Gêmeos no Divã escrita por Lady Black Swan


Capítulo 37
18° Consulta - parte 2


Notas iniciais do capítulo

A você, querido leitor ou leitora, que chegou até aqui e, assim como eu, riu, se divertiu e se estressou com esses meus amados gêmeos eu só queria dizer: MUITO OBRIGADA!



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 —Uma princesa. — Murilo deitou a cabeça no ombro do irmão — Nossa pequena Ayume vê-me como uma princesa, e vai vestir-me em babados e rendas.

Vinicius passou o braço em volta dos ombros do irmão.

—Não se preocupe você vai ficar adorável irmão. — sorriu-lhe zombeteiro.

—Que bom que acha isso. — Murilo retrucou calmamente fechando os olhos — Porque somos idênticos e você também será uma princesa no fim.

—Ah é. — Vinicius fez uma careta — Quando o servo toma o lugar da princesa para que ela não seja executada, as coisas que fazemos por nossa Pequena Ayume.

Ambos suspiraram.

Franck Lorret pigarreou.

—Garotos. — chamou-os. — Eu sei que vocês gostam bastante de Ayume, mas não se esqueçam de que não precisam se sentir obrigados a nada, certo? Se não estiverem se sentindo confortáveis com isso, precisam dizer a ela.

Ajeitando-se no divã os gêmeos piscaram.

—Oh, na verdade estamos bem com isso. — afirmaram.

—Verdade?

—Não é como se fossemos obrigados, afinal. — Vinicius deu de ombros. — Depois que saímos do atelier do pai dela, Ayume nos disse que se realmente não estivéssemos confortáveis ela conhecia uma garota do último ano...

—Que tem uma irmã no primeiro ano, e ela podia tentar falar com elas. — Murilo continuou — As duas obviamente não são gêmeas, mas não faz diferença, porque elas são tão parecidas que estão sempre as confundindo.

—Ayume nunca falou com nenhuma das duas antes, mas isso não a impediu de nos abordar e convencer a fazer cosplay e ir com ela naquele evento, não é? — Vinicius sorriu, embora de maneira um pouco tensa — Embora a questão do tempo a preocupe um pouco.

—Então aceitamos, amigos são para essas coisas. — Agora foi Murilo a dar de ombros — Além do mais, não é como se dessa vez corrêssemos algum risco de ser perseguidos, não é?

Os gêmeos fizeram uma careta e olharam para a doutora.

—Não, acho que não. — os tranquilizou. — E quanto a Ayume, ela também encenará?

—Nem pensar, e olha que os Dos Reis tentou convencê-la. — os garotos riram — Mas ela disse que se todos estiverem no palco não haverá ninguém para cuidar das coisas por trás das cenas.

—Uma garota muito responsável. — Frank Lorret a elogiou.

—Nah. Aposto que ela só quer poder tirar montes de fotos, Ayume ama fantasias. — Vinicius sorriu balançando a cabeça.

—E ela também é muito boa em convencer os outros a se fantasiarem. — Murilo acrescentou também sorrindo. — De qualquer forma, irmão, eu acho que é minha vez de continuar, certo? — Vinicius acenou para que o irmão prosseguisse, e Murilo inclinou-se animadamente para frente. — Doutora a senhora não vai acreditar em quem a nossa Pequena Ayume conseguiu convencer para interpretar a Garota Verde que será assassinada pelo servo...

—No caso, eu. — Vinicius ergueu a mão.

—... Durante a peça!

Sorrindo Frank Lorret apoiou o rosto de lado sobre o punho.

—Nem posso imaginar. Quem seria?

♠. ♣. ♥. ♦

Verônica!

Ayume realmente não perde tempo, sabia doutora?

Já no dia seguinte quando a procuramos na escola, encontramos umas das mais estranhas combinações que se pode imaginar: Ayume, sua amiga de cabelos azuis, e Verônica.

Era um conjunto tão estranho que parecia uma montagem de photoshop feita ao vivo.

Principalmente porque há mais de uma semana que Verônica e Ayume não se falavam, e isso por causa de uma brincadeirinha da nossa amiga baixinha.

Foi numa dessas poucas vezes em que um está separado do outro, era hora da saída e eu estava andando sozinho com Ayume em direção ao portão, isso porque nesse dia estava caindo uma chuva leve — dessas que a gente mal sente —, mas nada impedia que a chuva pudesse ficar mais forte depois. Então Vinicius, que tinha perdido no jogo de cara ou coroa, tinha ido buscar nossas sombrinhas que estavam guardadas no armário, e o loirinho fora junto também para pegar a própria sombrinha, embora não houvesse a menor necessidade disso já que ele sempre vai embora de carro, — vai entender, não é doutora? — quando nos deparamos com Verônica.

