Clube de Fanfics escrita por Jane Viesseli


Capítulo 7
Quando Defendemos nossos Amigos, Justificamos nossa Amizade




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O sinal para o término das aulas toca, fazendo Seiji e Misaki finalmente deixarem o seu esconderijo no terraço e seguirem para o clube de fanfics. Nenhum deles parecia sentir-se culpado por matar o restante das aulas, afinal, haviam passado um tempo muito agradável ali, conversando sobre amenidades e se conhecendo melhor. E no final da longa conversa, Seiji constatou que Tayui estava certo, que Misaki era uma amiga incrível e que ele deveria mesmo ter sido honesto com ela desde o princípio.

Ao se lembrar do kitsune, Seiji não pôde evitar olhá-lo com uma expressão forçada de: “eu sei o que você fez no verão passado”, durante todo o período de atividade do clube. Ele queria ficar com raiva de Tayui, por toda a manipulação que levou Misaki a descobrir seu segredo e por arranjar um meio de burlar o acordo de confidencialidade entre eles, mas não conseguia. O apoio de Misaki havia sido crucial para ele naquele dia e o neko simplesmente não conseguia sentir raiva, ou qualquer tipo de ressentimento, pelo que o kitsune havia feito.

― Precisamos conversar – lança Seiji à Tayui, discretamente, enquanto Misaki dava os últimos avisos para os integrantes do clube.

― Quando e onde? – questiona o kitsune no mesmo tom.

― No portão principal, assim que todos os alunos do clube se forem. Misaki disse para esperá-la, então teremos tempo de conversar – explica, olhando ao redor para ver se alguém os encarava.

Os alunos recolhem seus pertences com calma, organizando as folhas escritas numa pasta e as limpas em outra, recolhendo lápis, canetas e bloquinhos de anotação. Os mais desorganizados apenas jogavam tudo dentro da mochila e torciam para não perderem nada, mas, a maioria deles, preferia manter algum tipo de decência e organização com as suas histórias…

Seiji e Tayui caminham lentamente até o portão principal, permitindo que outros alunos os ultrapassassem e parando no portão como se não pretendessem fazer nada de importante. Demorou alguns minutos até que os escritores do terraço deixassem o prédio, pois gostavam de guardar suas coisas com calma e de falar com Misaki ao final de cada encontro do clube. Contudo, quando eles finalmente partiram, a entrada principal tornou-se deserta e silenciosa.

― Eu sei que foi você – começa Seiji, depois de um longo suspiro.

― O quê? – pergunta Tayui cinicamente, sabendo exatamente sobre o que ele estava falando.

― Tsc, cínico – retruca o neko, reprimindo uma risada e fazendo o kitsune rir. – Você manipulou Misaki para nos seguir, não foi?

― Ah, Seiji onii-chan, manipular é uma palavra muito forte… Digamos que eu apenas a “induzi” a ir defendê-lo! – Dá de ombros, sorrindo maliciosamente e deixando seus caninos à mostra.

― Você é inacreditável! – Ri. – Sua mente capciosa não nega a sua raça, está sempre maquinando coisas como num jogo de xadrez... Como você ainda não dominou o mundo, Tayui?

— Ah, virar o rei do mundo nunca me passou pela cabeça – comenta, colocando a mão direita no queixo como se pensasse no assunto –, mas, agora que você mencionou isso, não seria uma má ideia! – Ambos riem.

— Falando sério agora – recomeça Seiji, tentando controlar o riso e deixando a conversa com uma tonalidade mais séria –, não sei como soube o que aconteceria, mas... Obrigado!

Tayui sorri com serenidade. Não havia necessidade de grandes explicações ou de muitas palavras para que o kitsune captasse a mensagem de Seiji. Toda a gratidão que o neko sentia por ele estava fortemente expressa naquele único “obrigado”, e Tayui estava imensamente feliz por recebê-lo e por perceber que a sua forma de cuidar de seus amigos estava sendo muito bem recebida e apreciada por ele.

