Gêmeos no Divã escrita por Lady Black Swan


Capítulo 32
16° Consulta - parte 1


Notas iniciais do capítulo

Hellou pessoinhas!
Hoje tenho uma surpresinha para vocês nas notas finais!
^_^



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/628992/chapter/32

Naquela tarde, quando os gêmeos finalmente retornaram ao consultório da Dra. Frank Lorret, depois de três semanas seguidas ausentes devido às aulas de revisões e provas de semestre, eles pareciam bem animados.

—Bem, fico feliz que pareçam tão animados hoje garotos. — Dra. Frank os cumprimentou. — Fizeram algo de bom durante essas últimas semanas?

—Na verdade, em maior parte foi terrível. — os garotos alegaram sentando-se no divã, para a surpresa da doutora.

—Ora. — ela piscou — E por quê?

—Provas. — o primeiro irmão suspirou — Foi terrível.

—Mas nossas notas saíram semana retrasada, e por sorte nos saímos relativamente bem. — o segundo gêmeo sorriu.

—Fico feliz. — Frank Lorret sorriu. — Disseram que as notas saíram semana retrasada?

—Dissemos. — confirmaram.

—Então por que não vieram semana passada se já não estavam mais fazendo provas? — ela apoiou o rosto de lado sobre uma das mãos.

—Ah... Isso. — Os garotos sorriram — É que domingo passado Ayume fez aniversário, mas nós saímos na sexta para comemorar com ela.

—E Luciano?

O sorriso dos gêmeos tornou-se ainda maior.

—Trabalhando! — respondeu o primeiro.

—Ayume tem dezessete anos agora. — Afirmou o segundo — Então fomos ao cinema, ela queria aproveitar enquanto ainda lhe resta um ano de meia entrada no cinema.

Frank Lorret concordou.

—Meus parabéns para ela.

—Mas então, doutora, deixando as provas de lado eu aposto que a senhora quer saber das novidades! — afirmaram animadamente.

—Muito bem. — a doutora concordou — Se vocês querem começar por aí, por mim não há problema.

—Certo. — o primeiro gêmeo bateu uma palma — As novidades são que estamos dando guarita a uma fugitiva!

—E também que conhecemos um dos irmãos da Ayume! — o segundo gêmeo repetiu o gesto do primeiro.

A doutora piscou.

—Eu não sei se devo parabenizá-los ou ficar preocupada com vocês. — declarou.

—Então vamos explicar melhor — eles disseram — Aí a senhora se decide.

—Sim, por favor. — ela acenou.

O primeiro gêmeo começou a falar.

♠. ♣. ♥. ♦

Vamos começar pela parte de “estamos dando guarita a uma fugitiva”, ok? Ok.

Aconteceu dois dias atrás, nós estávamos sozinhos em casa com Maya jogando banco imobiliário, com Murilo levando a mim e a ela inegavelmente à falência — nossos pais tinham ido a um aniversario ao qual nós três tínhamos nos recusado terminantemente a ir — quando recebemos ao mesmo tempo a mesma mensagem de Ayume em ambos os nossos celulares:

—“Abram a porta”. — lemos em voz alta.

—Que porta? — Maya perguntou.

Mal ela fechou a boca e ouvimos as batidas na porta.

Murilo, que era quem estava mais perto, levantou para ir atender.

—Ayume. — ele disse abrindo a porta — Não dá para você agir que nem gente normal e tocar a campainha lá do portão ao invés de sair logo pulando o muro e vir bater aqui na porta?

—Oi Murilo! — ela sorriu puxando-o pelos ombros para lhe dar um selinho — Ah... Oi Maya.

Cumprimentou meio sem jeito quando nossa irmã a abraçou de repente.

—Oi Ayume! — cumprimentou sorridente e só a largando quando Murilo a tirou de cima dela.

—E aí Ayume? Passeando? — cumprimentei ainda sentado no mesmo lugar.

—Oi Vinicius, eu vim passar o dia com vocês. — ela me cumprimentou vindo até mim e se inclinando para me dar um selinho também — Eu posso?

