Clube de Fanfics escrita por Jane Viesseli


Capítulo 10
Hoje e para Sempre, JUNTOS!




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Seiji acordou pouco tempo depois, dentro de uma ambulância, exaltando-se subitamente ao recordar de toda a briga e de seu amigo, e obrigando os enfermeiros a sedá-lo. E quando despertou novamente, o neko já estava num quarto de hospital, com faixas e curativos espalhados por seu corpo, e o braço direito engessado. Sua mãe estava ao seu lado quando seu olho esquerdo se abriu, e Kenichi na janela, olhando às estrelas que já cintilavam no céu. Não havia sinal de seu pai em parte alguma, pois estava sempre atolado em trabalho e pouco tempo tinha para dar atenção ao que acontecia aos seus filhos.

— Seiji, querido, como está se sentindo? – pergunta sua mãe, chamando a atenção de Kenichi para o despertar do irmão.

Ele não respondeu, apenas olhou ao redor tentando se localizar. Algo bloqueava a sua vista direita, mas o neko levou certo tempo para perceber que eram curativos, que visavam esconder o imenso inchaço em seu olho. E, além disso, havia dor… Dor por toda a parte! Dor na parte externa de seu corpo e dor dentro de seu peito, e quando a lembrança da briga novamente o tomou, suas palavras foram rápidas em direção ao irmão mais velho:

— Tayui! Kenichi, o Tayui... – começa, vendo no semblante do irmão e no leve manear de sua cabeça, que ele não tinha sobrevivido, que seu grande e ardiloso amigo havia mesmo morrido.

— Eu sinto muito, querido! – consola a mãe, vendo-o novamente chorar.

— Quero ir pra casa, mãe – pede com voz estrangulada, tentando conter toda a tristeza em seu interior.

— Vou assinar a sua alta e levarei vocês para casa! – sussurra Kenichi, saindo logo em seguida.

Algumas horas depois, já no início da madrugada, em casa e trancado em seu quarto, Seiji ouve o telefone tocar no corredor. A ligação foi atendida, e, logo em seguida, o som de passos anunciou a aproximação de sua mãe. Calmamente ela adentrou o quarto, anunciando com cuidado que o funeral de Tayui seria na manhã seguinte, às 7:00am, caso ele quisesse se despedir do amigo.

O neko sente o celular vibrar alguns minutos depois, com uma mensagem de texto de Misaki que lhe dava a mesma notícia, mas ele não sentiu-se capaz de respondê-la e atirou o celular para o outro lado do quarto. Tudo o que o neko desejava naquele momento, era acordar e descobrir que nada daquilo era real, que era apenas um pesadelo e que Tayui ainda o esperava na ESNyah para lhe convencer a publicar suas histórias hentai...

Quando amanheceu, Misaki chegou pontualmente para o funeral, uma cerimônia triste e dolorosa. A neko não conseguia acreditar que aquele kitsune deitado no interior do caixão, inexpressivo e sem alegria, era mesmo Tayui. O Tayui que ela conhecia era um kitsunemomo falador e alegre, sendo muitas vezes sem filtro e constrangedor quando se tratava de suas fanfics indecentes; ele sabia falar sério, sabia se fazer ouvir, mas na maior parte do tempo, eram os sorrisos e as piadas que o caracterizavam.

O Sr. Kenichi estava lá também, mas Misaki ainda não tinha avistado Seiji em lugar algum.

Muitos membros do clube de fanfics compareceram ao velório de Tayui, incluindo os escritores do terraço que, tantas vezes, o expulsaram pelo excesso de barulho, dando à mamãe raposa um conforto inexplicável por seu filho ter tantos colegas que o amavam e sentiriam a sua falta tanto quanto ela.

Repentinamente, tão silencioso e discreto quanto os seus passos de neko o permitiam ficar, Seiji entrou no funeral, mantendo-se de pé com a ajuda dos analgésicos. Misaki foi a primeira a notá-lo, esgueirando-se por entre as pessoas de cabeça baixa e com as mãos nos bolsos, trajando uma blusa de frio grande o bastante para tampar seus hematomas e o seu gesso, e para que a touca cobrisse o seu rosto coberto de curativos.

Seiji se aproxima do caixão lentamente, mordendo o canto de sua boca para não chorar com o que via, e sentindo o seu coração se quebrar no peito.

— Não era para àquilo ter acontecido! Não era para ser ele! – pensa Seiji, olhando para o corpo de seu amigo, mal percebendo o momento em que Misaki se aproximou e abraçou seu braço engessado delicadamente.

