Respiro fundo mais uma vez, balançando a cabeça e meu nariz queima de forma incomoda enquanto tento prender o choro. Minha garganta é tomada por um nó e meus olhos também queimam enquanto as lágrimas batalham dentro de mim. O encaro nos olhos e ele devolve meu olhar com dúvida. Com aqueles olhos duvidosos várias cenas voltam a minha cabeça como um turbilhão. Sorrisos, carícias, abraços, risadas… Beijos.

— Eu não posso. — sussurro respirando fundo e piscando algumas vezes para pelo menos me sentir orgulhosa de não ter derramado uma lágrima. Ele dá um passo a frente e eu estendo minhas palmas, tentando o impedir de se aproximar. Ele saberia exatamente o que fazer pra me convencer a ficar — Não.

— Lia… — ele murmura franzindo a testa como sempre faz quando tem um grande problema diante de seus olhos. Me amaldiçôo mentalmente por o conhecer tão bem e por tornar tudo ainda mais difícil. Fecho os olhos por dois segundos e respiro fundo quando os abro de novo. Ele me encara como se doesse olhar meu rosto e abaixo o olhar para meus pés. O ouço dar um passo a frente e instintivamente dou um para trás.

— Não. — repito balançando a cabeça e reúno todas as minhas forças para encarar seus olhos amendoados com seriedade. Os momentos em que passei observando seus olhos para tentar descobrir a verdadeira cor me tomam a mente e por um momento perco o ar, sentindo a dor me dilacerar por dentro. — Por favor, não torne isso mais difícil. — Para minha surpresa minha voz soa fria, indiferente e em parte isso me alivia. Meu corpo infla com a força reunida e um tremor me percorre quando o vejo fechar os olhos e respirar fundo trincando o maxilar. Liam respira fundo três vezes, fechando as mãos em punho e quando abre os olhos mais uma vez vejo uma raiva inesperada em seus olhos.

— Então vá. — ele diz levando as mãos aos cabelos cacheados e enterrando os dedos nos fios. Assinto devagar e pego minha mochila na poltrona. Me viro para caminhar até a porta do galpão e quando toco a maçaneta paro. Franzo a testa e me viro para ele de novo, mas dessa vez ele se encontra de costas, com a testa pressionada contra a parede. Uma onda de coragem leva minha dor embora e dou uma risada baixa e irônica que faz ele virar o rosto para mim com uma expressão incrédula e consigo enxergar um fiasco de esperança. Como se eu fosse começar a rir e dizer “Primeiro de Abril adiantado!”, ou “Você caiu direitinho!”.

— Nunca, Liam, nunca se esqueça do porquê de tudo isso. — falo alto o suficiente para que ele me ouça e dou um sorriso machucado — Nunca se esqueça de mim, nem do porquê eu fui embora. Nunca se esqueça de que você é o culpado. — Minha voz treme um pouco no final e abro a porta antes de conseguir olhar nos olhos dele mais uma vez. Assim que eu saio do galpão, meu rosto é tomado pela chuva que ruge entre os prédios e o ar me falta enquanto as lágrimas desabam de meus olhos assim como as gotas geladas das nuvens. Soluços balançam meu corpo e ajeito o cachecol no pescoço, colocando a mão na boca para me fazer parar.

Naquele dia, o céu chorou comigo. E no outro também. Chorou comigo por uma semana inteira. A lua também não apareceu. Talvez porque fosse amor de verdade e eles precisassem lamentar a perda de uma boa história. Parte de mim orava todas as noites para que no dia seguinte ele aparecesse com aquele sorriso de dentes certinhos e a outra parte dava um tapa na cara da outra parte. Por fim, a parte agressiva venceu. Daquela semana em diante, nunca mais ouvi falar de Liam Parker.