Meu irmão e eu nos entreolhamos.

—Claro. Tudo bem. — respondi.

—Pode ficar a vontade. — ele completou.

—Legal, então venham me dar uma mãozinha aqui. — chamou-nos saindo pelo corredor.

—“Mãozinha”? — repeti seguindo-a junto com Maya e Murilo.

—Que mãozinha? — Meu irmão perguntou quando entramos em nosso quarto seguindo-a.

Ayume subiu em uma das camas, abriu a janela e inclinou-se sobre ela.

—Me ajudem a pegar essas bolsas aqui. — respondeu-nos puxando lá de fora aquela inseparável e feia bolsa marrom dela.

—Bolsas? — repetimos.

Doutora, do lado de fora da janela havia uma bolsa enorme de viagens que a japinha seria capaz de caber dentro se quisesse e a mochila escolar dela.

—Isso tudo é para passar o dia?! — Maya arregalou os olhos nos vendo puxar as bolsas para dentro.

—Uma garota precisa de provisões, Maya. — Ayume piscou.

—Tá, mas isso aqui é provisão para o fim de semana todo. — reclamei pesando a mala dela.

—Ou a semana toda. — Murilo depositou a mochila dela pesadamente no chão.

Maya deu um gritinho agudo e se lançou contra Ayume novamente.

—Ela vai ficar no meu quarto! — afirmou animadíssima. — Você trouxe a Ayu-chan?

—Não, desculpe Maya. — ela respondeu — Eu deixei Ayu-chan bem trancada na caixa dela dentro do guarda-roupa.

—Nada disso. — afirmamos. — Vai ficar conosco.

—Ora, vamos, parem com isso vocês três. — Ayume girou os olhos. — Eu nem sequer disse que iria dormir aqui ainda.

Nós a olhamos.

—Ahã, claro. — Murilo afirmou.

—Então suponho que se não veio para dormir, a razão pela qual você trouxe essas malas é porque você esquartejou alguém, guardou os pedaços nelas e agora as trouxe até aqui para nos livramos dela. — ironizei.

—Bestas. — ela resmungou cruzando os braços, mas logo desistiu de ficar emburrada e suspirou — Então... Acham que seus pais vão ligar se eu ficar um tempo aqui? Tipo... Uma noite ou duas? Talvez três...

—Nem um pouco. — respondemos.

Eu medi sua altura por um momento.

—Na verdade, se te escondermos debaixo da cama ou em uma gaveta, quem sabe, pode ser que eles nem te notem por aqui...

Eu admito, eu bem que mereci aquele chute na canela.

Depois, é claro, voltamos a jogar banco imobiliário, mas como já estávamos no meio da partida, Ayume tornou-se nossa banqueira.

—A sua família já descobriu sobre a sua fuga, Srta. Banqueira?

Perguntamos ao vê-la pegar o celular para responder uma mensagem.

—Não são eles, é Luciano.

—Ah. — giramos os olhos.

—Ele está no intervalo agora. — informou-nos enquanto digitava, embora não tenhamos perguntado nada — Quer saber o que estou fazendo agora porque ele está entediado.

—Luciano? — Maya perguntou.

—Meu namorado. — Ayume respondeu guardando o celular.

Maya arregalou os olhos o máximo que pôde.

—Namorado? — perguntou boquiaberta.

—Você o chama de Denis. — Murilo comentou.

—Mas pode chamá-lo de Gringo. — acrescentei.

—Não. Não pode. — Ayume cortou-me rapidamente.

Murilo e eu encolhemos os ombros.

—Então agora Ayume e Denis, barra, Luciano, barra, Lucian, estão namorando? Como na TV?! — Maya perguntou afoita.

—Se na televisão os casais ficam vendo desenhos, lendo quadrinhos, falando o tempo todo de desenho animado. Então sim. — confirmei.

—Ah! E combinando de que personagem de desenho animado vão se fantasiar, — Murilo completou.

—Isso aí. — concordei.