Ela podia ver a desolação e a tristeza em seu corpo, transbordando em seu andar e em sua postura retraída. Seiji estava sofrendo mais do que queria demonstrar e Misaki queria ajudá-lo, queria lhe dar força assim como gostaria de receber a sua força. Porém, em todos os momentos em que buscou o seu olhar para lhe dizer que eles passariam por aquela perda, juntos, ela não o encontrou.

O neko não queria olhá-la. Não conseguia olhar para o rosto sincero e meigo de sua amiga, sem sentir o peso da vergonha pela morte de Tayui.

Sim, ele se culpava! Culpava-se por suas lutas arranjadas terem saído do controle, culpava-se por aquela situação ter atingido um amigo que tanto amava, culpava-se por não ter conseguido defender Tayui, culpava-se por tudo aquilo ter culminado na morte do kitsune... Ele culpava-se, e isso era o suficiente para não conseguir olhar nos olhos de Misaki de novo ou encarar a família de Tayui.

Outro par de mãos envolve o braço livre de Seiji delicadamente, mas o neko só se deu conta de quem era, quando a voz feminina e maternal sussurrou em seu ouvido:

— Você é o Seiji? – questiona a mãe de Tayui de forma afetuosa, porém entristecida. – Tayui me falou muito sobre você... Ele nunca falou de ninguém além de Misaki, sempre se referindo ao clube de forma genérica, mas, desde o começo do ano letivo, falou-me muito sobre você e sobre suas aventuras para proteger Misaki...

Seiji não sabia o nome dela, sabia apenas que era mãe de Tayui e parecia-se muito com ele, o que era suficiente para que um enorme bolo ficasse preso em sua garganta, bloqueando sua fala e embaçando seu único olho bom.

A mamãe raposa acariciou o seu braço gentilmente, retirando sua mão do bolso lentamente. Sua mão tremia intensamente, haviam escoriações nos nós de seus dedos, mas, em vez de olhá-lo com ódio ou de repreendê-lo por ter estado naquela briga e não ter salvo o seu filho, a kitsune apenas segurou sua mão com força.

Interiormente, Seiji se revoltou com todo aquele carinho. Ele não se achava digno de consolo ou de gentileza, e achava que, se ela lhe desse um forte tapa na cara, o golpe doeria bem menos do que o que àquelas mãos carinhosas estavam fazendo.

— Obrigada por ser amigo dele, Seiji. Tayui tinha muitos conhecidos, mas nenhum amigo próximo, ninguém que quisesse passar tempo com ele… Nós sempre soubemos que isso poderia acontecer – desabafa, derramando algumas lágrimas –, sempre que íamos ao hospital fazer os exames de rotina, o médico nos dizia que ele tinha sorte de chegar a idade que chegou, sendo que o seu primeiro diagnóstico havia sido dado ainda na infância e era considerado bastante complexo… Não foi fácil, sabe, vê-lo sozinho, sem conseguir brincar com as outras crianças e sem fazer amigos… Obrigada por fazer o meu Tayui tão feliz com as suas aventuras, Seiji! – agradece com sinceridade, olhando para o rosto parcialmente enfaixado do neko.

Àquela altura, Seiji já não podia evitar as lágrimas que desciam por seu olho bom. Ele olhou para o rosto da kitsune, marcado pela tristeza e pelos anos de luta pela vida de seu filho, contra uma doença que não tinha cura, e, com esforço, pronunciou a única palavra que preenchia sua cabeça naquele momento:

— Me desculpe – sussurra com voz estrangulada, chocando a mulher que rapidamente detectou a culpa em seu rosto. – Me desculpe – repete, desprendendo-se dos braços que o seguravam.

Sentindo que iria desabar, Seiji puxa a touca para encobrir o rosto e corre porta afora, em direção ao silêncio do cemitério. Kenichi, que havia reconhecido o irmão logo após a aproximação de Misaki, tenta interceptá-lo no meio do caminho, mas o caçula desviou de suas mãos com mais facilidade do que gostaria…

Pouco tempo depois, o corpo de Tayui já era colocado sob a terra, em um enterro tão doloroso quanto fora o seu funeral. A mamãe kitsune chorou, Misaki chorou e alguns membros do clube de fanfics partiram antes da hora, abatidos, não conseguindo enfrentar àquela parte da cerimônia de despedida.

