Víctimas Del Pecado escrita por Miss Addams


Capítulo 10
Dulce - 4




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Dulce

Ele se aproveitou mais do momento e apertou nossas mãos entrelaçadas, e eu sorria achando tudo divertido pelo menos o ciúme delas.

Não era a primeira vez que eu fingia ser namorada, noiva ou até mulher de Poncho, para ele fugir de suas conquistas geralmente comprometidas, o problema era que frequentemente isso acontecia e eu concordava. Eu não queria admitir, mas estava cedendo a um desejo que nasceu desde o dia que ele me encurralou na parede em seu quarto de hotel.

Logo estávamos no carro dele, para irmos ao nosso jantar, eu poderia definir minha relação com Poncho como se fossemos unha e carne, trabalhávamos juntos na agência e também investigávamos o casal. Tínhamos uma ligação que dificilmente seria interrompida.

:- Certo, então somos namorados? – ele perguntou depois de um tempo dirigindo.

:- Ceci pensa que sim. Então somos. – eu olhei no espelho minha maquiagem, estávamos indo para casa de minha irmã, para um jantar em “família”, Poncho conheceria minha sobrinha que nasceu prematura.

:- Quer dizer que se eu te beijar na frente dela, você não vai poder recusar. – olhei para ele e o vi sorrindo malicioso.

:- Não pense que tirará vantagem, não será fácil assim.

:- Eu sei. Nunca foi, é assim que eu gosto mais.

Eu disfarcei um sorriso mordendo a bochecha, ele era um cachorro mesmo.

Na realidade inventei esse namoro não só por causa de Ceci, e sim pela família de Estefan, que era contraditoriamente ao filho desleixado, eram tradicionalistas, gostavam de uma boa aparência mesmo que por trás de tudo fosse fachada, Jonathan o pai de Estefan tinha uma produtora de filmes e ao pesquisar sobre a empresa, logo pensei no futuro.

No meu, ou melhor, da minha agência e de Poncho, poderíamos ter essa noite um negócio e tanto.

E para melhor conquistar a confiança e credibilidade dessa gente do que um casal de namorados apaixonados que estão com fome de vencer na vida? Eu ri de meus pensamentos, era vicioso manipular as pessoas se tornava uma necessidade ás vezes. Poncho estava alheiro as minhas reflexões. Estava viajando escutando U2 que por sinal acabou há muito tempo.

:- Chegamos, amor. – ele riu sabia que tinha visto minha careta, eu já estava pensando em como teria que entrar no jogo dele, mas jogar com minhas cartas, Poncho era inteligente demais, não podia me deixar seduzir por sua lábia, ou por seu corpo.

Não pude deixar de reparar o quanto ele estava lindo aquela noite, não tinha outra classificação, lindo. Estava másculo, intelectual, com uma boa aparência apesar da barba, era do tipo de homem que gostaríamos de apresentar para a família e saberia falar desde vinhos até política e se saíra bem. Ótimo.

Aquela noite imagem contava tudo.

:- Seja um bom ator, estou confiando em você. – falei baixo enquanto ele me oferecia seu braço para caminhamos até a entrada da casa.

:- Você que tem que ser ótima atriz para acompanhar o meu nível. O jogo começou agora. – ele riu presunçoso tocando a campainha, e eu não pude pensar em mais nada sobre o que aquilo significava.

Quer dizer, a cortina de nossa peça de teatro acabara de abrir, e o jogo a qual ele se referia era o nosso, aquele de sedução, vitória ou derrota um do outro. Éramos mestre nesse jogo.

:- Dulce!! Por fim chegou, estávamos esperando por você. – Ceci atendeu a porta animadamente e sabia que era forçado pela forma que me abraçou. – Até que enfim, senão, vou sentir como se eles me quisessem engolir viva. – ela sussurrou no meu ouvido enquanto apertava num abraço.

Ri brevemente mesmo depois de morarem juntos e ter uma filha, Ceci ainda tinha medo da família de Estefan.

:- Você deve ser Cecília?- Poncho ao meu lado perguntou, com uma voz rouca tipicamente sedutora dele.

:- E você Alfonso, que prefere Poncho? – Ceci sorriu admirada com os olhos hipnotizantes dele, tola mesmo.

:- Exatamente, você é mais bonita pessoalmente. – ele pegou a mão dela e beijou-a, para sorrir depois. Pronto, pelo rubor que surgiu em suas bochechas e pelo olhar encantado, ela já estava na dele eu já podia imaginar quando ficássemos sozinhas os comentários que ela faria.

:- Eu posso dizer o mesmo também, meu Estefan está longe. – ela sorriu. – Então quer dizer que você é o namorado da durona aqui?

:- Para você ver como é a vida não é? Logo depois de tudo que passamos, encontrar um sentimento que nos une, foi quase inevitável. – Poncho olhou para mim. - Foi desejo a primeira vista, pelo menos da minha parte eu posso dizer.

