Novos Experimentos INTERATIVA escrita por Arabella


Capítulo 3
Alice


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem! Obrigada por todos os reviews!



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Jackson começou a sair do casebre atrás de Gabbe, ambos ofegantes. Isabelle manteve-se quieta onde estava, encarando a janela com o semblante perturbado. Aquilo não era possível. Nada poderia mover aqueles muros colossais.

Travis havia parado em frente a uma das aberturas entre muros, fitando o caminho já escuro e estreito. Batia o pé em um movimento frenético, o ritmo aumentando à medida em que mais muros se aproximavam, ameaçando fechar a estrada em sua frente.

Isabelle pode vê-lo movimentando a boca enquanto virava de costas para as paredes cinzas, desistindo. Jackson e Gabbe ainda encaravam o vão, os olhares mórbidos.

A novata se sentia estúpida por não estar entendendo nada, mas conseguia sentir a aura de tensão que se abatera repentinamente sobre os colegas.

Os muros finalmente se colaram e Travis soltou um uivo que até mesmo Isabelle conseguiu ouvir, embora uma distância de uns cem metros se conservasse entre os dois. Ela enrugou a testa e sentiu a tristeza daquele uivo a golpeando quando correu pela Clareira até chegar nas proximidades do grupo, uma melancolia quase palpável flutuando sobre eles.

–O que acabou de acontecer? –Perguntou incapaz de conter a curiosidade.

Jackson tinha as narinas infladas e os olhos mareados, aparentemente contendo o choro.

–Digamos que agora somos só nós por aqui. –Ele respondeu encarando o chão e fechando as mãos em punhos.

–O que você quer dizer com isso? O garoto foi embora? –Isabelle enrugou a testa, irritada.

Travis soltou uma risada seca e áspera. Gabbe deu um sorriso sem-humor ainda com o olhar desfocado encarando as paredes cinzas.

–Ele morreu, fedelha. –Travis retrucou finalmente.

Aquilo atingiu Isabelle como um soco, a atordoando.

–Chega de perguntas por hoje. –Gabbe finalmente pareceu ter se livrado do feitiço que os muros tinham sobre ela, abanando a cabeça. –Vá dormir, loirinha. –Isabelle sentiu a ironia implícita no apelido, como se ela fosse uma garota mimada e infantil.

Ela queria xingar, mas não se lembrava de nenhum palavrão, embora soubesse da sua existência. Travou a mandíbula e andou até o casebre em passos pesados, as lágrimas queimando em seus olhos.

Era tudo tão escuro e sem pistas dentro da mente da garota... Ela não tinha ninguém. Nada.

–Ei, Isabelle. –Ela ouviu a voz de Jackson, mas não parou de andar. Não queria que o garoto a visse chorar.

Seus passos se aproximaram e ele finalmente tomou o braço da garota, a parando bruscamente.

–Eles estão tristes, os dê um desconto, ok? –Os olhos escuros do garoto transpareciam mágoa.

–Eu daria se eles me explicassem alguma coisa. Qualquer coisa! –Isabelle retrucou, as lágrimas quentes finalmente rolando pelas bochechas da garota.

–Eu sei que está confusa, ok? –Jackson murmurou, repentinamente mais calmo. –Mas não podemos lhe contar tudo de uma vez. Você iria ficar maluca.

–Eu já me sinto uma maluca! –Ela quase berrou, arrancando uma expressão de choque do rosto do garoto.

Ele estendeu o silêncio, desconfortável. Ainda segurava o braço de Isabelle, embora ela tentasse se livrar do aperto para retomar o caminho até o casebre.

–Só nos dê um dia. Aí não será mais a fedelha e entenderá alguma coisa por aqui. –Jackson disse por fim, o semblante ainda cuidadoso.

Isabelle o encarou com desconfiança, uma sobrancelha loira e delineada erguida.

–Tanto faz. Não é como se a palavra de vocês significasse grande coisa, eu não sei de nada. –Ela deu de ombros girando nos calcanhares e se desvencilhando do garoto para seguir até a choça.

Ele soltou um suspiro pesado às costas da garota, retornando até o grupo dos colegas que ainda estavam em frente ao muro, desolados.

Isabelle havia entrado no casebre e agora procurava por um interruptor, afinal já era noite. Quando obteve êxito, uma luz amarelada acendeu no teto, revelando novamente a escadaria e o retrato da mulher em preto-e-branco. Ela arriscou um passo sobre os degraus, recebendo um ranger como resposta ao ato. Sentia medo de continuar o caminho até o segundo andar com aquela escadaria naquela condição, mas que opções tinha? Adormecer no salão principal e ser pisoteada quando os outros resolvessem se recolher? “Não, obrigada”.

