Capítulo 29

As promessas que nós fizemos nesse dia quebram em partes dispersadas
Pedaços de paixões e curtas memórias vividas
Mesmo se eu acordar do sonho que ambos tivemos
Eu não me esquecerei destes sentimentos, sempre
O vento funde com a paisagem desvanecida
E minhas memórias retornam macias

Flow - Days

Damon tomou um banho demorado, querendo que a água levasse todos seus pensamentos estranhos e a angustia no coração. Vestiu, como sempre, um terno, dessa vez um azul marinho. Ele saiu do quarto com uma parta na mão, precisaria dela para a reunião que haveria daqui a duas horas.

– Minha mãe desmarcou o almoço – Disse Katherine quando Damon entrou na cozinha – Quer que eu vá com você?

– Só se não for te incomodar – Respondeu tirando da geladeira uma jarra de água. Katherine observava cada movimento seu atentamente.

– Damon... – Ela sussurrou seu nome, soltando um longo suspiro em seguida, como se o que fosse dizer fosse um sacrifício para ela.

– O que? – Damon despejou a água em um copo e tornou a guardar a jarra na geladeira, observando Katherine de soslaio.

– Me desculpe – Ela engoliu em seco, mas Damon não notou – Por hoje de manhã, eu estava pouco... Estressada.

Damon sorriu, colocou o copo na pia e se aproximou dela, segurando sua cintura.

– É por causa do casamento?

– S-sim – Katherine desviou o olhar, se sentindo desconfortável enquanto era abraçada por Damon. Nunca conseguiria se acostumar com ele quando ele parecia completamente apaixonado por ela.

Damon sentiu falta de ser abraçado de volta, queria sentir as mãos pequenas de Katherine o tocar, e os lábios cheios o beijar, mas ele não insistiria, não quando ela parecia tão tensa por algo desconhecido por ele.

Ele se afastou e estendeu a mão para ela. Katherine encarou-a como se fizesse uma grande decisão, e por fim, a segurou. Juntos eles saíram do prédio que dali para frente morariam. O caminho até o shopping era curto e foi feito em silencio, o único som eram suas próprias respirações.

Todos os olhavam admirados enquanto eles seguiam para o escritório de Damon, mas ninguém tinha nenhuma ideia do que se passava ali, do que se passava pela cabeça do moreno.

Quando entraram no escritório, tanto ele quanto Katherine se surpreenderam ao encontrar Elijah ali. Ele possuía uma expressão séria enquanto brincava com uma caneta.

– Elijah! – Damon se aproximou, estendendo a mão para um cumprimento – Que bom te ver aqui.

– Eu vim ver minha irmã – Elijah sorriu, apertando a mão do cunhado – Como vai, Katherine?

Não foi difícil para Elijah identificar que aquela era a mulher com quem cresceu. A começar pelas roupas mais escuras e justas do que as que Elena costumava usar, os cabelos cheios de cachos, olhar mais frio e a postura reta.

– Vou bem – Ela sorriu, abraçando o “irmão”.

Elijah esteve com ela em todo momento. Cresceram para serem irmãos, mas quando viram, eles não se sentiam assim, se viam como homem e mulher, um sentimento impossível e proibido. O coração dela bateu mais rápido no peito, sentindo sua respiração falhar. Katherine tratou de se afastar logo, esfregando os braços que tinham os pelinhos arrepiados.

Damon ergueu uma sobrancelha, sentando-se no sofá ali. Nunca tinha reparado em como eles eram íntimos – apesar de serem irmãos. Eles sempre foram?

Katherine se sentou na frente de Damon, enquanto Elijah preferiu ficar de pé. Ele arqueou uma sobrancelha para a mão de Damon, onde no dedo anelar possuía a aliança, mas o par não estava no dedo de Katherine, como deveria.

– Onde está sua aliança, Katherine? – Por causa sua família, era errado deixar Damon perceber que aquela não era a mulher que ele amava, mas no momento era o seu coração e as emoções que o controlavam.

Katherine arregalou os olhos para ele, mordendo o lábio inferior. Ela ajeitou o cabelo e respirou fundo, ganhando tempo.

– Eu... – Começou – A esqueci em casa, depois de tomar banho.

Damon observou atentamente a expressão dos dois, eles se comunicavam pelo olhar. Damon encarou as mãos de Katherine, vendo que elas pareciam macias demais.

