O que Blair Waldorf faria? escrita por Rafaela


Capítulo 1
Opa! B? - Capítulo I


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



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Sempre fui fascinada pela lua, suas fases conflituosas ao tentar ser um camaleão diante dos outros. Em partes, considerava que só gostava de enxergar as estrelas e algum astro maior por também ser fascinada pelo amor. Sim, a droga do amor. Aquela coisa que envolve dois colchões e sempre acaba com os dois feridos. Espere! São corações, que não tem nenhuma relação com as figuras fofinhas que ganhamos de presente do dia dos namorados – que eu particularmente odeio.

Minha mãe sempre dizia que eu era um tipo de louca e que nem mesmo drogas me trariam para o que chamamos de realidade, não me esqueço: “Um telescópio não te renderá um namorado.” Então, mãe, eu tenho, ou pelos menos tinha, um graças a isso! Não foi nenhum tipo de ‘escrito nas estrelas’, só as redes sociais soprando ao meu favor. Mas chegamos ao ponto de não queremos nós mesmos.

Não sabia o que ainda fazia em algum sobrado na Perry Street, tudo isso era para durar semanas. Mas bati o pé e fui embora com aquela cara de choro, sabia que ali era meu destino, minha cidade, eu nascera no lugar errado. Quando eu cheguei ao Brasil, tive a sorte de ainda estar no meu auge dos oito anos. Também tive a sorte de poder assistir muitos filmes da Audrey Hepburn e ver B tomando café nas escadarias do MET, obrigada, Netflix! Mamãe deixou claro:

– Você pode fazer essa porcaria de intercâmbio, mas não se esqueça da sua faculdade! Eu e seu pai não vamos aturar você e faculdades particulares – ela me dizia atentamente, quase lhe enforquei de emoção naquele dia.

Eu tinha feito toda uma rotina de esforços diários para cumprir pelo resto do ano inteiro: acordar cedo, vestir minhas meias quentinhas e trocar de roupas para ir a Stuy – minha escola que era muito perto de casa. Depois que saísse, iria para a Barneys – ver o que eu provavelmente não teria dinheiro para comprar, meus pais só mandavam uma quantidade X para a alimentação, coisas importantes e afins –, voltar para a casa e passar todo o resto da tarde estudando física. Em hipótese alguma eu pensei em sair por aí dando de garota dançante, porque eu não tinha nenhuma amiga a não ser minha host–sister, o nome dela era Emma, nessas nossas duas semanas de vida, ela já havia me dado alguns vestidos comprados em alguma loja no SoHo que eu estava usando quase todas as tardes.

Não podia me queixar em nada sobre minha família de duas semanas, foram receptivos, me deram um quarto legal no segundo andar com uma cama maravilhosa. Receberam–me com presentes: um celular novo, uma calça carvão Diesel e algumas voltas no Upper East Side no meu primeiro fim de semana.

Se eu pudesse dizer alguma coisa sobre Nova Iorque, com certeza seria: aqui, têm muitos GATOS! Das poucas voltas que dei no quarteirão até uma sorveteria que ia todos os dias, já vi garotos de todos os jeitos. Posso concluir que nenhum olhou para mim, mas estou ignorando essa hipótese de estar feia na cidade.

Na manhã do meu primeiro dia de aula, abri meus olhos e vesti minhas meias quentinhas. Já tinha arrumado minhas roupas desde que cheguei aqui, uma blusa com alguns desenhos abstratos e um cardigã amarelo de algum bazar, vesti a minha calça nova e olhando para o espelho, gostava do que via. Usei meu gloss sabor morango MAC, um rímel novo e um sorriso agradável. Nos meus pés, eram sapatilhas do Brasil, caíram perfeitamente bem com o resto da combinação.

Desci as escadas de madeira com segurança, parecia até ser outra pessoa. A Senhora Loveless sorriu a me ver, talvez, fosse a calça. Ela tinha um sotaque britânico que eu entendia muito pouco, a única palavra que eu consegui entender foi boa sorte, agradeci. Hoje, tínhamos panquecas, ovos e algo que não consegui identificar por estar queimado.

Nesse pouco espaço de tempo de Clarice Loveless, concluí que eles não sabiam cozinhar muito bem.

– Bom dia, Clarice! – Emma disse para mim, ela usava aqueles uniformes de colégios particulares de filmes.

