burlar toda a segurança.

— Tem uma van preta, estamos atrás dela, mas porra é mais rápida que o normal.

— O cara é esperto, deve ter envenenado a van. – Pyros comentou do outro lado da sala onde mexia em num monitor todo estragado. Matt trincou os dentes. Ele tinha um teclado à sua frente, dois monitores e o rádio.

— Esse cara não perde por esperar. – era ótimo ver Matt ter seus ataques de fúria, me fazia pensar que eu não era um maluco afinal, ou pelo menos não era o único.

Acontece que descobrimos o método dele, se passava por cliente, inspecionava os estabelecimentos e então invadia sorrateiramente. O padrão eu decifrei logo depois, joias egípcias. O cara estava certo de que ia invocar uma daquelas criaturas mitológicas de lá. Matt conseguiu convence Carter de convencer a próxima vítima a facilitar e então fez uma grande emboscada tecnológica.

Com a ajuda de Pyros ele conseguiu imagens do cara, mas claro que não do rosto. Já ajudava de qualquer forma. Também conseguiu rastrear a fonte de comando provando minha teoria de que ele agia sozinho. Assim Matt tentou invadir o sistema e acabou ferrando com um computador do Pyros que agora nós devíamos pagar.

Contudo solucionar o caso não se tratava mais só de dinheiro, enquanto estava no sistema do Pyros o ladrão antes de destruir a parafernalha toda, mandou uma mensagem dizendo que amadores da polícia como ele não poderiam nem em um milhão de anos alcançá-lo. Então agora era questão de dinheiro, de dívida e de pura arrogância nossa vencer esse cara.

— Consegui. – Matt ergueu os braços. – Chupa essa! – vi o que tinha acontecido, sem se anunciar pra ele e agindo sem chamar a atenção dentro do sistema Matt conseguiu ligar uma espécie de rastreador. Agora tínhamos na tela um mapa das ruas de Londres num gráfico bem básico, mas continha os nomes das ruas, era o bastante, era minha vez de assumir. – Não vai durar, a Interpol vai nos bloquear em alguns minutos.

— Quantos? – peguei o rádio. Matt se virou e encarou Pyros. Ele correu até outra mesa e fez algo em seu notebook. Estava nos ganhando tempo.

— Dez minutos. – anunciou.

— Detetive? – falei, tínhamos a posição dele, mas não das outras viaturas. – Ele está duas quadras a sua frente e uma a direita.

— Tem uma barreira nessa esquina. – é, o cara era bom, mas não o bastante.

— Temos nove minutos, preciso das posições das outras viaturas.

— Fica na linha. – ela disse. – Pessoal, em ordem cada um dê sua posição.

— Viatura 1, virando na Rua Romand.

— Viatura 2, Stanford

— Viatura 3 e 4 seguindo pela Tredegar

— Ok! Espere aí. – Carter fechou a linha de novo. – Tô logo atrás dele, a 100 por hora, na Old Ford. Ele vai tentar fugir pelo Victorica Park.

— Eu vou te passar as instruções, repita do mesmo jeito pra todos.

— Espera. – ela deve ter feito algum ajuste bem rápido e então voltou. – É como eu disse pelo Park, e agora?

Eles tinham acabado de virar na Old Ford, ele era rápido, mas os outros já estavam mais avançados que Carter, porém espalhados, tinha que juntar eles e formar um jeito de obrigá-lo a seguir os passos que eu determinasse e então cercá-lo. Como no xadrez, eu tinha que impossibilitar sua fuga. Matt era uma calculadora ambulante e me ensinou todo tipo de truque e técnicas para contas de cabeça. Então calculei a media da velocidade das viaturas, o mapa também mostrava em escala a metragem da rua.... Fechei os olhos por um segundo enquanto pensava nisso tudo. Matt com certeza já teria feito as contas mais rápido que eu, porém eu sempre tinha a melhor estratégia. Abri os olhos e falei rápido de uma vez:

— Viatura 1 vire da Romand para a A1205 e então suba a Old Ford. A 2 deve ir pra Romand e evitar que ele desça a rua. – pode-se falar muito coisa da Carter, mas sua memória é notável então só saí dando as coordenadas enquanto ela conseguia ouvir e ir repetindo. – Ele tem que virar na Sthephen’s e seguir reto. – pelo mapa eu via que tudo indicava isso. – As viaturas 3 e 4 da Tredegar fecham eles no cruzamento. Você atrás impeça que ele volte. Viatura 1 volta pela A1205 pra não deixá-lo tomar a avenida de novo. – ele só poderia escapar se virar na Medway ou Lyal – Se ele virar em alguma rua adjacente a viatura 1 da Romand intercepta ele.

