Gêmeos no Divã escrita por Lady Black Swan


Capítulo 7
4° Consulta - parte 1


Notas iniciais do capítulo

Gente estou muito grata a vocês que estão lendo e acompanhando (e alguns até comentando!) minha , o capitulo de hoje é um pouquinho maior que os outros, espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/628992/chapter/7

Naquele dia a Dra. Frank não havia tido consultas pela parte da manhã, de forma que só chegou ao consultório depois das 13h, Adam ainda não havia chegado, mas a sala de espera não estava vazia, porque havia três pessoas sentadas no sofá.

Duas dessas pessoas eram os gêmeos Montenegro, e Dra. Frank já havia ouvido falar tanto da menina asiática de cabelos aparados muito curtos — mas do que ela tinha imaginado — em suas consultas que era como se já a conhecesse pessoalmente.

—Vocês foram radicais demais raspando a cabeça de uma vez. — Ayume reclamava passando a mão pelos cabelos de um dos gêmeos, ela usava uma camisa preta gigante que a fazia parecer menor ainda.

—Olha só quem fala. — o gêmeo que não estava sendo incomodado pela amiga asiática baixinha riu — Você corta o cabelo a cada doze dias!

—Quinze e é porque cabelos compridos dão trabalho! — ela virou-se para o segundo irmão. — Eu economizo muito tempo e dinheiro.

—E depois nós que somos radicais! — o mesmo irmão que falara antes brincou, abraçando Ayume pela cintura e a puxando para si. — Pense desse jeito Ayume: mais alguns dias e já teremos os cabelos tão grandes quanto os seus.

Os irmãos Montenegro haviam explicitamente fugido de sua última consulta com a Dra. Frank, e na semana retrasada um deles — saber qual era impossível — havia ligado para cancelar a consulta, e há três dias, na semana passada, quando deveria ser o dia da consulta daquela semana, um deles — o mesmo, ou talvez não — havia ligado para remarcar, de forma que ali estava eles, no começo da semana ao invés de no final, e eles tinham razão, os cabelos agora estavam até bem grandes, mais alguns dias e já estariam iguais aos cabelos bem aparados da amiga.

—Murilo me larga! — Ayume reclamava tentado livrar-se do aperto do amigo.

—Tudo bem. — os gêmeos responderam — Mas primeiro você vai nos dar um beijo.

Vinicius segurou os punhos de Ayume e começou a se aproximar perigosamente.

—O que? Não, sai pra lá Vinicius! — ela riu.

Dra. Frank escolheu aquele momento para intervir: levou a mão em punho até a boca e tossiu, Ayume foi a única a se assustar, porque os gêmeos olharam calmamente para ela.

—Olá doutora. — disseram.

—Vejo que hoje chegaram cedo para a consulta de vocês. — observou, se encaminhando para a porta de seu consultório.

—Pois é, a Ayume soube que estávamos meio que evitando a senhora. — afirmou Vinicius se levantando.

—E quis trazer a gente pessoalmente hoje. — completou Murilo largando Ayume e se levantando.

—Bem, obrigada por isso então Ayume. — agradeceu abrindo a porta e deixando que os gêmeos passassem a sua frente.

—Hum... É. De nada. — a menina respondeu muito acanhada.

Dra. Frank sorriu e fechou a porta.

—Vocês três são sempre assim? — perguntou aos gêmeos já sentados em seus lugares costumeiros no divã.

—Sempre. — responderam. — Por isso que ninguém tira da cabeça de Maya que ela é nossa namorada.

—É mesmo? — perguntou sentando-se em sua poltrona de costume — Sim, vocês já tinham me dito que a irmãzinha de vocês idolatra Ayume.

—E como idolatra! — eles confirmaram. — Uma vez Maya até ajudou Ayume a invadir nosso quarto.

—É? — ela inclinou-se de lado apoiando o rosto na mão. — Contem mais.

Os gêmeos se entreolharam, parecendo agora um pouco desconfortáveis.

—Bem, isso foi no dia do evento. — disse Murilo. — Vinicius você quer começar hoje?

—Tudo bem. — Vinicius suspirou.

♠. ♣. ♥. ♦

Sabe doutora, você como doutora diplomada e tudo já deve ter notado que Murilo e eu temos um terrível medo de sermos separados, daí algumas de nossas “manias de duplicidade” e que mesmo depois de termos sidos adotados juntos esse medo não desapareceu por completo, sabe como é não é doutora? Essa coisa de velhos hábitos.

Pois então, um de nossos hábitos mais antigos era dormir juntos, no orfanato temíamos ser separados até em sonhos, como se um de nós pudesse ser levado enquanto dormíamos, e permanecemos com esse hábito por um bom tempo mesmo depois de termos sido adotados.

Toda noite eu ia para a cama de Murilo ou ele vinha para a minha.

Claro que isso terminou faz algum tempo.

