Sete vezes por noite em Baker Street escrita por Nana Castro


Capítulo 2
Baker Street


Notas iniciais do capítulo

Música desse capítulo: Kings of Leon - Fans (https://www.youtube.com/watch?v=_WogY-8nDPc)

Principalmente essas partes:

"You ain't got the slang but you got the face to play the role
And you can play with me"

e

"All of London sing
Because England swings and they sure love the tales I bring
Those rainy days they ain't so bad when you're the king
The king they want to see"

Não me inspirei na música pra escrever o capítulo. Encontrei-a depois e pensei "É, faz sentido!"



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Baker Street.

Achei que eu era mais corajosa. Demorei praticamente uma semana pra contatar Sherlock. Como ele disse que me veria quando eu quisesse, assumi que seria eu quem teria que ligar. E assumi certo. Nesse tempo não houve nem sinal dele. Resolvi então mandar um SMS. As vezes ligar me parecia tão inconveniente:

“Ocupado, hoje? Podemos nos encontrar?

Janine.”

Eu quase fiz o sinal da cruz depois que mandei a mensagem. A resposta demorou um pouco a chegar e dei um pulo da cadeira com o som que o celular fez:

“Um pouco. Mas se você quiser vir para Baker Street, tudo bem. 221B.

SH”

Quase caí da cadeira! Não imaginei que ele fosse me convidar para ir à casa dele assim tão rápido, mas pensando bem, era de se esperar. Estranhos entravam ali o tempo todo, trazendo suas histórias. Não faria a mínima diferença eu, praticamente mais uma estranha, estar ali. Enviei mais uma mensagem dizendo que assim que terminasse algumas tarefas estaria a caminho. Ele me escreveu de volta, pedindo para ser mais específica. Mais uma vez, decidi deixar as tarefas para depois, as roupas para lavar poderiam esperar e respondi que em uma hora estaria lá.

A viagem de metro pareceu durar uma eternidade. E durante todo tempo eu me pegava pensando em tudo que poderia acontecer. Eu tentava não criar expectativas. Sempre me dava mal com isso. Mas era inevitável.

Ao chegar em frente ao seu flat, toquei a campainha.

Alguns segundos depois, uma senhora abriu a porta. Ela me era familiar, mas eu não conseguia lembrar seu nome. Ela sorriu e rapidamente me levou ao segundo andar. Ela bateu na porta e chamou:

– Sherlock! Sherlock

– O que é Mrs. Hudson?

Fomos entrando no apartamento. O lugar não era como eu esperava. Na minha cabeça o apartamento era super claro e organizado. E tudo estava uma bagunça. Muitos papéis pelas mesas, um mural com vários fios interligados, facas penduradas nas paredes. Até um crânio sobre a lareira. Então o vi. Sherlock estava debruçado sobre um microscópio, as mãos enluvadas, vários apetrechos de laboratório a sua volta:

– Sherlock! Tenha modos! Janine está aqui! É Janine mesmo seu nome, certo?

Respondi que sim e vi Sherlock levantar da cadeira de uma vez e vir em minha direção, tirando as luvas:

– Erm… obrigada, Mrs. Hudson. Bem, será que você poderia trazer um chá para nós por favor?

– Eu não queria dizer isso na frente de sua amiga Sherlock, mas lembre-se… Eu não sou sua empregada.

– Eu sei, eu sei. - Disse Sherlock - Mas tenho certeza que sua personalidade educada e inglesa não deixará a convidada sem algo para beber.

Isso fez Mrs. Hudson mudar de atitude imediatamente:

– Você está certo. Vou trazer uns biscoitos também. Pode ser, Janine?

Eu corei. Já estava com vergonha porque Mrs. Hudson lembrava meu nome e eu não lembrava o dela e agora ela estava me tratando tão bem. Respondi:

– Claro que sim, muito obrigada. Mas não precisa se incomodar.

– Não é nenhum incomodo, querida.

E saiu, deixando Sherlock e eu imersos num silêncio constrangedor por alguns segundos.

– Então... O que está fazendo? - Eu disse, balançando as mãos, meio nervosa.

– Analisando alguns tipos de cinzas eu já cataloguei mais de…

– 141 tipos.

O rosto de Sherlock se iluminou.

– É... - Eu disse - Dei uma lida no blog de John e acabei encontrando seu artigo sobre as cinzas. Bastante detalhado.

Sherlock deu um meio sorriso, mas eu percebi que ele estava se contendo, para não demostrar o quão feliz estava.

– Sim e estou trabalhando agora na catalogação de mais alguns tipos, com diferentes teores e...

Por alguns minutos, Sherlock se empolgou em suas explicações, até Mrs. Hudson voltar com o chá e os biscoitos. Comemos e continuamos a conversar. Eu o ouvi falar sobre seu artigo e sobre outros que planejava publicar. Perguntei sobre os casos que ele resolveu e que foram parar no jornal. Fiquei fascinada por sua linha de pensamento. Quando terminamos o chá, ele me disse que precisava voltar a pesquisa e que não precisaria ir embora. Então eu fiquei. Como te falei, tenho uma queda por homens inteligentes e Sherlock ficava ainda mais bonito quando trabalhava.

Ele se sentou perto do microscópio, colocou uma lâmina, observou, trocou de lâmina. Um trabalho minucioso. Eu o observava curiosa e depois de um tempo, uma ideia começou a despontar na minha cabeça. Fui chegando cada vez mais perto dele, que estava absorto no que fazia e não se deu conta. Falei então, bem próxima ao seu ouvido:

– Posso olhar?

