Capítulo 19

Este é o fim
Segure a respiração e conte até dez
Sinta a Terra se mexer e então
Ouça meu coração explodir novamente
Pois este é o fim
Eu me afoguei e sonhei este momento
Tão atrasado, eu devo a eles
Emocionada, fui levada

Adele - Skyfall

Naquele mesmo dia fomos embora em um clima tenso entre Damon e Stefan, eles se olhavam raivosos e eu achava que a qualquer momento eles pudessem se atacar.

– Eu tenho algo para te pedir – Disse Damon.

– Diga – Murmurei de olhos fechados, com a cabeça encostada no vidro do carro, cansada demais para olha-lo.

– Um amigo meu irá casar essa semana, eu quero que você venha comigo – Ele disse, sua voz baixa, mas precisa.

– Casamento? – Isso me lembrava o destino de Damon, e não me animava – Quem são?

– Alaric e sua noiva, Jo. No conhecemos desde a escola – Damon tinha um sorriso caloroso nos lábios, como se lembrasse de coisas boas. Me perguntei como Damon tinha sido na adolescência, sua personalidade, aparência, manias... – O que foi? – Ele perguntou, divertido, só então notei que eu o encarava.

– Nada – Eu sorri, voltando a olhar a estrada pelo vidro – OK, eu te acompanho.

Fizemos o resto do caminho em silêncio, apenas com o som da música que tocava no CD, nos embalando em uma atmosfera boa e serena. Enquanto eu viajava em meus pensamentos, percebi que aquela era a última semana; última semana que eu seria Katherine; a última semana que eu teria Damon como meu.

– Me promete uma coisa? – Indaguei engolindo em seco, minha garganta coçava enquanto eu segurava as lágrimas sem que Damon visse.

– O quê?

– Nunca esqueça esse mês que passamos juntos, em hipótese alguma – Eu pedi com a voz rouca, rezando internamente para ele não perceber minhas lágrimas.

– Você fala como se fossemos nos separar – Ele riu, em saber um terço da verdade.

– Prometa!

– Eu prometo, Katherine Pierce, não esquecer jamais nenhum momento em que passei com você – Ele possuía um sorriso no rosto e os olhos brilhavam, felizes. Me desculpe por mentir! Era o que eu queria dizer, mas não podia, ele nunca saberia da verdade.

Sem perceber acabamos chegando em frente ao meu prédio, ele parou o carro e tirou o cinto, virando-se para mim. Eu fiz o mesmo, encarando-o de volta. Minhas mãos escorregaram para seu braço e deslizou até tocar seu rosto, ele segurou minha mão na sua e a beijou, olhando-me com o olhar mais intenso e cheio de amor que eu já recebi um dia.

– Eu te amo! – Seus lábios sussurraram antes dele me puxar para um beijo – Quer que eu te acompanhe até seu apartamento? – Perguntou ofegante após nos separarmos.

– Não, não precisa – Respondi no mesmo estado que ele, com nossas testas coladas – Eu vou subir agora!

Foi difícil, mas eu consegui me separar dele e sair do carro, esperei este sumir de vista para eu entrar. O elevador pareceu demorar um século para chegar ao meu andar, mas quando o fez, corri para o apartamento. A mala não pesava, e meu pé já não doía mais.

Eu tomei um banho rápido e vesti um pijama, e sem desfazer a mala eu fui dormir, sentindo a falta dos braços de Damon ao meu redor.

Acordei com o celular tocando ao lado da minha cabeça, e grogue de sono, atendi.

– Alô?

– Katherine, você esqueceu que dia é hoje? Por que não está aqui ainda? – Era a voz de Isobel, autoritária e exigente como sempre. Franzi o cenho em confuso.

– Aqui onde?

– Ah tão esquecida! – Murmuro após suspirar – Hoje é a prova do vestido de noiva querida, a última prova, finalmente.

Arregalei os olhos em surpresa. Prova do vestido? Eu teria que fazer isso também? Provar o vestido de casamento era admitir que meu tempo estava acabando e eu definitivamente não queria isso.

Desliguei a chamada ainda um pouco confusa, mas quando voltei a minha consciência, percebi que eu não fazia ideia do local da loja. Mandei uma mensagem para Elijah, perguntou se ele sabia, e após uma risada, ele me mandou o endereço.

Eu troquei de roupa rapidamente, não querendo me atrasar ainda mais. Meus cabelos estavam cacheados de uma forma estranha, amassados após eu ter dormido com ele molhado. Suspirei, ajeitando-o da melhor forma que eu pude, e de maquiagem fiz apenas um delineado fino e um gloss claro e corri para o ateliê onde Isobel me esperava.

Estacionei o carro na rua bem movimentada e saí a procura do endereço. Era uma rua longa e larga, repleta de lojas chiques que eu nunca sonharia entrar um dia. Quando eu finalmente encontrei a loja, entrei. Era uma loja grande de roupa de festa. Isobel veio ao meu encontro logo quando me viu na porta.

– Katherine, você demorou! – Ela disse após me abraçar e me puxar.

Entramos nos fundos da loja, nos encontrando em um salão grande com provadores, e no centro um pequeno “palco” redondo. Havia manequins e no fundo, instrumentos de costura.