—Verônica. — Ayume a chamou — Está sem guarda-chuva?

—Fui ao salão ontem retocar a definitiva, eu não posso molhar o cabelo ainda! — a loira reclamou frustrada.

Na realidade a Verônica nem precisa fazer definitiva no cabelo, sabia doutora? Porque a Ayume já nos confirmou que os cabelos da prima são naturalmente lisos, mas ao que parece ela os acha “muito cheios” então faz a definitiva para baixar o volume.

—Toma. Coloca isso na cabeça. — A japinha desabotoou a própria blusa do uniforme e a entregou para a prima, ficando assim só com a regata que usava por baixo — Sei que não é muita coisa, mas pelo menos vai proteger um pouco seus cabelos.

—Obrigada Ayume... — Verônica agradeceu um pouco surpresa — Mas e quanto a você? Não vai se molhar?

—Não, tudo bem. Eu tenho guarda-chuva.

Ela sacou sua espada guarda-chuva e foi embora deixando sua prima boquiaberta para trás.

Nem para oferecer a ela uma “carona” debaixo do guarda-chuva...

—Ayume sua vac...!

—Verônica. — Luciano a chamou, chegando por trás e pondo a mão em seu ombro — Pode ficar com a minha.

Claro que ela ficou impressionada com o “cavalheirismo” do Dos Reis, apesar de que — como eu já disse — ele nem sequer precisar de verdade daquela sombrinha, mas continuou bem irritada com a prima. Então já era bem estranho ver as primas juntas de novo, — não que achássemos que elas fossem ficar brigadas para sempre, embora para Ayume tudo estivesse bem —, mas era mais estranho ainda que elas estivessem junto da garota de cabelo azul, que obviamente não ia com a cara de Verônica, ou a nossa... Ou a de muita gente ao que parecia.

Sabe doutora, a Ayume parece ser uma dessas pessoas que consegue fazer amizade com quase qualquer um, inclusive com as pessoas mais difíceis, a de cabelo azul era sem duvida uma dessas pessoas difíceis.

—Vinicius! Murilo! — Ayume acenou para que nos aproximássemos, mas é claro, por que não? Vamos deixar o quadro mais estranho ainda. — Ouçam, elas concordaram em encenar na peça também, por isso deem “olá” para suas novas companheiras de palco!

Eu não disse que Ayume era boa em convencer os outros a se fantasiar?

Nós sabemos que ela provavelmente fez com a de cabelos azuis — Olivia, o nome dela é Olivia, Ayume faz questão que nos lembremos disso — o mesmo que fez conosco para convencê-la: usou a força da amizade.

No entanto não tínhamos ideia de como ela havia conseguido convencer Verônica, sendo que a prima não queria nem falar com ela até o dia anterior, até a japinha dizer o seguinte:

—Ela será a garota verde, e contracenará como par romântico do príncipe azul.

—Ah tá. — dissemos — Agora faz sentido.

Verônica nos olhou sem entender, mas Ayume sorriu e apontou para sua amiga de cabelos azuis — já desbotados — dizendo que ela seria a “Dama Vermelha”.

As três foram ao atelier do Camilo naquele mesmo dia — já mencionamos o quanto é estranho chamar um adulto apenas pelo primeiro nome? — e os ensaios já começaram ontem, o que nos deixou com a nítida impressão de que Ayume e Luciano não querem perder tempo para garantir que ninguém vai desistir.

Mas cá pra nós, eles poderiam ter escolhido alguém menos problemática que a Verônica...

—Eu ouvi dizer que esse negócio de “beijo técnico” não existe. — Verônica comentou como quem não quer nada, erguendo os olhos inocentemente do seu roteiro.

—É, eu também já ouvi falar. — Ayume concordou.

Luciano nos lançou um olhar desesperado do tipo “O que está acontecendo?”.

Balançamos a cabeça, indicando que também não fazíamos ideia.

—E... Para você tudo bem o Lucian beijar outras garotas na TV? — Verônica perguntou.

—Na verdade eu nunca vi nada. — Ayume deu de ombros — Nunca assisti nenhum dos trabalhos do Luciano, não costumo ver televisão.

—É verdade. — Dos Reis concordou tranquilo, ajeitando os óculos — E vou fazer um filme agora.

—Isso é incrível. — Ayume o olhou — Parabéns.

—Então “o que os olhos não veem o coração não sente”? — Verônica arriscou.