— Me agradeça com um pouco de sua consultoria, sim? – responde com deboche, fazendo o neko revirar os olhos e sorrir. – O que você acha do título: “O kitsune e as coelhinhas”? – pergunta, gesticulando no ar como se anunciasse um show da Broadway.

— Como, provavelmente, você está se referindo a uma história hentai, acho que o título deveria ser: “O neko e as coelhinhas”, e o protagonista deveria ser eu, só pra variar.

— Todos os meus protagonistas são inspirados em mim...

— Eu sei, mas eu sou muito mais legal e bonito do que você, por que o protagonista não pode ser eu? – caçoa.

— Eca, que horror! Você sabe que hentai inclui escrever sobre gente pelada fazendo “coisas”, não sabe?

— É claro que sei!

— Então me diga: por qual motivo, razão ou circunstância, você acha que eu vou escrever sobre você pelado? – questiona, enfatizando o “você pelado” para demostrar o quanto a ideia de imaginar Seiji nu era assustadora para ele. – Francamente, Seiji, sei que é um pervertido com P maiúsculo, mas você está bem longe de ser o meu muso inspirador. Não insista nessa ideia sinistra comigo, me recuso a ter tal cena pairando no santuário dos meus pensamentos!!! – encerra com uma careta, fazendo Seiji gargalhar repentinamente.

Distante dali, observando-os pela janela da diretoria, estava Kenichi, que gostava de assistir a saída dos alunos do conforto de sua sala, e cuja atenção havia ficado presa na dupla de amigos parados no portão.

― Sr. Kenichi – chama Misaki da porta, retirando o diretor de seus devaneios. – Precisamos conversar…

― Em outro momento, Misaki, não posso atendê-la agora – justifica Kenichi numa tentativa de dispensá-la. Ele não tinha ânimo para ver ou conversar com qualquer alma viva naquele instante. – Feche a porta quando sair, por favor.

― Não! – exclama a neko, sentindo-se zangada de repente, entrando no cômodo e fechando a porta atrás de si. – Nós precisamos conversar, é importante!

― O que houve? Aconteceu alguma coisa? – questiona, estranhando o comportamento da aluna e já temendo que algo ruim estivesse acontecendo em sua escola.

― Sim, aconteceu! O senhor disse coisas horríveis para o meu onii-chan!

― O quê? Do que você…

― Estou falando do Seiji onii-chan! Você o magoou e precisa se desculpar – interrompe.

― Misaki, acredito que este assunto não é de sua alçada e…

― Agora é! – corta novamente, aproximando-se da mesa para encarar o diretor frente a frente. – Com todo o respeito, Sr. Kenichi, eu sei de tudo! Sei sobre a história de vocês, o parentesco, as discussões, as lutas arranjadas dele… Tudo! Eu sei de tudo!

― E sobre o que quer conversar realmente? – pergunta seriamente, não gostando de ter uma aluna sabendo de seus problemas particulares e já querendo ir direto ao ponto.

― Quero conversar sobre perdão! – Pausa, apenas para se certificar que a atenção do diretor estava inteiramente sobre ela. – O senhor disse coisas horríveis para o seu irmão, se distanciou dele e o trata de maneira horrível, mas o verdadeiro objeto de sua raiva é o seu pai…

― O que é isso, uma terapia?

― Não tenho conhecimento para tanto, Sr. Kenichi, mas sei o suficiente de toda essa história para constatar que você precisa perdoar o seu pai… – Pausa, umedecendo os lábios nervosamente antes de continuar: – O senhor precisa perdoar o seu pai, Sr. Kenichi, e precisa parar de descontar no Seiji onii-chan as questões mal resolvidas de sua família!!! Eu sei que o que seu pai fez não foi correto, que o magoou e o feriu, porém, não pode querer ferir o seu irmão só porque você está ferido... Isso só o torna igual ao seu pai, fazendo coisas sem medir as consequências ou o impacto na vida de outras pessoas!

— Misaki...

