Hoje acordei com uma grande luz escura no meu rosto vindo da janela. Bem, pode até ser estranho eu insinuar luz “escura”, mas era uma luz negra, brilhava muito, mas não se via como algo alegre ou contente como sempre acontece nos dias ensolarados. E sim estava sombria, negra parecia mais uma assombração. Não prestei muita atenção, pois tinha coisas muito mais importantes para fazer, como voltar a dormir.

Porém, quanto mais eu tentava fechar os olhos, mais aquela luz ficava forte e muito mais forte. Mas quando abria os olhos, pelo menos levemente, aquela imensidão brilhante sumia e em minha frente só estava à luz sombria, na qual não era tão forte assim, tanto como estava antes.

Já cansada disto, sem poder dormir em plenas férias, fui ver o que era aquilo que me perturbava. Abri a janela e, claro, como não suspeitei logo no início? Era o Do Contra me acordando com uma lanterna produzida por ele, já com intuição de ser “Luz escura”, para contrariar as demais. Não me pergunte como ele conseguiu fazer, pois são segredos que nem a própria namorada consegue entender. Vai entender né? Ele pode não ser bom em aparelhos eletrônicos ou quaisquer coisas envolvidas com tecnologia. Mas a criatividade dele superava minhas expectativas.

– O que você quer DC? Antes de falar não podia ser de tarde? – Perguntei com a boca bocejando de tanto sono.
– Nossa Mônica como você é atenciosa. Se eu tivesse esquecido que íamos se encontrar com a turma daqui a 20 minutos, você já estava falando que minhas atitudes diferentes fazem de mim uma pessoa errada. – Retrucou o Do Contra.
– Nossa, tinha me esquecido, foi mal DC. Mesmo assim, precisava me acordar dessa... Ah, esquece! Já entendi.

Como da pra perceber meu dia já começou embaraçoso. Fui logo me vestir enquanto o DC me esperava para me acompanhar. E em segundos me veio um peso de culpa, sentei na cama segurando uma calça encostando-se ao chão e refleti.

Pensei no que ele disse e apesar de tudo ele tem razão. Se fosse ele eu teria ficado furiosa com essa atitude e acabado fazendo uma besteira como eu sempre faço. Mas a culpa não é toda minha. Sempre me caçoavam quando era pequena e em algumas ocasiões acontece isso ainda. Antes era baixinha, gorducha e dentuça. Hoje as pessoas me criticam por tudo, pela maneira que me expresso, pela maneira que vejo as coisas, e principalmente pela maneira de me vestir, que sempre arrumam um jeito de me colocar para baixo. É por isso que hoje vou me esforçar para ir linda e maravilhosa junto do...

– MÔNICAAAAAAAA, CADÊ VOCÊ QUE NÃO APARECE? ESTÁ COSTURANDO A ROUPA AINDA?

Opa! Mais uma vez esquecida, levantei a cabeça firmemente e fui logo apressada, pois o tempo corria, e o DC não estava gostando nada dessa demora.

A galera resolveu se reunir para ir assistir um filme. Sempre é isso que fazemos mesmo, nunca muda. Estávamos passando pela praça de mãos dadas e um brisa suave passando pelos meus cabelos me fazendo se sentir bem. Ao meu lado uma das pessoas mais importantes da minha vida, e uma vista linda ao meu redor que... Não espere! Aquela brisa não estava tão suave assim, agora estava asquerosa, com um odor muito forte de alguma coisa podre. E pelo que eu consigo sentir, vinha de um beco ali perto entre dois edifícios.

– DC você está sentindo esse cheiro? – Perguntei com uma cara de nojo.
– Sim, estou! Mas você sabe que eu não iria reclamar de algo que todos fazem se sentido. – Respondeu o moço que contrariava.

– Argh! Que nojo! – Soltei a mão do DC e fui em direção para aquele lugar de onde estava vindo aquele fedor.
E Quanto mais se aproximava mais forte ficava. Com aquele odor, é possível que desmaie qualquer pessoa que passa por ali por perto. Seria alguma coisa morta? E esse beco parece mais um labirinto, credo! Foi então que vi cinco garotos olhando para a parede. Mas, antes de se aproximar olhei para trás e o DC não veio, só uma lata de lixo se mexendo. Que pelo jeito gatos não tem jeito em?

– EI! O QUE ESTÃO FAZENDO NESSE LUGAR HORRÍVEL? VOCÊS VÃO ACABAR SE PREJUDICANDO SE PASSAR MAIS TEMPO NESTE LUGAR! – Gritei fortemente.

Apesar de ter gritado, nenhum deles virou ou se quer se mexeu. O jeito foi pega-los a força mesmo. Sei que não era da minha conta o que estavam fazendo ali sozinhos. Mas vocês já me conhecem. Não sou de deixar ninguém correndo perigo mesmo que seja apenas um mau cheiro.

Por incrível que pareça, eles não moviam um músculo, ficavam intactos ali sem se mexer, não conseguiu nem os ver respirando. O que estava acontecendo? Foi então que toquei no ombro de um deles.

– Rapaz, o que vocês fazem aqui nessa imundice? – Perguntei.

Ele virou a cabeça rapidamente, com os olhos com arregalados e olheiras fortes. Como se estivesse com medo, e gritou:

– VOCÊ ESTRAGOU TUDO! AGORA TEMOS QUE VOLTAR PARA LÁ... NÃO, NÃO, NÃAAAAAAAAAO!

– O que? Do que você está falando garoto?

Aquela parede na qual eles estavam olhando começou a distorcer e formar um buraco que começou a puxar tudo dali para dentro. Parecido com um portal.

– SOCORRO!
– É O FIM!
– AGORA NUNCA VAMOS CONSEGUIR SAIR DE NOVO.

Uma ventania forte que puxava tudo para dentro daquela coisa que antes era a parede. Tentei correr, mas não conseguia chegar a lugar nenhum. O chão começou a quebrar, latas de lixo voando, telhas, gatos, jornais...

– O QUE ESTÁ ACONTECENDO PESSOAL? – Perguntei desesperada.

Foi ai que um deles conseguiu ficar imóvel. Mexeu a cabeça levemente para o lado e sussurrou:

– A serpente está voltando!

E tudo naquele lugar foi para dentro do portal. Inclusive eu.

Tudo girava, e eu já não tinha mais forças para continuar de olhos abertos, estava tudo ficando preto ao meu redor. Foi então, que não aguentei mais!