—Tudo bem, já chega. — Ayume girou os olhos — Garotos, nova aposta: Se um de vocês ganharem eu chamo o Luciano de Gringo por uma semana, mas se a Maya ganhar vocês param de chamar meu namorado de gringo definitivamente e passam a tratá-lo somente pelo nome.

Olhamos bem para o tabuleiro. As coisas pareciam vantajosas para nosso lado, tudo bem que eu já estava quase tendo que hipotecar minhas DUAS propriedades, mas Maya não estava muito melhor que eu, e Murilo parecia estar prestes a virar o próprio Tio Patinhas... Além do mais, eram duas chances de ganhar em três, não é?

—Tudo bem, topamos.

E foi assim que passamos a chamar o Gringo definitivamente de Dos Reis.

Foi ingenuidade nossa apostar contra a garota que controlava todo o dinheiro, mas deixa pra lá.

Nossos pais nem ficaram surpresos quando chegaram e encontraram Ayume lá em casa, porque a presença dela se tornou bem comum por lá depois que fizemos as pazes— tanto que até compraram um colchão inflável só pra ela —, e também não se incomodaram quando perguntamos a eles se estava tudo bem ela ficar por lá alguns dias, especialmente depois que garantimos que os pais dela estavam de acordo — torcendo para ser verdade, é claro.

—Vocês parecem ter se divertido. — Luciano comentou no dia seguinte, quando Ayume terminou de contar a ele como ela havia fugido de casa e passado a noite na nossa casa.

—É, e eu tenho até meu próprio colchão de ar! — Ayume colocou as mãos nos quadris estufando o peito com orgulho — Ou quase, não é? — deu um sorrisinho sem jeito — Maya insistiu em dormir comigo.

Nós a surpreendemos com um abraço afetuoso.

—E essa noite é nossa vez!

—O que?! Claro que não! — ela empurrou-nos — Três em um só colchão de ar para solteiros já é demais!

—Vai dar tudo certo! — Rimos — Você é pequenininha!

—Mas vocês não! E vão me chutar para fora! — ela acusou-nos irritada — J.J só faltava me jogar para fora aos chutes quando vinha dormir na minha cama, e eu durmo na cama de cima do beliche! E ele era menor que eu! E era só um!

Claro que isso é obviamente uma história antiga, porque ela já nos disse — e mais de uma vez — que até o irmão mais novo, de doze anos, já ultrapassou a altura dela agora.

Dos Reis riu aparentemente achando nossa briguinha divertida.

—Isso parece legal. — comentou.

—Ser chutada para fora da cama de cima do beliche? — Ayume perguntou confusa.

—Não. — ele riu — Ter irmãos.

—Ter irmãos? — Ayume o olhou.

—É, sabe? — ele riu — Ter alguém para brincar com você em casa, para chutar da cama, para culpar quando os pais forem dar bronca, para jogar videogame, para brigar e fazer as pazes, para pegar as coisas um do outro sem pedir emprestado e depois dizer que não viu...

—E não ter privacidade alguma. — Ayume franziu o cenho. — Sempre ter alguém te torrando a paciência, ter sempre fila para o banheiro e você tem que lutar constantemente pela sua sobrevivência: lutar pelo canto no sofá, lutar pelo controle remoto da televisão e lutar para conseguir, comer antes que aqueles animais devorem tudo. — vai que é por isso que ela é tão pequenininha e come tão pouco — E se um deles pegar gripe, e principalmente se vocês dormirem no mesmo quarto, pegar o primeiro táxi que passar e for para o mais longe possível o quanto antes, porque em menos de vinte e quatro horas o vírus já vai ter se alastrado e contaminado todos como naquele episódio “A Alegria” de O Incrível Mundo de Gumball!

Nós nos entreolhamos, então foi por isso que ela tinha ido para nossa casa: alguém espirrou e ela desertou na mesma hora.

E quem diria! Finalmente uma referência que pudemos entender!

—Mas ser filho único às vezes é tão chato! — ele reclamou.

—Não tem que dividir suas coisas com ninguém — Ayume comentou.