– Bom dia – respondi.

– Você está gostando daqui? – Olhou nos meus olhos, eu acenei. Estava adorando, tirando o fato de não entender algumas coisas, algumas frases que soavam muito rápidas e afins. – O que você mais gosta daqui?

– Quinta Avenida, Tiffany.

– Qualquer dia, a gente pode tomar café lá – Sorriu, eu retribuí. Ela era a tal amiga que eu nunca tive. Mesmo assim, eu sentia falta das meninas e da nossa vida pacata em uma cidade pacata.

O nome da minha host–mom era Alice, só sabia que ela era britânica e tinha uma exposição de arte em alguns quarteirões daqui, seu marido se chamava Tony e já estava em outra. A filha dela, por outro lado, tinha um Instagram tão aberto que tive o prazer de fuçar e descobrir coisas de lá do Brasil. Eu adorava aquele casaco das fotos do inverno, e adorava o fato que estaria aqui no inverno.

Depois de fingir tomar meu café da amanhã, passei olhando todas as esquinas tentando encontrar alguém que seguiria o mesmo caminho que eu, era bastante gente, o pior era que ninguém ia para a Stuy. Estava começando a me desesperar, não sabia se ia para o caminho errado ou era pouca gente mesmo.

Ao chegar, olhei para aquela multidão multicolorida e cheia de roupas diferentes, multidões de estilos e almas que pareciam saltar por questões de vozes e tons. Não sabia o que fazia, se ia, se ficava, se tentava falar com alguém, ou sei lá. Olhei para os meus horários e só vi matérias bem chatas, como história e cálculo avançado, sérios problemas com biologia e uma oficina em esportes. Eu odiava qualquer esporte, mas era o que a maioria dos sites sobre intercâmbio diziam para fazer, preferi não me arriscar.

Coloquei meus cabelos atrás da orelha, enrolei uma mecha e respirei fundo. Não podia estar sozinha, provavelmente existiria alguém daqui que gostava de sóis, ou uma garota legal indie. O que eu faria? Hummmmmm... Enxerguei um grupo de garotas do meu lado esquerdo, elas eram o sonho de consumo americano de qualquer adolescente normal. Caminhei próximas a elas com um sorriso matador, meu deus, eu precisava dizer algo.

– Oi – A garota de cabelos loiros morango me encarou bem antes de falar algo. Eu me enrolei toda ao dizer meu nome.

– Hummm – sibilaram juntas, mas uma tomou a iniciativa de dizer o seu próprio. – Sophie, Sophie Collins. E essas são Jennifer – Apontou para uma garota baixa, e tecnicamente, com as roupas nos mesmos tons que o meu. – Lana, e Marie.

– Prazer – assenti.

– Então, Clarice, você vem de onde? – perguntou Lana, sorrindo.

– Pode ter certeza, sou de bem longe – respondi com um sorriso, elas me fuzilaram. Por sorte, o sinal bateu.

Estava salva, podia colocar o nome daquelas garotas na minha lista de coisas para evitar no meu ano escolar. Inclusos nesta lista estavam:

Evitar comer Fast Food

Evitar comprar coisas em excesso na Forever 21

Evitar não curtir meus dias aqui.

Então, anotava mais uma vez no caderno, isso em um dia:

EVITAR JENNIFER, LANA E MARIE!

Sim, eu tentei ressaltar com letras maiúsculas.

As pessoas estavam se evaporando para dentro daquela coisa imensa e cheia de tumultos. Nunca gostei de tumultos, sempre gostei de esperas e esperar chegadas, mas não gostava de assembleias de primeiro dia de aula e de estar excluída. Um cara testou o microfone e começou todo aquele discurso que não queria escutar.

Para a minha distração, olhei meu celular e tinha mensagens de Emma. Como uma garota que estava jogada numa mesa no refeitório, olhando para o Rio Hudson, a melhor solução seria responder as emergências de uma garota que parecia estar em um lugar melhor que eu – até um mendigo estava.

URGÊNCIA!! ALGM ME DIZ SE EXISTE ALGUM LUGAR PIOR QUE ESSA ESCOLA?

emmalovlss

8:23 AM

SIMMMMMMMM! A MINHA ESCOLA E UMA reuniao DE MERDA!

claaaricedlbna

8:25 AM

CLARIcEEE, eu não conheço ngm aqui, não tem ninguém da antiga escola

8:25 AM

é a mesma coisa de estar nos jogos vorazes e não ter ninguém para matar

8:26 AM

emmalovlss

Dei um sorrisinho de leve.

