Laissez-aller escrita por Eckl


Capítulo 1
Davi


Notas iniciais do capítulo

Bom, o primeiro capítulo. Cada capítulo terá o nome da personagem na qual será focado. Os primeiros capítulos serão introdutórios, ou seja, o foco principal é apresentar as personagens e seus problemas e aflições.É a primeira vez que escrevo uma fic nesse estilo. Geralmente faço slash pura e simples, mas resolvi me aventurar no mundo do drama adolescente. Tentarei postar um capítulo por semana. Se os comentários forem bons, posto mais.Para mais detalhes a respeito dessa fan fiction, acesse o tumblr oficial: http://ecklsplace.tumblr.com/ Enjoy!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/629393/chapter/1

Era ainda nove da noite, mas a casa dos Rabinovich já retumbava com a música alta. Pernas e corpos se entredançavam conforme a batida eletrônica invadia os jovens tímpanos dos presentes. O anfitrião, Davi, andarilhava todo prosa por lá e acolá com petiscos, bebidas e o que mais fosse que os adolescentes ali quisessem. A garagem era grande e os carros que ali viviam não lá estavam, tal como os pais do rapaz, que trabalhavam em todo o país. O judeu incorpora o típico garoto da elite paulistana: rico, sem apreensões, inconsequente. Há algumas latinhas de cerveja, a preocupação com as posses ainda se fazia presente, mas agora tudo vibrava em ondas alucinadas.

O ambiente parecia ficar mais escuro e mais intenso a cada tute da trilha da festa. Os pés já não mais se concerniam com o ritmo, queriam só se mover, só jogar energia fora. O cheiro nicotizado de marijuana era bem-vindo em quase todas as narinas e o álcool era saboreado de boca em boca por quem quer que desejasse. Os dançantes dali eram todos adolescentes, eram todos menores de idade, todos irregulares. No meio da improvisada pista, um emaranhado de braços e bocas femininas aprisionava o rapaz atlético que se atrapalhava nos beijos e não mais sabia se os recebia ou se os dava. Num canto menos barulhento, dois rapazes se abraçavam carinhosamente e se deixavam levar pelo afago um do outro. Um loiro se sentava por demais largado em um espaço qualquer exalando muita fumaça enquanto conversava com interlocutores invisíveis. A morena que não bebe e nem fuma observava tudo muito atenta e seus olhos varriam cada centímetro do lugar como que a procura de alguém, ao identificar um moço com cara de tédio que tinha uma garota qualquer pendurada em seu pescoço, andou até ele e fez sua voz ser ouvida mesmo com todo aquele barulho.

— Paulo, cadê a Marcelina? – Alícia indagara. – Já procurei muito, mas não acho ela.

— Ela não quis vir. – Respondeu Paulo quase que insolente sem nem desviar o olhar.

— E ela ficou sozinha?

— Quando eu saí a empregada ainda estava lá. – O rapaz finalmente olhou para Alícia. Desvencilhou-se da menina que se agarrava a ele e tirou dum bolso da calça um molho de chaves. – Vai lá. Talvez ela goste de te ver. – E atirou as chaves para a morena, que as apanhou no ar e se virou nos calcanhares para sair, mas não sem antes um gesto de desaprovação.

Carregando uma garrafa de vodca em uma mão e Maria Joaquina na outra, Cirilo apareceu todo sorrisos e gracejos. Agora os Cuecas Sobreviventes estavam todos ali. A namorada do moreno, como de costume, pisava em ovos ao andar e olhava os desconhecidos de esguelha e com os lábios tão retorcidos que ela mais parecia sentir dor a repulsa.

— E ai, Davi! – Cumprimentou o amigo com o ritmado clape-clape de sempre.

— Wow! Vodca de verdade! – Disse o judeu apreciando a bebida engarrafada. – O Paulo trouxe uma merdinha brasileira qualquer que não derruba ninguém. – Riu do próprio comentário. – Mas pelo menos a coisa boa toda é ele que fornece.

— Cadê a Valéria, Davi? – Maria Joaquina perguntou varrendo o local com o olhar a procura da amiga. – Vocês estão sempre tão grudados.

— Como se você largasse o Cirilo, né Chatonilda. Tá agarrada no braço dele como se fosse um macaco. – Davi respondeu despretensiosamente. – E a Val tá lá na varanda do meu quarto. Ela falou alguma coisa sobre a música tá muito alta, sei lá. Eu acho que fiz alguma coisa, mas não faço ideia do quê.

— Lilo, vou lá ver o que é que ela tem. Se a Carmem resolver vir, diz pra ela ir pra lá também, tá. – Maria Joaquina avisou ao namorado e se despediu com um beijo.

— Chega ai, bro! – Davi chamou o amigo e o guiou até um canto onde havia uma caixa com bebidas e gelo. – Tem uma caipirinha aqui que nem parece ser industrial. Deliciosa demais, meu.

— Aquele ali no meio daquelas meninas é o Jaime? – Perguntou Cirilo a Davi apontando para o embolado de corpos no meio da pista.

— E quem mais seria? – Essa foi a resposta. – Tó. Experimenta ai.