Kenichi não chorava, mas estava igualmente entristecido, parte pela morte de Tayui e parte por seu irmão, que ele sabia que estava ali, em algum lugar, assistindo ao enterro à distância, sofrendo. Ele sempre sabia quando Seiji estava por perto, era como um sexto sentido de neko que indicava quando os membros de sua família estavam aos arredores, algo que percebera ter desde que o irmão nascera e que, naquele instante, o alertava para a presença de Seiji.

Demorou alguns minutos para que o diretor o encontrasse, realmente longe, assistindo a tudo sob a proteção de uma frondosa árvore. Mas Kenichi não fez menção de ir até ele, preferindo deixá-lo só, como ele queria naquele momento tão doloroso.

...

Na semana que se seguiu, Seiji não foi à escola, preferindo lidar com o seu luto e a sua culpa sozinho. A data para o lançamento do novo site do Nyah! Fanfiction havia passado, mas, quando o neko pensou em colocar o projeto concluído no ar, lembrou-se que Tayui estava ansioso por ele e que agora não teria mais a chance de vê-lo, e desistiu…

Dormir não lhe trazia mais sossego do que tinha quando estava acordado, pois quando fechava os olhos, sonhava com àquele dia, com o rosto sorridente de Tayui e Misaki, com a luta, com o corpo ao chão. A culpa o atormentava dia após dia, dia e noite, e, mesmo que já não chorasse mais, Seiji não queria falar sobre sua dor e perambulava pela casa como uma carcaça sem vida.

O neko ouve a campainha tocar e, pouco depois, a porta da frente ser aberta por sua mãe. Seja lá quem fosse, ficou com ela na sala de estar por cerca de meia hora, sendo guiado em direção ao seu quarto em seguida. Seiji não reconhecia os passos e também não se dignou a ver quem era, quando a porta do cômodo se abriu e o visitante entrou sem ser convidado.

Kenichi entra em seu campo de visão em questão de segundos, analisando-o cuidadosamente. O caçula estava sentado no chão, encostado na lateral de sua cama e encarando a parede oposta, sentindo bem menos dor àquela altura e abraçando os joelhos em posição fetal. O diretor senta à sua frente, também no chão, estabelecendo contato visual e esperando algum tipo de reação, mas Seiji não fez nada além de olhá-lo nos olhos.

— Como você está? – começa cautelosamente, com a voz baixa e tranquila, observando que o inchaço no olho já havia amenizado consideravelmente.

— Melhor – responde com a voz rouca, devido ao longo tempo de silêncio.

— Está tomando os remédios direitinho? – pergunta, recebendo apenas um manear positivo de cabeça como resposta. – Sabe por que estou aqui? – Seiji balança a cabeça negativamente, demonstrando pouco interesse em suas motivações. – Tenho ligado para sua mãe todos os dias, Seiji. Sei que não costumamos nos dar bem, mas fiquei extremamente preocupado…

O diretor se remexe no lugar. Aquele não era um bom momento para falar de seu péssimo relacionamento com o irmão, mas seu coração ansiava por uma reconciliação, depois de tantas coisas injustas que fizera e dissera a ele. Porém, a razão falou mais alto: ele não estava ali por si próprio, mas por Misaki, que também estava sofrendo e estava enfrentando sozinha o luto e a gerência do clube de fanfics, durante todos aqueles dias.

― Quando pretende ir às suas aulas? – recomeça, focado em abordar Misaki, em vez dos próprios sentimentos.

― Não sei.

― E às atividades dos clubes? – pergunta, fazendo Seiji lançar um olhar melancólico para o braço engessado, que obviamente o retirava da temporada de beisebol.

― Também não sei.

― Eu sei que está de luto, Seiji, e sei que o seu braço fraturado o tira automaticamente do campeonato, mas você precisa voltar, ao menos, para o clube de fanfics. Todos os membros perguntam de você e Misaki sente sua falta…

― Eu não posso voltar.

― Você tem que voltar, sem um segundo gerente o clube não pode funcionar, é o regulamento. Misaki precisa da sua ajuda…

― Não posso...

― Por quê?

― Porque não vou conseguir olhar Misaki nos olhos novamente…

― Por que você acha isso?

― Porque foi tudo minha culpa! – confessa Seiji, afundando o rosto nos joelhos e chorando copiosamente ao se referir à morte de Tayui.