E ficamos nos olhando, eu relembrando nosso primeiro reencontro depois da saída da prisão, eu senti o olhar dele antes já tinha visto o desejo, porém fiz questão de ignorá-lo. Sequer sabia lidar com o fato de está livre de uma hora para outra, agora eu via a sinceridade em suas palavras, será que se brincar com fogo a queimadura dói muito? Será que eu me importava com a dor?

Uma tosse forçada de Ceci foi o que interrompeu o nosso olhar.

:- Vamos entrar, Poncho, tem que conhecer minha pequena Nicole. – Ceci sentindo o clima o cortou.

Entramos e Poncho deu um show de interpretação, conquistou a todos e eu é claro que fiquei no mesmo nível, éramos o casal perfeito, o melhor que Poncho foi tão convincente que a família de Estefan passou a olhar Ceci com outros olhos, por meio de Poncho. Ele começou a apontar todas as qualidades dela, e eu o ajudei.

Quanto mais a família aristocrata estivesse aos nossos pés melhor. Por que no final da noite seria o golpe de mestre, com o negócio fechado, conversei com Elizabeth, mãe de Estefan sobre a moda, tendências, e todo esse assunto volúvel. Observava Poncho conversar com Jonathan e fiquei admirada, ele realmente tinha muita lábia era um mentiroso nato e fazia seu papel brilhantemente.

A noite estava sendo uma mostra do nosso potencial, quem era o melhor em manipular as pessoas. Diria que o jogo estava sendo disputado nos mínimos detalhes.

É claro que ele não perdia a oportunidade quando esta surgia, aproveitava para ficar me abraçando todo momento, algumas carícias inofensivas e alguns beijos singelos típicos de um casal apaixonado tolo.

Depois do jantar eu o deixei conversando com Ceci, enquanto ele segurava Nicole nos braços, era um bebê tão pequeno e frágil. E fui dar o meu ataque, encontrei Jonathan bebendo e lancei minha proposta, não foi tão difícil convence-lo como disse, a imagem perfeita que fizemos foi fatal. Ele não teria como recusar.

Sorri vitoriosa quando ele me propôs nesta segunda feira para fechamos contrato, seria ótimo para agência H&R. Quando fui procurar Poncho, não o encontrei na sala e comecei a procurá-lo pela casa.

Andei até o final do corredor e entrei no quarto de Ceci e Estefan, e lá o encontrei, encostado no berço vendo Nicole provavelmente.

:- Achei você. – falei baixo por que não queria acordar a bebê.

Ele não me respondeu nada, não deixava de olhar para o berço, e eu me aproximei com cautela me encostando no final do berço na parte mais alta que a grade formava, olhei assim como ele Nicole, minha sobrinha dormindo.

Eu senti uma inveja desse pequeno ser, uma vontade absurda de trocar de lugar com ela, estava apenas no começo da vida e não tinha vivido nada, não tinha descoberto nem amor, nem ódio, maldade ou bondade, não tinha sonhos, objetivos, fracassos, não tinha amizade, nem traição. Era começar do zero.

Além de Ceci eu não tive muito contato com crianças, por isso eu não sabia o que sentia quando olhava minha sobrinha.

:- Você já pensou em ter filhos? – Me surpreendi com a pergunta dele que cortou o silêncio, a voz soou tão grave e cortante que Nicole se mexeu no berço.

Não respondi a pergunta dele, o olhei, e mais uma vez tive uma visão de um cara que eu não conhecia, era Poncho, mas ao mesmo tempo não era. Ele tinha um olhar terno para Nicole, um olhar parecido quando viu Enzo pela primeira vez, não sabia o por que nem como mais crianças tocava Poncho, trazendo sua humanidade novamente.

Só que essa sumiu logo.

Ele se afastou do berço bruscamente e balançou a cabeça negando violentamente, como alguém que acorda de um pesadelo.

:- O que foi?

:- Nada. – Ele respondeu grosseiramente voltando a ser o Poncho que eu conheço. – Ele parou afastado do berço, de mim. – E a conversa com Jonanthan como foi?

:- Assinaremos contrato, na próxima segunda. – disse somente porque a sensação de vitória não era tão importante mais.

:- Ótimo. – ele cruzou os braços. E eu vi a frieza voltar para seus olhos, não pude deixar de ficar curiosa, o que o afetava tanto? Por que crianças mexiam tanto com ele?

:- No que estava pensando quando olhava Nicole dormir?

:- No passado. Em Angelique. – respondeu e aumentou minha curiosidade e sabia que não falaria mais nada.

Ele ficou me olhando e vi seu rosto se transformar, até os seus olhos mudarem de cor, o quarto estava iluminado pela luz do corredor e pelo o abajur pequeno de Nicole, mas eu conseguia enxergar a mudança de seu rosto perfeitamente.