Ele levantou a cabeça lentamente e me deu espaço. Eu não entendia nada do que ele estava fazendo, mas fiquei interessada. As cinzas tinham um padrão interessante. E enquanto eu mantinha meus olhos no aparelho, senti que os de Sherlock estavam fixados em mim. Demorei mais alguns segundos ali e então disse:

– Você pode me explicar o que estou vendo?

A resposta de Sherlock não foi imediata. Pensei que ele estivesse tentando decifrar meu rosto, pela forma que seus olhos se movimentavam. Ele então falou:

– É...claro. Vou olhar desse lado. E te explico.

Nossos rostos estavam muito perto.

– Veja bem - Ele disse - Esse padrão ocorre devido a…

E parou de falar, quando meu rosto roçou no dele. Eu estava sim em busca de um beijo. Eu não sei por que. Não, sei sim… você o conhece! Você me contou daquela vez em que… Bem, foi assim. Senti tomar conta de mim e resolvi tentar. Ele se virou para mim e eu fui em frente. Eu estava entregue ao sentimento e creio que ele também. Não posso afirmar com clareza. Meus olhos estavam fechados. Mas os movimentos dele seguiam os meus então acho que ele também queria. Estávamos então a meio caminho do beijo quando ouvimos vozes vindas do andar debaixo. Sherlock parou, nossos rostos ainda bem próximos. Eu não fui em frente, mas também não voltei atrás:

– Hudson! Sherlock está?

Passos no hall de entrada.

– Você não devia subir assim. Ele está com uma moça…

– Deve ser mais uma cliente.

– Não, não é.

– Mrs. Hudson, preste atenção: Você já viu Sherlock trazer alguma mulher aqui que não seja cliente?

– É, faz sentido.

A voz já estava bem na porta.

– É John! - Sherlock sussurrou. Levantou de uma vez, me puxou pela mão - Venha.

– O que está havendo? Disse eu, também em voz baixa.

– Eu explico depois. Fique ai.

Me colocou dentro do quarto, que estava bem mais arrumado que o resto do apartamento e disse:

– Se me ouvir disser a palavra banheiro, use essa porta e entre realmente no banheiro. Não demore nem um segundo! Por favor, faça isso!

E saiu fechando a porta atrás de si. Eu sentei na cama e esperei, meio contente, meio frustrada. Então pude ouvir:

– Sherlock! Como vai?

– Por que demorou tanto aí fora, John?

– Hudson me segurou lá fora dizendo que você estava com uma mulher aqui. Cadê? Aliás, que cara é essa? Você parece mais pálido que o normal. Essa tal mulher que Mrs. Hudson estava falando não é a…

– Não!

– O que você está escondendo de mim, Sherlock? Você sabe que tenho autoridade suficiente pra procurar o que quer que seja nessa casa.

– Não precisa procurar! Não tem nada aqui.

Eu comecei a ficar preocupada com o que eu estava ouvindo. A voz de Sherlock nunca estivera tão diferente. Ele parecia inseguro, irritadiço. Eu não entendia do que se tratava.

– John, por que veio hoje? - Perguntou Sherlock - Pare de olhar nas gavetas, não há nada aí.

– Eu não estou tão certo. E no seu quarto? Não tem nenhuma tábua solta lá, guardando alguma coisa.

– John, você pode se resolver logo?

Ouvi o som de passos, cada vez mais nítidos:

– John, não… Eu preciso… eu… eu tenho que ir ao banheiro!

Escutei a senha... e ri baixo. Foi muito ridículo ouvi-lo falar daquele jeito:

– Pode ir, Sherlock! - Disse John - Não tem ninguém te segurando!

Os dois pareciam velhos rabugentos. E então, como combinado, entrei pela porta que levava do quarto ao banheiro.

Imediatamente, a porta que dava ao corredor se abriu e fui imediatamente puxada para fora, a tempo de ver John pisando firme ao entrar no quarto. Sherlock sinalizou para que eu não fizesse nenhum barulho e saísse. Estava difícil conter o riso. Sherlock se posicionou na porta do quarto de uma forma que atrasaria John ao sair dali. Eu entendi que ele não queria que John me visse de forma alguma, então peguei minha bolsa e saí, na ponta dos pés. Na escada encontrei Mrs. Hudson, que subia, provavelmente levada pela discussão entre os dois homens. Esqueci que deveria ficar em silêncio:

– Tchau, Mrs. Hudson! Obrigada pelo chá!

– Tchau, querida! Volte mais vezes!

Enquanto eu abria a porta para sair, ainda pude ouvir John dizer:

– Que merda Sherlock! Você estava mesmo escondendo uma mulher aqui? Como ela…

E eu saí, imaginando se a vida ao lado de Sherlock seria sempre assim. Entrei no café, que era logo ao lado da casa dele, para evitar que John me visse, se inventasse de sair atrás de mim. Acabei comprando umas barras de chocolate que eu não devia!

Mas sabe, o que mais me irrita em te contar isso? É que eu achava que Sherlock era apenas tímido ou cauteloso. Que queria ter certeza sobre nós antes de deixar alguém saber. Ah! Como fui estúpida! Não posso me queixar mais. Já passou. Você ainda tem tempo, certo? Pois tem muito mais história pra ser contada.


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Notas finais do capítulo

E aí? Estou indo bem? Críticas? Sugestões? Vamos lá, não se acanhe! Diga o que achou!!! xoxo



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