—Mas você fica a maior parte do tempo sozinho! — afirmou — Especialmente se você mora apenas com um dos seus pais, que passa o dia todo fora, e o outro vive longe.

—Você não está apenas com saudade da sua mãe? — ela franziu o cenho.

—Claro que estou. — ele admitiu — Eu falo com ela sempre por mensagem, mas mesmo assim... Eu ainda queria um irmão, ou quem sabe irmã, seria menos solitário.

—Mesmo que você tivesse um, ainda há a possibilidade de que ele estivesse morando com a mãe de vocês, e sendo assim você ainda estaria sozinho agora e, na verdade, se sentiria ainda mais solitário, porque estaria com saudade da sua mãe e do seu irmão. — comentei.

Afinal ele só estava morando com o pai agora porque a mãe arranjou um emprego no sul, mas não pôde levá-lo por causa da carreira dele, não é?

Ayume encolheu os ombros.

—E se você está se sentindo sozinho ligue o videogame.

—Mas eu queria saber como é ter esse vínculo fraterno entre irmãos!

Ela inclinou a cabeça de lado.

—Mesmo que você tivesse um irmão ou irmã, não significa necessariamente que vocês iriam gostar um do outro, sabia? — comentou. — Ou mesmo que vão se dar bem.

—Você gosta dos seus irmãos.

—Claro que gosto. — Ayume franziu o cenho — Claro que eles podiam ser menos chatos, e acho que aquela é uma casa pequena demais para tanta gente, e definitivamente precisamos de um segundo banheiro, mas claro que gosto deles.

Ele nos olhou por um momento e voltou-se novamente para ela.

— E eles se dão bem. — afirmou.

—Bem até demais. — ela concordou — E de qualquer forma, os gêmeos são um caso extraordinário à parte que definitivamente não deve ser usado como exemplo.

—Ela acabou de nos chamar de esquisitos?! — olhei para meu gêmeo fingindo surpresa.

—Eu acho que sim! — ele imitou minha expressão.

—Será verdade? — cobri a boca com as mãos — Somos esquisitos?

Como um espelho, Murilo imitou meus gestos.

—Deveríamos mudar?

Nós encaramos um ao outro por alguns segundos, até não aguentarmos mais mantermos aquela encenação e cairmos na gargalhada.

—Dinheiro bem gasto dos pais de vocês com a terapia. — Ayume suspirou balançando a cabeça.

Murilo deitou a cabeça no meu ombro.

—Nós não voltamos a brigar e você ainda é nossa melhor amiga, então eu diria que está tudo nos conformes.

E ela girou os olhos, sem poder discordar de nossa lógica imbatível, e voltou-se novamente para o Dos Reis.

—De qualquer forma, Luciano. — recapitulou. — Existem irmãos e irmãos, existem irmãos que brigam, mas se gostam, e irmãos que brigam e se odeiam. Ter ou não um irmão não significa, necessariamente que vocês gostarão um do outro.

Dos Reis suspirou desanimado.

—Mas ser filho único é muito solitário, quando fico de folga eu só tenho o Suzaku para conversar comigo em casa. — reclamou — Vocês não entendem.

—É verdade.  — ela franziu o cenho — Nenhum de nós tem um passarinho barulhento que fica gritando por socorro...

Ele a empurrou para o lado.

Mas sabe de uma coisa doutora? Até que o Dos Reis tem razão, nenhum de nós realmente pode entender do que ele está falando, quando Ayume nasceu ela já tinha dois irmãos e nós somos uma dupla desde... Sempre. E agora temos Maya também.

Mas será que dá para imaginar ser assim... Único. Só?

♠. ♣. ♥. ♦

Os irmãos ficaram em silêncio, olhando para a doutora como se esperassem por uma resposta.

Ela ajeitou os óculos.

—Na verdade isso é muito pessoal de cada um, meninos. — disse — É claro que muitos filhos únicos se sentem sozinhos e sentem a falta de uma companhia, como é o caso de Luciano, mas outros tantos se sentem perfeitamente bem assim, inclusive amam ser filho único. Eu mesma sou filha única.