VOCÊ está me fazendo rir e têm umas garotas me olhando

8:27 AM

claaaricedlbna

No caso, as garotas eram o Artigo Quatro Do Código Penal Clarice. Meu Deus, por que estavam olhando tanto? Será que tinha derrubado água na minha blusa? O que eu mais odiava era estar num lugar e ser observada por garotas que provavelmente eram fúteis, e me tratariam mal. Ah, estava me esquecendo, aqui existem aquelas líderes de torcidas maléficas que não tiram o uniforme para nada. Clarice, acorde, você está no EUA!

– Temos o prazer muito grande recebermos diversos intercambistas, vão trombar com diversos nos corredores da nossa escola. Sejam receptivos.

não quero ficar aqui, nem sei o que estou fazendo aqui!

8:42 AM

claaaricedlbna

Estavam tocando músicas chatas, era o hino nacional ou alguma coisa assim, parecia ser a orquestra da escola. Minha mesa deixou de ser vazia quando uma garota se sentou comigo, ela usava uma blusa da banda Strokes.

– Oi – eu disse.

– Oi – respondeu sorridente – você é nova aqui?

– Dá para perceber?

– Eu também sou – Estava reparando em seu semblante alegre, ela tinha dentes muito bonitos, tão brancos que pareciam me cegar. – Mas tipo, uma turma da outra escola veio para cá comigo, até mesmo Sarah. Aliás, qual é seu nome?

– Clarice, e o seu?

– Bom, meu nome é Florence.

Ela começou a falar sobre seu nome e família, arrastou seu irmão, Brooklyn. Sua história era interessante: dragões, escolas particulares, Europa, filhos com nomes de lugares do mundo, Upper East Side. Começou a me contar sobre as garotas que tomam café na escadaria do MET, ela morava bem próxima. Estava me queixando o que ela estava fazendo aqui, será que a elite nova–iorquina é tão desgastante para se conviver todos os dias? Abri a boca para perguntar, mas só consegui dizer:

– Sou do Brasil – minha voz saiu trêmula. Eu sabia que tinha certos preconceitos com imigrantes, demorou a me responder.

– MEU DEUS! Ela é do Brasil – Ela berrou e apontou para mim, segurei o riso. Bem, minha máscara tinha caído. Depois, ela me abraçou. – Eu sempre quis ir lá! Onde você mora tem samba? – Fiz negativa. – Carnaval? – Afirmativa. – O ano todo? – Negativa. – Hummmmmm... Queria ir para São Paulo.

– Eu morava numa cidade vizinha, lá tinha muitas coisas, mas o trânsito era horrível!

– Nova Iorque, odeio!

– Eu estou adorando – acenei coma cabeça. – Eu ainda não andei muito por aqui.

– Qualquer dia, pegamos um táxi amarelo e saímos por aí!

– Claro! – Eu não sei por que fiz isso, mas abracei a garota. Ok, eu só havia a conhecido há alguns minutos, mas se fossem convertidos para situações momentâneas, seriam mais que meses! As coisas pareciam estar indo tão bem que mal podia acreditar.

Quando todas as festividades do começo de ano – festividades que digo, eram aquelas apresentações– eu e Florence olhamos nossos horários para ver se tínhamos alguma aula em comum, percebemos que só cálculo avançado, inglês, e esportes. Tudo bem, ainda nos faltava escolher as atividades extras curriculares fora ‘esportes’, então, podíamos passar mais tempo juntas. Eu não sabia muito bem como funcionava essa história de armários, só sabia que Florence tinha descolado um ao lado do dela.

Nossa primeira aula foi biologia, parecia que todo mundo já conhecia tudo muito bem e todos também. Por um segundo, pensei que ia desabar, por motivos óbvios de não ter ninguém para fazer minhas perguntas.

Se eu pudesse fazer uma apresentação sobre mim em uma linha seria a seguinte:

– Meu nome é Clarice, só sou boa em fórmulas de física.

Tudo bem, o papo era o seguinte: todo mundo tinha uma dupla, exceto euzinha, não queria mexer com sapos mesmo. Coloquei meu cabelo atrás da orelha, tentando parecer melhor do que estava. Não era o calor, mas eu estava me sentindo um pouco mal.

