The most mysterious thing in London. escrita por Jiggle Juice


Capítulo 1
Único.


Notas iniciais do capítulo

Hey, guys! Eu nem sei se alguém vai ler essa fic, porque pelo jeito o fandom de Penny Dreadful aqui no Nyah! é quase inexistente, mas eu estou vivendo uma fase Vanessa/Ethan trash e não me aguentei. Tive que escrever.
Alguns quotes da série vão estar no texto, não necessariamente ditos por Vanessa ou Ethan (até porque o título da fanfic é citação do Dorian) e talvez um pouco alterados dos originais. Caso você tenha visto a citação de uma outra maneira, isso é porque peguei todos os quotes em inglês e traduzi livremente. Então, se você assistiu por aí de outro jeito, já sabe ;)
A fanfic se passa no episódio 2x07, Little Scorpion, momento pós-beijo e pós-assassinato do fulano que o Ethan estragou a cara. Pré-chegada do Victor até a casa onde eles estão.
One totalmente POV do Ethan, mas eu poderia dizer que é Vanessa-centric (vocês vão entender).
Sem mais,
boa leitura :)



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“The most mysterious thing in London.”

Ethan observava Vanessa. Não era a primeira vez, e certamente não seria a última. Ela havia o expulsado de perto do pequeno caldeirão em que cozinhavam o jantar, quando o surpreendeu colocando mais sal do que deveria no ensopado. Agora ele contentava-se em contemplá-la em toda sua beleza enigmática, usando seu vestido simples e leve – e branco, uma cor rara para Vanessa caso a roupa não fosse para dormir –, cortando ervas da floresta, enquanto Ethan fumava um cigarro.

Ele sempre se flagrava a olhando por um segundo a mais, vislumbrando seu rosto no vento ou na pálida luz do Sol. Miss Ives o intrigava. Desde o primeiro momento em que a viu, quando ela se sentou junto a ele na mesa daquele botequim barato e o levou para uma vida insana de sangue e fogo, céu e inferno. Ela era a pessoa mais fascinante que ele alguma vez já havia conhecido, disso não havia dúvidas. Seus movimentos tão aristocráticos mesclados a sombra de uma menina gentil. A voz firme e sábia, tão cheia de segredos que nem mesmo o mais bravo homem teria coragem de desvendar. Olhos azuis afiados e profundos, espelhos de uma alma tão atormentada, mas mesmo assim tão amável. Palavras macias sussurradas no tom de uma poetisa, versos que só alguém que já sentiu a verdadeira dor é capaz de dizer. A aura intrépida, audácia e valentia de mil soldados, a doçura da mais dedicada das amantes.

Nem mesmo Lúcifer resistiu a Vanessa Ives.

Ethan não podia culpa-lo – ele entendia.

Nunca havia conhecido mulher como ela, isso era fato. Não no Novo México, não em Londres, não em lugar nenhum. Brona era especial, sim. Ethan a amou – paixão desenfreada, aquecendo o peito – e sabia que jamais seria capaz de esquecê-la, mas Vanessa, por mais charmosa e cativante que Miss Croft pudesse ser, ainda o deixava magnetizado como ninguém nunca fez.

Uma atração tão grande – tão inexplicável – que Ethan estava convencido de que sua decisão de ir para Londres, dentre todos os lugares do mundo, não era uma mera coincidência. Acreditava que estava destinado a encontrar Vanessa – fazer parte de sua jornada, lutar suas batalhas, chorar sua angústia, sorrir sua alegria, protege-la até sua última lufada de ar.

Era a única explicação. Ethan não era uma pessoa comum, assim como Miss Ives. Ele também tinha sua própria maldição. Por que a vida o traria à Vanessa senão para guerrear ao seu lado? Ele poderia ajuda-la – já havia o feito antes. Poderia mantê-la segura, poderia procurar a paz para seu âmago torturado – era tudo o que queria: Encontrar a calmaria e entregar a Vanessa, levar a tranquilidade a seu coração turbulento e ferido.

(Nós não somos como os outros, temos garras por uma razão.)

Desde a primeira vez em que saíram pela noite com Sir Malcolm para encontrar Mina, Ethan jurou a si mesmo que não deixaria que nada machucasse Miss Ives.

Ela já tinha martírios demais, sofrimentos demais. Coisas que ninguém poderia combater a não ser ela mesma – a peleja dentro de si, Terra e Purgatório tentando dominá-la desde que era apenas uma garotinha. Ethan não poderia mantê-la a salvo disso, então certificava-se de que nenhum punho hostil, nenhuma lâmina afiada, nenhuma arma, fosse apontada em sua direção. Vanessa já sentia dores do mundo e do submundo. Não precisava de hematomas ou ossos quebrados.