Carter com certeza estava batendo e atirando nele pra que ele estivesse mais lento e houvesse tempo dos carros se moverem. Ela na cola dele era essencial para atrasá-lo. Assim logo ele ficou cercado.

— Beleza! – ouvi ela dizer antes do mapa sumir.

— E então? – perguntei.

— Meus parabéns, tá mil dólares mais rico, moleque. – e então a linha ficou muda. Suspirei, a bem da verdade continuaríamos pobres, porque além de ter que dividir os ganhos entre nós três ainda tínhamos que pagar o monitor do Pyros.

— Legal. Isso foi como Pacman. – Matt comentou relaxando na cadeira.

— E o melhor foi que você conseguiu ferrar com o computador dele. – Pyros anunciou. – Acho que agora a polícia dá conta do resto. – o homem falou.

Ele nunca perguntava muito sobre nossos casos, não sabia quem era a Carter já que não falávamos o nome dela. Ele com certeza tinha seus rolos ilegais e era meio idiota, mas era esperto o suficiente para nunca se intrometer demais com garotos da Wammy’s House, ele via em primeira mão uma pequena e fraca parte do que éramos capazes de fazer e só essa ponta do iceberg já o espantava. Em troca nós também não nos envolvíamos a fundo com ele.

— É isso aí. – falei mordendo mais um pedaço da barra de chocolate enquanto Matt acendia um cigarro, isso mostrava como ele tinha se irritado com esse cara. – Quero só ver como vai aguentar um mês sem isso aí. – sussurrei pra ele me referindo ao torneio.

— Ah! Fica quieto. Além disso eu só fumo quando estou nervoso.

— Nervoso, alegre, triste, com fome, com sede, com dor de barriga... – comecei a encher o saco. – Primeiro passo de um viciado, não admitir o vicio.

— Olha quem fala. – ele rebateu ainda num tom baixo.

— Eu admito que sou viciado, só que aceito isso até porque chocolate não mata.

— Chocolate não, diabetes sim.

— Lembrando que o sedentário é você.

Nos encaramos com raiva prontos pra continuar a pirraça quando...

— Vocês dois, se terminaram se mandem. – Pyros levantou um monitor completamente vazio por dentro e derretido. – Já fizeram o bastante. – nos levantamos e subimos as escadas.

— Vamos ficar a toa essas férias, mandamos seu dinheiro assim que recebermos e depois disso sumiremos por um tempo. – Matt anunciou e pude jurar que o cara ficou meio decepcionado.

— Entendi. Boas férias pra vocês então.

P.O.V.Matt

Pegamos um táxi para mais perto do orfanato já que de madrugada os transportes públicos não rodam. Andamos de presa, quase correndo, algumas quadras até a Wammy's pelo lado sul que era abandonado. Ali havia um prédio pequeno que foi o primeiro dormitório do lugar, mas hoje era apenas um depósito onde eu e Alice costumávamos ir para fumar. Outros alunos conheciam aquela saída e volta e meia iam para lá ficar longe de tudo e todo, era quase um refúgio onde podíamos fingir que não estávamos naquele orfanato, naquele mundo.

Entramos silenciosamente e tomamos logo uma janela para o lado de fora, a última coisa que queríamos era topar com alguém, já que algumas vezes acabavam caindo no sono. Sem lanterna ou iluminação alguma seguimos pelo caminho que conhecíamos bem.

— Noite agitada garotos? – a voz nos fez dar um pulo e então Alice ligou a lâmpada de emergência que tinha em mãos e se parecia com um lampião. Eu fiquei quieto certo de que Mello teria uma bela tirada pra ela

— Olha só quem fala. – o loiro respondeu simplesmente voltando a andar. A garota tragou o cigarro que tinha entre os dedos e soltou a fumaça de uma vez.

— Soube do acampamento. Meus parabéns.

— É, pra você também. – respondi.

