“Há coisas na vida que não escolhemos, simplesmente chegam e ficam.”

Nascido em 1992, em uma casa aconchegante e em berço de ouro, Liam era mais um menino chegando nessa vasta terra. Sua mãe e seu pai se separaram quando ainda era pequeno e por sua mãe ser herdeira de uma herança que lhe daria conforto decidiram que o menino ficasse com ela. Vilma é uma mulher muito amável e guerreira, nascida em uma cidade colonizada por alemães onde tradição é o que não faltava, sim, estou falando de esconder o ovo de páscoa e mandar as crianças encontrar em um domingo de manhã, bem cedo, jurando para elas que o coelhinho tinha passado pelo quintal e deixou algumas coisas escondido. Os aniversários eram algo especial, todos os amiguinhos e primos eram convidados para comemorar e comer as mais diversas guloseimas que uma criança possa querer, isso fazia com que Liam se sentisse muito especial. O natal era algo sagrado para ela, era como se realmente acreditasse em tudo aquilo! A sala era trancada durante uma semana porque o “papai Noel” estava arrumando a sala e colocando os presentes em baixo do pinheirinho magicamente enfeitado, tudo isso era revelado as crianças no dia do natal, mas os presentes só poderiam ser abertos a noite, assim que as tias e os primos chegassem. Quando chegavam se reuniam em volta do mágico pinheirinho com as luzes apagadas e com as velas que nele estavam acesas para cantar Noite feliz em alemão (nesse momento as tias enchiam seus olhos de lágrimas, provavelmente lembrando da infância) para depois desembrulhar os volumosos presentes que estavam logo ali na frente.

Stille Nacht, heilige Nacht,
Alles schläft; einsam wacht
Nur das traute hochheilige Paar.
Holder Knabe im lockigen Haar,
Schlaf in himmlischer Ruh!
Schlaf in himmlischer Ruh

(Canção alemã Stille Nacht (Noite Silenciosa),
adaptada para o português como Noite feliz)

Como vocês puderam perceber, esse era um momento que não poderia ser deixado de ser contado, era muito importante na memória do pequeno Liam lembrar de sua mãe nessa época.

Seu pai era de uma família humilde, morador de uma cidade de mais ou menos noventa quilômetros de distância da casa de Vilma. Tiago não era muito de conversar, ele era do tipo de pessoa calada e de atos robustos mas com um coração de elefante – ajudava quem estivesse precisando de ajuda sem pensar duas vezes. O contato com Liam era pouco, devido a falta de condições dele, mas sempre que podia estava presente pois amava seu filho incondicionalmente e sonhava com o dia de poder morar junto a ele.

Quando Liam era pequeno Vilma e Tiago tiveram uma discussão levando a separação. Tiago, pensando mais com o coração do que com a razão emprestou uma certa quantia de dinheiro para ajudar um “amigo”, obviamente o dinheiro era de Vilma. Acho que já entenderam as aspas na palavra “amigo”, sim, esse cara nunca mais pagou Tiago e simplesmente desapareceu. Depois de um tempo foram descobrir o golpe – o Julio “amigo” de Tiago havia inventado uma estória para sair do país. Vilma quando soube que Tiago havia emprestado o dinheiro para Júlio, um cara que não tinha boa fama, discutiu com ele ao ponto de se separarem.

