No Universo de Anna escrita por Red Queen


Capítulo 8
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!
BOA LEITURA!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/629077/chapter/8

“ As criaturas de for a olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já era impossível distinguir quem era homem, quem era porco.”, termino enfim de citar os trechos mais importantes do paradidático, A Revolução dos Bichos.

Olho para o Rafael esperando uma reação. Mas não consigo detectar nenhuma.

Reviro os olhos.

“Então?”, digo meio irritada porém com a voz baixa porque estávamos na biblioteca.

“É uma história bem louca não?”, ele diz sorrindo.

“Só isso que tem pra dizer”, digo tentando controlar minha raiva.

“ E que você fica mais linda quando está zangada. Tudo bem. Desculpa”, ele fala olhando para as suas anotações ele procura algum fato para começar a falar o quê eu queria ouvir. O quê ele tinha aprendido, “É uma granja que tem o Tirano Sr. Jones como o Dono. Ele trata mal os animais, não os alimentados na hora certa essas coisas. E então os animais se revoltam tipo ‘ Quatro patas bom, duas ruim’. Então eles fazem uma revolução expulsando o Jones da fazenda e eles decidem viver de uma forma socialista não é?”

“Isso mesmo! Está chegando no que realmente importa! Continue!”, digo sorrindo. Eu realmente fiquei animada dele ter conseguido ver, o que eu estava mostrando pra ele à mais de uma hora.

“Todos os animais se cooperando. Todos iguais na fazenda e tal. Até que chegam os porcos que eram os mais inteligentes. Tem o Bola de neve e o Napoleão. O Bola de Neve vivia fazendo planos para tornar a fazenda um lugar confortável para todos os animais...”

“Não precisa fazer uma resenha do livro Rafael. Apenas a parte histórica!”, digo tentando não soar antipático ou rude.

“E como vou saber o quê importa?”, ele diz franzindo o cenho.

“A PARTE HISTÓRICA RAFAEL! ISSO QUE IMPORTA! É o paradidático de história, logo é sobre história que importa e não como o livro é escrito ou seu estilo literário. História! Não português ou literatura!”, digo como se fosse obvio. E é, pelo menos pra mim.

Ele pareceu magoado quando digo isso. Ele abaixa a cabeça e continua.

“Estamos estudando as Revoluções Russas, e tem há ver com socialismo. Na verdade é uma sátira da União Soviética. Onde o Velho Major é Lenin, Napoleão é o Stalin e o Bola de Neve Trotsky. Bola de Neve e Napoleão eram adversários políticos tinham ideias diferentes. E assim como Stalin o Napoleão perseguia cruelmente os seus adversários, o exilando ou os matando. E no livro, o Napoleão cria uma matilha de cães adestrados para matar, acho que isso representa o exercito de Stalin.”

“ Você está indo muito bem. E não se esqueça que o partido “Animalista”, que é o nome do partido criado no livro que é uma parodia do comunismo, pregava a igualdade de direitos e deveres para todos. Mas isso não era seguido nenhum pouquinho. Já que os outros animais da fazenda não tinham a liberdade de pensar ou de dizer o quê queria, assim como na época stalinista.”, digo anotando uma frase do livro em meio minhas anotações.

“E também uma observação interessante é que como os animais expulsaram o Sr. Jone, ou seja, o ser humano que era o era o repressor e tirano dos animais foi banido. E eles esperavam que juntos podiam todos os animais podiam viver felizes. Mas eles jamais poderiam esperar que a tirania podia sair de outro animal, os porcos, que no final se mostraram piores que os seres humanos. Apenas eram os porcos que tinham direito. E que a velha frase ‘Todos os animais são iguais’ ficou meio de uma distopia. E os porcos à substituíram por ‘Todos os bichos são iguais, mas alguns bichos são mais iguais que outros’.”, ele diz entusiasmado.

“Exato. Eles nunca acharam que um bicho iria ser tirano com outro. Mas os porcos se mostraram muito malvados. E alguns bichos nem sequer notavam! O quê podemos tirar da Revolução Russa daí?”

“Que Stalin foi um porco com a população russa”, ele diz rindo.

Sorrio. Isso até que foi verdade.

