Lorena escrita por slytherina


Capítulo 14
A máquina do tempo


Notas iniciais do capítulo

"A Máquina uivou. Tempo era um filme correndo para trás. Sóis voaram e dez milhões de luas voaram atrás deles. "Pense, " disse Eckels. "Todo caçador que já viveu nos invejaria hoje. Isso faz a Africa parecer Illinois."
A Máquina diminuiu; Seu grito caiu para um murmúrio. A Máquina parou.
O sol parou no céu."
Um som de trovão por Ray Bradbury



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Lorena acordou de seu cochilo. Adormecera no sofá da sala. Sua mãe já havia reclamado desse seu hábito de pegar no sono em qualquer local que encontrasse, mas como ela estava em sua própria casa, então não deveria ser tão ruim assim. Ultimamente andara muito angustiada, se desentendendo com a mãe, se indispondo com seu padrinho, e até com os amigos da escola não falava mais. Isso estava criando um padrão ruim de comportamento.


E seus nervos então? Ela suspeitava que a recente acne era uma consequência direta de sua índole nervosa e problemática. Decidiu procurar pelo mestre. Ele sempre a acalmava com seu bom humor e benevolência. Mesmo que sua mãe a houvesse proibido de falar com ele, ela não abdicaria de sua amizade. Por via das dúvidas procurou por seu irmão para levar consigo.


– Casper! Você quer tomar sorvete comigo? - Lorena perguntou.


Não foi preciso repetir a pergunta. O menino colocou uma jaqueta da escola e um boné de beisebol mais rápido do que o Flash. Primeiro eles foram no carro de sorvetes estacionado na esquina. A seguir foram até a casa dos Einsteins com a desculpa de comer torta de chocolate. Casper não desconfiou que ele era o salvo-conduto de Lorena.


– Bom dia, Frau Einstein! Este é meu irmão Casper! Tudo bem se nos demorarmos um pouco? - Lorena perguntou quase sem fôlego e ansiosa.


– Você já é de casa, Lorena. Fique o tempo que quiser. Casper, você já provou um bolo de cereja "Floresta Negra"? - Ante o olhar embasbacado e a negativa com a cabeça do menino, a velha matrona pegou a mão dele e disse - Pois então você vai prova-lo agora. E vou lhe avisando, é o melhor bolo do mundo. E Lorena ... Albert está no quintal.


Lorena sorriu e acompanhou com o olhar Casper sendo levado para a cozinha. Então ela foi até o quintal. Seu mestre estava fumando um cachimbo e admirando os passarinhos em uma pequena fonte. Lorena aproximou-se até ficar em seu campo de visão.


– Oh, Lorena! Fazia tempo que não a via. Pensei que houvesse algum problema.


– Nada demais, já passou. Como vai, padrinho?


– Muito bem, muito bem! Estive trabalhando no seu projeto. Quero dizer meu projeto, mas como era você quem queria fazer uma viagem no tempo, então é seu.


– O que quer dizer?


– Eu a construí! A máquina do tempo. Poderá usá-la agora. - O cientista falou, apagando o fumo no cachimbo.


Lorena ficou estupefata. Mal percebeu quando o homem idoso a conduziu pela mão até um velho galpão, onde estava seu objeto de obsessão. Na verdade não era nada de extraordinário, apenas um carro sedan Tucker 48. Ela olhou espantada para o mestre como se esperando ele operar sua mágica.


O mestre abriu a porta do motorista e fez um gesto com a mão como se convidasse Lorena a dirigir o carro.


– Eu não sei dirigir, padrinho.


– Não tem problema! Está vendo esta chave? Gire-a e isso ativará a máquina do tempo. Já, esta alavanca tem dois tipos de movimento. Para frente, você irá para o futuro. Para trás, você irá para o passado. Quando quiser parar em um determinado tempo, é só puxar a alavanca para o ponto neutro, aqui no meio. O carro não se moverá no espaço, apenas no tempo. Este será imutável no interior do carro, mas no lado de forá tudo irá mudar. E então, está pronta para a jornada?


– Eu, eu ... não me despedi de ninguém, nem avisei meus pais ... não fiz a mala, nem sei se preciso levar documentos ou dinheiro, ou mesmo comida... eu, eu não sei se é seguro. - Lorena gaguejou.


