Jon

Os filhos da floresta chegaram com a ajuda que era necessária. Com os vidros de dragão que Melisandre não podia mais providenciar como providenciou uma vez. Com sua magia.

Jon suspeitava que a mulher havia perdido os poderes. Ele achava isso principalmente porque no tempo que ficou na Muralha, depois do ritual que acendeu a espada, ela nunca mais havia falado das visões nas chamas e estava sempre fraca e com frio.  Nunca mais havia sido a mesma. Jon se preocupou com ela durante todo o percurso dela até Winterfell. Somente ficou tranqüilo quando recebeu uma carta dizendo que ela havia chegado bem.

Eram tempos estranhos. Jon já havia visto que dragões e magias eram reais, mas se espantou quando viu os filhos da floresta chegando. Ele pensava que as criaturas existiam somente nas canções. Mas a cada dia se comprovava que a magia estava forte e que parecia que não havia limites.

Segundo Jon sabia, na primeira batalha pela Alvorada, os filhos da floresta também haviam se juntado aos homens para trazer o amanhecer de volta. No final das contas essa batalha era de todos.

—Está na hora.- falou uma das filhas da floresta. Que parecia ser a líder de todos.- Leve todos para o mais distante possível da Muralha. Para o outro lado.

Jon a principio não entendeu. Questionou o porque disso, já que era muito perigoso do outro lado.

—A Muralha vai cair.- falou ela

Jon sabia que em algum momento a Muralha iria cair, mas não imaginava que fosse naquele momento. Ficou desesperado, pois a Muralha era o que protegia o reino do Rei da Noite e da verdadeira essência da morte.

— Será necessário que a Muralha caia e que a noite se inicie. Quando maior a escuridão maior é o brilho da luz. Quando a noite se iniciar busque o alvorecer. -falou a filha da floresta sentindo a aflição dele. Cada palavra dela era dotada de sabedoria. Ela havia vivido séculos e sabia do que estava falando. Jon suspeitava que os filhos da floresta que o ajudavam agora eram os mesmos que tinham lutado na primeira batalha.

Ele levou todos para o outro lado da Muralha. Foi um caminho difícil. Muitas criaturas no caminho tiveram que ser com combatidas e destruídas.  Estava muito mais frio do outro, todos sentiam, mas de alguma forma Jon não sentia o frio.

Jon sempre imaginou que antes da Muralha ruir fosse ser ouvido um som estridente. Fosse ser tocado algum berrante. Mas isso não ocorreu. O que ocorreu foi um longo silêncio. Como se todas as criaturas de gelo e tudo tivesse parado. Depois desse longo silêncio a Muralha começou a chorar e a rachar de baixo para cima. Somente fez barulho no momento em que os grossos pedaços de gelo começaram a cair.

Quando a Muralha estava toda abaixo foi como se uma forte força fosse liberada. O céu que estava claro. Ou tão claro quanto poderia está no inverno. Ficou escuro. Como se ainda fosse noite.

As criaturas não davam descanso. Pareciam mais fortes com a noite. Mas mesmo fortes não suportavam o vidro do dragão, a sua espada em chamas e o fogo do dragão. Todos dobraram os esforços para que eles não passassem. Seriam construídas barreiras com fogo, para os atrasar.

Um lado bom dessa noite sobrenatural que se iniciou é que ela faria os lordes entenderem a gravidade do que estava ocorrendo. Chegaria ajuda. Que nem ocorreu na primeira batalha. Mas Jon esperava que a ajuda não chegasse tarde demais. Na primeira batalha todos se uniram quando o reino já estava quase totalmente destruído. Depois que a Longa Noite já durava anos.

— A sua principal batalha não é essa. Seu caminho será trilhado no frio. Na direção coração do inverno. - na quase total escuridão ele ouviu a voz da filha da floresta. Ela falava de forma baixa. Somente para ele.- Sabes porque.

Ele sabia. Desde o momento que pegou a espada sabia para que ela serviria. Sabia do duelo que ocorreria entre ele e o rei da noite. O duelo pelo Amanhecer. Mas Jon pensava que o rei da Noite viria até ele e não que ele iria até o rei da Noite.

Jon sentiu uma força sobrenatural o puxando para longe logo após ouvir essas palavras. Para longe da batalha que ocorria. Ele tentou gritar para seus soldados e para Dany. Dizer o que ele ia fazer e dizer para eles avisarem todos os que ele amava. Se ele simplesmente desaparecesse todos iriam ficar desesperados, principalmente Melisandre que ia achar que tinha errado novamente na previsão de quem era o Azor ahai. Mas ele não conseguiu gritar. Depois de um tempo ele viu tudo desaparecer.

Quando ele conseguiu ver novamente estava em um lugar estranho e coberto de gelo. Havia apenas gelo. Não haviam árvores e nem nada. A filha da floresta estava caminhando ao seu lado. Não era possível ver o que tinha a frente por causa da neblina. Jon estava meio nervoso. Ele estava indo para onde ninguém havia ido.

