Víctimas Del Pecado escrita por Miss Addams


Capítulo 33
Poncho - 18




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Poncho

Me certifiquei de pegar o médio envelope antes de sair e trancar o carro, acionei o alarme e só então atravessei a rua para finalmente chegar no bar onde eu tinha um encontro marcado.

Entrei apressado e com os olhos busquei ele, que assim que me viu deu um aceno para que eu o identificasse, eu dei um aceno com a cabeça e fui em sua direção.

:- Desculpe pelo meu atraso. – me justifiquei, afinal de contas eu tinha marcado e já tinha me atrasado.

:- Não tem problema eu também demorei a chegar, não faz tanto tempo que estou esperando. – ele deixou de apertar sua orelha. Num gesto de pura mania.

Quem estava sendo enganado fui eu mesmo, como não perceber algo assim, todas pessoas tinham manias, mas julgo dizer que poucas pessoas no mundo além de eu e Eddy, tínhamos a mania de enquanto esperar ficar apertando a orelha, na verdade esmagá-las com os dedos.

O mesmo gesto que Enzo adquiriu.

:- Assim eu fui mais aliviado. Agradeço por você aceitar o meu convite e ter vindo até aqui, Eddy. – eu sentei do seu lado deixando no balcão o envelope. – Ainda mais da última vez que nos vimos.

Essa não era a primeira vez que eu tinha encontrado Eddy, era a segunda. Eu encontrei o lugar onde ele trabalhava e fui visitá-lo eu precisava tirar essa maldita dúvida sobre quem era o pai de Enzo de uma vez por todas. Eddy estranhou minha visita ainda mais minha conversa, eu não lembro exatamente sobre o que eu falei, ele deve ter me julgado como bêbado.

Eddy trabalhava num lugar formal assim quando eu vi que enquanto ele buscava alguma bebida para que eu me acalmasse, fui até o seu terno e encontrei o que eu queria. Fio de seu cabelo.

:- Não tem importância, todos nós temos dias ruins, aquele foi o seu. – ele deu os ombros.

:- Eu queria explicar o motivo da minha visita a você e também desse encontro. – informei a ele, depois de recusar quando o barman me ofereceu o cardápio o que eu tinha que fazer era algo rápido.

:- Você nunca foi um dos universitários que estavam mais interessados no que eu ou algum dos meus ex-amigos fazia do que em sua vida acadêmica. – comecei falando. – Mas, o que eu queria saber de você é se naquela época você teve algum contato com algum de nós?

:- De vocês? – ele estava estranhando a minha conversa assim como da última vez. – Bom, hãnn eu tive um contato com Eugênio por que fizemos algumas aulas juntos quando estudávamos no outro curso ainda e também com Angelique. – ele desviou o olhar para a sua bebida. Sabendo como antes eu ficava quando algum cara da universidade falava de Angelique, durante e depois do meu namoro com ela.

:- Qual foi o seu envolvimento com Angelique? – perguntei.

Ele imediatamente recuou um pouco com a cabeça temendo minha pergunta.

:- Escute, é só uma pergunta eu não vou fazer nada. – ergui as mãos mostrando as palmas para mostrar sinal de paz.

:- Tanto Angelique quanto Dulce eram as garotas mais desejadas da universidade, ainda mais quando se tornava proibido é como um imã. Claro que quando você e Eugênio se envolveram com elas, ninguém se aproximava. Mas, antes disso tudo bem no começo do ano letivo eu fiquei com Angelique algumas vezes, nas festas que fizeram para os calouros. – ele me olhou de lado como se esperasse que eu lhe acertasse um soco na cara pela confissão, mal ele sabia que eu já sabia de muita coisa.

:- Vocês ficaram apenas aquela vez?

:- Sim. – ele mentiu e ainda olhou para baixo, perdendo o contato visual.

:- Seja sincero, Eddy.

:- Ok. Não. Mais que importância isso tem hoje? Afinal de contas hoje ela é noiva de Eugênio e eu sou casado e tenho filhas. – ele disse sem entender, sem saber que esse era o verdadeiro motivo. Suas filhas ou seu filho.