Ela continuou seu caminho, hesitante, até que os passos se tornam mais rápidos e ela logo se vê em um outro cômodo. Em uma das extremidades do quarto, vários sacos de dormir estão dispostos uns sobre os outros, Isabelle chutaria uns vinte no mínimo. Ela recolhe um e o estende pelo assoalho sujo, sentindo o nariz coçar com a poeira enquanto começa a se deitar no interior do saco. Ela encara o teto e vê os vãos de telhas faltando, a precariedade da estrutura a surpreendendo novamente. As lágrimas não tardam a reaparecer assim que ela se encontra com a mente desocupada e, é claro, vazia. Era como se tudo fosse um pesadelo confuso e incrivelmente longo e ela sempre se pegava esperando acordar repentinamente, com suas memórias recuperadas e com algumas explicações.

Após algum tempo, a garota adormece ainda com lágrimas quentes lhe molhando a face, pregando mechas loiras na testa.

XXX

Os primeiros raios de Sol entraram pela janela do casebre, tingindo o quarto de um tom salmão. No chão, quatro sacos de dormir estavam dispostos distantes uns dos outros, corpos embalados no sono resfolegando lentamente.

Travis, que mantinha a boca aberta e babava um pouco, acordou bruscamente assim que eram oito horas marcadas no seu relógio de pulso. Ele levantou e chutou o saco de dormir para uma das extremidades do quarto, o rosto sonolento enquanto ele esfregava os olhos com as mãos.

Finalmente, o garoto se agachou ao lado de Jackson, que ainda estava adormecido. Aproximou suas mãos em concha da boca e cantarolou em tom bastante alto:

–Acorda, Bela Adormecida. Os corredores acordam cedo.

O garoto acordou impetuosamente, se pondo sentado e resmungando baixo.

–Cala a boca, trolho. –Ele soltou em meio a um bocejo, sorrindo.

Travis se limitou a sorrir, se erguendo e se dirigindo à escada.

Isabelle abria os olhos, sonolenta. Por um acaso, Jackson mirou seu rosto enquanto a garota acordava e soltou um sorriso torto.

Gabbe já se erguia para seguir Travis enquanto armava um coque no alto da cabeça, desejando bom-dia aos outros dois.

–Bom dia. O que raios é um corredor? –Isabelle se sentava, coçando a cabeça.

Jackson a encarou por alguns segundos enquanto calçava um tênis, os olhos cansados.

–Nós vamos destravar aquelas mértilas de muros. –Disse, por fim.

–Mas, pelo o que entendi ontem, vocês podem morrer lá dentro. –Ela franziu o cenho, com o semblante desentendido.

–Bem, você é bem rápida. –Ele sorriu, divertido. –Nós podemos sim morrer. Mas podemos encontrar a saída daqui e é isso que realmente importa. –O garoto concluiu dando de ombros.

Isabelle ainda conservava a testa enrugada, mas decidiu se manter quieta. Passou as mãos pelos cabelos claros, tentando abaixar o volume dos fios lisos e os desembaraçar com os dedos antes de deixar o quarto. Jackson saiu assim que terminou o trabalho com os tênis, animado e assoviando baixo.

Uma vez no andar inferior, Isabelle sentiu o suave cheiro de panquecas e seu estômago roncou, como se reclamasse a comida. A garota não comia nada desde que chegara e estava surpresa por não ter se reparado na fome com a qual estava até aquele momento. Se adiantou para outro cômodo, onde Gabbe preparava um café-da-manhã completo em um fogão.

–Olá, margarida. –A garota estava com um humor melhor do que na noite anterior e cumprimentou Isabelle com docilidade.

A outra sorriu em resposta, se adiantando para a mesa onde Jackson e Travis já comiam panquecas.

–De onde vem a comida? –Perguntou a novata enquanto tirava para si uma porção.

–Bom, um pouco eu planto e pego dos animais no sangradouro. Os garotos só correm. –Ela revirou os olhos enquanto colocava alguns ovos fritos em cima da mesa.

–Correm?

–Sim, pelo Labirinto. –Travis respondeu enquanto bebericava seu leite.

Isabelle sabia que se perguntasse mais alguma coisa ninguém a responderia, então começou a tentar ligar suas poucas informações dentro da mente... Clareira, casebre, muros... Muros. Era isso! Aquela pequena passagem que todos encaravam na noite anterior deveria dar em um Labirinto enorme para a saída. Isabelle deu um sorriso orgulhoso enquanto apanhava um pedaço de panqueca com o garfo, o levando à boca.