— Eu ainda não acabei! – repreende, com medo de que, se fosse interrompida, talvez não conseguisse continuar. – O senhor precisa perdoar e seguir em frente, pois, se você não se curar do que te feriu, sempre vai sangrar em cima de pessoas que não te cortaram... Não precisa retomar os laços se não estiver pronto para isso, mas precisa se desprender desses sentimentos ruins, que só o machucam e o consomem a cada dia. E precisa parar de confrontar o meu onii-chan como se ele fosse a ovelha negra de sua família! – Respira fundo, fechando as mãos em punho para que o diretor não pudesse vê-las tremer. – Sei que o considera uma má influência e um nekomomo que só faz coisas erradas, entretanto, o meu testemunho sobre o Seiji onii-chan é totalmente diferente: foi por causa dele que o clube de fanfics pôde funcionar por mais um ano; todos os membros o adoram e foi por causa dele que finalmente pudemos interagir e nos conciliar com os demais clubes da escola; foi o seu bom coração que o fez largar suas brigas arranjadas, pelo bem de seus amigos e de seu clube; e foi a sua força e o seu trabalho duro que o tem feito participar de duas atividades extracurriculares ao mesmo tempo, sem que nenhum deles saia prejudicado... Nós olhamos para o mesmo Seiji, mas não enxergamos o mesmo neko!

Kenichi arregala os olhos levemente. Era estranho para ele ver Seiji por outra perspectiva que não a de um nekomomo culpado e inconsequente. Contudo, Misaki tinha um olhar mais positivo e altruísta da vida, e parecia estar o obrigando a olhar para o irmão da mesma forma que ela, para que pudesse se dar conta de todas as coisas boas que Seiji havia feito, mesmo tendo um comportamento arruaceiro fora da ESNyah...

— Portanto, Sr. Kenichi – continuou Misaki, tentando parecer mais calma –, não venha me dizer que o Seiji onii-chan é alguém ruim, porque tudo o que vejo nele é um nekomomo que trabalha duro e que deseja ter o seu esforço reconhecido pelo seu onii-chan!

— O que disse? – questiona o diretor num resfolegar.

— O senhor nunca se deu conta, não é? Ficou tão cego com sua dor e sua ira, que não percebeu o quanto o seu irmão o ama e o quer de volta em sua vida! – Pausa, apenas para averiguar se o diretor tinha algo a dizer. Entretanto, ele parecia chocado demais com sua revelação para pronunciar qualquer coisa. – Nunca se perguntou por que ele escolheu estudar nessa escola, quando os seus pais mal conseguem arcar com os custos?

— Não... Eu nunca... – gagueja, pigarreando para tentar deixar a voz mais clara. – Sua mãe veio requisitar uma bolsa, na época, mas deixei a negociação com o vice-diretor. Nunca quis me intrometer nisso...

— Ele veio para a ESNyah porque o senhor estudou aqui. Seiji onii-chan queria que se orgulhasse do aluno que estava se tornando, mas, em vez disso você o ignorou e o anulou de sua vida... Ele sente falta do onii-chan que um dia conheceu!

Misaki se cala de repente, deixando que um silêncio sepulcral pairasse sobre o cômodo. Kenichi estava perplexo, ouvindo todas aquelas informações sobre Seiji pela primeira vez em sua vida e deixando toda a sua surpresa transparecer em seu semblante.

No passado, afastar-se tinha sido uma tarefa extremamente fácil para ele. Estava mais do que claro que o seu pai não fazia questão de tê-lo por perto, e Seiji era tão pequeno, que o diretor nunca pensou que sua ausência seria de fato sentida por ele. Contudo, indo contra tudo o que ele esperava que fosse acontecer, Misaki lhe revelava que a história seguiu o sentido o oposto, que o caçula se lembrava muito bem dele e que sentia a sua falta.

― Por quanto tempo ele tem se sentido assim? – questiona Kenichi em pensamento, não tendo coragem de pronunciar a pergunta em voz alta.