Acho que paramos de dormir juntos quando tínhamos por volta de uns doze ou treze anos, foi aos poucos, acho que com o tempo acabamos nos acostumando um pouco mais com a ideia de que não corríamos mais o risco de ser separados, na verdade isso deixou nosso pai mais aliviado, ele até acha bom nós sermos tão unidos, mas também que "precisamos aprender a sermos mais independentes um do outro", e dizia algo como “vocês são gêmeos univitelinos, e não gêmeos siameses!”.

Em fim doutora, o nosso quarto é uma coisa até bem simples, na verdade é o menor da casa — mas pelo menos temos duas janelas ao invés de apenas uma como Maya — uma de suas paredes é pintada de vermelho, enquanto as outras três mais o teto são pintada de branco, e o chão é feito de tábuas de madeira — mas nunca soltou uma farpa! — nós procuramos sempre mantê-lo razoavelmente arrumado, porque se arrumado ele já é pequeno imagine então bagunçado.

Em nosso quarto quase tudo é duplo e idêntico — mamãe o decorou então de que outro jeito podia ser? — há duas camas no quarto, mas eu não posso dizer qual cama é de quem, porque como quase todo o resto em nossas vidas nenhuma delas é minha ou de Murilo, ambas são nossas, uma das camas fica embaixo da primeira janela encostada à parede norte de forma perpendicular a ela, a segunda cama está escorada à parede oeste — a parede vermelha — também de forma perpendicular a ela e debaixo de uma janela, formando um ângulo de 90° com a primeira cama, e no pequeno espaço quadrado formado pelo canto do quarto e o encontro das duas camas fica uma mesinha de três pés com um abajur e um despertador digital em cima, na parede sul há duas estantes onde nós costumamos guardar tudo o que é bugigangas, inclusive os livros e materiais da escola, não temos guarda roupa, mas na parede leste há duas cômodas idênticas com cinco gavetas cada, onde guardamos nossas roupas, mais para um lado, num gancho próximo à porta nossas mochilas estão penduradas, há também dois bancos redondos e brancos que não têm lugar fixo, geralmente eles ficam rolando pelo quarto.

E agora que eu não tenho mais como enrolar porque já contei cada mínimo detalhe desnecessário do nosso quarto, vamos ao dia em questão.

Geralmente nós acordamos juntos, por causa do despertador próximo às nossas cabeças, e quando um acorda primeiro, é obrigação dele acordar o outro, mas naquele dia nós acordamos com um barulho muito diferente do de nosso despertador:

—TÁ NA HORA, TÁ NA HORA! HEI! HEI! HEI! — Ayume gritou batendo duas tampas de panela uma contra a outra, fazendo-nos sentar gritando de susto em nossas camas. — Bom dia meninos, hoje é o dia!

—De que?! — Murilo perguntou com os olhos arregalados e o cabelo laranja todo amassado, eu com certeza não estava muito melhor. — De tentar fazer Maya virar filha única?

Maya que estava ao lado de Ayume, meio escondida atrás dela, vestindo uma camisola de coelhinhos dormindo na lua e segurando seu enorme sapo de pelúcia levou a mão à boca disfarçando uma risadinha.

—Não Murilo. — Acho que Ayume girou os olhos, mas eles são tão puxados que é difícil ter certeza.

—Então do que você está falando sua doida? — perguntei irritado.

Ayume ergueu os braços.

—Hoje é o dia do evento!

—Êêêêê! — Maya comemorou abraçando animadamente seu sapo de pelúcia.

Nós a encaramos.

—Você nem sabe do que a Ayume está falando. — dissemos.

—Não. — respondeu toda sorridente.

O pior de tudo é que nessa idade ela é tão bonitinha que não da para ficarmos irritados com ela, então nós nos limitamos a suspirar resignados.

—Chega de papo meninos, levantem da cama que o dia vai ser longo! — Ayume anunciou batendo suas tampas de panela novamente.

Nós levamos as mãos aos ouvidos.

—Da para parar?! — reclamamos.

Elas riram.

—Mas por que você não fez nada no cabelo enquanto nós tivemos que pintar de laranja? — reclamei.

—Do que você está falando Vinicius? — ela me encarou— Faz mais de sete semanas que eu estou deixando o cabelo crescer, ele está enorme!

Nós cruzamos as pernas e olhamos seu cabelo, ele estava realmente maior, mas não tão grande quanto ela parecia acreditar que estava, porém decidimos não comentar nada, até porque nem tivemos tempo porque foi esse o exato momento que mamãe e papai escolheram para entrar no quarto:

—Mas que escândalo todo é esse? — Mamãe perguntou parecendo alarmada — Eu acordei achando que estávamos sendo assaltados!

—Eu te disse que nenhum bandido que se presa assaltaria assim a luz do dia e ainda por cima fazendo tanto barulho. — papai afirmou entrando logo depois dela.

Os dois viram Ayume e pararam.

—Quem é essa garota no quarto dos meus filhos? — Mamãe perguntou pondo as mãos nos quadris.

Ayume virou-se.

