(-Nicohlas-)

Guiada pelo pai, ela veio em minha direção. Quanto mais ela se aproximava, maior era a vontade de correr dali. Olhei para a minha esquerda, onde estavam meus pais. Mamãe deu um sorriso forçado e inclinou a cabeça, ela fazia isso quando queria me dizer ‘’ Vai dar tudo certo!’’. Papai arqueou as sobrancelhas... eu sabia bem o porquê ele fazia isso, geralmente quando via um carro caro e luxuoso, ou... quando queria chamar a minha atenção para mulheres bonitas. Eu apenas revirei discretamente os olhos.
Quando voltei a olhar à minha frente, Gabryella estava a poucos passos de distância.
Carlos Medssey me deu um ‘’ tapinha no ombro’’ e me entregou sua filha. Respirei fundo. Ela hesitou um pouco antes de passar seu braço no meu e assim viramos para que a cerimônia começasse.
Eu não prestei muita atenção no que aquele velho falou, só algumas palavras como amor eterno e fidelidade. A aguada ao meu lado parecia tão dispersa quanto eu.
[...]
Depois de muita falação chegou a hora da troca de alianças. Eu não fiz toda aquela coisa de beijar a mão dela, minha mãe deve ter ficado furiosa, ela me treinou a fazer isso a semana toda. A minha ‘’ quase esposa’’ também não fez nada disso. Fomos obrigados a ficar frente a frente, mas evitamos contato visual durante esse processo.
O velho (padre/juiz) falou as palavras finais ‘’ Eu vos declaro, marido e mulher!’’. É isso aí, agora é oficial, estou casado com Gabryella Medssey. Pelo menos ela também estava sofrendo com isso.
Já estava prestes a assinar o papel quando um imbecil, que tem a voz muito parecida com a do meu amigo Jacob –só espero que não tenha sido ele- gritou:
–Não vai beijar a noiva?
Pronto! Agora todos estão pedindo beijo. Eu mato esse desgraçado!
Olhei para a garota a minha frente. Seus olhos encontraram os meus, eu pude ver neles o mesmo pânico que estava em mim.
Aproximei meu rosto do dela e beijei... seu rosto. Pude ouvir ela soltar a respiração aliviada.
Eu não podia de modo algum beijar os lábios dela. Tanto por mim... quanto por ela. Não que eu me importe com o que ela pensa ou sente. Eu nunca vou beijar Gabryella Medssey, pra isso acontecer eu tenho que ficar louco ou muiiito bêbado, e ainda assim ela vai ter que pedir.
Mamãe disfarçou as coisas dizendo que somos um casal ‘’tímido’’ .
[...]
Sentamos em uma mesa comprida com seis lugares. Eu e a ‘’noiva’’ ficamos no centro, ao meu lado estavam meus pais e ao lado dela, meu ‘sogro’ e minha ‘sogra’ . Serviram algumas bebidas e doces. Gabryella parecia nervosa, presumi isso por ela não parar de comer um doce –que eu imagino que seja brigadeiro ou algo com chocolate.
Meu pai tentou melhorar as coisas fazendo piadinhas sem graça.
Pai: -Ei, norinha! Se continuar comendo assim...quando sair daqui vão achar que você já está gravida antes mesmo da lua-de-mel!
Todos da mesa riram. Menos eu... e a minha ‘mulherzinha’. Ela largou o doce na mesa e tomou a taça de champanhe em apenas uma golada.
Eu precisava relaxar. Infelizmente não serviram uísque, nem vodka... E mesmo que servissem eu não beberia na frente do meu pai. Tive que ficar no vinho e no champanhe. Bebi umas três taças de cada. Mas ainda não estava relaxado o suficiente.
A garota ao meu lado não tinha dito uma palavra, nem sequer olhado pra mim... até que ela resolveu abrir aquela maldita boca:
Gabryella: -Daqui a pouco vai estar caindo por aí de tão bêbado! –disse quase em um sussurro.
Eu fixei meu olhar nela e arqueei as sobrancelhas.
Gabryella: -Te aturar já não é fácil, imagina bêbado! –agora ela falou em bom tom.
Eu ia revidar. Mas a mãe dela foi mais rápida:
Clara: -Filha!!... Pelo amor de Deus, não crie conflitos. Pelo menos não aqui!
Gabryella: -Eu estou cansada de ficar rindo falsamente e fingindo que esse é o dia mais feliz da minha vida!- Nisso eu concordo com ela.
Mãe:-Tudo bem ,Clara! Ela tem razão! Nicohlas já bebeu demais! –ótimo, agora ela vai me dar sermão. –Filho, o que as pessoas vão pensar? Que você, aos 18 anos, já é um alcoólatra ?
Eu:-Estou me lixando para oque eles vão pensar.. Cansei disso aqui! Vou dar uma volta!
Levantei e fui andar por aí. Qualquer lugar é melhor do que aqui. Pude ouvir mamãe me chamando, mas ignorei.
Peguei o copo de uma bandeja de um garçom que passou por mim. Levei o copo a boca... Ah! Guaraná! Um outro garçom passou por mim, abandonei o copo na bandeja dele.
Encontrei um jardim qualquer e me sentei em um banco de madeira branca.
–Enfim te encontrei!
Me virei e vi Jacob com um sorriso assustador e um copo na mão.
Jacob: -Parabéns pelo seu casamento, amigo! –que tom debochado é esse?!
Eu: -Oque você está bebendo? –perguntei assim que ele sentou ao meu lado.
Jacob: -Uísque!
Eu: -Como você conseguiu uísque? Eu sou o noivo e só me serviram vinho e champanhe!
Jacob: -Um velhinho que sentou do meu lado. Ele disse que casamentos são entediantes, por isso sempre traz uma garrafa de uísque!