–Posso acompanhar os meninos hoje? –Perguntou após mastigar.

Os garotos trocaram olhares divertidos que estressaram Isabelle e Gabbe lhe deu um sorriso triste.

–Acho que não seria apropriado. Você mal chegou aqui e...

–Não duraria um dia no Labirinto. –Travis completou sorridente.

A novata bufou, contrariada.

–Certo, eu não entendi muita coisa ainda, mas sei que aquele Labirinto tem a saída. E eu quero vê-lo. –Ela murmurou, a voz frustrada.

–Pode vê-lo. –Jackson respondeu, a voz calma. –Mas de fora.

Isabelle estreitou os olhos.

–Vocês não podem me impedir. –Sibilou.

Os garotos a encararam, surpresos.

–Espera um tempo até não ser mais fedelha e depois nós podemos conversar de novo, ok? –Travis falou após um longo tempo, um sorriso sarcástico.

A garota suspirou, magoada. Estava cansada das pessoas esfregando na sua cara o quanto não sabia de nada.

–Você vai me ajudar enquanto isso. –Gabbe falou, atraindo a atenção da garota. –Vou te levar até a colheita primeiro.

Isabelle tentou conter o desânimo e parecer satisfeita para a garota.

–Ninguém fica sem fazer nada por aqui. –Jackson informou enquanto se levantava, uma grande mochila nas costas.

Travis o acompanhou até a Clareira enquanto Gabbe ia até um armário do cômodo, tirando dois chapéus enormes de lá.

–Normalmente faz muito Sol sobre a colheita, acho que você iria gostar de ter um desses. Tem uns dez aí dentro. –Ela revirou os olhos enquanto passava o chapéu para Isabelle.

Saindo para a Clareira, puderam ver apenas quando os dois garotos viraram a primeira curva dentro do Labirinto, desaparecendo em suas entranhas. Os largos muros ainda despertavam um arrepio em Isabelle, como se a chamassem, mas ela tentou espantar esses pensamentos da mente enquanto seguia com Gabbe até a colheita.

–Chamamos esse trabalho de desbastador. Você colhe algumas coisas, ara a terra... É um longo trabalho, mas mantém nossas mentes ocupadas. Isso é bom num lugar como esse. –Ela deu um sorriso sem-humor.

XXX

Havia sido um longo dia de trabalho e os garotos chegaram pelo entardecer. Gabbe largou um arado que segurava assim que viu Travis surgir pela abertura entre os muros, correndo até ele e enlaçando seus braços ao redor do pescoço do garoto.

Isabelle encara a tudo atônita até que um barulho alto se iniciou do lado esquerdo da horta. Ela enrugou a testa enquanto dava alguns passos hesitantes até a fonte do ruído. Ó céus, a Caixa...

–Pessoal! –A garota chamou, a voz trêmula, porém alta. –Está subindo!

Não demorou muito até que o pequeno grupo se apinhasse ao redor do grande buraco retangular e escuro, por onde um pequeno compartimento de metal se erguia.

O elevador finalmente estacou, o barulho silenciando. Ouviu-se alguém arfar alto dentro da caixa e então uma voz oscilante e feminina se propagou, abafada:

–Tem alguém aí?

O grupo se adiantou para a Caixa, os passos ecoando sobre o metal. Travis e Jackson colocaram os dedos entre uma fenda e iniciaram o processo de abrir a caixa, Gabbe e Isabelle fazendo o mesmo do lado contrário. As grandes portas de correr finalmente deslizaram, revelando uma garota que estava em pé, o traço de luz dentro do compartimento cruzando seu rosto alvo. Os olhos verdes estavam arregalados, as pupilas enormes. Os cabelos castanhos e longos estavam armados em uma trança que lhe descia sobre o ombro.

–Só... me tirem daqui. –Gaguejou enquanto fixava os dedos à uma das portas.

–Qual é o seu nome, fedelha? –Travis perguntou enquanto estendia uma mão para a garota.

–É Alice. –Ela se ergueu, agora com o apoio do garoto.

Mal havia estabilizado os pés sobre o chão firme, a garota girou o corpo para ficar atrás de Gabbe, agarrando seu pescoço com os braços. Alice estreitou o aperto, fazendo a outra ofegar enquanto a puxava trás, os outros muito chocados para fazer algo.

–É bom irem se explicando. –A garota sibilou, o olhar alucinado.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Obrigada por lerem e não esqueçam de deixar um review