Tris

Levou tudo de mim para ligar o meu carro e deixar o Tobias para trás.

Deu para ver o quanto ele estava confuso. E eu queria poder ajuda-lo. Droga! Mesmo depois das coisas ruins que ele me fez passar, eu ainda me preocupo com ele. E com o Thomas.

Partiu meu coração ver ele tão assustado e tão preocupado com a mãe. Eu queria poder levar ele dali, trazer ele para casa e fazer de tudo para alegra-lo. Mas eu não pude. Não tenho esse poder.

—Anna? – grito assim que entro em casa. Deixo minhas chaves na mesinha ao lado da porta e ando até a sala. A essa hora era para eu já estar na agência, mas eu não sinto como se meu corpo estivesse desmoronando de tanto cansaço físico e psicológico.

—Menina! Que bom que você chegou. – Anna entra na sala segurando uma garrafa de café em uma mão e um pano em outra. – Fiz café – ela sorri erguendo a garrafa.

—Anna você é a melhor – digo andando até ela, que sorri e me dá um abraço de lado e eu dou um beijo em sua cabeça enquanto andamos juntas até a cozinha.

—E Sophia? – Pergunto. Anna torce um pouco o nariz.

—Ela esta dormindo ainda, não tive coragem de acorda-la para a escola. – Anna diz e eu franzo as sobrancelhas. – Ela ficou acordada até muito tarde ontem. Não conseguia fazê-la dormir. Ela queria esperar você e o Tobias. – Nos sentamos à mesa e eu vou logo enchendo uma xícara de café para mim.

—Tudo bem, acho que um dia não vai fazer mal – dou de ombros. – Ela deve ter estranhado não ter eu ou o Tobias por aqui.

—É... – Anna diz. – Eu disse a ela que você teve que ver uma amiga que estava doente e que o Tobias foi com você. Ainda assim, ela teve que ficar no meu quarto até pegar no sono.

—Obrigada Anna – digo dando um beijo nela.

—Como esta a Evelyn?

Respiro fundo e esfrego o rosto com as mãos antes de responder.

—Ela está bem, apesar dos ferimentos e, – ergo as duas mãos – tudo mais.

Anna balança a cabeça, concordando.

—O problema é o garoto, sabe? Ele só tem a mãe. E agora ela está no hospital. Evelyn não quer que eu o traga para cá por causa do Tobias e... – suspiro alto – Ele é um teimoso.

Anna sorri.

—Mas você sabe que você tem o poder de amolecer ele né?

—Eu? Como eu posso ter algum poder, eu venho tentando faz tempo e ele não me ouve!

—Ele te ouve sim – diz Anna –, mas ele gosta de fingir que ele decidiu por conta própria – ela ri e eu acabo rindo também.

—Vou ver a minha princesa – digo. – E tenho que ligar para Carli e avisar que vou trabalhar em casa hoje. A essa altura já deve ter várias chamadas dela no meu celular – alcanço minha bolsa e procuro meu celular. Quando o encontro, sorrio e olho para Anna. – Não disse? Ela ligou quatro vezes já.

Deixo Anna na cozinha e subo para o meu quarto. Ligo para Carli e peço para ela enviar por e-mail qualquer novo compromisso ou me ligar caso aconteça algo urgente.

Depois de desligar com Carli, eu tomo um banho e visto um vestido confortável. Em seguida, parto para a missão “Acordar a Sophia”.

—Ei bebê – Sussurro no ouvido dela. Dou dois beijos e a descubro. – Vamos, acorde sua preguiçosa!

—Não! – Ela resmunga.

—Olha lá! É o caminhão de sorvete que está chegando aqui na rua? – Digo em um tom animado. Sophia abre um olho e quando me vê olhando para ela, cobre os olhos com as mãozinhas, deixando espaço entre os dedos. – Eu estou vendo um sorvete azul que pinta a língua! – Faço binóculos com as mãos, olhando pela janela e ouço outro resmungo da Sophia.

—Mamãe, isso não é justo! Eu quero dormir – ela diz, batendo as pernas na cama.