Roubei o copo das mãos dele e tomei metade da bebida.
Jacob: -Eai? Ta ansioso pra lua-de-mel?
Eu: -Que lua-de-mel, cara?! Eu já disse que são apenas negócios!
Jacob: -Eu imaginei que não teria lua-de-mel! Vocês não deram nenhum beijinho. Imagina...
Eu: -Foi você que gritou né? Eu sabia! Vai ter volta Jack, pode esperar!
Jacob: -Qual é?! Eu só tava querendo esquentar as coisas. A ideia foi do velhinho que trouxe uísque!
Ficamos um tempo em silêncio, apenas ouvindo as pessoas que conversavam e riam animadamente.
Jacob: -Ah.. Me esqueci de dizer que sua mãe tava te procurando. Pareceu ser importante!
Saco! Tomei o resto da bebida e devolvi o copo á ele.
Jacob: -Agora você me devolve né, o copo já ta vazio!
[...]
Quando voltei para á mesa, só estavam Gabryella e uma jornalista. Fala sério, até jornalista tem nesse casamento?!
Me aproximei e percebi que estava entrevistando ela, mas ela não me pareceu nada contente com isso. Só pode ser coisa da Dona Minha Mãe. Cheguei mais perto pra ouvir oque falavam:
Jornalista: -Me conta uma coisa: Como é o beijo dele? Vocês provavelmente já se beijaram né?
A Gabyzinha ficou tão vermelha e desconcertada que eu não pude deixar de sorrir.
Gabryella: -Sim... Claro... Nós já nos beijamos!
Jornalista: -É como é? Ele beija bem?
Ela ficou ainda mais vermelha, mas de raiva!
Gabryella: -Eu acho que isso é muito pessoal, mas tudo bem, se você quer saber ele beija bem, muuuito bem. É apaixonante!
Infelizmente a jornalista me viu e eu fui obrigado a ir até lá e me sentar do lado da minha querida esposa.
Jornalista: -E oque você mais gosta nele?
Gabryella: -Tudo! Ele se supera a cada dia!
Jornalista: -Não seja tímida! Aqui, agora. Olhe nos olhos dele e diga oque você mais gosta nele, as qualidades, as característica. Vamos! Não precisa ter vergonha!
Eu ri internamente com essa situação. Ela realmente só está se ferrando com essa jornalista.
Ela respirou fundo, fixou seus olhos nos meus:
Gabryella: -Ele é o cara mais lindo e inteligente que eu já conheci. Esses olhos escuros são o meu ponto mais fraco. Eu poderia ficar olhando pra elas a minha vida toda. O senso de humor dele é a coisa mais agradável do mundo. Eu nunca fico entediada perto dele. –Ela desviou seus olhos dos meus nem por um segundo, e eu também não ousei desviar os meus. Ouvindo tudo isso e olhando nesses olhos claros... eu até poderia me apaixonar, talvez se ela fosse outra garota e eu não a odiasse. Mas ela é Gabryella Medssey, e me odeia tanto quanto eu.- Satisfeita? –perguntou para jornalista, finalmente desviando o olhar de mim.
Jornalista: -Muito! –Serio? A mulher estava com os olhos cheios de lágrimas. Que sentimental!-Sua vez!
Oque?! Eu não vou fazer isso! Não mesmo, é constrangedor. Ela se prestou a isso, mas eu não!
Jornalista: -Vamos! Ela falou coisas tão lindas á você. Vai ficar muito feio se você não retribuir. Não seja covarde! – Agora ela mexeu comigo! Covarde já é exagero. Eu consigo fazer isso! Não deve ser difícil.
Virei meu rosto e encarei aqueles olhos azuis. Mas o que eu posso dizer pra alguém como ela. Já sei!
Eu: -Bom, a Gaby –ela franziu um pouco as sobrancelhas ao ouvir seu apelido em minha boca –ela é simplesmente a pessoa mais inteligente que eu conheço, sempre determinada e gentil, capaz de ajudar todos mesmo no momento que ela é a que mais precisa de ajuda. Oque eu mais gosto nela, além desses olhos indecifráveis, é o sorriso verdadeiro. Quando ela sorri de verdade ela fica radiante!
Ela ficou bem surpresa com tudo que eu falei. Até eu fiquei surpreso. Nunca pensei que fosse dizer isso á alguém, mesmo sendo de mentira.
Depois de secar suas inúmera lágrimas, a mulher pediu par tirar uma foto nossa. Me mandou abraça-la mas eu passei meu braço em volta da cadeira, de modo que realmente parecia que estávamos abraçados.
Depois que a jornalista foi embora o clima ficou meio estranho. Eu sabia que tudo que ela falou era apenas encenação, e ela também. Mas não ousamos nos olhar. Ela voltou a comer o doce de antes e comecei a beber refrigerante (mamãe proibiu de me servirem mais vinho).
Nossos pais voltaram e se sentaram conosco. Depois tivemos que ir até a mesa onde estava o bolo para tirar fotos. Voltamos para a primeira mesa e serviram o bolo.
Os convidados começaram a ir embora. E por fim só ficou eu, meus pais, os pais da minha ‘esposa querida’ e a própria.
Carlos: -É. Foi cansativo!
Clara: -Eu tenho que confessar uma coisa: Fiquei emocionada quando vi você entrando com nossa filha toda linda!
Mãe: -Sim, você está muito linda Gaby!
Pai: -Com certeza a noiva mais linda que eu já vi. Depois da minha esposa, é claro! (risos).
Clara: -Eu sempre sonhei com o momento que minha filha se casaria.
Gabryella não dizia nada. Estava com o olhar fixo no nada. Do nada ela levantou e foi em direção ao jardim onde estive mais cedo.