Ela se referia a mentira que o L havia criado. Ele levaria os 10 melhores alunos daquele semestre para acampamentos de férias definidos por áreas. Assim ele separou nós três. Near iria para um sobre jogos mentais e história antiga, Mello para um de esportes e lutas e eu de matemática e tecnologia. Coisas em que já éramos bons.

— Vai ser uma pena eu sair ano que vem, se sem treinamento o Mello já é um perigo imagino o quanto isso vai ficar divertido depois que ele aprender a brigar.

Eu gelei com o comentário, Mello não ia mesmo só continuar andando, ele nunca deixaria uma provocação sem resposta. Então ele se virou para a garota de cabelos escuros e olhos castanhos com um sorriso de canto.

— É, vai ser mesmo uma pena você não estar aqui. – ele colocou a mãos nos bolsos da calça e caminhou depressa pro outro lado. Era verdade que Mello não tinha problemas em sair no tapa com garotas também. Eu ia segui-lo quando Alice segurou meu ombro.

— Você não sabe a sorte que tem, não é Matt? – ela sussurrou e eu a encarei completamente confuso. Às vezes tinha a impressão de que Alice era a mais inteligente ali, alguém que poderia passar Mello e Near facilmente, alguém tão brilhante que se mantinha bem longe do primeiro lugar.

— O que quer dizer? – ela riu baixo da minha cara.

— Ah! Matt... Você não sabe mesmo, então apenas não se esqueça disso. – e então ela me deu um beijo no rosto e voltou pela entrada da frente para dentro do prédio.

Corri pra alcançar o Mello. Quando chegamos no quarto ele perguntou.

— O que ela queria com você? – era o que e queria saber também.

— Acho que... Esfregar a realidade na minha cara. – disse caindo na cama tirando o tênis e bermuda que joguei em qualquer lugar. – Deve tá bêbada, nem dou confiança. Hoje temos que terminar os preparativos, em dois dias viajamos pro outro lado do mundo então é melhor dormir. – o caso do ladrão tinha tomado tempo.

Mello muito mais organizado que eu jogou as roupas em um montinho dentro da sua parte do armário. Seus ombros pareciam tensos, ele não mencionava nada, mas aquela viagem o estava deixando nervoso.

— Você esta bem? – perguntei antes de ele entrar pro banheiro.

— Não dá mais pra desistir. – ele disse entrando e batendo a porta. Me levantei soltando um suspiro e abri a porta devagar. Mello escovava os dentes.

— Não foi isso que te perguntei Mihael. – a menção do seu nome fez ele parar olhando pro pequeno espelho e então cuspir tudo. Voltou a encarar seu reflexo e cerrou os olhos.

— Estou ótimo, agora me deixa escovar os dentes em paz, droga. – ele chutou a porta e dessa vez a trancou. Mas depois disso não ouvi barulho de água ou da escova. Ele devia estar chorando.

Não insisti mais. Era bom que ele chorasse agora, colocasse tudo pra fora de uma vez, se acalmasse um pouco. Que simplesmente chorasse. Mello detestava que as pessoas o vissem em qualquer momento que pudesse demonstrar fraqueza, mesmo já tendo feito várias cenas no orfanato ele nunca chorava de verdade perto de ninguém, nem de mim. Se eu quisesse que o consolasse do outro lado de uma porta ou através de várias cobertas onde ele se embrenhava.

Mas não era isso que eu fazia, não mais. Eu nunca fui bom nisso e quando tentei lhe dizer palavras gentis ele se livrou das cobertas e me encarou com os olhos inchados e vermelhos. Disse num tom baixo.

“Eu disse que tô bem e não preciso de nada, só me deixa chorar porra.” Ele voltou pra debaixo das cobertas e eu aprendi uma grande lição não só sobre Mello, mas sobre mim mesmo e todo o mundo, às vezes tudo o que uma pessoa precisa é chorar.

Mello sempre tinha esses momentos e em vários deles só queria mesmo deixar a tristeza transparecer, não era necessário eu tentar confortá-lo já que nada poderia apagar a sua dor. A vida era assim e queria eu ser capaz de chorar como ele. Quem sabe assim eu também aprendia a lidar com meus próprios demônios.


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Notas finais do capítulo

* As ruas mencionadas são reais.
* O nome de Pyros eu tirei da música do Kings of Leon (Pyro)
É isso, até breve pessoal. O/



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