Veria Vanessa vencer qualquer força demoníaca que desejava tão ansiosamente tê-la para si. Estaria ao seu lado quando ela acabaria com todas as forças malignas que transformaram sua vida em objeto de desejo. Não deixaria que ela sucumbisse a nenhum jogo da morte, não deixaria que ela desistisse e entregasse sua alma. Ethan lutaria com todo seu fôlego para se manter em vigor, para ver os bonitos olhos de Miss Ives felizes e puros, sem a escuridão do medo, sem a violência de uma possessão, sem dor ou tristeza. Apenas felicidade em seu rosto, a quietude da harmonia.

(Você não morrerá enquanto eu estiver aqui, você não se renderá enquanto eu viver. Se eu tenho um maldito propósito em minha vida amaldiçoada, é isso.)

Ainda se lembrava de quando ela estava possuída, em uma ponte traiçoeira entre a sanidade e sua alma fragmentada pelo demônio. Em um raro momento em que Vanessa era realmente Vanessa, ela implorou-lhe para que a matasse. Um único disparo, uma única bala, e então toda a dor e trevas iriam embora e Miss Ives poderia, finalmente, alcançar a mansidão da serenidade. Ethan levantou sua arma, apontando, trêmulo, para seu peito. Ele olhou para ela. Rosto manchado de lágrimas, pele mais pálida que o usual, lábios secos e craquelados, nariz avermelhado. E então olhou em seus olhos, ainda tão azuis e cristalinos, ainda tão encantadores, mas encharcados de um choro incessante, assombrados pelo desespero e o horror, acorrentados a um pavor gélido e cortante.

Mas foi em seus olhos aterrorizados que Ethan perdeu qualquer impavidez de puxar o gatilho.

(Não olhe nos olhos de seu oponente. Isso vai te impedir todas as vezes. Você pensa por um minuto sobre o que está fazendo, e não faz.)

Ele não mataria Vanessa. Como poderia? Não podia deixar com que ela morresse mergulhada em toda sua aflição, entregando-se para as presas do ser satânico que queria devorá-la. Não poderia permitir que sua querida Miss Ives se rendesse, e ele não se renderia. Num momento de pânico e uma ponta de esperança – e talvez de crueldade, assentir que ela continuasse sua vida cheia de tormentos –, Ethan arrancou a medalha de Brona do pescoço e posou no centro de sua testa, começando sua oração em latim. Quando viu como ela regia – como a coisa dentro dela reagia –, continuou, cada vez com mais voracidade, em voz mais alta e enérgica, ansiando para que Vanessa fosse apenas Vanessa novamente.

E ela foi. Miss Ives voltou a ser sua própria pessoa – a mulher quebrada de coração doce.

Quando estava com ela, Ethan esquecia-se de seu próprio monstro. O lobo era uma criatura insignificante perto da magnitude de Vanessa Ives, apenas um pequeno animal irritante. Ele se perguntava o que aquilo significava – como poderia negligenciar o que nunca pôde deixar de sentir quando estava perto dela. Ele tomava sua tristeza para si, suas preocupações para sua própria mente. Assim como ela.

(Ela tomará a sua dor e a tornará dela. É isso que ela faz.)

Vanessa não sabia sobre o lobo, mas sabia que Ethan não era um simples americano talentoso com armas de fogo. Ela sentia que havia muito além dele, que era muito mais complicado do que gostaria de aparentar. E Ethan sabia que ela via através dele. Era reconfortante, de alguma maneira. Miss Ives não precisava de mais uma criatura ensanguentada em sua vida, mas mesmo assim nunca saiu de seu lado, nunca teve medo, nunca o mandou ir embora. Ela o compreendia e lhe dava suporte, mesmo que não diretamente. O fato era que a paz de espírito de Ethan era sempre elevada quando Vanessa deixava que ele cuidasse dela – como treinar tiros ou beijar-lhe a testa delicadamente.

(O que quer que você tenha feito, quem quer você tenha se transformado, estou aqui para aceita-lo.)

Era injusto, Ethan achava, alguém como Vanessa estar em um estado perturbado por tanto tempo. Ele havia conhecido milhares de pessoas. Perversas, arrogantes, tóxicas. Elas tinham uma tranquila noite de sono todas as madrugadas, andavam calmamente pelas ruas e não ouviam suspiros demoníacos no pé de seus ouvidos. Vanessa era boa. Cometeu erros, tem suas peculiaridades – é humana –, mas boa. Ethan achava aquele destino completamente abusivo. Miss Ives não merecia aquilo. Todo aquele furacão constante em sua vida, sempre um cenário de estado vulnerável.

Mas Ethan ficava fascinado em como ela era destemida. Ele viu como ela nem ao menos recuou quando um vampiro estava cara-a-cara com ela. Vanessa apenas fitou a besta de volta, queixo erguido, olhos frios, postura superior. As bruxas a assustaram, sim, mas Vanessa não recuou ou se escondeu. Ela foi a luta, buscando fazer o possível e impossível para combater aquela insanidade. E ela esfaqueou o mercenário que estava lá para levar Ethan embora, de novo e de novo, o barulho viscoso da lâmina ao estrar e sair do ombro e peito do homem.