:- Em pouco tempo terá sua resposta, eu só peço que me conte como foi.

:- Você e Dulce estavam presos, o alvoroço pelo assassinato e também pela prisão de vocês estava esquecido na mente de todos. Todo mundo tinha seguido com sua vida. Como todos julgavam, Angelique e Eugênio engataram num namoro firme, mesmo que eu quisesse ter algo a mais com ela, não poderia. Isso até reencontrá-la num dia quando ela estava terminando sua segunda universidade e estava sozinha e nos reaproximamos.

:- Vocês transaram. – eu falei o que ele não queria me contar e ele me olhou assustado arregalando os olhos.

:- Isso. – confirmou. – Ela me disse que tinha terminado com Eugênio e precisava esquecê-lo eu sempre gostei de Angelique então não vi problema em sair com ela algumas vezes, mas depois ela desapareceu e quando fui atrás dela, tinha voltado com Eugênio. Então segui com minha vida, não foi nada além que isso. – deu os ombros terminando sua história, era a minha hora de começar a contar.

:- Bom, eu vou te contar uma história também, quando eu estava preso. Angelique uma vez me fez uma visita. Como nos conhecemos bem, eu soube que ela estava ali por que tinha terminado com Eugênio, tudo acabou em sexo também. Quando eu fui libertado anos mais tarde, como você deve saber assim como muitas pessoas, eu jurei vingança tanto a Angelique quanto a Eugênio.

Ele afirmou com a cabeça tomando um gole de sua bebida.

:- Claro que com o passar dos anos muita coisa tinha mudado eu resolvi reencontrar meus velhos amigos, eu descobri que Angelique tinha um filho me surpreendi em saber que Eugênio não era pai dele. Então me surgiu uma dúvida quem era pai do garoto? – Eu perguntei para Eddy que escutava o que dizia atento e não falava nada. – Quando eu fui falar com Angelique ela me fez acreditar que eu era o pai dessa criança. – Eddy na minha frente mudou para uma expressão de surpresa.

:- E me fez acreditar nisso durante algum tempo, eu já tinha me afeiçoado ao garoto quando descobri que Angelique me enganou.

Eddy voltou a ficar surpreso só que dessa vez era uma surpresa sofrida, parecia que ele estava começando a ligar os fatos.

:- Sabe Eddy, Angelique sempre foi uma vagabunda, sabia quando e para quem abrir as pernas, quando ela terminou com Eugênio foi logo atrás de você para fazer esquecer a dor do término e logo depois ela foi atrás de mim. Eu fui atrás de você por que Don Giovanni revelou que Angelique te levou para dormir na casa dela algumas vezes, não precisa ser inteligente para juntar um mais um. Naquele dia em seu escritório eu roubei fio de seu cabelo tudo para descobrir a verdade. E aqui está o resultado.

Eu peguei o envelope dele e lhe entreguei.

:- Abra e descubra por si só Eddy. Lamento por ter jogado essa bomba no seu colo, mas eu precisava mostrar a verdade a todos os envolvidos, Enzo merece um verdadeiro pai. Algo que Eugênio e eu não somos. – Eddy estava paralisado e horrorizado com o que eu acabei de revelar, de um momento para outro descobrir que tinha um filho não deveria ser fácil para uma pessoa como ele que tinha um casamento estável, mas com isso eu não me importava tinha cumprido minha missão. – Eu tenho que ir agora, Eddy, mas te desejo muitas felicidades papai.

Levantei dei tapinhas em suas costas e sai daquele bar, sem me importar com que realmente Eddy estava pensando, se era verdade ou não o que tinha dito, o que eu sabia era que ele era um cara inteligente e não fugiria da verdade. Por um momento desejei que ele explodisse e fosse atrás de Angelique tomar satisfação de tudo.

Eu tinha feito dois exames de DNA, um meu e de Enzo e outro de Eddy e Enzo para ter total certeza do resultado. Quando recebi o meu e deu negativo, já dava para julgar que o positivo era de Eddy.