“É sério. Continua. Está se saindo bem”, digo fazendo um gesto para ele prosseguir.

“Stalin um russo, digo russo porque estou tentando associar com o paradidático. Stalin um russo se torna um tirano com os próprios russos, como Napoleão foi com os outros animais. Stalin formou um governo totalitário, onde a liberdade não existia. Logo ele, que devia defender a União Soviética dos outros países, mas não, ele era cruel com todos. Acho que é isso”

“Mais ou menos. Está se saindo bem”

“ Mais ou menos? Você não pega leve não é? Você é bem exigente.”

“ Claro que sou. Quer fazer uma pausa?”, digo levantando da cadeira e guardando os livros e cadernos na mochila.

“Claro, por favor. Já ia dar a ideia.”, ele diz guardando o caderno na mochila também. “Não é pra menos que você foi a primeira da classe no ano passado”

“Isso foi à muito tempo. Vamos”, digo tentando desviar rapidamente de assunto.

Ele se lembrava que eu tinha sido a primeira da classe... Isso é tão estranho.

“Anna eu ainda não agradeci. Valeu mesmo. Estou ferradão em história. Sério, muito obrigado.”

“ Tudo bem. A prova é amanhã e você precisa de nota. Fico feliz que eu tenha ajudado”

“É legal saber que você além de bonita é inteligente. Aliás também não é chata como eu achava”

“Valeu viu. Chata?”, digo dando um soquinho no ombro dele.

“Desculpa.”, ele diz esfregando o pescoço enquanto entravamos na pequena fila que tinha no caixa da cantina, “Não era pra ofender. É que você raramente sorri, e muitas vezes é áspera nas suas palavras. Achava que era uma nerd metida à besta”, ele diz envergonhado, e nem um segundo ele conseguiu me encarar.

“Tudo bem. Eu não sou boa em primeiras, segundas ou terceiras impressões. Eu não consigo evitar expressar oque realmente acho. Já leu Orgulho e Preconceito? Fala sobre o julgamento das primeiras impressões e como isso é uma grande mentira. Não existe primeiras impressões! Devia ler...”

“ Eu não gosto muito de ler....”, ele diz envergonhado enfiando as mãos nos bolsos do cacaso.

“Eu percebi”, digo sorrindo.

“Tem o filme?”, ele fala com um fiozinho de esperança procurando fugir do assunto ‘RAFAEL LEITOR’

“Tem sim. Não tem o mesmo aproveitamento que a leitura mas, é um ótimo filme. E também tem a minissérie!”, falo enquanto me lembrava, “É meio antiguinha, mas é ótima! Tem no You tube ela completa.”

“Vou pesquisar” , ele diz enquanto me olhava tirar o dinheiro do bolso da minha bolsinha de moedas.

Somos os próximos da fila.

“Dois pães de queijo e duas latinha de refrigerante”, ele olha pra mim, “Você toma refri?”

“Bebo sim, mas não precisa pagar o meu lanche”, respondo meio sem jeito.

“Então duas latinhas”, ele completa. O cara do caixa entrega duas fichas para ele. Guardo meu dinheiro.

“Sério, não precisava” ,digo caminhando para o balcão.

“ Sei que não. Mas é o mínimo que posso fazer. Interprete isso como uma forma de me redimir. Te devo uma”

“Não faço coisas por troca. Não deve nada, gosto de ser útil”

“Você foi muito”

Ele pega os pães de queijo e as latinhas. Caminhamos para a mesa e puxamos nossas cadeiras para sentar.

Por um longo tempo trocamos apenas ideias do livro A Revolução dos Bichos. Mas depois disso se seguiu um silencio cortante.

“Qual é o seu lance com astronomia?”, ele diz quebrando o gelo.

“Esse assunto de novo?”, digo irritada.

“Vamos falar sério Anna.”

“Eu falo muito sério quando digo que não gosto de falar disso com você”

“Então o problema sou eu?”

