Lorena escrita por slytherina


Capítulo 2
Família


Notas iniciais do capítulo

"Harry levantou-se devagar e começou a procurar as meias. Encontrou-as debaixo da cama e depois de retirar uma aranha de um pé, calçou-as. Harry estava acostumado com aranhas, porque o armário sob a escada vivia cheio delas e era ali que ele dormia. " Harry Potter e a pedra filosofal de J.K. Rowling



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Era uma vez há pouco tempo atrás, em uma casa rústica na região mais pobre e povoada daquela grande cidade, havia uma mocinha de 14 anos de nome Lorena. Comprida, de cabelos castanhos cacheados, eternamente presos em tranças que lhe chegavam à cintura. Ela desistira de deixá-los soltos devido à truculência de sua mãe adotiva. Afinal ela já ameaçara cortar os cabelos de Lorena diversas vezes, pois segundo ela, aquilo não era cabelo, mais sim, um ninho de piolhos, por serem longos e exuberantes.


Seus olhos eram castanho esverdeados, e embora não se pudesse dizer que fossem belos, pois ela sempre os conservava baixos, para evitar conflitos, o conjunto de seus longos cabelos, emoldurando seu rosto anguloso de adolescente magra, mais aqueles olhos melancólicos, a tornavam estranhamente bonita, por mais que eternamente triste.


Todos os dias, Lorena acordava cedo para preparar o café da manhã, mal tendo tempo para se arrumar e partir para a escola pública do bairro, sendo que por vezes saía sem se alimentar. Ela relevava esse constrangimento dizendo a si mesma que tinha o estômago fraco, e que se tomasse café logo que acordasse, poderia vomitá-lo.


Sua bem-aventurança vinha na hora do recreio, pois a escola dava merenda de graça, e ela então matava a fome que ameaçava enfraquecê-la. Dias havia em que serviam carne enlatada com macarrão, outras vezes era um quente sopão, mas em raras ocasiões serviam bife com batatas fritas, e esses eram os melhores.


Se pudesse, ela gostaria de provar, ao menos uma vez na vida, um hamburger do McDonalds, ou um milkshake de chocolate. Estes eram inacessíveis na sua presente existência, sendo mais fácil o sol e a lua se alinharem em um eclipse do sol, do que ela vir a ter dinheiro para comprar essas delícias. Entretanto, uma das verdades de nosso universo é que o tempo segue adiante, e tudo se modifica. Inclusive a vida das pessoas.


Ao fim das aulas, Lorena iniciava sua peregrinação para casa. Não tinha pais. Eles morreram de doença quando ela era ainda um bebê. Fora enviada para um abrigo, até que uma família se dispôs a acolhê-la. Após algum tempo ela fora devolvida para o abrigo, porquê seu lar adotivo não conseguira se acostumar com sua presença. Esta já era sua terceira família ao longo dos anos. Não se lembrava de nenhuma em particular, e nem guardava ressentimento ou rancor por surras levadas, injustiças cometidas ou mal estar que pudesse sentir por qualquer situação.


Enfim, a presente família não era pior nem melhor do que as outras que já tivera. Havia um casal de filhos biológicos, e eles eram taciturnos. A convivência com eles era difícil, pois eles não vestiam máscaras sociais, que permitissem mostrar somente seus melhores lados, ou o que poderia ser considerado "jovens saudáveis".


Eles eram cínicos, sarcásticos e malévolos. Riam quando Lorena sofria. Não lhe faziam favores, não lhe tinham nenhum vínculo de lealdade ou cumplicidade, que é o que liga irmãos, a não ser entre eles mesmos. No fundo aquilo era egoísmo, pois amavam somente a si mesmos, não se importando com o resto da família, nem mesmo os pais.

A mãe era uma mulher enérgica, dura e seca. Ao menos para com ela. Nunca mentiu à Lorena sobre os motivos da adoção. Precisava de ajuda no lar. Seus filhos precisavam estudar e não poderiam pegar no trabalho pesado. Ela apenas não levava em consideração que Lorena tinha a mesma faixa etária de sua prole, e era até mais franzina do que os filhos dela. Dois pesos e duas medidas. Esse deveria ser o lema daquela mulher.

Sua mãe adotiva era difícil, mas seu pai adotivo era pior. Vivia viajando, e quando voltava não parava em casa. As raras vezes em que o encontrara não gostara dele. Era estranho e olhava duro para ela, sem compaixão, simpatia ou gentileza. Lorena sentira-se menor e mais insignificante do que já se sentia habitualmente. Percebera que aquele homem tinha uma pedra no lugar do coração.


Por tudo isso, Lorena não gostava de ficar em casa, sendo que se sentia melhor acolhida e apreciada na escola. Se ela acertasse todas as questões das provas e testes, era parabenizada pela professora. Se fosse gentil com suas colegas, elas retribuíam a gentileza. Os funcionários eram solícitos e sempre lhe davam informações corretas e bons conselhos. Está certo, eles agiam assim com todo mundo, mas ao menos não a tratavam mal.


A escola era o local mais parecido com uma família dos filmes e livros, do que as famílias da vida real. Por causa disso, Lorena passou a se envolver mais em atividades extra-curriculares. Ela passou a frequentar aulas de reforço, clubes acadêmicos, trabalhos voluntários e o time de basquete da escola. Para sua sorte, não precisou pedir ajuda de sua família, para a confecção de fardas, materiais escolares ou livros, pois a escola era pública e recebia muitas doações locais.


Nas vezes em que não havia nada que a tirasse de casa, era obrigada a conviver com sua família adotiva e a sofrer. O trabalho doméstico não era difícil. Ela se acostumou a dizer para si mesma "Isso é apenas trabalho", e a aceitar tudo sem reclamar. Quando era vítima de seus irmãos adotivos, apenas se calava e se recolhia ao seu quartinho, próximo à cozinha. Ainda bem que havia chave para trancá-lo.


Sua mãe adotiva nunca a apoiava. Ela sempre ficava a favor dos próprios filhos; nem mesmo quando os flagrava praticando maldades, ela se voltava contra eles. Agora, Lorena era outra estória. Ela era sua vítima favorita, não hesitando em agredi-la ou xingá-la. Lorena passou a ficar calada, nos últimos meses, prometendo a si mesma que no dia seguinte iria para a escola e lá seria melhor tratada.


É claro, tudo tem um limite e ela sabia que sua paciência estava no fim, e haveria um dia em que a aspereza e mau-tratos seriam demais para ela. Nesse dia ela daria um basta ao seu sofrimento, ela apenas não sabia como. Ainda.


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