Melisandre

Amanheceu e continuava escuro. Já era o terceiro ou quarto dia. Ela achava, pois não tinha certeza de quanto tempo havia se passado ou deixado de passar. Algumas pessoas falavam que tinham se passado cinco dias, outros falavam de apenas dois. Não tinha como ter certeza absoluta.

Ela detestava o escuro, mas tentava se tranqüilizar dizendo que a noite logo chegaria ao fim.  Tentava acalmar a sua filha com essas mesmas palavras. A bebê chorava com certa freqüência por causa do escuro e da falta de Jon.

Sem conseguir ler as chamas tudo se tornava ainda mais preocupante. Se ela ainda conseguisse ler as chamas poderia saber como as coisas estavam na Muralha. Quanto tempo faltava para a guerra ser ganha e a noite terminar, mas ela não conseguia. Sem informação alguma se sentia ainda mais no escuro.

Melisandre quase não saia do quarto onde ficava junto com a filha. Principalmente porque o quarto era mais aquecido que o resto do lugar. Ela aproveitava esse tempo para rezar e pedir forças para enfrentar o escuro até que a luz viesse. No pouco tempo que ficava fora do quarto ela percebia que algo estava muito errado. Parecia que estavam escondendo alguma coisa dela. Parecia que estavam controlando a língua perto dela. Sansa era quem estava mais estranha. Teria ocorrido alguma coisa com Jon? Não. Não seria possível. Ele era o campeão do Senhor da Luz. Não poderia ocorrer nada com ele, pois caso contrário todo o mundo acabaria.

Ela foi tirada de seus pensamentos por batidas na porta. Era a ama de leite de Lyanna.

Lee continuava com raiva dela, apesar de tentar disfarçar, por causa do ocorrido com Bassie. Ela continuava a tratando somente por cortesias frias e falando o básico necessário. Melisandre não se importava. Ela já tinha coisas demais para pensar para se preocupar com as atitudes da moça.

No fundo, mesmo que não admitisse, ela sentia um pouco de falta das conversas que tinha com Lee. Assim como sentia falta das conversas que tinha com Arya. Quando ela parou para pensar em Arya constatou que nunca mais havia visto a menina desde que a longa noite começou. O que não era muito estranho, visto que a maioria das pessoas mal saia dos quartos, mas isso não parecia coisa da Arya. Talvez a menina soubesse de algo que ela não sabia.

—Ela não está se alimentando. Deve está triste pelo que ocorreu com o pai...- falou Lee segurando Lyanna.Com a voz vaga. Não se direcionando a ela. Muitas vezes a moça parecia falar para ela mesma ou para Lyanna. Melisandre sempre ignorava, pois sabia que a moça não queria mais falar com ela. Mas dessa vez não ignorou. O que havia ocorrido com Jon?

Lee pareceu perceber que falou demais no momento em que Melisandre a questionou sobre o que havia ocorrido com Jon. Ficou em silêncio. Melisandre questionou novamente. Dessa vez ordenando que ela falasse. Lee meio sem jeito e assustada falou que Jon havia sumido no mesmo dia que a muralha caiu. Que ainda não sabiam o que havia realmente ocorrido.

Em um primeiro momento ela achou que Lee estava mentindo. Mas depois descartou essa idéia. Mesmo que a moça não gostasse dela não teria a coragem de inventar uma coisa dessas. E essa informação se encaixava perfeitamente nas mudanças de comportamento das pessoas perto dela. Depois que ela aceitou que aquilo poderia ser verdade o desespero tomou conta dela. Isso não poderia ter ocorrido. Teria ela errado de novo?  Teria o campeão do seu deus sido derrotado? Seria Jon realmente o Azor Ahai?

Sua cabeça começou a doer muito. Sua vista ficou turva. Não sabia se era por causa da forte dor ou por causa das lágrimas. Caiu de joelhos no chão. Não poderia ter falhado novamente. Não poderia... Todos os sinais apontavam para Jon. A espada acendeu. O que teria dado errado?

Ouviu ao longe a voz de Lee chamando ajuda e passos vindos na sua direção. Sentiu quando alguém lhe segurou e falou algumas palavras de consolo que ela mal ouviu. Tentou afastar os braços da pessoa, mas não conseguiu. Se sentia fraca. A sensação de ter falhado novamente a fez perder as forças. Murmurava palavras de perdão ao seu deus e a todos por ter falhado.

Sentiu que alguém, provavelmente o meistre, tentava lhe fazer beber algo para que se acalmasse. Ela não queria nenhuma daquelas poções que provavelmente a fariam dormir. Não queria dormir. Se dormisse teria pesadelos. Seria pior. Tentou resistir e explicar isso, mas o meistre lhe obrigou a tomar toda poção. Sentiu quando a escuridão lhe dominou. Dessa vez a escuridão  parecia mais densa.

Sansa

Estava sendo difícil. Principalmente agora que todos sabiam do sumiço e talvez provável morte de Jon. Estava sendo muito difícil mesmo, principalmente para ela. Que era quem praticamente administrava tudo e tinha que se manter forte.

Quando a carta de rainha Daenerys chegou falando do sumiço de Jon logo após a queda da Muralha todos ficaram ainda mais apavorados e foi preciso muito esforço para que se acalmassem. Sansa chorou muito naquela noite. Como há tempos não chorava. Ela tinha medo de perder Jon também. Ela já havia perdido tantas pessoas e foi por causa de seu irmão que ela tinha um lar novamente.

Já havia se passado quatro dias da carta ou teriam sido cinco? Era difícil saber por causa do escuro e porque parecia que o tempo parecia correr mais lentamente. E mesmo com essa passagem de tempo não haviam encontrado nenhuma pista sobre Jon. Ele havia simplesmente sumido. Nenhum corpo foi achado ou algo do tipo.