Ayume estalou a língua.

—Luciano já tinha sua carreira muito antes do nosso relacionamento. — respondeu de forma muito madura... Ou foi o que pensamos, até ela seguir falando: — E se o Luciano não trabalhar, como ele vai me comprar todas as coisas que me prometeu?

—O seu tapete branco, que fica vermelho quando molha, para o banheiro deve chegar em cinco dias úteis ou menos. — Dos Reis abriu um grande sorriso.

—Excelente! — Ayume bateu palmas — Quando eu sair do banho ele irá ficar parecendo que está coberto de pegadas de sangue!

Verônica piscou confusa.

—Hã... Pegadas de sangue. Claro. — concordou como se aquilo fizesse total sentido para ela, de uma forma que não fizesse a prima parecer nem um pouco psicótica. Francamente nós nem tentamos mais entender.

—De qualquer forma não haverá beijo algum nessa peça. — finalizou nossa pequena Ayume.

—Não? — Verônica nem tentou disfarça a decepção. — Mas talvez isso desse mais emoção a atuação, talvez quando o príncipe azul encontrar a garota verde já a beira da morte…

—Garotos, sabiam que acidentes em meio a representações cenográficas são muito comuns? — Ayume voltou-se repentinamente para nós, falando por cima da prima. — Alguns podem ser até mortais como, por exemplo, armas ou facas que supostamente deveriam ser de mentirinha acabam sendo confundidos com os objetos reais e machucando de verdade algum pobre azarado.

Admito, o sorriso tranquilo com o qual ela finalizou aquela frase pode ter sido um pouquinho assustador. E talvez nós tenhamos ficado um pouquinho boquiabertos.

—Então acho melhor verificarmos todos os itens cenográficos umas duas ou três vezes antes de eles entrarem em cena. — sugeri.

—Sim, especialmente a faca com a qual eu me tornarei um assassino! — Vinicius concordou imediatamente — E a guilhotina que vai cortar a minha cabeça! Não se esqueçam de checar a guilhotina!

Nós não temos a menor ideia de como uma guilhotina de verdade poderia acabar parando no palco — sem contar que elas devem ser bem maiores também —, mas pra que brincar com a sorte, não é?

Por outro lado confundir a faca falsa com uma verdadeira não nos parece um caso tão irreal assim…

—Mas e se Lucian se apaixonar por outra e te deixar? — Verônica insistiu.

Olha doutora, uma coisa não dá pra negar: Verônica é, sem sombra de dúvida, muito corajosa! …Ou louca. Seja como for, Ayume deu de ombros.

—Não nego que eu tive muita sorte em conhecer Luciano e ele também por conhecer a mim. E Lorde Zucker pode até me trocar um dia. — ela lançou um olhar de aviso a ele — Mas eu duvido que ele vá encontrar outra garota que o chame de “Lorde Zucker” ou concorde em chamar seu primeiro filho de Lelouch.

—É verdade. — Dos Reis concordou dando de ombros também — Até porque, em primeiro lugar, essa ideia foi sua. Eu só queria chamar nossa filha de Genevive.

—E eu disse não. — nossa amiga recusou com uma careta. — Você tem o mesmo gosto estranho para nomes que os meus pais.

Luciano girou os olhos.

—Então como você quer chamá-la? “Nunally”? — e então ele percebeu a expressão dela — Não...!

—Até que não seria má ideia. — Ayume começou a dizer pensativa — É claro, se o menino for Lelouch, a irmã tem que ser Nunally!

—Nós não vamos chamá-la de...! Tá. — ele cedeu com um suspiro por fim. — Mas o primeiro nome tem que ser Genevive.

—O segundo!

É obvio que, a essa altura, nós já estamos mais do que acostumados a quase sempre ficarmos perdidos nas conversas desses dois, e nunca levarmos nada do que eles dizem a sério, porém Verônica não tinha esse mesmo discernimento.

—Esperem! — ela arregalou os olhos — Vocês já estão escolhendo os nomes dos seus filhos?!

Ayume a olhou.

—Claro que não. — respondeu com toda naturalidade — Nós só temos dezessete anos.

—Eu tenho 16. — Dos Reis ergueu a mão. — Pelo menos até quatro de março. É só que vimos um post no Facebook perguntando “você teria coragem de dar o nome de um personagem a um filho?”.

—E eu disse que meu filho vai se chamar Lelouch! — Ayume sorriu cruzando os braços.

 E daí por diante eles retornaram à discussão se a “filha deles, Nunally, teria “Genevive” como primeiro ou segundo nome”.