—O que exatamente encontrarei?- perguntou ele segurando o cabo da espada

—O seu destino.

Sansa

O fato ocorrido no bosque sagrado não saia da mente da menina. Ela foi lá outras vezes para ver se a voz do seu irmãozinho se fazia ouvir novamente, mas o fato nunca mais se repetiu.

O mais estranho não foi isso. Foi que de alguma forma estranha ela achava que Rickon também ouvia alguma coisa no bosque sagrado. Pois o menino vivia indo lá. Com Beth Cassel. Mesmo com os avisos de que o tempo estava ficando frio demais. Sansa nunca havia perguntado nada para ele sobre fatos ocorridos no local.

Apesar do tempo, ela ainda se sentia meio distante do irmão, mas tentava reconstruir a relação deles pouco a pouco. Toda noite contava uma história para o menino. Assim como contava para o seu primo.

Rickon sempre gostava de histórias envolvendo selvagens e gigantes. Mas naquela noite o pedido do menino surpreendeu. Ele queria ouvir uma história sobre a queda da Muralha.

—Como?-perguntou ela com um sorriso confuso

—Quero ouvir sobre a queda da Muralha.

—Mas a Muralha nunca caiu, Rickon. Ela é revestida de magia que protege os reinos e nunca vai cair.-Sansa ficou curiosa para saber de onde Rickon havia tirado essa idéia. Talvez algum selvagem tivesse lhe falado essa idéia absurda.

Seu irmão a olhou de uma forma estranha e disse:

—Mas vai cair. Então quero ouvir sobre a Batalha da Alvorada.

Essa era mais fácil. Ela conhecia bem a história da Batalha da Alvorada ou do Amanhecer. Da primeira e da que ocorreria em breve. Jon tinha alguns livros antigos que falavam dessa batalha e Sansa havia lido alguns. Além disso havia conversado com Jon algumas vezes. Por isso sabia o que contar ao irmão.

—A batalha tem esse nome porque é a luta do bem contra o mal. É a batalha para que o Sol nasça novamente. Por um novo amanhecer. Por uma nova alvorada. Pelo fim da longa noite. - ela continuou falando tudo que sabia. As partes boas é claro. Falando da linda vitória e de como após a batalha o sol brilhou como nunca.

—O Jon vai vencer não vai?-perguntou o menino após ela terminar a narrativa

—Vai sim. E quando vencer vai se iniciar uma longa primavera. Vamos fazer um grande banquete para comemorar. No futuro vão fazer canções sobre essa vitória.- Sansa falou também para si mesma. Ela acreditava que Jon logo voltaria para casa. Vitorioso. A batalha não poderia demorar tanto. Segundo os relatórios que chegavam da Muralha eles estava conseguindo controlar facilmente as investidas dos Outros.

Depois de sair do quarto do irmão ela foi dormir. Estava cansada. Dormiu muito e teve sonhos confusos. Jurou que tinha dormido várias horas, mas quando acordou ainda estava escuro. Ainda era noite. Voltou a dormir mais um pouco. Acordou com muita fome, mas tudo continuava escuro. Alguma coisa estava muito errada. Naquele dia não amanheceu.

Ela rapidamente se arrumou e saiu do quarto. Se realmente não havia amanhecido todos deviam está apavorados. No corredor encontrou o meistre que confirmou suas suspeitas. Todos estavam com medo. Segundo ele, muitos não haviam nem saído dos quartos o dia todo e outros, incluindo Melisandre, estavam rezando. Sansa também estava com medo, mas ela não podia demonstrar. Alguém tinha que ser forte e tranqüilizar a todos. Além de tudo ela confiava em Jon. Sabia que ele logo traria o amanhecer novamente.  Tinha que confiar nisso.

Aegon

Algo estava muito errado. O amanhecer não havia chegado. Continuava sendo noite. Essa longa noite já durava um dia todo. Logo que acordou ele pensou que ainda tivesse em um dos pesadelos que tinha constantemente. Mas logo se percebeu na realidade.

Todos na Fortaleza Vermelha estavam desesperados. Falavam de maldição e de fim do mundo. O povo das ruas também estavam desesperados. Ele teve que colocar guardas em todas as entradas e fechar tudo. Porque o povo queria invadir a fortaleza tamanho o desespero que sentiam.  Ele iria manter esse esquema de segurança até o sol voltar. Ele esperava que tudo voltasse ao normal o mais rápido possível. Para o bem de todos.

Ele sabia que como rei tinha a obrigação de  tranqüilizar seu povo, mas nessa situação sabia que nada que ele falasse iria adiantar. E seria muito perigoso. Além de tudo ele não entendia o que estava ocorrendo, como poderia dá explicações para as pessoas se nem ele entendia? Explicações vazias apenas aumentariam o desespero.

Dizia para si mesmo que passaria logo. Tinha que acreditar nisso.