Todos os servos e vassalos que moravam em Winterfell agiam como se o rei tivesse morrido. Lamentavam seu destino e falavam o quanto ele havia sido um bom rei. Falavam dele no passado.  Sansa ficava irritada com essa atitude. Seu irmão não estava morto. Ele devia apenas ter se perdido no meio da batalha e devia ser achado em breve. Ela tinha que acreditar nisso. Sansa ficava irritada também por essa atitude porque devido a ela Rickon começou a achar que Jon tinha morrido e que estavam mentindo para ele. Sansa proibiu todos de falar de Jon no passado.

Rickon reagiu muito mal ao sumiço do irmão, assim como Arya que queria ir para onde ficava a Muralha para o procurar,  mas ninguém agiu tão mal quanto Melisandre. O meistre havia alertado Sansa de que era melhor que a mulher não soubesse de nada, pelo menos até terem mais notícias sobre o que realmente ocorreu com seu irmão. Ele disse que temia como a rainha reagiria. Sansa havia tentado seguir o conselho do meistre pelo máximo de tempo possível. Mas a língua das pessoas é algo difícil de controlar. No fim a ama de leite de Lyanna acabou falando sem querer do sumiço de Jon para Melisandre. Após ver a reação da mulher Sansa viu que o meistre tinha razão no temor.

Não tinha como Melisandre ter agido pior. Quando ela soube do ocorrido. Quando soube que Jon havia realmente desaparecido. Ficou desesperada. Todos ficaram desesperados e tristes com o ocorrido, mas o desespero dela foi pior. Agiu como se o mundo tivesse acabado e ela fosse a culpada. Falava que não poderia ser possível. Que não poderia ter errado novamente. Foi preciso várias doses de vinho dos sonhos para que ela se acalmasse e dormisse. E mesmo enquanto ela dormia continuava a fazer uma oração murmurada pedindo perdão ao seu deus e pedindo para que ele levasse a escuridão para longe deles. Ela estava bem mal... O mais preocupante é que Sansa sabe que ela somente ficará melhor se Jon voltar e se longa noite terminar. Todos somente vão melhorar se essas duas coisas ocorrerem.

Sansa tem momentos em que ela acredita firmemente que seu irmão vai ser encontrado e que no próximo dia o Sol vai brilhar. Mas ela também tem momentos de dúvidas. Apesar das dúvidas ela procurar manter a esperança, pois sem ela a sua alma vai se tornar tão fria como a Longa Noite.

Ela sabe que seu irmão é especial, talvez ele não seja o Azor Ahai como Melisandre acreditava, mas ele continuava  sendo especial. Ele tinha uma missão. Lutou na linha de frente contra os Outros e Sansa acha que mesmo que ele tenha sumido e,que os deuses não permitam, morrido, ele de alguma forma cumpriu o cumpriria sua missão e o Sol logo devia voltar. Se Jon nunca voltasse toda vez que ela olhasse para um novo amanhecer se lembraria dele. 

Jon

O frio era tão denso que parecia ser possível o tocar. Ele parecia ser quase uma força viva e talvez fosse. Já que como ele estava andando por um local sobrenatural tudo era possível. A filha da floresta havia lhe dito que todo o local era cercado por uma magia antiga e do mal. Essa magia parecia não os atingir. Além do frio e da magia ele não sentiu a presença de mais nada ou ninguém além deles.

Ele perdeu as contas de quanto tempo estava andando. Parecia ter sido por horas. Ou teria sido durante todo um dia? Era difícil ter noção do tempo exato naquele lugar. Ele se preocupava com Melisandre, Sansa, Arya, Rickon, sua filha , Dany e com todos os outros com quem ele se importava. Ele não sabia há quanto tempo estava desaparecido. Há quanto tempo estava andando pelo caminho sobrenatural. Torcia para que não fosse muito tempo, pois sabia que se ficasse muito tempo desaparecido todos ficariam desesperados. Era perigoso Arya querer vim o procurar e Melisandre morrer de tristeza achando que errou novamente na previsão do príncipe prometido. Mas ele se tranqüilizou dizendo que não havia passado muito tempo. Ele não se sentia cansado apesar de ter andado muito em direção ao seu destino. Mas talvez devido a magia o tempo passasse de uma forma diferente.

Outra preocupação era sobre o avanço dos Outros depois da queda da Muralha, mas a filha da floresta lhe garantiu que os que ficaram iriam conseguir atrasar o avanço até que ele recuperasse o alvorecer. Pessoas de fora ainda chegariam.

Em um dado momento ele ouviu uma voz fria como um inverno falando somente em sua mente. Tentando lhe assustar. Falando que mesmo se vencesse nunca mais conseguiria voltar para os seus. O fogo do senhor da luz que estava nele enfraqueceu a voz, mas as conseqüências das palavras continuaram.

—O primeiro príncipe prometido.-Jon não sabia como fazer aquela pergunta, mas se arriscou. Em nenhum dos livros que leu falava exatamente o que havia ocorrido depois da guerra-  O primeiro Azor ahai voltou a sua vida normal depois que venceu a guerra? Depois que reconquistou a Alvorada?

—O destino dele não será o seu. Fará seu próprio destino.

Jon respirou fundo. A resposta não foi a que esperava. Ele ficou ainda mais pensativo, pois seu destino dependia dele. Mas tentou se consolar falando que se ele conseguisse devolver a Alvorada a terra, mesmo que não voltasse nunca mais, se sentiria satisfeito. Claro que ficaria triste por nunca mais rever quem amava, mas ficaria satisfeito de saber que havia cumprido a sua missão.