Finalmente vamos falar do garoto Liam. Um menino de estatura mediana, pele clara e olhos castanho claro esverdeado, cabelo castanho combinando com os olhos. Mesmo tendo nascido em uma família bem de vida Liam aprendeu sobre a humilde com seu pai, digamos que ele herdou isso do pai. Liam nunca foi de ter muitos amigos e se dava melhor com pessoas mais velhas. Ir para a escola nunca foi algo prazeroso, mas nunca desprezou o conhecimento, muito pelo contrário, ir para a escola para aprender era bom, porém quando falamos da parte social complica. Liam sofria muito por ter um perfil de garoto quieto, geralmente era surpreendido com um empurrão no recreio ou durante as filas no começo e final das aulas, por esse motivo a biblioteca era o lugar que mais frequentava e a bibliotecária era sua melhor colega em todo o colégio. Ler era um prazer para Liam, para ele a vida e a realidade era muito comum e enfadonha, gostava da ficção de J.K. Rowling e do universo alternativo de J. R. R. Tolkien, na verdade, qualquer coisa que o fizesse sair de onde estava. Era como se não fizesse parte do entorno não conseguindo se aconchegar o que vivia.

Com mais ou menos sete anos Liam tinha muitos amigos na rua, brincavam de brincadeiras tradicionais como: taco, pega bandeira, esconde-esconde, pique-pega, bicicleta, e trazia seus amigos para seu mundo. Mas na medida que foi crescendo Liam não os acompanhava nas brincadeiras, ele gostava de imaginar, brincar de magia, falar com as plantas, brincar de voar, atirar feitiços, se transformar em animais, andar em florestas obscuras e destruir monstros, por esse motivo foi taxado como “a fadinha” no grupo de amigos e foi se excluindo. Não pense que Liam sofreu muito com isso, claro que sempre há a tristeza de ser colocado de lado, mas o garoto se contentava com sua imaginação, criava e recriava mundos e passava o dia todo brincando no largo quintal da sua casa.

Em um certo dia, já com onze anos, Liam estava em seu quarto e foi posto para dormir pela sua mãe, em uma noite comum de quinta feira exatamente as vinte e umas horas – assim que começava a novela. Sua mãe impôs esse horário porque naquela época depois desse horário a TV já não tinha programação indicada para crianças. Ela preparava um misto-quente e um copo de chocolate quente antes de ir dormir e sempre rezava com ele o Santo Anjo e dava um beijo em sua testa. Como de costume, Liam tinha sonhos bem vívidos, mas naquela noite algo diferente aconteceu. Acordou no meio da noite para ir ao banheiro, levantou, calçou as pantufas e foi até a porta, percebeu que a casa estava mais escura que o normal, então como todo pessoa em sã consciência foi acender a luz, só que ele percebeu que o interruptor estava emperrado, com um pouco de medo de andar pela grande casa no escuro mudou de ideia, mas ao se virar para sua cama teve uma tremenda surpresa, la estava ele ainda dormindo, sim ele mesmo, deita dormindo, ao ver aquela imagem Liam ficou confuso e com muito medo, mas tentou entender a situação e olhou para si mesmo, e percebeu que de dentro do seu peito tinha luz que realçava a vermelhidão da pele, ao tocar percebeu que a luz vinha em direção a sua mão aumentando seu brilho, até que do seu peito saiu uma centelha de luz e pairava sobre sua mão em alguns centímetros. Aquela situação estava sendo complicada demais para a cabeça do garoto a ponto de duvidar da realidade daquela situação, mas olhando melhor para a centelha percebeu um objeto parecendo uma pedra, não uma pedra comum como as que vemos pela rua ou uma pedra preciosa, mas sim uma pedra de luz branca, um branco ofuscante que não fazia nenhuma sombra no ambiente, mas esse momento foi interrompido quando alguém entrou no quarto, olhando para o lado. Liam percebeu a presença da sua mãe e como num piscar de olhos foi sugado para o seu corpo e acordou muito assustado com tudo aquilo, mas logo sentiu a mão de Vilma em sua cabeça o acalmando, dizendo que estava tendo um pesadelo e que era para dormir. Ele virou para o lado, ainda ofegante, com sua mãe sentada na cama e nem tentou a explicar, só sabia que dessa vez tinha algo diferente, sabia que aquilo que tinha visto não era da sua imaginação e sim algo muito maior e mais real, foi então que se pode perceber um leve sorriso no canto de sua boca.