– A Sr. Mikaelson já está impaciente – Sussurrou em meu ouvido.

– Katherine! – Uma mulher alta com um corpo escultural e cabelos castanhos claros apareceu, ela carregava um vestido branco nos braços, e um sorriso que seria simpático, se não fosse falso.

– Olá! – Eu sorri.

– Sem mais delongas, prove. Dessa vez eu acho que ficou bom – Ela disse, orgulhosa, me entregando o vestido.

Eu entrei em um dos provadores enormes e calmamente e com as mãos tremendo, tirei minha roupa e coloquei o vestido. De frente ao espelho, percebi o quanto ele era lindo. Era um vestido sereia, tomara-que-caia, possuía borbado no busco que caia como um degradê até o joelho, sendo a calda lisa de cetim. Ele caia lindamente em meu corpo, eu me sentia como se houvesse nascido para ele, mas não...

Limpei as lágrimas antes que elas caíssem, e saí do provador, vendo tanto Esther – seu nome estava em sua roupa – quanto Isobel, de olhos arregalados. Isobel veio até mim com os olhos marejados, e me abraçou. Foi a primeira vez que ela me abraçou de forma tão terna, como uma mãe de verdade, e foi impossível não o retribuir e me apertar a ela, como se eu a reconhecesse como minha mãe.

– Você está tão linda, minha filha – Ela disse em meu ouvido, com a voz embargada pelo choro enquanto suas mãos acariciavam meus cabelos.

– Vou deixa-las a sós – Disse Esther, saindo por onde veio.

– Obrigada – Respondi à Isobel, não diferente dela.

– Você está feliz? – Perguntou afastando-se. Ela pegou minhas mãos nas dela e me encarou nos olhos, esperançosa.

– Eu estou – Katherine estaria?

– Isso é tudo que eu preciso saber – Ela sorriu gentil. Era a primeira vez que eu a via assim...

– Agora isso parece verdade – Enquanto Isobel achava que eu falava sobre o casamento, eu queria dizer que o momento de ir embora estava cada vez mais próximo.

– Haverá momentos em que será difícil – Ela me disse de repente – Um casamento definitivamente não é fácil, mas tudo o que vocês dois precisarão para serem felizes é o amor.

– Você amava o meu pai? – Pareceu-me certo chamar o homem que eu nunca cheguei a ver de pai.

– Sim – Ela sorriu enquanto seus olhos se enchiam de lágrimas – Eu o amei durante toda sua vida. Ele era tudo para mim.

– Como vocês se conheceram? – Perguntei curiosa. Caminhamos até o fundo da sala e nos sentamos em um sofá longo. Isobel possuía um olhar sonhador.

– Achei que já houvesse te contado essa história.

– Conte novamente – Pedi, querendo conhecer mais aquela mulher que eu nunca havia visto: Isobel sorridente de verdade.

– Nos conhecemos desde criança, éramos um quarteto. Grayson, John, Miranda e eu – Arfei ao ouvir os nomes dos meus pais, mas não deixei ela notar o quanto eu fiquei nervosa – John e eu vivíamos em pé de guerra, éramos como agua e óleo, mas ao mesmo tempo éramos melhores amigos. Quando chegamos na adolescência que eu percebi que gostava dele. Grayson e ele chegaram naquela fase de ficar com várias garotas, e eu fiquei com ciúmes, mas não dei o braço a torcer, e fiz o mesmo. Certo dia, ele veio tirar satisfações comigo, dizendo que uma garota não poderia fazer aquilo – Ela riu – Estava chovendo, começamos a discutir, até que ele me beijou. Foi o nosso primeiro beijo! Eu quis pular de alegria!

– E depois?

– Depois ele ainda tentou negar que gostava de mim – Isobel fez uma careta divertida – Mas eu insisti até que ele admitiu e se declarou. Começamos a namorar e quando fizemos dezoito anos, nos casamos.

– Vocês eram tão novos! – Eu disse um pouco chocada.

– É o que eu te disse, Katherine, quando se tem amor, se tem tudo – Ela respondeu, seus olhos brilhando em alegria.

– E Miranda e Grayson? Você não fala deles – Engoli em seco, imaginando que eu não gostaria da resposta.

– Eu acabei brigando com Miranda, ela não gostou nem aprovou meu casamento com John e foi embora. Grayson, sempre tão apaixonado por ela, foi atrás, e nunca mais soube deles – Ela respondeu, o cenho franzido.

– Quando tempo depois você engravidou?

– Ah, muito tempo depois de me casar! Eu possuía dificuldades para engravidar, e depois de mais de dez anos de casada eu consegui. Imagine minha surpresa ao reconhecer Grayson como meu médico – Ela riu, como se o reencontrar tivesse sido maravilhoso.

– Desde o início? – Perguntei, Isobel me olhou confusa pela pergunta – Desde o primeiro mês ele foi seu médico? – Refiz minha pergunta.

– Sim, por que? – Isobel me olhou desconfiada, mas enquanto ela estava confusa, tudo havia se clareado para mim.

Na minha frente, olhando-me com enormes olhos azuis, estava minha mãe biológica!