― Não foi culpa sua, Seiji. Tayui estava ciente de sua condição, ele era um kitsune muito esperto e sempre soube como fugir de um conflito físico. Se ele aceitou entrar naquela briga, também aceitou as consequências que poderiam surgir dela…

― Não, não! É minha culpa sim. Você me disse uma vez que minhas brigas um dia acabariam matando alguém – relembra, entre lágrimas e soluços –, mas eu não te dei ouvidos. Foi por minha causa que aquela luta aconteceu, foi por minha causa que aquele kitsune idiota entrou na briga… Foi por minha causa que ele morreu…

Kenichi sente o coração apertar. Ele realmente havia o alertado sobre aquilo, mas ouvir tais palavras saindo da boca de seu irmão, ouvir sua voz sair entrecortada por soluços até se tornar um fio sofrível de voz, era pesaroso demais para aguentar.

― Não foi culpa sua. Tayui entrou naquela briga porque o amava. Ele tinha muitos conhecidos, mas nenhum amigo, Seiji, porque ninguém queria ser amigo do kitsune esquisito que não podia correr, brincar ou praticar esportes… Você foi o segundo amigo de verdade que ele teve! – Pausa. – Kitsunes são ardilosos e, às vezes, um pouco manipuladores, mas também são extremamente leais em seus relacionamentos. Se Tayui entrou naquela briga, foi porque o amou como a um irmão, foi porque temeu pela sua vida e sua lealdade gritou mais alto que a preocupação com sua doença…

― Eu não queria que ele morresse…

― Eu sei que não – sussurra Kenichi, aproximando-se de Seiji, que não era mais do que uma bola neko, tentando se fechar cada vez mais dentro de si mesmo. – Shhh, vai ficar tudo bem – promete o diretor, tocando em seus braços cautelosamente e encostando o queixo no espaço entre as orelhas do caçula, um gesto que ele sabia que o acalmava desde criança. – Seu onii-chan está aqui… Vai ficar tudo bem.

Um breve silêncio se fez e, como mágica, Seiji se acalmou e parou de chorar.

Achando aquele um momento conveniente, Kenichi se afastou do irmão e apanhou uma pequena sacola que havia trazido consigo, fazendo Seiji reparar nela pela primeira vez. De dentro, o diretor retirou uma caixa de óculos, contendo um par novo, de armação jovial e moderna.

― Seus óculos novos se perderam naquele dia… Peguei sua receita do oftalmologista com sua mãe e tomei a liberdade de encomendar um novo – explica, retirando os óculos velhos do rosto do irmão e colocando os novos.

― Obrigado! – responde somente, sentindo os olhos marejarem novamente.

― Preciso ir agora, ainda estou em horário de trabalho. Porém, antes de ir, gostaria de deixar algo para pensar: Misaki também está sofrendo, Seiji – confessa, atraindo a atenção do caçula. – Ela viu os seus dois amigos ao chão no mesmo dia, perdeu Tayui e pensou que você também morreria, devido ao estado em que o deixaram… Misaki é uma nekomimi determinada, mas também é bastante sensível e está passando por tudo isso sozinha. O fardo da dor se torna mais fácil de carregar quando se tem um amigo…

Diante do silêncio que se seguiu, Kenichi bagunçou os cabelos de Seiji em sinal de despedida e se levantou, dirigindo-se silenciosamente até a porta e deixando sua reconciliação para um momento mais apropriado.

― Onii-chan – chama Seiji, fazendo-o parar no mesmo instante, com a mão na maçaneta –, obrigado! – agradece com sinceridade, sentindo um calor estranho se apoderar de seu peito, ao chamá-lo de “onii-chan” depois de tantos anos.

― Nos vemos na escola, Seiji – responde Kenichi, sorrindo.

Como sugerido pelo irmão, o neko realmente pensou em tudo o que ele havia dito, sentindo-se envergonhado por abandonar Misaki e o clube de fanfics em um momento que não era triste apenas para ele, mas para todos. Apesar de tudo o que sentia e de querer passar pelo luto sozinho, ele havia deixado a amiga para trás, condenando-a a também passar por àquilo sozinha.

Ao pensar nisso, Seiji encontrou forças suficientes para vestir uma roupa melhor e ir até a escola. Já era tarde para frequentar qualquer uma de suas aulas, mas não seria tarde para ir às atividades do clube de fanfics, que começaria dali a algumas horas.

Tempos depois e já na ESNyah, Seiji observava a plaquinha do clube pendurada na porta, respirando fundo e tomando coragem para abri-la. Sua mão vai em direção a maçaneta pela terceira vez e o ar fica preso em seus pulmões quando ele finalmente abre a porta, fazendo Misaki parar de falar e todos os olhos se voltarem em sua direção.