—Oh, senhora Montenegro! Eu sinto muito por todo o escândalo, é que sua filha me deixou entrar, e eu queria surpreender os meninos...

—Bem, com certeza você conseguiu nos surpreender. — papai comentou coçando a barba por fazer.

Vimos às orelhas de Ayume ficarem vermelhas, mas mamãe ainda não estava satisfeita:

—Mas eu perguntei quem é você.

♠. ♣. ♥. ♦

—Murilo. — Dra. Frank chamou — Murilo!

Murilo fechou a porta e virou-se rapidamente.

—Oi doutora?

—O que você estava fazendo? — perguntou franzindo o cenho — Seu irmão ainda está falando.

—Ah, eu sei. —Murilo riu sem graça, voltando para o sofá — Eu só queria confirmar que Ayume não está ouvindo, mas está tudo bem, ela está de fones murmurando sozinha com o celular, então deve estar assistindo outro daqueles desenhos japoneses dela.

Dra. Frank acenou afirmativamente e voltou-se para o outro irmão.

—Então Vinicius se você puder continuar...

—É claro doutora. — Vinicius concordou limpando a garganta.

♠. ♣. ♥. ♦

—Ela é a namorada dos meus irmãos! — Maya exclamou mais do que feliz antes que qualquer um pudesse responder.

—Namorada dos dois?! — mamãe engasgou-se.

Ok. Acho que desde daqui já da pra perceber que a primeira impressão que nossa mãe teve de Ayume não foi das melhores.

—Não! — Ayume guinchou deixando as tampas de panela cair no chão.

Mas papai olhou assombrado para nós dois.

—Eu sabia que vocês dividiam muita coisa, mas acho que tudo tem um limite garotos, a mesma namorada...

—Eu não sou a namorada deles! — Ayume exasperou-se. — Sou amiga, só amiga!

—Só amiga? — Maya repetiu, apertando seu bichinho com cara de quem iria chorar, ela sabe mesmo comover as pessoas — Mas então por que eles deixaram você tingir o cabelo deles?

—Foi você! — Mamãe apertou os punhos trincando os dentes, com o rosto ficando vermelho.

Ayume recuou um passo para trás.

—Foi, mas eles deixaram... Porque somos amigos! — apressou-se a explicar para Maya.

Só que Maya ainda estava longe de ficar conformada.

—Mas você os beijou... Os dois!

—O que?! — mamãe horrorizou-se.

Papai ainda nos olhava assombrados, enquanto lentamente esticávamos as pernas para fora das camas.

—Os jovens de hoje em dia têm uns relacionamentos cada vez mais modernos. — comentou.

—Não! — Ayume voltou a erguer as mãos — Aquilo foi um beijo de amigos, eu juro senhor e senhora Montenegro!

—E você não vai beijá-los agora?  — nossa imazinha perguntou toda ela a encarnação da inocência.

—Não.

—Por que não? — Maya insistiu, enquanto nós nos levantávamos e nos espreguiçávamos.

—Porque eles acabaram de acordar, devem estar com mau hálito! — Ayume respondeu, parecendo desesperada para mandar nossa irmãzinha calar a boca.

—Isso não foi nada gentil pequena Ayume. — nós reclamamos.

—Mas você até consegue diferenciá-los! — Maya salientou o que para ela parecia ser o ponto mais importante em tudo aquilo.

Ao ouvir aquilo mamãe empalideceu, e papai passou a olhá-la parecendo até fascinado.

—Porque somos amigos! — Ayume insistiu — Que garota seria louca o bastante para querer namorar os dois de uma vez?!

Murilo colocou-se ao seu lado passando um braço pelos ombros dela e pondo a outra mão em seu próprio quadril.

—Ah pequena Ayume como você é ingênua. — ele disse.

Eu parei do outro lado de Ayume, também passando o braço por seus ombros e pondo a outra mão em meu quadril.

—Muitas garotas topariam isso. — afirmei.

E então passamos a mão que antes estava nos quadris pelos cabelos alaranjados com o maior “ar de bacana” e completamos:

—Afinal que garota não gostaria de ter só para si o amor de dois gêmeos idênticos de uma só vez?

Maya começou a comemorar, nossos pais ficaram boquiabertos — mamãe parecia à beira do choro — Ayume ficou tão vermelha que seu rosto parecia até que estava brilhando.

E nós demos risada.

É claro que estávamos brincando naquela hora doutora, nós podemos dividir muita coisa na vida, mas nunca pensamos em dividir algo como uma namorada, na verdade, acho que até pouco tempo depois disso, nós nunca sequer tínhamos pensado em namorar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Computador ainda passando por problemas técnicos aqui... Nem vou comentar. -.-'
Mas tudo bem, porque enquanto ele estiver de "frescura" comigo eu vou usando o note do meu irmão mesmo... Ah! E sintam-se a vontade para comentar o que quiserem, eu lerei e responderei todos com muito carinho ^^



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Gêmeos no Divã" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.