― Sua casa? ― pergunto, um pouco nervosa.

― É. Qual é o problema?

Balanço a cabeça. Não sei nada sobre ele, mas não tenho outro lugar para ir e Adam é a pessoa mais... Sensata que eu conheci até agora, então decido ir.

Vejo Adam franzir o cenho. O fato de ele poder entrar na minha mente quando quiser me incomoda um pouco.

― Você não precisa ter medo.

― Não tenho medo. Só não gosto da ideia de alguém entrando na minha mente a todo instante.

― Eu posso tentar parar com isso.

― Seria ótimo.

― Eu disse tentar - ele sorri sarcasticamente.

Fazemos o trajeto até a casa dele em silêncio, passando pelo bar onde nos conhecemos. Isto é, se é que já não nos conhecemos.

― Já disse que não a conheço ― Não é possível! Olho-o, visivelmente chateada ― Desculpe ― Adam faz uma pausa ― Quer saber? Talvez você tenha mesmo algum outro poder e talvez esse poder seja telepatia. E, se caso for, tem um jeito de você bloquear essa coisa toda ― ele diz apontando para a própria cabeça.

― Tem? Como?

Eu preciso bloquear aquilo. Não é como se eu não confiasse em Adam, mas ainda precisava tirar minhas próprias conclusões.

― Não é fácil, exige treino ― explica ― Talvez você soubesse antes de perder a memória, mas vai precisar aprender de novo.

― Você sabe como fazer?

― Sei. Mais tarde eu explico, é preciso um ambiente calmo.

Assinto.

― Tudo bem. Mas até lá, pare de bisbilhotar minha mente.

Adam sorri.

― Eu prometo tentar.

― Tentar não é suficiente.

◄►

Andamos por algum tempo até pararmos em frente a um sobrado pequeno. Adam abre a porta e eu olho em volta. O ambiente é bem aberto. Do meu lado esquerdo, há uma espécie de escritório, com uma escrivaninha, computador e uma estante de livros. Do lado direito, fica a cozinha, trabalhada em tons de preto e branco com uma grande ilha no meio. E, finalmente, à minha frente há a sala de estar, com janelas grandes que imagino deixarem o ambiente muito bonito durante o dia. Logo ao lado há uma mesa de jantar e uma escada.

― O banheiro é lá em cima. Primeira porta à direita. Acredito que irá querer um banho. Eu levarei algumas roupas em alguns minutos.

Subo as escadas e abro a porta indicada por Adam. Vejo que no corredor há mais duas portas fechadas e alguns espelhos decorativos em formas geométricas. Tranco a porta e analiso o banheiro: também é preto e branco. Fito meu próprio reflexo no espelho acima da pia e faço uma careta. Estou horrível. Tiro do bolso a pequena escova que havia encontrado e dou um jeito nos meus cabelos antes de lavá-los.

Tiro minha própria roupa e entro no box. Ligo o chuveiro, deixando a água cair em minha pele nua. Estremeço. Só então percebo o quanto ansiei por um banho decente. Passo um pouco do shampoo que encontrei no armário embaixo da pia nos cabelos. Deixo a água cair no meu rosto por um bom tempo. Termino de lavar o cabelo e começo a ensaboar meu corpo.

Adam bate na porta.

― Audrey? Suas roupas estão aqui na porta, tudo bem?

― Certo, obrigada ― respondo, tendo que falar mais alto do que o barulho do chuveiro.

Me enxugo e abro rapidamente a porta, enrolada na toalha. Pego as roupas e só quando já estou me vestindo começo a me perguntar onde Adam arranjou roupas femininas.

Isso não parece importar no momento. Seco o excesso de água dos meus cabelos com a toalha e deixo-os jogados sobre os ombros. As roupas serviram perfeitamente, apenas um pouco folgadas, mas ainda era melhor que minhas antigas roupas.

Saio do banheiro me sentindo outra pessoa. Estou na beira da escada com minhas roupas sujas nas mãos quando escuto Adam conversando com alguém... Com uma mulher.

Desço os degraus lentamente. Eles sussurram, mas parecem estar discutindo.
Presto atenção ao diálogo.

― Esse não era o plano, Adam. Você não deveria trazê-la para a sua casa. Ela vai acabar descobrindo ― a voz feminina tinha certa hostilidade no tom de voz.

― Quer falar mais baixo? Ela vai escutar ― Adam parecia irritado ― Vá embora, Hillary. Agora.

Termino de descer as escadas. Paro no último degrau e simplesmente fico lá, parada. A garota, Hillary, me vê e me encara.

Talvez minha ideia tenha sido bem estúpida. Hillary dá um sorriso falso.

― Olá! Então você é a nova amiga do Adam? Muito prazer!

Encaro Adam, sem saber o que fazer ou o que pensar.

― E você é...? ― pergunto, dirigindo-me à garota.

Adam responde por ela.

― Ahn, Audrey, essa é a Hillary, minha... ― ela o interrompe.

― Namorada ― diz, exibindo um sorriso cínico.