Três Alternativas. escrita por Miss B
Notas iniciais do capítulo
Espero que gostem, nada de especial nesse capítulo. É só o começo, não?
Seu nome é Michael. Bom, só Mike. Tem 15 anos, pés e mãos maiores que sua cabeça, síndrome adolescente, várias espinhas no rosto, tronco e antebraços e a puberdade aflorando.
Quer muito ser normal, mas não consegue, pelo simples fato de não ser. Ter percepções diferentes e estranhas para a pessoas, de um mesmo mundo visual -porém não sentimental-, é chamada de esquizofrenia. Para Mike, é apenas um motivo que as pessoas dão para se afastarem. Elas sempre fazem isso. Eu não ligo, ele diz. Podem me chamar do que quiserem; louco, vesgo, quatro-olhos, espinhento, e até de louco, com o tanto que me deixem em paz.
Entendeu agora o que eu disse com "síndrome adolescente"? Ele não é só um jovem adolescente e esquizofrênico. É um jovem adolescente esquizofrênico e antissocial. Não gosta da companhia das pessoas, pois conversar não é seu forte, muito menos ouvir coisas banais.
Está na aula, no momento. A professora apontou com a vara para o quadro, que estava com vários símbolos que Mike não entendia. Levantou os olhos do desenho que fazia, uma pessoa sendo decapitada, que máximo!
— Senhor Collins, pode me explicar o que tem aqui?
Três alternativas para uma explicação lógica.
a) Chutar a resposta.
b) Dizer que não sabe.
c) Sair correndo.
— Não sei, professora.
— Está com esses desenhos horríveis de novo? — a velha arreganhou suas presas malignas com um resto de alface entre duas delas. — Quando vai prestar atenção no que digo a você?!
Três alternativas para essa questão.
a) A vida é minha e eu faço o que quiser, não encha, velha chata.
b) Desculpe, professora.
c) Sair correndo.
— Desculpe, professora.
A aula continuou correndo, ou melhor, se arrastando. O ponteiro do relógio estava cada vez mais lento. Cinco, quatro, três, dois, um. O alarme soa.
Três alternativas para uma atitude civilizada.
a) Levantar-se civilizadamente até a porta e sair.
b) Sair correndo.
c) Correr mais.
Michael Collins pegou seus livros, pendurou a mochila e correu até em casa, sem parar. Chegou e encontrou a mãe, com o seu costumeiro avental florido e uma frigideira na mão, acho que eram ovos com bacon.
— Olá, filho! Como foi a aula?
Três alternativas para essa resposta.
a) Uma bosta.
b) Como sempre.
c) Sair correndo e se trancar no quarto.
— Como sempre, mãe. — respondeu, andando até o quarto para largar a mochila.
— E esse "como sempre" é legal? — perguntou ela, tirando a comida das panelas para o prato.
Três alternativas para uma resposta sincera.
a) NÃO!
b) Mais ou menos.
c) Não responder e correr mais.
— Mais ou menos. — Mike observava o teto em silêncio. — A fiação está ficando precária. É melhor pedir a algum especialista ajustar.
A mãe olhou para cima e sorriu, colocando o prato com a comida favorita do filho à sua frente. Abriu a geladeira, tirou de lá suco de laranja e pegou um copo no armário. Serviu Mike.
— Sabe, filho. Eu marquei uma consulta com um psicólogo pra amanhã. Vamos lá?
Três alternativas para não perder a cabeça.
a) Quebrar o copo de suco com a própria mão, foda-se o sangue e a dor.
b) Respirar fundo e ficar em silêncio.
c) Deixar a comida e sair correndo. Voltar, buscar a comida e correr de novo.
Mike respirou fundo, levantando a cabeça e observando o teto, mastigando o bacon em silêncio.
— Então? — a mãe avançou, já servindo a si própria e sentando-se à mesa também.
— Então o quê?
— Vamos?
Três alternativas para dizer que sim.
a) NÃO, MERDA, NÃO!
b) Tá, pode ser.
c) Sair correndo e nunca mais voltar.
— Tá, pode ser.
Terminou de comer e foi pro quarto. Ah, o silêncio! Pegou seu violão, tocou uns acordes e largou o mesmo em cima da cama. Sentou-se, aparentemente sem motivo algum no chão, e encarou a porta. A mãe o seguiria. Os passos dela começaram, estavam longe. Se aproximaram. Ajeitou os cabelos negros pra cima, como gostava. Os cachos voltaram até sua testa e ele revirou os olhos.
Três alternativas para selecionar o problema.
a) Raspar o cabelo.
b) Cortar as pontas.
c) Deixar assim.
Ele preferiu deixar a pergunta arquivada. A porta foi aberta.
— O que está acontecendo na escola, filho?
— Na escola?! Eu sou uma aberração. — Mike murmurou.
A mãe ajoelhou-se ao seu lado, o abraçando. Ele continuou imóvel, na mesma posição, abraçando as pernas.
— Não diga isso nunca mais, Michael! Você não é uma aberração.
Três alternativas para não magoar a mãe.
a) Magoa, vai, diz a verdade, diz que é mal visto pelas pessoas, que todas elas te ignoram, vai, FALA!
b) Não diga nada, apenas suspire.
c) Corra.
Michael suspirou. A mãe levantou e bagunçou os cabelos do filho.
— Você tem esquizofrenia? Tem. Mas isso não é aberração nenhuma. Por um lado, é um dom. Você percebe coisas de primeira que muitos especialistas não veem nem de segunda! É um ótimo músico e desenhista e aprendeu os dois sozinho! Não veja a parte ruim, Michael. Veja todas as coisas boas. Você é diferente, mas um diferente bom.
Ela saiu.
Três alternativas para fazer durante toda a tarde.
a) Dormir.
b) Dormir mais.
c) Não fazer nada além de dormir.
Michael tirou o violão de cima da cama e se jogou nela, já roncando.
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Gostaram? Espero que sim!