Café com um pouco de amor, por favor. escrita por Forsaken Boy


Capítulo 1
Só mais uma caneca.


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é só mais uma introdução do personagem. Não é muito cativante, creio eu, mas conforme o tempo a história vai seguindo o rumo certo.



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Chuva.

Um gole.

Pegar o lápis, escrever no caderno.

Frio.

Digitar na calculadora.

Mais outro gole.

Café.

Pegar o lápis, escrever no caderno.

Sono.


Esse era o meu sábado resumido. Nada sair com os amigos ou festas; Estudo. Era isso que eu precisava. O segundo ano estava sendo duro comigo. Não que eu fosse fazer isso todo maldito sábado, juro que é só nesse bimestre.

– Cansei! CANSEI! Muitos números, muitos, tantos!

Levantei-me com minha caneca de café, agora vazia, e fui para a cozinha enchê-la. Ainda me lembro muito bem.
Ah, aquele sábado. Eu realmente devia ter ficado em casa, fazendo o meu grande nada.

– Mais café Johan? – Lembro da minha mãe ter reclamado.

– Sim, mais café. – Eu respondi passando pela sala.

Fazer café, ou bebê-lo, é um dos meus passa tempo favoritos. Se é que isso pode ser considerado passa tempo.

– Johan, aproveita que você levantou e vai ao mercadinho pra mãe, por favor? – Pediu a coroa. Argh, se ela não tivesse pedido isso, ou se eu tivesse demorado alguns minutos quem sabe, eu não teria passado por tudo o que eu passei. Quem sabe o que poderia ter acontecido se eu não tivesse saído de casa?

– Ok mãe, só eu terminar essa caneca. – Respondi já colocando o café quente dentro da minha caneca verde favorita.

Ah, o cheiro, o calor e o conforto que o café me proporcionava naquele frio era um tanto quanto divino. Odeio frio, me lembro muito bem de que em dias frios como aquele sábado eu nunca saia de baixo das cobertas. Passava o dia na cama, lendo ou ouvindo música; E isso sempre com minha caneca perto, cheinha de café.

Voltei para o quarto. Observei minha escrivaninha.

– Ai ai, muitos lápis. Muita bagunça. – Resmunguei pra mim mesmo. Uma mania idiota, falar comigo mesmo. Reconheço que é idiota, mas não paro. É uma mania idiota, mas não é uma mania ruim.

Me sentei na cama que estava toda desarrumada. Ainda lembro disso porque sempre arrumo minha cama, mas naquele sábado eu resolvi deixar daquele jeito. A desarrumação meio que combinava com o cinza daquele dia, com a monotonia daquele dia.

Ao terminar minha caneca de café coloquei uma roupa bem quente, e claro, meus óculos de armação grossa que estavam remendados. Nunca vou me separar desses óculos, eram do meu avô. Combinam comigo, eu acho. Sem eles eu nunca conseguiria ver o preço de qualquer coisa no mercado. Passei para a sala.

– O quer que eu compre? – Eu perguntei enquanto amarrava a minha bota de cano médio.

Minha mãe passou carregando alguns cobertores pela sala. O cabelo dela estava todo desarrumado. Gosto quando eles ficam assim, ela aparenta ser mais jovem do que é quando fica desleixada. Contraditório né?

Ela larga os cobertores em cima da mesa de centro e me encara. Não consegui não esboçar um sorriso, minha mãe é engraçada de natureza.

– Que foi moleque? Tô com cara de palhaça é? – Ela me perguntou enquanto tentava não rir.

– Não é isso! Sei lá, é que eu quis rir! – Eu respondi levantando enquanto ainda dava algumas risadinhas.

– Me traz açúcar, alguns pães, maionese e... Nossa, falando na maionese eu realmente preciso de mais de um pote. Pega dois potinhos de maionese e, claro, café. Você acabou com todo o café, meus parabéns. – Ela disse, com a longa franja ruiva caindo pelo rosto. Ainda não sei como ela não se incomoda com o cabelo no rosto.

– Tudo bem. Bem, acho que por hoje minha cota de café já foi atingida. Eu acho. – Eu respondi abrindo a porta.

O cinza do dia invadiu a casa. A rua completamente vazia. Podia dizer que eu era a única pessoa ali naquela cidade. Nenhum pedestre ou carros.

– Volto já. – Eu disse. E eu queria que aquilo fosse verdade.

Talvez, se eu não tivesse tomado mais aquela caneca de café, ou se eu não tivesse ficado encarando demais a minha mãe, ou até quem sabe, se eu não tivesse desistido da minha lição de matemática, eu não teria chegado naquele horário no mercado. Quem sabe.

Enquanto eu andava pela rua, em direção ao mercado que não era longe, eu observei umas coisas interessantes. Nada tão importante que deveria ser destacado, mas eu sou assim, presto atenção em coisas inúteis e nada chamativas. Presto atenção em coisas que ninguém vê. Presto atenção no mundo.

As folhas segurando algumas gotas da chuva que caía, o vento soprando o frio na minha direção e a calçada úmida que, a cada passo, fazia “teck”.

“Teck, teck, teck, teck, teck, teck, teck, teck”…

Olhei pra frente. Algo interrompeu a minha passada. Não, eu não trombei em nada.

Ela era – é – linda. Estava sentada num degrau perto da entrada do mercado, tomando um pequeno copo de café. As roupas certamente não combinavam com o clima. Eram roupas de verão. Uma blusa azul e fina jogada por cima de uma camiseta preta. Shorts jeans detalhadamente rasgados. Cabelos presos – e ensopados – em um coque em cima da cabeça.

A água escorria pelo rosto. Pareciam lágrimas, mas a expressão não era a de alguém que chorava, com certeza não era. Era a expressão de alguém que estava gostando de estar ali, sentada, encharcada e congelando, enquanto tomava um pequeno copo de café.

– Tá, é estranho. – A garota disse. Eu só havia percebido que eu estava ali parado e encarando ela quando as palavras dela chegaram aos meus ouvidos. Ah, eu sou um idiota. – Mas é divertido, então, foda-se.

Irreverente. Cabeça-dura. Inconsequente. Misteriosa. Imperfeita.

– O que tem de tão divertido em ficar congelando aqui fora? – Eu perguntei. Tudo seria melhor se eu tivesse simplesmente ignorado.

Ela lentamente tomou mais um gole do café que estava no pequeno copo plástico.

– Sair da monotonia. É divertido porque é estranho. – Ela me respondeu enquanto se levantava. Foi até ao balcão e tirou 50 cents. – Dá mais um. – Ela disse com aquela voz que não dá pra esquecer.

O balconista encheu mais um pequeno copo com café quente. O vapor era completamente visível, principalmente naquele frio. Porém o cheiro não era tão bom quanto o cheiro do meu café.

Entrei no mercado enquanto a garota se sentava mais uma vez na escada e observava os riscos molhados – chuva – caírem.

Comprei tudo o que eu devia, paguei, e com o troco, que eram exatos quatro mangos, eu comprei um café pequeno. Sentei-me ao lado da garota irreverente.

– Sou Johan. – Falei.

– Sou Anne. – Ela me respondeu enquanto levantava o pequeno copo de plástico.

Fizemos um brinde. Um brinde com café. Um brinde com café, na chuva.

Quem sabe, se eu não fosse tão idiota, nada disso teria acontecido.


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Notas finais do capítulo

Estou aberto a críticas construtivas sobre a história. O que acharam dessa introdução e o que esperam do resto da história? Logo tem mais, adios!



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