Cheguei ao meu carro arrependido de não ter bebido nada, mas também não voltaria lá. Eddy me encheria de perguntas e não estava disposto a responder, afinal de contas eu não era mãe de seu filho. Decidi dirigir para o hotel e por lá mesmo eu beberia.

O que não demorou a acontecer, assim que cheguei no hotel fui direto para o bar e pedi várias bebidas para abastecer o meu quarto na cobertura sem poder esperar pelo serviço de quarto, antes de entrar no elevador eu vi uma cabeleira ruiva saindo pela entrada principal do hotel eu a reconheceria em qualquer lugar, pelo horário ela deveria está indo ao encontro do imbecil do Eugênio. Malditos!

Pensei dando um soco na parede do elevador quando ele subia para a cobertura.

Olhei para o teto do elevador amassando a chave do meu carro que estava ainda em minhas mãos contendo a vontade de mudar o trajeto do elevador e entrar no meu carro e seguir Dulce. Eu não cederia daquela forma, não daria aquele gostinho a ela.

Cheguei ao meu quarto, deixando alguma das bebidas que eu peguei logo na geladeira para não perder a temperatura fria em que estavam, coloquei algo para mim.

Olhando para o nada eu comecei a pensar, as informações que eu tinha sobre minha investigação. Eu estava tomando a frente da minha vingança sozinho, agora que não tinha nada a perder, nem um filho e menos ainda uma parceira. Agora era tudo ou nada. Eu acabaria com muito prazer Eugênio e com Angelique. Pensei ali sozinho no meu quarto.

Não gostava da palavra coincidência, mas eu tinha que dar o braço a torcer ela estava presente quando eu tinha conhecido Tony Dalton. Começou com ele sendo um policial que ele tinha ajudado e por incrível que pareça tinha ganhando sua simpatia e agora tinha descoberto que ele teve uma ligação com Felipe.

Aquele homem era mais miserável que ele imaginava, fazer algo desumano com crianças era demais para mim. Se ele não já estivesse morto, eu o mataria agora. Ainda mais por que quase fui pai de um garoto. Neguei com minha cabeça frustrado com o rumo que minha vida estava tomando, eu não tinha tanto sentido.

Antes que eu começasse a pensar qualquer besteira meu celular tocou.

:- Bueno? – atendi.

:- Estou voltando para a capital. – escutei sua voz, sempre direta eu estava sentindo falta dela, especialmente agora. Ela poderia está aqui agora, poderíamos beber e fumar juntos pelo menos eu não pensaria besteiras.

:- Que bom. – eu suspirei realmente aliviado. Maite tinha viajado desde que tinha feito Dulce acreditar que ela era caçadora. – Tenho muito o que te contar.

:- Eu também Alfonso. – eu fiquei em alerta, não era casualmente que eu escutava ela me chamar assim.

:- Onde você está?

:- Em Mérida.

:- O que está fazendo aí?

:- Ele viajou até aqui. – ela me respondeu firme.

Rodrigo tinha sumido fazia muito tempo, o que eu achei muito suspeito para dizer a verdade, não só eu como Maite também ela descobriu que ele tinha viajado e depois de me contar tudo o que falou para Dulce ela disse que viajaria e logo estaria de volta.

Agora eu descobri que ela seguiu Rodrigo e provavelmente descobriu algo importante.

:- Você só vai me contar quando chegar aqui ou pode adiantar algo? – eu escutei chiados na ligação até identificar que ela estava no aeroporto.

Demorou para responder alguém estava conversando com ela talvez estivesse embarcando agora.

:- Eu tenho que entrar no avião Poncho. – me disse eu já comecei a calcular em quanto tempo ela levaria para chegar até aqui, a buscaria no aeroporto. – Poncho?

:- Hum.

:- Ele é traficante de drogas. – me respondeu. – Depois eu conto melhor o que eu descobri aqui assim que eu chegar vou te encontrar, me espere. Até logo.

Eu só escutei o barulho da ligação tinha sido desligada.