Todos os membros estavam ali, em reunião. O neko entra na sala lentamente, fazendo Misaki arregalar os olhos ao vê-lo, com um misto de emoções passando por suas íris azuis; suas orelhas giraram na direção dele, e quando não pôde mais conter os próprios sentimentos, a neko correu em sua direção:

― Onii-chan!!! – chama com voz embargada, lançando-se nos braços de Seiji sem sequer lembrar-se de seus hematomas. E, como se já estivesse segurando toda àquela dor por tempo demais, ela chorou.

E daí que estivessem na frente de todos? E daí que muitos dos membros chorassem junto, somente por vê-la chorar? O que importava era que o seu onii-chan estava ali, a abraçando e lhe dando o apoio e a força emocional que ela procurava desde o enterro de Tayui.

― Seu onii-chan está aqui agora, vai ficar tudo bem. Vamos passar por tudo isso juntos! – diz Seiji, colocando o queixo no topo da cabeça de Misaki, entre suas orelhas, como seu irmão havia feito com ele mais cedo.

Silenciosamente, o clube de fanfics se esvazia. Todos os membros sabiam que Misaki estava sofrendo e que aguardava ansiosamente pelo retorno de Seiji. Desistir de um dia de atividade, para concedê-los certa privacidade era o mínimo que poderiam fazer para ajudá-los a passar por aquele momento difícil.

Levou alguns minutos até que a neko se acalmasse e percebesse que eles estavam sozinhos naquela sala. Há muito tempo ela vinha se reprimindo, não tendo ninguém com quem compartilhar o seu pesar por Tayui ou a sua preocupação com o bem-estar de Seiji, nenhum amigo íntimo para lhe oferecer um ombro, porque era pelos seus amigos íntimos que ela sofria.

― Eu senti a sua falta, onii-chan – confessa Misaki, desfazendo o abraço e encarando Seiji com seus olhos dóceis, porém, tristes.

― Eu também senti a sua – admiti, segurando a mão da neko e a conduzindo até a janela da sala, que tinha uma boa vista do pátio da ESNyah.

Ali, observando a paisagem e sentindo a brisa que soprava do lado de fora, Seiji se perguntava se deveria falar sobre o quanto se culpava pela morte de Tayui e da vergonha que estava em voltar a encontrá-la. Porém, após se lembrar de seu último momento de confissão e do quanto Misaki o acolheu, ele decidiu que aquele era o momento ideal para retribuir o gesto.

― Tive medo de perder você também – sussurra ela, quebrando o silêncio.

― Sinto muito… Tudo aquilo foi culpa minha…

― Por favor, não se culpe – repreende ela, captando o sentimento por trás das palavras do neko. – Estou tão feliz por você estar bem e por estar aqui… Já perdi um amigo para uma doença, não quero perder o outro para a culpa!

― Não vai, eu prometo! – exclama, erguendo o indicador e enxugando a lágrima que descia sobre a bochecha de Misaki.

― Senpais! – chama uma pequena neko, os interrompendo, chamando a atenção de ambos para a porta e para o objeto retangular que carregava.

Timidamente ela se aproxima, sabia que estava interrompendo um momento particular, mas havia esperado dias por aquele momento, para ter os dois gerentes juntos novamente, e não podia perder a oportunidade de lhes entregar o seu presente especial.

― Senpais, isso é pra vocês – explica, estendendo os braços e mostrando que o objeto que trazia era, na verdade, um pequeno quadro de mesa.

Misaki apanha a foto com gentileza e Seiji se posiciona ao seu lado. A fotografia havia sido tirada durante uma das atividades do clube e mostrava os três amigos conversando descontraidamente sobre alguma coisa. Todos eles sorriam e os olhos de Tayui estavam alegres, como se não precisasse de mais nada para ser feliz, além de Seiji e Misaki.

― Tayui senpai me pediu para tirar essa foto há algum tempo, com o meu celular, que tem uma câmera muito boa. Ele disse que queria ter uma lembrança de vocês, juntos… Era um pedido particular, mas a foto ficou salva na minha caixa de saída quando enviei a ele por e-mail, e, depois do que aconteceu, achei que gostariam de ter uma cópia… Eu só estava esperando vocês estarem juntos novamente.