Os rapazes a olharam sem nem piscar.

—E como foi? — perguntaram.

—Eu gostava de ter tempo só para mim então nunca me senti sozinha de fato. — contou.  — E também creio que cresci mais independente por causa disso, por outro lado minha filha, Cameron, também é filha única, e ela está sempre pedindo ao pai dela e eu por um irmãozinho.

Os gêmeos acenaram concordando.

—Acho que no fim só um filho único pode entender outro filho único. — concluiu Vinicius — Assim como só um gêmeo pode entender outro.

De repente Murilo estalou os dedos.

—E se o Dos Reis tivesse algumas sessões com a doutora também? — sugeriu — Sabe? De um filho único para o outro!

A doutora sorriu.

—Não acho que isso seja necessário, meninos, Luciano está se sentindo sozinho, talvez ele só precise de um pouco de companhia. Amigos, quem sabe? — sugeriu — Além do mais, eu só cuido de casais, vocês sabem. — lançou um olhar avaliativo a eles — Vocês são a única exceção. Mas estou feliz que estejam preocupados com ele.

—Não estamos preocupados com ele. — eles negaram de imediato.

E com uma careta Vinicius contou:

—Mas Ayume sim parece ter ficado preocupada com ele...

♠. ♣. ♥. ♦

Assim como a nós também ocorreu a Ayume que somente um filho único poderia entender outro.

—Você podia falar com o Renato. — sugeriu.

—O alpinista de degrau?! — nos surpreendemos — Por quê?

—Ele é mais alto que eu. — ela comentou.

—Tá, mas todo mundo é mais alto que você. — giramos os olhos.

Os olhos de Ayume se tornaram duas fendas quando ela os semicerrou em nossa direção, mas deve ter decidido que daria muito trabalho esconder nossos corpos depois e optou por simplesmente nos ignorar.

—Renato também é filho único. — disse ao Dos Reis, nos dando as costas — Ele sempre passa bastante tempo sozinho em casa, talvez ele possa entendê-lo melhor. Quem sabe?

—É uma ótima ideia! — ele concordou de repente abrindo um sorriso extremamente idiota e feliz.

—Tudo bem, mas agora o sinal está tocando e a aula vai começar. Mas essa não é a sua sala. — ela apontou para nós — E nem a de vocês!

Mas quando ela nos encontrou na saída — e Luciano estava novamente conosco porque estava de novo nos usando como ponto de referência para encontrar Ayume — ele anunciou com um suspiro desanimado:

—Renato não é filho único.

Ayume parou.

—Não é?

—Não. — balançou a cabeça — Ele tem um irmão mais novo, só que ele mora em Belém.

—Ele nunca me disse isso. — ela piscou surpresa.

Dos Reis deu ombros, com ar infeliz.

—Parece que eles não se encontram já tem algum tempo, mas sempre se falam online.

—O que reforça meu ponto: você se sente solitário sendo filho único, mas podia ser pior e ter um irmão e está morando longe dele. — argumentei.

—Ignore-o. — Ayume girou os olhos. E foi aí, doutora, que ocorreu a nossa pequena amiga japa o mesmo pensamento que ocorreu a senhora: talvez o Dos Reis só precisasse de um pouco de companhia, quem sabe? — Sabe... Eu estou passando um tempo na casa dos gêmeos, então quem sabe... Você não possa passar lá um dia? Entende? Para não ficar sozinho em casa...

—Eu estou de folga hoje! — ele afirmou mudando repentinamente de humor.

—Oh. Então tudo bem. — ela piscou desconcertada e nos olhou — Meninos?

—Claro. — concordamos, olhando desconfiados para ele — Sem problema.

Nem dá para culpar a mamãe pela surpresa dela quando chegamos em casa anunciando que tínhamos visitas e não era só a Ayume dessa vez — afinal por que é que essa japinha ainda é considerada apenas visita na nossa casa? Ela passa tanto tempo lá que já é praticamente como se ela morasse! — afinal até menos de dois anos atrás nós não levávamos ninguém para casa.