Ao olhar para a professora, me deparei com uma velha de aparência rabugenta. Tentei parecer uma garota inteligente, aquelas que as bajuladoras de plantão adoram. Eu acho que passei a impressão de intercambista burra, mas tudo bem, eu consegui sair para ir ao banheiro.

Os corredores da escola eram imensos, a escola em si parecia um grande shopping com aquelas escadas rolante, ou mesmo escadas normais. As garotas estavam vestidas para fazer compras na Chanel, suas maquiagens pareciam prontas para o circo. Agradeci aos céus por não ser dessas, mas olhando bem ao espelho, parecia simplória demais. Não, eu não vou começar uma descrição do quanto me acho feia, porque sei que exalo autoestima.

– Você é a garota do Brasil, não é? – Havia outra garota do outro lado do espelho com traços delicados e cabelos de dar inveja.

– Sim – respondi.

– Bom saber – Ela saiu do banheiro em seguida.

Clarice, você pode me dizer por que está tão nervosa?Volte para aula, largue esse celular!

Eu tirei uma selfie e mandei para as minhas amigas com a legenda: tédio. Elas responderam de imediato, palavras como: “Entediada, mas em NY”, “Esse rímel é novo? Q cílios são esses?” e “Quando você voltar, me empresta essa calça, bjs!”. Sorri e voltei para os corredores, não trombei com nenhum bonitão.

#bolada

No almoço, eu consegui finalmente pegar naquelas bandejas e desfrutar da sensação de não me misturar com os ‘populares’. Claro, eu tinha Florence e outra garota, Sarah – que tinha olhos rasgados e cara arredonda – sentadas numa mesa quase vazia, faltava gente. Estava de olhos fixos na minha maçã e meus sérios problemas em comê–la, eu não tinha fome à manhã toda e nem tinha agora.

– Você está olhando tanto e até agora não comeu nada – repararam as garotas.

– Calma, estou usando uma nova técnica para emagrecer. Depois de mentalizar, comemos.

Mordisquei um pequeno pedaço.

– Viram? Você tem que se concentrar, pois está matando calorias.

– Eu quero tentar – Florence começou esse processo com sua maçã. Tinha um garoto alto, magro de ombros estreitos e um par de covinhas fofas, atrás dela e perguntava:

– O que ela está fazendo? – Ele sorriu olhando para a maçã? Parecia mais pirado que ela.

– Ritual de queima calórica, você sabe, olhar para as comida fixamente e matá–las, pois são resistentes a facas – respondi.

– Cara, isso é meio pirado.

– Foi ela quem ensinou, B – Sarah respondeu com sorrisinho bobo.

– Opa! B? Seu nome é Blair? – brinquei.

– Sinto muito lhe informar, mas sou Brooklyn, o irmão dessa peça aqui – Talvez fosse algo de família, apontar para as pessoas. – E você é...

– Clarice Alguma Coisa, não gosto do meu sobrenome.

– Tudo bem, e essa é Sarah – Ele a abraçou e deu um beijo na bochecha, sentando–se ao seu lado. Eles pareciam ser um casal todo fofinho.

– Cale a boca, Brooklyn! – ela berrou e eu dei risada, eu já sentia falta do Brasil por sentir falta das minhas amigas–irmãs, e de nossas brigas infinitas por roupas. – Tudo bem, Clarice. Agora, o que eu faço?

– Coma.

– Eu preciso estar magra para a festa do segundo ano – dizia. – Se eu comer mais da conta e continuar fazendo isso, ainda, faz efeito?

– Sim.

Pensei que ela iria quebrar o prato ou lambê–lo, comeu tudo tão rápido que gostaria de saber para onde ia tanta comida. Brooklyn estava de olhos pregados na sua irmã e eu estava em seus cabelos sujos e compridos, ele parecia um cantor de rock britânico.

– Quem disse que você foi convidada, Florence?

– Eu mesma. É claro, eu tenho você.

– Não vou passar penetra – rebateu.

– Eu sou sua irmã, qual é!

– Vou ver se posso fazer algo, mas não confie em mim – Ele saiu da mesa com cara fechada e foi falar com uns rapazes com estilos peculiares.

– Quem sabe algum dia, Florence – Sarah disse com voz meiga, segurando suas mãos.


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