–A lua arde em vermelho no céu negro e belo

Minha vida será levada aqui mesmo

Pela rainha que roubou minha alma

Minhas memórias estão fechadas nas profundezas de meu coração

Então esvaneceram-se os sentimentos

Escuto Chiyo cantando uma música indiferentemente acompanhando o violino de Fukawa, enquanto tento fugir de Tatsuya. Se eu não lutar posso morrer, se eu lutar e feri-lo, Fukawa e Riki ficarão contra mim. O que eu faço?

Tsumi assiste ao espetáculo entediada. Iki começa a apanhar de Dely, penso em ajudá-lo, mas ele logo a atira no chão e se levanta persistente. Continuo a me defender dos ataques de Tatsuya.

–O mundo que eu imaginei

Tão belo, na verdade estava quebrado

Não poderemos concertá-lo

Temos de refazê-lo...

Chiyo continua a cantar.

–Destruindo cada erro de Deus

Vamos terminar com esse sofrimento da humanidade

Somos apenas fantasmas agora

Quem pode sorrir para palavras doces e falsas?

Você não é nada além de um animal que obedece a todos

Você está perdido na escuridão...

Não aguento ouvir palavras tão ultrajantes e ao mesmo tempo com um ar de verdade.

Tatsuya percebe que estou desconcentrado e por pouco não corta meu rosto, alguns fios de cabelo caem no chão, afasto-me dele. Se Tatsuya quisesse me acertar teria conseguido, ele não está querendo me machucar.

–Eu quero desejar, eu quero desejar – Chiyo começa a gritar repentinamente assustando a todos – Meu desejo... Qual era meu desejo? Quero meu desejo!

–Cale-se! – Tsumi o derruba no chão e lhe dá um soco, então o beija, ou melhor, ela o morde. Sai com a boca toda cheia de sangue – Fique quieto aí agora!

Tatsuya me ataca e saio do torpor. Ele chuta meu estômago fortemente e soca meu rosto, cambaleio desnorteado e caio sentado no chão, agora ele não está de brincadeira. Afinal, Fukawa geme como se estivesse doendo algo.

Desvio de sua espada e defendo o próximo ataque, o empurro, temendo feri-lo. Mas Tatsuya não para, ele tenta me acertar desta vez mais rápido, agora está mesmo querendo me matar. Tento desviar e defender seus ataques, mas está ficando difícil manter seu ritmo.

–Vamos! Vamos! Eu quero ver sangue! –diz Tsumi – Ou...

Fukawa solta um grito abafado e vomita sangue.

Tatsuya me derruba e finca a espada em meu ombro. Não posso evitar gritar.

–Isso! Isso! Torture-o! – vibra Tsumi.

Ele tira a lâmina de meu braço e num movimento rápido chuto suas pernas pra ele cair. Adivinha? Não funcionou!

Tatsuya perfura minha perna com aquela espada, meus músculos ficam rígidos, gemidos indesejáveis saem de minha boca.

–Desculpa – murmura Tatsuya disfarçadamente.

Ele ergue a espada, não posso correr, tento me arrastar e Riki grita:

–Não Tatsuya!

Ele foge de Dely e agarra Tatsuya em alta velocidade os dois caem. Dely os persegue velozmente, a seguro antes que chegue até eles. Foi uma péssima ideia. Somos atirados bruscamente na parede. Sinto que nem posso me mexer, Dely fica em ima de mim com uma lâmina em meu pescoço. Percebo uma coisa estranha: seu olho não está vermelho, e sim, amarelo.

–Dely? – coloco a mão em seu rosto, ele me morde e aperta a faca em meu pescoço fazendo um pequeno corte.

–Nee-chan! – chama Tsumi – Ainda não!

–Ah! – resmunga Dely.

Ela sai de cima de mim e afasta Riki de Tatsuya para feri-lo. Consigo, de alguma forma, levantar. Corro para Pará-la, com a perna sangrando e ignorando a dor.