Achamos melhor não comentar que nosso “novo amigo” na verdade era muito mais convidado de Ayume do que nosso.

E é claro que Maya ficou encantada com isso e de repente parece que nós, seus irmãos mais velhos, nem existíamos mais.

—E você se fantasiou mesmo de Capitão América? — ela perguntou entusiasmada e confortavelmente sentada no chão de nosso quarto entre as pernas de Ayume.

—Foi apenas uma fantasia emprestada que consegui de última hora — ele confirmou rindo.

—Por que você precisou se fantasiar de última hora?

—É que eu tinha comprado meu ingresso escondido de Igor, mas ele descobriu e proibiu-me veementemente de ir...

—Quem é Igor? — ela o interrompeu.

—O agente dele. — Ayume respondeu.

—No fim eu consegui convencê-lo a me deixar ir. — Dos Reis continuou — Mas apenas sob a condição de usar máscara o tempo todo e não tirar sob hipótese alguma.

—Por que você tinha que usar máscara?

E nós que achávamos que ela já tinha passado da fase dos “por quês”.

—Para não correr o risco de ter algum fã meu por lá e ele me reconhecer. — Luciano respondeu pacientemente.

Podíamos jurar que agora Maya ia perguntar “Por que seus fãs não podiam te reconhecer lá?”, mas ao invés disso ela olhou para ele cheia de admiração e perguntou:

—Tipo identidade secreta? Como os super heróis de verdade?

E Dos Reis estufou o peito cheio de orgulho, colocou as mãos nos quadris e respondeu todo canastrão:

—É. Exatamente assim.

Nós — e Ayume, devo ressaltar — giramos os olhos.

Até Maya soltar a seguinte frase:

—Mas você não tem cara de Capitão América, é muito magrelo.

Caímos na gargalhada, tem como não amar essa garotinha, doutora?!

—Eu sei disso. — ele suspirou — O meu plano original era me vestir de Homem Aranha.

—O Homem Aranha não é loiro. — ela retrucou.

Dessa vez nem Ayume se conteve e caiu na gargalhada também.

—Mas o cabelo dele não ia aparecer por causa da máscara — ela finalmente compadeceu-se de cara de “socorro” que Luciano mandava para ela.

—É mesmo. — Maya concordou.

E obviamente tentando desviar a atenção dela, Ayume disse:

—Maya, eu posso fazer um penteado que vi na internet em você?

Maya inclinou a cabeça de lado.

—Tá bem. — concordou.

—Olha aqui, esse foi o meu cosplay no dia que encontrei Lorde Zucker.

Ayume entregou o celular a Maya para mostrar as fotos para ela enquanto começava a mexer nos seus cabelos, e nós, que estávamos sentados na cama logo atrás delas, nos inclinamos para frente para vermos também.

—É você Ayume?! Está tão bonita! Parece uma boneca! — ela impressionou-se.

—Ou um bolo. — opinei.

—Usando cartola. — Murilo acrescentou.

—Quem aqui é um bolo com cartola?! — a japa virou-se irritada para nós, ao mesmo tempo em que Dos Reis inclinava-se para frente e pegava o celular da mão dela — Eu estava vestida de Monster Charmant!

Não temos ideia do que ela estava falando, e pela primeira vez Dos Reis, que havia pegado o celular para ver a foto também, parecia tão perdido quanto nós:

—Então era disso que você estava vestida?

A Pequena Ayume voltou-se surpresa para ele.

—Você ainda não sabia?

—Bem, até agora você não tinha me dito.

—Assista Gosick. — ela respondeu simplesmente.

Baixando os olhos novamente para o celular ele comentou:

—Mas isso deve ter saído caro, quanto saiu esse cosplay no total?

Pensativa Ayume deixou a cabeça cair para trás, deitando-a entre Murilo e eu no colchão da cama.