—Apostamos que você sempre quis saber o que esse loirinho viu na sua prima magricela e viciada em desenhos animados, não é? — Nós sorrimos de forma arrogante diante do olhar atônito de Verônica — Pois é.

♠. ♣. ♥. ♦

Os irmãos se recostaram ao divã esticando os braços para o alto.

—Foi um longo tempo de consultas, não é doutora? — comentaram. — Parece que estivemos aqui por anos!

—Foram apenas seis meses garotos. — Frank Lorret sorriu apoiando o rosto de lado sobre a mão — E vocês nem sequer apareciam toda semana.

Os gêmeos pigarrearam.

—De qualquer forma. — juntaram as palmas das mãos. — Achamos que já viemos aqui há tempo o bastante para que a senhora possa perceber o que há de diferente em nós.

—Algo de diferente? — Frank Lorret repetiu.

—Exatamente! — confirmou Murilo sorridente.

—Algo que não tínhamos na primeira consulta há seis meses, mas que temos agora. — Vinicius deu a dica.

E ambos passaram a mão pelo queixo.

—Hum... Cabelo? — a doutora sorriu — Vocês tinham as cabeças raspadas em nossa primeira consulta.

—Não. — Disse Vinicius com expressão confusa.

—Sim. — Disse Murilo com a mesma expressão.

Frank Lorret riu.

—Queremos dizer, além disso, doutora! — os irmãos exclamaram.

E voltaram a passar a mão pelo queixo, então, inclinando-se um pouco mais para frente, a doutora tentou vê-los mais de perto e franziu o cenho ajeitando os óculos sobre o nariz, não tendo certeza do que via ali.

—Meninos. — chamou — Esses aí são seus bigodes nascendo?

—A senhora acertou! — eles jogaram os braços para o alto.

—Mas isso é natural. — Dra. Frank sorriu — Vocês já estão com quase dezessete anos, não é?

—Opa, mas a senhora não notou nada de peculiar neles? — eles se inclinaram para frente o máximo que podiam, puxando o lábio superior para dentro no intuito expor a penugem sob os narizes. — Olhe bem!

Frank Lorret olhou, mas não conseguiu detectar nada de anormal ali.

—Desculpe garotos, mas eu não... Seus bigodes parecem avermelhados? — estranhou.

—Exatamente! — os irmãos olharam-na surpresos. — Fomos ruivos durante esses anos todos e não sabíamos doutora!

Isso fez com que a doutora risse. Aqueles meninos sem duvida eram duas caixinhas de surpresas! Ah... Ela sentiria falta de suas consultas com eles.

—Na verdade metade ruivos. — Vinicius deu de ombros — Ayume fez questão de ressaltar isso.

—E também quer que nos barbeemos antes da peça, embora nós duvidemos que qualquer um na plateia vá notar uma penugem de nada dessas. — Murilo riu. — Ela até ameaçou levar uma navalha no dia só para garantir que nossos rostos estarão lisos feito bumbum de bebê.

—Uma navalha, dá pra acreditar? Quem ainda usa navalhas hoje em dia? — Riu Vinicius — Se bem que se tratando de Ayume nada é impossível, então vamos bem barbeados para garantir que não teremos os narizes cortados.

—Oh, e já que a senhora acertou doutora, aqui está seu prêmio: são convites para a peça. — Acrescentou Murilo.

E entregou em suas mãos um par de ingressos dourados, nos quais se viam escritos os dizeres: “Servo da Maldade — 26 de novembro”.

Ingressos, a peça seria dali a pouco mais de um mês e mal haviam começado os ensaios, mas os ingressos já estavam sendo produzidos, Frank Lorret sorriu.

—Muito obrigada, meninos, eu certamente...

Havia começado a dizer quando, repentinamente, foi surpreendida por um abraço duplo dos garotos.

—Quem sabe não voltamos aqui um dia desses, doutora? — sugeriram.

—Quem sabe um dia? — Frank Lorret retribuiu o abraço. — Mas nada de descontos dessa vez!

Foi quando os alarmes em seus relógios de pulso dispararam encerrando a consulta pela última vez.


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Notas finais do capítulo

Meus gêmeos são "meio ruivos", eles são uma caixinha de surpresas até o fim kkkk
E assim termina a última consulta de nossos queridos Gêmeos... Mas não acabou ainda!
Pois como presente de despedida (para mim e para vocês), teremos ainda mais um capitulo extra para finalizar tudo! XD
E dessa vez narrado por outro ponto de vista à parte do gêmeos... Quem será? (música de suspense).
Então até a próxima!



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