–Tatsuya! – fala Tsumi.

Inesperadamente Tatsuya me para, a batida foi tão forte que rolamos no chão e minha lâmina o acerta drasticamente.

–Não! Eu não queria fazer isso! – apavoro-me ao ver rolamos no chão e minha lâmina o acerta.

–Tatsuya?! – grita Riki se atirando ao nosso lado – Kori, o que você fez?!

–Eu... Eu não queria... Eu só estava correndo e... – tento me explicar trêmulo.

–Você o matou! Ela está morto! – Riki me acusa.

–Desculpa, eu não queria...

Riki me olha choroso e com raiva.

Dely o derruba e lhe dá um soco no rosto. Não aguento mais isso, não aguento mais isso!

–Pare Dely! – a afasto de Riki e fico em cima dela – Acorde! Você não é assim! Sua irmã está te controlando! Volte! Volte! Volte, por favor!

Choro e a abraço, não sei como está sendo sua reação e tenho medo que ela não sinta nada, que seja assim de verdade e a Dely que conheço seja falsa. Não quero deixar de abraçá-la, quero continuar pensando que ela é boa, que não é um demônio. Não quero voltar à terrível realidade na qual devo matá-la, prefiro essa doce mentira, porque... eu a amo.

Então Dely me surpreende ao retribuir o abraço e dizer:

–Que sensação estranha é essa que só sinto perto de você?

–Hã? – me afasto um pouco para vê-la.

–Não! Continue me abraçando – pede ela, está chorando – Eu quero sentir você... vivo.

–Dely? É você? – pergunto emocionado.

–Sim, sou eu – afirma ela sorrindo – Você...

–Não! – Tsumi pragueja – Seu desgraçado! Arrogante! Vou te mandar pro Inferno!

Ela de repente desaparece, Dely me joga no chão, mas continua me agarrando. Tsumi aparece em nossa frente.

–Sua traidora Nozomi! Não quer que a gente vença? – indaga ela à Dely.

–Você quer ter o mundo inteiro em suas mãos, mas nunca será feliz assim. Você não sabe o que é a felicidade Tsumi – fala Dely – Não sabe viver.

–Nós poderíamos ficar juntas pra sempre Nozomi! – Tsumi chora – Ninguém nos afastaria, ninguém nos ridicularizaria, ninguém poderia fazer algo contra nós! Pra sempre juntas... Isso não seria feliz?

–Se pra ter isso custa à vida do Kori então não posso ter esse tipo de felicidade – diz Dely em resposta – Sem o Kori meus sorrisos serão falsos novamente, meu coração vai congelar, vou enlouquecer cada vez mais!

–Por quê? Por que precisa dele? – pergunta sua irmã.

–Só o que sei é que pela primeira vez estou pensando nas pessoas, o Kori me fez me importar com o mundo. E se uma pessoa, apenas uma, tiver que morrer para sermos felizes então é um felicidade egoísta e errada – retruca ela.

–Tudo bem – Tsumi se vira e joga as armas no chão a seus pés.

–Você está desistindo mesmo? Depois de tudo? – Dely se surpreende.

–De que adiantaria ter você triste ao meu lado quando eu dominasse o mundo? Você me odiaria...Não quero isso.

Dely fica radiante sorrindo, pela primeira vez parece uma garota normal e não uma maníaca psicopata. Ela sai de cima de mim e abraça a irmã por trás.

–Obrigada Tsumi! – agradece – Eu nunca vou te odiar! Nunca vou te deixar!

–Promete? – pede Tsumi.

–Prometo – aceita ela.

Então Tsumi atira Dely longe repentinamente, pega as armas do chão e me golpeia tão rápido que não tenho tempo de reagir. Uma dor familiar percorre meu corpo e começo a gritar em desespero enquanto Tsumi me apunhala loucamente sem dó nem piedade.

–Morra seu maldito! Você vai pagar por ter roubado minha Nozomi! Vai pro Inferno! Morra! Morra! Morra!