—Não sei dizer ao certo, meu pai é alfaiate, e a especialidade dele é confeccionar e concertar roupas cosplay, ele fez todas as minhas roupas, e minha mãe é gerente de uma loja que importa e exporta tecido, então acho que o que saiu realmente mais caro foram as lentes de contato e a peruca... As botas nem foram tão caras. Na verdade eu as comprei em um brechó...! — ela ergueu novamente o rosto com expressão animada, e só então percebeu a forma surpresa como Luciano a olhava — O que foi?

—Seu pai é alfaiate e sua mãe trabalha com compra e venda de tecidos?! — perguntou embasbacado, fazendo soar como se Ayume tivesse dito que, na verdade, era uma condessa.

—É. E daí? — ela inclinou a cabeça de lado.

—Você pode fazer o cosplay que quiser! — exclamou eufórico — Os seus pais não estão querendo adotar mais um filho, não?

—Esqueça. Eles têm quatro filhos. E já estão querendo se livrar de um. — ela o dispensou com um aceno.

—Ayume, se os seus pais quiserem se livrar de você, nós podemos te adotar! — Maya se ofereceu de prontidão.

Nós acenamos concordando.

—Na verdade eles estão querendo se livrar do mais velho primeiro, para seguir a ordem decrescente, mas obrigada pela oferta, Maya. — Ayume a abraçou bem apertado e nossa irmãzinha riu com alegria.

—Hum... Tem razão. É melhor esquecer essa ideia de adoção mesmo. — Dos Reis concordou pensativo — Porque se não as coisas entre nós dois iam ficar meio estranhas...

—Você é um idiota. — ela suspirou continuando a trabalhar no cabelo de Maya, e se referindo a nós dois completou: — E eu estou cercada de idiotas.

—Você não sabia Ayume?! — Murilo perguntou surpreso inclinando-se sobre ela — As pessoas idiotas são as que dão os melhores amigos!

—E namorados! — Dos Reis acrescentou sorrindo.

Maya virou-se para Ayume cheia de expectativa.

—Ayume eu posso ser uma pessoa idiota também?

Suspirando longamente nossa pequena amiga oriental passou a mão nos cabelos de Maya e mudou de assunto:

—E eu também fiz cosplay de Haruhi. De Ouran.

E imediatamente Dos Reis baixou os olhos para o celular e começou a vasculhar ali em busca de fotos, mas de repente ele nos olhou com uma expressão surpresa.

—São vocês aqui?!

E dessa vez foi nossa vez de olharmos irritados para Ayume.

—Por que você ainda guarda fotos disso?! — reclamamos.

Ela abriu um enorme sorriso para nós.

—É que vocês ficaram tão legais! Eu ainda tenho as roupas guardadas sabiam? Sempre soube que vocês seriam perfeitos para os papéis! — e erguendo a cabeça contou ao Dos Reis — Na verdade eu fiquei amiga deles só por causa disso.

—Interesseira. — comentamos girando os olhos, embora já soubéssemos disso desde o inicio.

E, como já era de se esperar, nossa Pequena Ayume ignorou-nos alegremente.

—Vinicius foi Hikaru e Murilo foi Kaoru. — ela contou ao loirinho.

—Mas eu não sei diferenciar nem os gêmeos no anime nem estes que estão aqui! — ele riu.

Ou seja, não fazia a mínima diferença quem estava vestido do que.

—Você aprende com o tempo. — Ayume garantiu.

Nós sinceramente esperamos que não.

—Mas eu conheço meus irmãos desde que nasci e ainda não sei quem é quem! — Maya reclamou.

—Cabe a nós sabermos e a você adivinhar. — respondemos sorrindo cinicamente.

Mas é claro que Ayume tinha que acabar com nossa alegria.

—Murilo está sentado à minha direita e Vinicius à esquerda. — desmascarou-nos.

—Sua desmancha prazeres. — reclamamos.

Ela mostrou a língua para meu irmão e depois repetiu o gesto para mim também.

—Prontinho Maya! — anunciou alegremente.

E Maya levantou-se toda contente com seu novo penteado, que deixava os cabelos dela presos com o formato de um lacinho. Franzimos o cenho observando-a tocar cuidadosamente o lacinho no alto da cabeça com as pontas dos dedos e logo depois sair correndo sem dize nenhuma palavra, com certeza para mostrar o novo penteado para mamãe ou ir procurar um espelho — ou os dois.