O velho homem fechou a porta do carro, e se dirigiu para sua casa, com Lorena vindo logo atrás em seu encalço.


– Padrinho! Padrinho ... para onde vai? E a máquina do tempo?


– Vou comer uma deliciosa torta de cerejas que minha senhora preparou. Deixe essa máquina do tempo pra depois. Afinal não há tempo melhor do que o agora. Vamos, você é minha convidada.


Lorena o seguiu algo decepcionada. Ela queria mesmo viajar no tempo, mas tinha medo. Isso parecia ser algo muito importante e sério, e não era uma colegial como ela quem deveria fazer a primeira viagem desse tipo no mundo.


Durante todo o tempo em que ela esteve comendo sua fatia de bolo floresta negra, Lorena ficou absorta em seus pensamentos. Estava se resolvendo a realizar a viagem aqui e agora, mesmo sem preparação, mesmo sem aviso nenhum, pois afinal de contas, ela poderia ir e voltar sem ninguém dar por sua falta. Sim! Era isso isso mesmo que faria. Mas para onde iria?


Após terminarem de comer a iguaria, o idoso voltou para o quintal para observar os pássaros. Casper ficou entretido admirando coleções de selos e moedas apresentadas por Frau Einstein. E Lorena aproveitou mais esse momento que poderia desfrutar ao lado do velho cientista.


– Padrinho, desculpe incomodá-lo com minhas tolices, mas é que ... não tenho outras pessoas com quem possa conversar sobre esses assuntos. - Lorena desculpou-se, olhando para o chão e com as mãos no bolso do cardigã.


O velho homem a contemplou serenamente por um momento. Aquela jovem enfrentava problemas de relacionamento com os pais, o que era comum naquela idade, mas Lorena era muito sensível e intensa, então todo tormento e angústia da adolescência adquiriam tons mais sombrios e profundos, que a marcavam como se fosse uma heroína ou uma mártir. Era uma jovem fascinante, capaz de influenciar o comportamento das pessoas ao seu redor. Inclusive levar um velho cientista no fim da vida a construir um artefato perigoso e complicado, que desafiava as leis da física, e poderia colocar a linha do tempo da humanidade em perigo.


Ele deveria ter esquecido aquele assunto da máquina do tempo, e parar de se envolver em celeumas e dilemas morais, principalmente depois do fiasco da energia atômica, que foi usada para construir armas de destruição em massa, com a ajuda dele.


O Cientista deu meia volta e sentou-se na cadeira de balanço do alpendre. Apontou o outro banco para Lorena. Ela o seguiu e sentou-se ao seu lado.


– Eu resolvi usar a máquina do tempo. Eu só ... eu só não sei aonde ir. Tenho medo de criar um daqueles paradoxos de que conversamos outro dia. Não quero mudar a estória da humanidade, ou mudar pra pior a vida das pessoas. Em suma, eu ... não sei o que devo fazer.


– Você esteve obcecada por esse assunto por muito tempo. Seria natural ter um evento em mente, uma data, talvez um acontecimento passado. - O velho ficou em silêncio, observando-a como se esperasse sua resposta a uma pergunta não formulada.


– Eu realmente não tenho idéia. Pensei que o senhor poderia me ajudar a não estragar a História. - Ela o olhou esperançosa.


– Lorena, hum ... siga sua ... como direi ... intuição. Apenas use a máquina do tempo. Se a máquina não a levar para um determinado tempo e local de seu agrado, apenas volte para cá. - O cientista a olhava compassivo e benevolente, como se temesse que ela se descontrolasse.


Lorena realmente estava prestes a ter uma crise de nervos, mas o olhar amigo e acolhedor do cientista a acalmou um pouco. Ela deu um pequeno sorriso, inspirou profundamente e se ergueu.


– Ok! Eu vou. Poderia me acompanhar até o galpão, padrinho? - Ela perguntou num fio de voz.


– Mas é claro! Não poderia perder este evento. Vamos! Ainda se lembra das instruções? Quer que escreva em um bloco de notas?


– Não! Não realmente. Consigo me lembrar das instruções. Doutor Einstein, se eu me demorar, diga a meu irmão para ir para casa, está bem? - Ela falou comovida.


– Não se preocupe quanto a isso, Lorena. Vai dar tudo certo, você vai ver.


E então, Lorena seguiu o seu destino.


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