― Eu não deveria expor os sentimentos dele dessa forma – continua Misaki, rompendo o silêncio –, porque não tinha esse direito; mas não vou permitir que as coisas continuem como estão, não vou permitir que continue a machucar o seu irmão por estar cego em relação a ele!!!

Misaki encerra o seu discurso, caminhando lentamente em direção a saída sem esperar qualquer tipo de resposta. Em sua mente, suas palavras não careciam de retorno, pois não se tratavam de perguntas e sim, de um extenso comunicado. E foi nesse momento, pouco antes de sua mão direita tocar a maçaneta da porta, que a neko se lembrou de mais uma coisa que precisava ser dita:

― Ah, uma última coisa, senhor – recomeça ela, girando em seus calcanhares e retornando para perto da mesa do diretor. – Se a verdade não for o suficiente para mudá-lo com relação ao Seiji onii-chan, quero que saiba que possuo outros meios de fazê-lo!

― Está me ameaçando? – questiona incrédulo.

― Sim, estou, da mesma forma que o ameaçou hoje de manhã! O senhor conhece os meus pais, Sr. Kenichi; nunca precisei recorrer a eles em toda a minha vida, mas o farei para proteger os meus amigos. Portanto, não queira medir forças comigo, senhor, pois o meu braço é mais forte e extenso do que o seu!!! – alerta a neko, sentindo as orelhas se eriçarem e os caninos ficarem à mostra enquanto o ameaçava.

Subitamente, Misaki gira o corpo e caminha porta afora, esperando se distanciar bastante da diretoria, antes de levar a mão trêmula ao coração e sentir as pernas bambearem. Ela nunca havia ameaçado alguém na vida, nem mesmo os alunos que lhe fizeram tanto mal, entretanto, havia cogitado intimidar o diretor desde o momento em que soube de toda a história de Seiji.

Mesmo que fosse a sua primeira vez fazendo aquilo, a neko havia – como uma boa escritora que era – planejado cada fala, cada gesto e cada entonação que usaria. E foi somente por isso que ela conseguiu bater de frente com um adulto e levar àquela tensa conversa até o fim.

Kenichi havia considerado a ameaça de Misaki bastante séria e perigosa, afinal, os seus pais eram: um empresário bastante famoso e a melhor repórter do jornal local, a combinação perfeita para derrubar qualquer pessoa. Bastava a neko relatar que ele – o diretor – estava perseguindo um de seus amigos, que os seus pais comprariam a briga e acabariam com sua carreira na área da educação, destruindo também a sua reputação… Entretanto, a verdade era que a neko não precisa tê-lo ameaçado, pois o havia convencido desde que o confrontara com os sentimentos de Seiji.

No fundo, Kenichi não poderia julgá-la por tentar proteger um amigo.

Ele volta para perto da janela, surpreendendo-se ao encontrar Seiji e Tayui ainda no portão. Obviamente estavam esperando por alguém, mas o diretor só se deu conta de quem, quando o kitsune acenou em direção a escola e Misaki surgiu em seu campo de visão.

A neko corria em direção a eles com a mochila sacolejando em suas costas, parando ao se aproximar para recuperar o fôlego. Mesmo à distância, o diretor sabia que ela estava sorrindo, e, provavelmente, os convidando para ir a algum lugar legal. Eles eram bons amigos no fim das contas, e a coragem de Misaki ao sair em defesa de Seiji apenas o lembrou de que, quando o seu pai o descartou, foram os seus amigos e a sua vó que lhe deram o suporte que precisava para dar a volta por cima...

O diretor observa a saída dos amigos por alguns instantes e logo retorna sua atenção para o interior de sua própria sala, cuja atmosfera ainda parecia pesada devido a briga que tivera com o irmão e às palavras proferidas por Misaki. Ele certamente tinha muito sobre o que refletir.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado.
Estamos na reta final agora.
É a primeira vez que escrevo uma história sem "romance" e tem sido um desafio e tanto, mas no geral, acho que coloquei na história tudo o que eu pretendia pra ela.



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