“Não! O problema é em mim. Falo disso apenas com poucas pessoas. Tipo o João e a Micaela, só. E olha que são os meus melhores amigo”

“É que você sempre fica irritada quando fala disso e tal”

“Desde pequena eu queria ser astrônoma. Desde que eu era bem pequenininha. Alguns sonham em ser médico, bombeiro ou astronauta. Mas eu queria ser astrônoma!” , meu olhos brilham. Me sinto completamente excitada quando falo disso, “Sempre o Universo me fascinou. Eu me identifico com ele. O modo como ele é inexplicável. O modo como ele é extraordinário! As nebulosas, buracos negros. A física é perfeita! Mas...”

“Mas?”, ele diz envolvido com a minha explicação.

“ Mas astronomia não é uma carreira fácil, meu caro Watson”, digo imitando a fala do Sherlock, “Principalmente aqui no Brasil. Na verdade eu queria trabalhar na NASA. Mas quais as chances? Eu nunca conseguiria. Para iniciar a carreira eu preciso fazer cinco anos de física, e várias especializações em astronomia, entende? Então eu desisti.”

“E quando você tomou essa decisão?”, ele pergunta sério.

“Há três anos atrás, sabe?”, digo tomando um gole do refrigerante.

“E você decidiu isso sozinha?”

“Na verdade não. Meu pai não apoiava isso. Dizia que essa carreira não dá dinheiro e não é promissora”

“Ela é promissora sim. Sabe quantas infinitas coisas do universo o ser humano ainda não descobriu? Mas percebi que o dinheiro conta...”

“Claro que conta, Rafael. Vou viver de vento?”, digo indignada.

“Isso não é mais sobre astronomia. Sei que é clichê e tal mas eu vi isso em um filme e tal mas acho que isso vale pra você.”, ele toma fôlego e continua, “Nunca deixe ninguém te dizer que você não pode fazer uma coisa. Nem mesmo o seu pai, tá bem? Se você tem um sonho, você tem que correr atrás dele. As pessoas não conseguem vencer e dizem que você também não vai vencer. Se você quer uma coisa, corre atrás. Ponto.”

Eu o encaro e meio que sorrio e meio que me envergonho.

“Em busca da felicidade. Clássico.”

“Você me entendeu?”

“É complicado”

“Você que faz ficar complicado Anna! O quê aquela Anninha de nove anos diria se te visse falando aquilo?”

“Ela não acreditaria e diria que não é ela. Mas aquela Anninha não olhava para os desafios que esse sonho impoem, Rafael. Eu posso fazer física e especialização em astronomia e nunca nem colocar os pés na NASA. Ser uma professorinha em uma Universidade. Eu queria a NASA. A NASA! E eu nunca conseguiria ser contratada.”

“Quem te disse isso?”, ele pergunta sorrindo. Mas não vejo nenhuma graça nesse assunto.

“Eu disse pra mim, Rafael!”

“Entendi”, e ele começa a rir.

“Não tem graça!”

“Tem sim. Você mesma colocou seus limites. Você se limita Anna. Você é tão inteligente. Aposto que nem sabe a metade das coisas que você pode fazer. Você diz eu não sou capaz, como se fosse verdade. E o pior é que isso se tornou uma verdade a partir do momento que você começou a acreditar. E que...”

“Já acabou?”, digo levantando da cadeira, “Vou voltar para a biblioteca. Te encontro lá”

Saiu do refeitório e lembro da cara de surpreso que ele fez com da minha reação.

Aquele dia estava sendo muito estranho.

Hoje de manhã na hora do intervalo o Rafael falou comigo e pediu para eu explicar história pra ele. Eu disse que não podia, mas ele estava tão desesperado. Tadinho, pensei. E liguei para a minha mãe que deixou eu ficar no colégio no período da tarde, mas claro com várias reclamações.

“Desculpa. Eu não queria te chatear”, ele diz enquanto corria pra me alcançar.

“Tudo bem. Mas por favor não toque mais nesse assunto.”

“Nunca mais. Prometo.”, ele pondera mas diz logo em seguida, “Mas já que não é astronomia é o quê?”

“Ainda não decidi. Porque acha que eu vou para a OP? Por que gosto das dinâmicas?”, falo sorrindo. Mas ele não parece ter achado engraçado, “Você quer fazer qual curso?”

“ Nem sei o quê quero Anna. Talvez direito. Qualquer uma.”