– Deixe-me ver sua mão? – Damon pediu. Katherine o encarou interrogativa, e hesitando ergueu a mão para Damon segurar.

Damon se lembrava da primeira vez que Katherine entrou em seu quarto e tocou seu violão. Ele reparou que as pontas de seus dedos possuíam a pele grossa por causa do instrumento. Mas olhando atentamente agora, os dedos de Katherine eram normais. Finos e delicados.

Ele soltou a mão dela e assentiu, levantando-se.

– Eu tenho uma reunião agora, depois quero te levar a um lugar. Me espere.

Damon saiu da sala segurando a pasta, deixando Katherine e Elijah sozinhos. Quando a porta se fechando foi ouvida, Katherine se levantou do sofá, deixando a pose de fina para trás. Ela olhou furiosamente para Elijah, aprontando o dedo em seu peito.

– Você está louco? Por que fez isso? – Ela perguntou, controlando a voz para não gritar.

– Você sabe porque – Ele respondeu no mesmo tom – Quando você voltou?

– Hoje de madrugada – Katherine suspirou, tornando a se sentar – Como foi que você descobriu?

– Há alguém nesse mundo que te conheça melhor do que? – Elijah sorriu, se sentando na mesa de cento, em frente a Katherine – Vocês são irmãs, certo?

– Sim.

– E vai me contar o que está acontecendo?

– Elijah – Ela suspirou – Eu devo ser a vilã da história, não é? Está na cara que ele ama a Elena, e aqui estou eu, fingindo ser ela quando na verdade ela que deveria ter fingido ser eu.

– As duas erraram, Katherine. Você por fugir e ela por aceitar esse acordo – Elijah disse – O que pretende fazer agora?

– Eu quero contar para nossa mãe, mas não sei como ela reagirá. E se todo mundo descobrir? – Suas mãos tremiam e Elijah as segurou, beijando suas costas – Eu vi muitas coisas nesse último mês, Elijah. Famílias de vários tipos, classes sociais... isso me fez repensar sobre a minha vida, a vida que eu levei e em como eu fui irresponsável. Está na hora de consertar todos os meus erros.

– Vai começar por onde? Vai fingir para Damon que nada aconteceu?

– Elijah, se Damon descobrir... Acabou tudo, nossa família acabou. O contrato do casamento e o que vem com ele vai tudo por água a baixo. Ele não pode saber disso!

– Você acabou de dizer que vai consertar seus erros, mas sua maior preocupação ainda é o dinheiro.

Katherine o encarou ultrajada e virou o rosto, evitando seu olhar. Elijah não insistiu mais no assunto, conhecia Katherine e sabia o quanto ela poderia ser teimosa, só esperava que ela fizesse a escolha certa sobre tudo. Ele beijou sua cabeça e se retirou da sala, deixando-a sozinha.

Aproximadamente uma hora depois Damon retornou. Ele parecia extremamente cansado, e não sorriu quando olhou para Katherine no sofá – como sempre fazia.

– Vamos?

Damon não estendeu a mão, e sem esperar a resposta da “esposa”, eles deixaram a sala, Katherine caminhava mais atrás, desconfiada de Damon. Ele teria descoberto?

Mas antes que eles pudessem sair do shopping, Damon sentiu seu paletó ser agarrado e surpreso se virou, vendo uma mulher loira, possuía os cabelos curtos e cacheados, seus olhos azuis pareciam determinados. Ele a olhou interrogativo, percebendo que ela não lhe era estranha.

– Posso falar com você, Damon Salvatore? – Apesar da carinha de anjo, Damon percebeu o tom de repulsa que ela usou. Ele ergueu uma sobrancelha para ela, a desafiando.

– Eu estou ocupado, marque uma hora – Respondeu, virando-se.

– Não irei marcar hora – Ela insistiu, tomando novamente a atenção do moreno. Caroline então percebeu que Katherine já não estava mais ao lado de Damon.

Como elas podem ser tão idênticas? Foi isso que passou pela cabeça da loira ao encarar a gêmea de sua melhor amiga. Aquela história toda parecia um pouco impossível para ela, mas ela estava tentando o seu melhor para apoiar Elena naquele momento tão difícil.

Como Caroline, Damon notou que Katherine já não estava em seu lado, ele bufou irritado, voltando-se à loira.

– O que você quer, Barbie? – Damon se sentia como a um mês atrás, até a ironia que cultuava qualquer um estava presente.