Seiji sequer conseguia responder, tamanha era a sua gratidão por aquela fotografia. Misaki agradece em seu lugar, fazendo a pequena neko sorrir e se retirar silenciosamente, entendendo perfeitamente como o seu onii-chan se sentia naquele momento. Eles nunca haviam tirado uma foto juntos, todos os três, apesar de passarem quase todo o tempo unidos, e, ter um registro daquele em mãos, arquitetado pelo próprio Tayui, era como receber um valioso presente.

― Vou sentir muita falta dele – confessa Misaki.

― Eu também vou...

― Ele amava você como a um irmão, assim como a mim, onii-chan – comenta Misaki, levando o quadro até a mesa e o colocando de pé, ao lado de sua mochila.

― Tayui disse isso a você?

― Não, mas recebi isso da mãe dele no dia do enterro – explica, retirando da mochila um caderno de capa escura, com apenas a palavra “amizade” escrito em letras douradas. – Ele escreveu sobre nós… Sobre nós três… Uma história original, usando as nossas personalidades e a nossa amizade como inspiração para os personagens…

Misaki pausa por um momento, mordendo o lábio inferior e sentindo as lágrimas inundarem os seus olhos novamente. Ela não ligava de chorar de novo, de novo e de novo, tudo o que ela queria era ser franca com o seu onii-chan, recebendo dele o mesmo carinho e ombro amigo que um dia ela lhe dedicara.

― A primeira história séria de Tayui foi sobre nós, um trio de caçadores de demônios que se une por acaso, para salvar uma pequena vila! – Chora silenciosamente, entregando o caderno nas mãos de Seiji. – Todo autor põe um pouco de si mesmo em suas obras, e Tayui colocou em seu enredo tudo o que pensava sobre nós e o que estava fazendo conosco… Na história, ele é o jovem Nilo, um arqueiro amaldiçoado que era perseguido por um demônio, que queria devorar o seu coração. Nilo sabia que cedo ou tarde o demônio conseguiria pegá-lo e, em vários momentos da história, tentou fortalecer a amizade de seus amigos para que fosse forte o suficiente, para que pudessem ajudar um ao outro e continuassem em sua missão.

Seiji desvia o olhar por um momento, sentindo seus próprios olhos umedecerem. Tayui sempre estivera um passo a frente dele em tudo, compreendendo-o de uma forma que nem ele mesmo conseguia, o tornando mais forte à maneira dele e os unindo pouco a pouco, para que se tornassem amigos de verdade.

― Eu tenho medo de esquecê-lo – admite Seiji, olhando para o caderno e depois para a imagem de Tayui na fotografia.

― A existência de Tayui foi que tornou a nossa amizade mais forte, se ficarmos juntos, jamais o esqueceremos!

― Sim, vamos fazer isso então. Hoje e para sempre, juntos! – confirma, fazendo Misaki sorrir e o abraçar novamente.

Ali, envolvendo Misaki afetuosamente e olhando a fotografia de Tayui, Seiji percebeu que a vida era, na verdade, como uma história: repleta de capítulos. Onde o protagonista é também o próprio escritor, onde ele deveria percorrer a jornada do herói, prevalecer sobre suas dores e vencer muitos inimigos, se esforçando para vivenciar um ótimo plot e obter o seu final feliz. Amando e sendo amado, protegendo e sendo protegido, ensinando e sendo ensinado, fazendo amigos e sendo por eles contagiado…

A vida era como uma história e, apesar de ter escrito coisas ruins em alguns de seus capítulos, o neko estava disposto a continuá-la da melhor forma possível, ao lado da nekomimi de cabelos cor-de-rosa e olhos de oceano, que se tornara sua protegida, seu ombro e braço forte, que compartilhava com ele as alegrias do clube e a pesada carga de uma perda, sua grande amiga e irmã: Misaki.

FIM


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Notas finais do capítulo

E chegamos ao fim. A fanfic se encerra aqui, mas o Clube de Fanfics, assim como a amizade de Misaki e Seiji, durará para sempre. :)
Primeiramente, agradeço a todos que acompanharam (comentando ou não). Minha ideia sempre foi a de fazer uma shortfic, com um foco especial sobre a amizade de Seiji e Misaki e em como ela se fortaleceu, contando uma história de amizade de forma leve e descontraída.
Uma shortfic tem suas limitações, é claro, devido ao tamanho, mas, no fim das contas, a história ficou do jeito que eu esperava. Porém, perdoem-me por qualquer coisa, caso o enredo não tenha suprido as expectativas de vocês.
No mais, espero que tenham gostado.
Obrigada a todos, e até uma próxima fanfic.



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