Ethan não estava feliz. Ele não queria que Vanessa tivesse ainda mais sangue em suas mãos depois de ter matado o homem que queimou sua amiga bruxa. Ele sabia como era a sensação de ter o corpo de alguém sobre suas costas e não gostaria que ela sentisse o mesmo. Não queria que ela perdesse parte de si – não mais uma. Mas, se fosse honesto consigo mesmo, Ethan estava orgulhoso. Miss Ives sempre revidava. Vanessa não era uma donzela em apuros, mas uma criatura linda e mortal.

(Pequeno Escorpião.)

Sim, ela era mortal, de todas as maneiras. Ethan ainda não tinha certeza se seu coração voltara a bater depois de beijá-la, extasiado de euforia, medo e decepção.

Beijá-la foi, de alguma forma, tudo o que ele já havia imaginado. Intenso e arrebatador, uma enxurrada de emoções, o sangue correndo direto para seu peito e seu rosto, coração batendo violentamente contra suas costelas. Mas, ao mesmo tempo, era um alívio, uma benção, ar fresco para seus pulmões. Assim como uma tempestade.

(Eu amo tempestades. Primordial. Tudo que é real se revelando.)

Ethan ainda podia sentir o corpo de Vanessa contra o seu, sua cintura envolta por seus braços quando a levantou para que ficassem da mesma altura. Os lábios quentes, a pele fria por causa da água gelada da chuva. Os cabelos negros e molhados cobrindo seu rosto como uma cortina, enquanto os dedos delicados dela agarravam com força os fios cor de mel de Ethan, puxando-o para mais perto. Separaram-se algum tempo depois, respirações pesadas, corpos tremendo de excitação. Aproximaram mais uma vez, com calma, seu nariz pincelando o dela delicadamente. Mas então ela o empurrou bruscamente para longe. Não!, Vanessa sibilou. Peito subindo e descendo rapidamente, o olhar alterado. Ethan a olhou e compreendeu. Ela estava com medo. Medo do que aquilo significava, da proporção do desejo que sentiam um pelo outro, das consequências que os encontrariam caso insistissem em algo mais. Então Ethan lembrou-se do próprio medo, as mesmas razões de Vanessa, o eco de um uivo no fundo de seu cérebro.

Agora ali estava ele, observando sua Miss Ives cozinhar como qualquer outra mulher, ignorando seus desejos e abraçando o medo de ver aquela perfeita criatura se desfazer diante de seus olhos.

— Eu venho tentando não me importar com o fato de você estar me encarando há tanto tempo, mas confesso que está se tornando uma tarefa cada vez mais difícil – A voz dela cortou o som da madeira crepitando na lareira, um quê de brincadeira em seu tom.

Ethan riu levemente envergonhado, coçando sua barba.

— Perdão – Jogou o que restou de seu cigarro em um cinzeiro próximo – Você só... é intrigante.

— Intrigante? – Vanessa lhe lançou um sorriso, salpicando algum tipo de tempero no caldeirão.

— Eu sei sobre você. Algumas coisas, pelo menos, e fico feliz em conhece-la, mas ainda sinto que existe muita coisa que eu não sei.

— É possível que você não queira saber.

— Não acho. A esse ponto, quero poder lê-la como um livro.

— Também não sei tudo sobre você.

— Sim.

— Temos problemas em nos revelar, huh?

— A complexidade da alma dos condenados.

Ela o olhou de soslaio, as chamas do fogo criando ondulações alaranjadas em seu rosto, o sorriso mais apertado, mais pesaroso.

— É certamente uma característica inconveniente.

— Acho que precisamos de reabilitação. Purificar a alma.

— Concordo.

— Eu poderia tentar ajuda-la – Pausou por um instante – E você poderia tentar fazer o mesmo.

— E como pretende fazer isso?

— Bom... Talvez sair de Londres? Estar debaixo de um céu que não esteja sempre tão cinzento e cheio de nuvens – Ethan levantou-se de seu assento, chegando mais perto de Vanessa – Eu poderia leva-la para a América.

A ideia pareceu diverti-la.

— Achei que você estivesse com algumas situações mal resolvidas com seu pai?

— Estou – Assentiu –, mas vou dar um jeito nisso. Concertar. E então eu a levarei para o céu ensolarado do Novo México. Talvez Califórnia, se você quiser.

Ela riu, levantando a cabeça para fita-lo. Por um segundo, Ethan viu seus olhos puros e contentes, nada mais.

— Eu adoraria.

— No momento certo, você deixará de ser a coisa mais misteriosa de Londres, para ser a coisa mais misteriosa da América.

Vanessa sorriu e Ethan correspondeu, o tipo de sorriso que ele havia descoberto ser reservado somente para ela.

(Estamos juntos por uma razão.)


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Notas finais do capítulo

Muito obrigada por ler, comente por favor e me segue lá no tumblr harlsquinzel :)))))