Lembro quando Poncho e Angelique começaram a namorar, do ciúme que eu senti. Senti da minha amiga, talvez viesse daí minha implicância com Poncho por ele ter tirado minha amiga, eles eram muitos grudados e isso da mesma forma que aliviava por ter mais tempo com Eugênio, me incomodava por Angelique ser a única amiga que eu tive.

Ela sempre foi bem detalhista e sem que eu pedisse contava de todos os detalhes dos namoros dela, eu não estava interessada na maioria das vezes, porém quando ela me contou de Poncho, eu ouvi. Ela me disse sobre como os olhos dele mudavam de cor, de quando ficavam amarelados, claros.

Enquanto eu pensava em algumas lembranças eu via Poncho se aproximar, não do berço para voltar a ver Nicole, mas de mim.

Quando os olhos dele mudam para o amarelo é o que eu mais gosto, Dulce. A voz de Angelique ecoou na minha mente junto com a lembrança, e apesar da vontade de fazer careta, fiquei imóvel vendo Poncho mais perto, mais perto.

Por que? Só pode ter dois significados. O primeiro é felicidade. A voz irritante dela continuou e Poncho já estava grudado, não falávamos nada, apenas nos olhávamos. E o que via nos seus olhos definitivamente não era felicidade.

E o segundo, ah o segundo significado, é o desejo. A luxúria.

:- Os seus olhos estão amarelos. – eu disse para me certificar de que era isso mesmo que eu via.

Ele apenas deu os ombros.

:- Chega num momento do jogo que não podemos mais resistir, sabe Dulce? – não pude raciocinar a frase por que logo em seguida me beijou. E eu retribui, por que ele estava certo, chega um momento que não da para resistir.

Quando na altura e intensidade do beijo estava, nos meus dedos que puxavam e desgrenhava o seu cabelo e nossos narizes se esforçavam para ter ar, ele parou o beijo por um momento.

:- Acho que pode dar certo. – ainda de olhos fechados eu sentia as sensações.

:- O que? – perguntei para ele, tentava fazer ele se aproximar de novo ao ponto que nossas bocas se fundissem novamente.

:- Nós dois. – ele respirou sobre meu rosto, passando a mão horizontal das minhas costas me apertando mais a ele.

:- Não vou estragar tudo.

Ele me deu um beijo que me deixou mais acesa do que satisfeita depois do que eu disse.

:- E porque não ter os dois. A vingança e o desejo satisfeito?

:- Por que eles não andam juntos. - eu disse.

E passeou com as mãos nas minhas costas de novo, só que dessa vez pela vertical, desenhando com as mãos dele minhas formas e isso me fez abrir os olhos e me controlar, ele estava me atiçando.

:- Quem disse que não? Já imaginou como seria nós dois juntos? – ele também abriu os olhos e o amarelado ainda estava ali, quando Angelique me contou sobre essa mudança eu não imaginava que era assim. Que Poncho ficava assim. – Eu já imaginei, eu já sonhei.

Ele confessou suas fantasias, e prontamente eu comecei a imaginar também, impossível com ele me pegando dessa forma, falando desse jeito, me olhando assim, grudado em mim.

:- São apenas fantasias, pode satisfazê-las com qualquer uma. Não precisa ser comigo.

:- Elas são com você já não acha que eu tentei me livrar desse desejo? Não importa quem eu leve para a cama, você é a adversária e parceira que eu procuro. – me olhava sério. – Não há sentimento, apenas desejo, instinto, nada mais. Isso não vai atrapalhar em nada nossa vingança.

Não sabia como ele tinha tanta certeza, a proposta ficava cada vez mais tentadora, sexo sem sentimento, apenas com o compromisso de destruir nossos inimigos.

:- Poncho. – falei fazendo ele se aproximar mais, dei um suave e demorado beijo em seus lábios, contradizendo toda a situação, as reações. – Quem sabe consiga me roubar alguns beijos, ou amassos, quem sabe eu consiga roubar. Sabemos do desejo que nos ronda e por ele que eu quero que prometa uma coisa.

:- O que?

:- Independente do que aconteça conosco, a vingança ficará em primeiro lugar.

:- Eu prometo, lhe dou minha palavra, se existe alguma mulher nesse mundo que eu sou fiel de alguma forma. É você.

:- Ok. – eu sorri. – Então você disse que vai chegar o momento que não vamos mais resistir um ao outro?

Ele apenas balançou a cabeça afirmando.

:- Pois é, esse momento ainda não chegou. – eu me afastei dele com certo custo. – Se lembre da promessa que me fez. – fui caminhando até a porta.

:- Não vou esquecer. Dulce? – ele me chamou e eu me virei para escutá-lo, olhei seus olhos e o amarelo estava sumido o marrom calculista voltava ao seu posto. – Eu vou ter o que eu quero!

Pelo olhar seguro e firme dele, sai do quarto com a certeza de que resistir será cada vez mais difícil e que ele não desistiria tão facilmente. Perfeito, assim o jogo não fica parado.

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