Rodrigo Nehme era traficante de drogas? Eu sabia que tinha algo suspeito nele. Sabia! Ele promovia as festas da universidade, era bem popular por conta disso, vivia viajando. Ele conversava muito com Laura quando ela trabalhava na universidade, talvez ela sequer tivesse vendido drogas e sim era ele por trás.

Por um momento eu desejei que Maite não tivesse me contado nada, agora eu criaria milhares de suposições e no final ela estava com as respostas para minhas perguntas eu só pensaria melhor nisso. Até que ela chegasse eu me voltaria louco passei a mãos nos meus cabelos sem saber o que fazer.

Olhei para o meu lado em minha cama estava o livro que eu tinha começado e parado no meio, talvez fosse o momento de me distrair, eu o peguei e tomei mais álcool abrindo na última página e voltei a ler me situando ainda na história.

“E por falar em id o meu andava uma fera. Você sabe o que se convencionou chamar de id? Seria, na gente, em que lugar eu não sei, o centro do conflito animal, primitivo, onde os absolutos se encontram face a face: o instinto da morte e o da vida, o da destruição e o da criação, isto é, o cadinho onde se encontram, em estado puro, misturados, o bem e o mal. Foram batizados de Tanatos e Eros, o que quer dizer, em grego, os deuses da morte e do amor. No id, não há meios-termos, panos quentes. É um querer absoluto, obsessivo, tudo ou nada. Quer uns exemplos concretos? As crianças, os índios e os tarados são os que têm, na sociedade humana, os ids mais livres e manifestos. Então, admitamos que a gente se descubra amando e desejando absolutamente uma determinada mulher. Lá está o seu Eros, no seu id, apelando. Ou ele é satisfeito imediata e satisfatoriamente, ou entra em cena o Tanatos, destruindo quem se nega ou impede a satisfação do Eros. Mas isso não é nada. Já pensou no contrário? Você quer destruir alguém. Isso lhe é absolutamente necessário, por decisão do instinto de morte, o Tanatos, em seu id particular. Todo aquele ou aquilo que se negar ou impedir a realização plena e imediata desse instinto básico será objeto das forças vingativas de Eros, de seu instinto de amor absoluto, e você passará a amar, ir, criar. Bem, nem sempre essas forças são assim solidárias, na base de uma mão lava a outra no fundo dos instintos animais. Elas podem se engalfinhar. Aliás, parece ser o que mais fazem lá dentro da gente. E o vencedor, exausto, exaurido, exige satisfação na medida atual de suas forças: e a gente ama, exausto e exaurido, nossos objetos de amor, ou em caso de vitória contrária a gente odeia e destrói, exausto e exaurido, nossos objetos de ódio mortal.

Aí está. Resumindo: se o amor é total, mata-se; se o ódio é total, ama-se; se o ódio e o amor são totalmente antagônicos, ou não acontece nada ou amamos e odiamos com as sobras sobreviventes dessa luta amorosamente mortal dentro de nós.” Roberto Freire, Cléo e Daniel.

Reli em voz alta para me concentrar no livro, porém ele malditamente resumia a minha situação atual por mais que a história não tivesse nada que ver com a minha, além do mais era um livro de um autor brasileiro.

Porém, o que me vinha a cabeça era Dulce saindo do elevador e indo de encontro de Eugênio. Para quem dizia odiar ele, ela estava mais que envolvida por ele, segundo o que eu tinha acabado de ler em realidade Dulce estava apaixonada por ele. E sequer assumia isso.

Ao saber me dar conta de tudo, me lembrando de como ela agia quando o assunto era o meu rival, de como ela sabia camuflar suas emoções, afinal ela conseguiu me enganar. Mais que nunca eu iria até o fim daquela vingança, passaria por quem quer que fosse no meu caminho, mesmo que essa pessoas fosse Dulce ou que eu tivesse que voltar para a prisão.

Naquele instante eu tinha Tanatos e Eros brigando nesse momento, eu não sabia quem venceria, não me importava. Mesmo que isso influenciasse nas minhas ações e até emoções dali em diante.

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