—Mas já é hora de acordar margarida, levante daí. Hoje a Anna deixou você faltar à escola, mas se você não for boazinha eu levo você lá. Ainda dá tempo. – Nem um segundo depois, Sophia está de pé e correndo para o banheiro.

—Agora não posso mamãe, preciso fazer xixi! – Ela grita trancando a porta atrás dela. Dou risada, sem conseguir me conter com a cara de pau dessa menina.

—Não tranque a porta Sophia, já te falei isso.

—Ta bom mamãe – ela diz e ouço o trinco abrir.

Satisfeita, por que minha primeira missão foi cumprida, eu saio do quarto, mas antes aviso para Sophia escovar os dentes e descer.

Quando chego à sala, pego meu notebook e me sento para responder alguns e-mails e ver o que eu posso adiantar do meu trabalho, aqui de casa. Por sorte, hoje eu não tinha nenhuma visita ou reunião marcada. Posso cuidar das coisas sem precisar ir na agência.

Algum tempo depois, ouço a porta da frente abrir, mas não desvio minha atenção do meu trabalho. Sophia já tomou seu café e está brincando com as suas bonecas no tapete, em frente à televisão. Sinto seu perfume antes de ouvir sua voz.

—Tris? – Tobias me chama. Olho para cima e vejo Sophia levantar do chão para dizer oi, mas minha atenção desvia dele no momento que olho para a entrada da sala.

Thomas está parado ali. Olhando em volta.

Mas como?

Olho para Tobias e ele dá um sorriso de lado, junto com um encolher de ombros.

—Anna? – Chama Tobias. A ouço se aproximar e parar ao meu lado. Ela olha para Thomas e sorri. – Você me faz um favor? – Ele pede.

—Claro!

—Você me ajuda a arrumar o quarto de hóspedes para o Thomas? – Anna sorri mais largo e olha para o garoto, que agora está ouvindo enquanto Sophia mostra suas bonecas e diz o que cada uma delas “faz”.

Quando Anna e Tobias se afastam para subir as escadas, eu largo meu notebook e me levanto para ir atrás deles. Vejo quando Tobias passa por Thomas e aperta seu ombro. Estou tão chocada que não consigo dizer nada sobre isso. Apenas me aproximo e sorrio para Thomas, depois deixo ele e Sophia na sala e sigo Tobias para o andar de cima.

Quando entro no quarto, ele está recolhendo algumas roupas do closet, no quarto de hóspedes. Tobias esteve dormindo lá desde que brigamos e eu perdi o bebê.

Depois de recolher tudo ele se vira para mim. Anna está trocando a roupa de cama.

—Espero que você não se importe que eu guarde minhas roupas no seu quarto de novo. Eu vou dormir na sala, mas preciso ter onde guardar elas – ele diz, olhando o monte de roupas empilhado nas suas mãos. Em seguida, sai do quarto e me deixa ali, plantada e sem fala. Anna se vira e pisca para mim, sorrindo.

Estreito os olhos para ela e saio do quarto.

Entrando no meu quarto, vejo o closet aberto e resolvo pedir uma explicação.

—Tobias, você pode me atualizar? – Peço. Parada na porta do closet, observando ele arrumar as roupas dele nos lugares que ele costumava ocupar.

Suspirando, ele se vira para mim e diz:

—Claro, eu posso. Mas antes, eu posso só tomar um banho? – Ele não parece irritado ou ansioso como antes. Parece... Tranquilo.

Ele passa por mim e saí do closet, tirando a camiseta. Desvio o olhar e ando até a porta. Ele continua a se despir como se eu nem estivesse ali.

—Você não precisa dormir no sofá – digo. – Você pode dormir aí – aponto a cama com o queixo.

—Aqui, com você? – Ele dá um sorriso malicioso e eu reviro os olhos.

—Não se anime, eu só acho que a Sophia e o Thomas vão estranhar se virem você dormindo no sofá – dou de ombros. Tobias me olha, mas ele não está mais sorrindo.

—Tudo bem – ele diz. Nesse momento ele está vestindo apenas uma boxer branca. Engulo em seco e me viro para sair do quarto.