Quase instantaneamente, Jaime se aproximou. Sozinho. Bochechas, lábios, queixo e testa manchados de diversas cores. Respiração ainda ofegante e sorriso satisfeito. A gola da camisa polo estava desmazelada e os botões já não mais entrariam em suas casas. Os braços arranhados e o pescoço era uma confusão de chupões que brigavam por espaço tais quais as garotas que os fizeram. Davi e Cirilo o encararam com típicos olhares que significavam algo entre a surpresa e a banalidade, já que Jaime era sempre o centro das atenções femininas nas house parties. Reunidos, os Cuecas Sobreviventes clapearam todos juntos a saudação do clube.

— Um pouco de diversão nunca matou ninguém. O Jaime leva isso muito ao pé da letra, né não? – Comentou o anfitrião com Cirilo, que sorriu abertamente depois de bebericar sua caipirinha.

— Cala a boca e passa a cerveja. – Pediu Jaime. – Não sei por que merda o Davi gosta tanto de Brahma. Essa cerveja é ruim pra cacete. Daqui a pouco vai querer beber cerveja sem álcool. – Falou o rapaz depois de dar uns goles.

— Não é uma má ideia. – Sugeriu Cirilo.

— Boa ideia? Tá de zoa, né? Mano, cerveja sem álcool é a mesma coisa que trepada sem gozada! – Jaime reclamou antes de beber mais de sua bebida.

— E tu já trepou sem gozar? – Caçoou Davi.

— Pra lá! Aqui é Jaime Palillo, mano. Não tem essa, não. Comigo é satisfação garantida.

— Claro! – Troçou, dessa vez, Cirilo.

— Qual foi, Cirilo? – Jaime sorriu de braços abertos para o amigo. – Eu acho que você já tá nessa de Maria Chatonilda há tanto tempo que tá ficando muito acomodado. Tudo tá bom, tudo de boa.

— Esse daqui já nasceu com essa fixação de Maria Joaquina. Vai morrer com ela. – O amigo judeu debochou antes de virar uma garrafa da tal caipirinha.

— Sério, brother? Porque que eu saiba, você tá com a Valéria há um tampão também. E desde que eu te conheço você é afim dela. E vocês namoram desde a Mundial. Eu e a Maria começamos bem depois.

— Qual é? A Val... – Davi foi interrompido por uma garota ruiva qualquer que lhe avisou que um “carinha aleatório” estaria vomitando na cozinha. O judeu correu com a tal menina até o cômodo, mas ninguém estava vomitando em nada. – Qual é a tua... – Interrompido mais uma vez pela mesma garota, agora sem o vestido vermelho que usava. O sutiã preto com enchimento ornava bem com a calcinha branca de bolinhas escuras. No rosto dela, um sorrisinho provocante dançava bonito. Em passos lentos ela se aproximou e encostou corpo em corpo. Uma das mãos dela guiou uma das dele até uma de suas nádegas parcialmente expostas. A outra mão, levada toda, se colocou estrategicamente sobre a virilha do moço. Safada, ela assoprou uma brisa no pescoço de Davi, que se arrepiou e deixou escapar um leve som que estava escalado entre um fôlego e um gemido. Os dedos dele na bunda dela se fecharam um pouco, assim como a mão da adolescente ao perceber o que aquele crescimento queria dizer.

Uma mordidela na orelha e um beijo no pescoço depois, Davi se desvencilhou da ruiva, apanhou o vestido e entregou a ela. Confuso, alto pelo álcool e excitado, o menino quase se deixara levar pelo desejo. Pediu para que ela saísse da sala e se desculpou enquanto ela colocava o vestido no corpo novamente. Já na porta, Davi a chamou.

— Cara, tu sabe que eu tenho namorada. Qual é a tua? Tá querendo me foder?

— Era pra ser o contrário, mas acho que você é idiota demais pra isso. – A ruiva debochou descaradamente do anfitrião.

— Tu fumou o quê, cara? – Davi estava completamente vermelho. – Quer saber, vaza da minha festa. Vaza logo, vadia! E sai pela porta de trás. – Saiu da cozinha depois de encarar a garota com olhos furiosos. Do lado de fora, encarou a porta e a socou. “Que merda foi essa?” Mas virou-se de supetão quando ouviu uma voz familiar lhe chamar.

— Davi? O que houve? – Perguntou Valéria ao ver o namorado socando a porta sem motivo aparente. O rubor e a expressão não ajudaram o garoto. – Quê que você tava fazendo ai? Porque você tá assim todo estranho?

— Eu? Nada não. – A voz saiu trêmula demais. – Era só uma garota que queria vomitar na cozinha. Mas eu mandei ela pra fora. – Desculpa pífia. Agora estava completamente denunciado. – Por que não vem dançar comigo? O Paulo trouxe umas paradas bem maneiras. – Desconversou.

— Não sei por que motivo, mas não tá colando essa sua conversa. – Disse a loira enquanto ambos se encaminhavam de volta à garagem, onde a festa acontecia.

— Relaxa, Val. – Os braços se apertaram em volta da cintura de Valéria. – Quando foi que eu menti pra você?

Ela se contentou e apenas sorriu. Na pista, abraçados, eles dançavam animados quando a tal garota ruiva se dirigiu até eles e perguntou ao garoto se a bunda dela era macia o suficiente para o gosto dele. A expressão que repentinamente tomou conta do rosto de Valéria já contava o que iria acontecer.

— O que foi que essa vadia disse, Davi?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que acharam? Como de costume, comentem suas opiniões. Respeito é sempre bom. Não esqueçam de visitar o tumblr oficial: http://ecklsplace.tumblr.com/ Enfim, até a próxima.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Laissez-aller" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.