“Que inspirador”, olho para ele. Ele estava me olhando em com um meio sorriso.

“Acho que quero ser um astronauta quando cresce”

Dou uma gargalhada, “Acho que você já cresceu”

“Talvez”, ele diz rindo.

Já era quatro e meia quando olho o relógio da biblioteca. Entramos e como força do apto paramos de rir.

Explico os antecedentes das Revoluções Russas e como ela ocorreu. E passamos para o próximo capítulo que era o mundo bipolarizado, dividido entre comunismo e capitalismo.

Não aconteceu nada demais no resto da tarde. De vez enquanto eu olhava para o Rafael para ver se conseguia descobrir através da expressão dele se ele estava conseguindo entender. Mas era impossível. Aqueles olhos castanhos, quase pretos, eram meio que à prova de Annas. Impenetráveis. Quando lembrava que eu acho ele bonito, começava a ficar meio desconfortável na cadeira. E logo tentava expulsar esse pensamento da minha cabeça.

O Rafael não é feio. Mas também não é um príncipe grego. Ele é bem braquinho com suas bochechas meio que rosadas quando está no ar-condicionado. Cabelos pretos e lisinhos. Alto e bem forte, não gordo. Forte eu quero dizer musculoso, mas um tipo normal. Não bombadão. Corpo normal, pronto!

“Alô?”, pergunto quando atendo o celular.

“Já estou aqui fora, vem logo Anna. Não posso ficar parada aqui na rua”, era a minha mãe. Ela veio me buscar às seis e meia.

Naquele horário eu já tinha terminado de explicar pro Rafael sobre todo o assunto de história. Ele ia à pé porque a casa dele era na primeira rua antes da do colégio. Mas ele fez questão de me fazer companhia enquanto minha mãe não chegava.

“Estuda mais um pouco quando chegar em casa viu. Uma leitura e refaz os exercícios. E se tiver tempo pesquisa umas criticas sobre a revolução dos bichos na internet viu?”

“Como a senhora quiser professora”, ele faz um sinal com a mão imitando um cabo do exercito. Rio da ação dele.

Minha mãe buzina duas vezes seguidas.

“Tenho que ir mesmo”, coloco a mochila nas costas.

Ele me abraça forte e logo após me dá um rápido beijo na bochecha.

“Sabe que eu vou te pertubar mais tarde né?”

“Claro que sei”, digo ainda atordoada com o beijo, “Tchau. Boa noite”

“Boa noite, princesa”, ignoro e rezo pra minha mãe não ter ouvido.

“Que demora Anna”, minha mãe fala com raiva. Eu nem sequer fechei a porta do carro ainda...

“Se eu pegar uma multa você pega castigo ouviu?”, ela mete o pé no acelerador.

“Hoje o João passou lá em casa e ficou surpreso em saber que você estava no colégio”

PORRA! EU TINHA UMA AULA COM O JOÃO!

“Você tem a cabeça aonde filha? Na lua eu sei que não é! Júpiter talvez”, não acho graça das piadas que minha mãe faz com astronomia. Perde o humor.

Checo o meu celular... 8 chamadas pedidas do João. Estava no silencioso e eu pedir a mania de mexer no celular enquanto estudo porque estava me atrapalhando.

Passo a viagem toda até o nosso prédio tentando pensar em uma desculpa plausível. Não tinha coragem de falar que simplesmente esqueci.

Eu chamo o elevador e quando ele abre aperto no decimo oitavo andar e minha mãe o decimo nono.

“Vê se não demora”, minha mãe diz com tom arrogante.

Saiu do elevador e toco a campainha. Escuto o tapioca latir. E sei que ele está cheirando o chão perto da porta para identificar o visitante.

Maçaneta gira.

“Me perdoa vai”, digo enquanto encaro o João que estava com uma expressão triste.

“Entra”, ele diz dando uma passo para trás. Tapioca pula em cima de mim e minha mochila cai no chão. Acho que vou demorar sim mãe...

***

Booktrailer novo meu amores, esse está muito melhor que o primeiro. Dá uma olhadinha rápida lá! ;D

https://www.youtube.com/watch?v=T8vHPncrV8s


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!