—Afinal como você sabe fazer isso? — perguntei. — Com certeza não treinou em você mesma!

—Até os cabelos da sua boneca são curtos. — meu irmão acrescentou.

—Eu treinei no Santhiago. — respondeu-nos.

Voltamos a franzir o cenho.

—Sério?

Ela concordou.

—Foi um pouco difícil, porque os cabelos dele só vão até os ombros, e também porque são muito lisos, como os meus, e escorrega o tempo todo.

—Você... Está brincando, não é? — perguntamos meio incrédulos.

Mas antes que ela pudesse nos responder, de repente Luciano exclamou:

—Eu tive uma grande ideia! — ele olhou-nos eufórico — E se eu me vestisse de Tamaki? E então nós quatro...

—Não. — meu irmão recusou na mesma hora.

—Nunca mais. — enfatizei.

Confuso, e levemente decepcionado, ele olhou para Ayume.

—Os garotos pegaram um pequeno trauma da última vez, por causa de uma perseguiçãozinha de nada de algumas fujoshis. — nossa Pequena Ayume explicou cheia de desdém.

—E tudo por um troféu amarelo do terceiro lugar, feito de plástico. — reclamamos.

—Ah, mas que pena. — ele lamentou — Porque nós quatro juntos seriamos quase o Host Club completo...

—Só que não vai rolar. — dissemos.

Ayume e Dos Reis suspiraram decepcionados.

—E eu? Eu posso me fantasiar também? — Maya perguntou retornando ao nosso quarto.

E, de repente, dois pares de olhos atentos até demais se fixaram em nossa irmãzinha.

—Hum... Talvez de Sakura? — ponderou Ayume. — De Sakura Card Captors.

—Eu nunca assisti, mas ela faz o estilo fofinho, não é? — lembrou-se Dos Reis — Sim... Provavelmente ficaria bem em Maya...

—Por outro lado... — Ayume reconsiderou — As roupas de Sakura são um pouco complicadas... Mesmo se meu pai desse um desconto elas ainda sairiam caras...

—E isso sem falar do preço da peruca, afinal não podemos simplesmente cortar o cabelo da Maya... — Dos Reis acrescentou.

—Não. Dois filhos raspando a cabeça repentinamente já é mais do que o suficiente. — Ayume concordou — E isso sem falar do tempo, talvez não dê tempo de terminar as roupas até o próximo evento...

—Como assim? — interrompemos — Não tem apenas um evento desses por ano?

—Tem outro no final do ano. — Ayume respondeu nos descartando com um aceno de mão.

E assim fomos deixados de lado enquanto Dos Reis e Ayume discutiam que cosplay seria mais adequado e acessível para Maya, até mamãe nos chamar para lanchar.

Mas dá para acreditar?

Até o mês passado estávamos felizes achando que tínhamos nos livrado dele, e agora temos que aturá-lo em casa levando nossa irmã ao “lado cosplay da vida”.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Qual cosplay vocês acham que ficaria melhor em Maya?

Para quem não me segue no Twitter eu só queria dizer que publiquei desenhos novos de Gêmeos no Divã :D

Primeiro a nossa querida doutora Frank Lorret ♥ :
https://twitter.com/Fl0r_D0_De5ert0/status/1133862301843546118

E aqui a tão fofa Maya (reconhecem o penteado?):
https://twitter.com/Fl0r_D0_De5ert0/status/1166836832388222978

E também um pequeno momento de descontração entre Ayume, Luciano e os Gêmeos:
https://twitter.com/Fl0r_D0_De5ert0/status/1137845720126562304

Ah, eu abri uma conta no instagram e ando postando alguns desenhos meus por lá, mas ainda não sei se deveria postar lá também ou não os desenhos que faço dos meus personagens... Mas de qualquer forma quem será que eu devia desenhar agora? :)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Gêmeos no Divã" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.