– Você não se perguntou por que a sua esposa não está usando a aliança depois de fazer juras de amor a você? – Caroline sorriu como se houvesse ganhado uma luta, não se importando com o veneno contido na voz de Damon.

– Ela esqueceu em casa – Ele respondeu, se forçando a acreditar nisso. Caroline riu alto, atraindo a atenção de algumas pessoas que passavam.

– Esqueceu em casa? – Sua voz era pura indignação – E você, como um tolo, caiu nessa? – Caroline colocou a mão no bolso da calça – Se ela esqueceu em casa, por que é que eu a tenho? – Ela tornou a erguer a mão, mostrando a aliança que alguns dias atrás Damon havia colocado no dedo de Katherine.

Ele arregalou os olhos, sentindo seu coração acelerar.

– Por que é...

– Será que o poderoso Damon Salvatore não reconhece mais a própria esposa? – Caroline sentiu seu coração se apertar ao lembrar da dor que sua amiga estava passando – Você não sabe nem em quem colocou esse anel. Você é patético – Ela mordeu o lábio inferior, se controlando para não esganar Damon ali mesmo – A mulher que te fez juras de amor não é essa que você está seguindo como um cachorrinho.

– Do que você está falando? – Ele gritou, não se importando com o fato de que estavam praticamente no meio do shopping e que todos pudessem o ouvir – Como não é a mesma?

– Sério que você não notou? Não notou nada? – Caroline indagou, indignada – Essa mulher não é a mesma que você se casou. Acorda, Damon!

– Então quem é? Quem é essa mulher? Como elas podem ser tão idênticas? – Damon segurou Caroline pelos braços, a balançando enquanto perguntava desesperadamente. Precisava saber!

– Eu não posso e não quero te contar. Apenas achei que fosse injusto apenas um de vocês sofrerem – Ela murmurou. Tirou as mãos de Damon de si e entregou a aliança a ele, dando-lhe as costas.

Damon estava em choque. Aquilo não parecia a realidade. Onde estavam as câmeras? A piadinha não era legal! Damon esperava que a qualquer momento alguém fosse realmente aparecer com a câmera e Katherine pularia em sua frente com aquele doce sorriso pedindo-lhe desculpas por assusta-lo, então eles se beijariam e seguiriam com a vida.

Mas por que não aparecia nenhuma câmera?

Damon respirou fundo, tentando acalmar seu coração, e automaticamente foi para o carro. Katherine já estava lá, com o cinto posto e os olhos fechados. Quando ele entrou, a única coisa que passava pela sua cabeça era o que a mulher loira havia lhe falado. Ele tinha que confirmar!

– Você está bem? – Katherine tocou seu braço e o olhou com o cenho franzido. Ele encarou o lugar tocado, sentindo-se estranho. Não era bom, como costumava ser.

– Estou – Ele tirou a mão de Katherine de seu braço, começando a fazer o caminho que algumas semanas Katherine praticamente o obrigou o motorista a fazer.

– Para onde vamos? – Ela perguntou, confusa. Nunca tinha estado naquela parte da cidade.

– Você não se lembra? – Ele sorriu, como se a entendesse, como se soubesse, encarando a pista – Nós viemos aqui há algumas semanas.

Ele estacionou o carro e juntos eles entraram no parque. Katherine olhava para os lados, como se nunca tivesse ido ali. Damon os guiou até o banco que foi palco para uma de suas primeiras conversas. Agora estava de dia, mas ele se lembrava do quão bonita a noite estava há algumas semanas, o lago refletia a lua e dava a eles uma iluminação natural e bela.

– Não se lembra? – Ele perguntou.

– Por que não deixamos o passado no passado? Odeio relembrar as coisas que já se passaram – Katherine pigarreou, sentindo a garganta seca.

– Eu queria comprar pipoca da barraca naquele dia – Ele apontou para a barraquinha de pipoca doce – Mas você disse que era nojento – Ele tinha que ter certeza, por mais que intimamente queria que Katherine falasse que ele estava louco, que não se lembrava dos acontecimentos daquela noite.

– C- Claro! – Katherine sorriu, sentindo seu coração acelerar. E se falasse algo errado? – Pipoca doce deixa os dedos grudentos, certo? Isso é...

– Aquela noite foi muito especial para mim. Para você não?

Enquanto lhe fazia perguntas, Damon já sabia.

Aquela não era a sua Katherine!