Um lugar para ficar escrita por Renata Leal


Capítulo 6
Capítulo 6




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Agora, estamos com problemas. E não acho que podemos solucioná-los.

Bad Blood – Taylor Swift

11 de dezembro, sábado, 8h30min

– Acordei você? – perguntei assim que Caíque atendeu à minha ligação.

– Não, não... Mesmo que tivesse, seria por uma boa causa. – ele disse. Parecia estar sorrindo. Nesse momento, lembrei-me o quanto ele gostava de mim e, mesmo não sentindo tanto quanto ele, fiquei feliz.

– Que ótimo! Vamos à praia? Caminhar... – sugeri. Lembrei-me que ele tinha comentado que corria; entretanto, a minha proposta foi uma caminhada para tentar conversar e mantê-lo confortável. Eu queria realmente mostrar que ele podia confiar em mim.

– Vamos. Te encontro na barraca 03 daqui a quinze minutos?

– Fechado. – falei.

Nos despedimos rapidamente, pus uma roupa e o tênis e fui comer alguma fruta na cozinha.

– Bom dia! Já vai sair? – minha mãe perguntou.

– Vou caminhar – respondi. – Bom dia – falei mordendo uma maçã.

Percebendo a minha pressa, foi logo falando – Minha filha, tome um café mais reforçado, você pode ter uma fraqueza...

– Mãe, mãe... Pessimismo já? Por favor. Só vou caminhar, quando chegar como mais alguma coisa.

– Preocupação de mãe, minha querida... Você já deveria ter se acostumado – minha avó interveio.

Concordei e continuei comendo minha maçã. Percebi que conversando com minha mãe e minha avó, o tempo havia passado rápido. Passaram-se vinte minutos!

Não demorou nem três minutos para chegar até a barraca marcada. Caíque estava lá, de braços cruzados e encostado. Charmoso. Tinha um físico admirável. Parecia ator de cinema.

– Demorei? – perguntei dando um beijo na bochecha dele.

– Não… - ele disse puxando meu queixo e beijando-me.

Ótima forma de começar um dia... Caminhando, sem pressa, conversávamos sobre como o dia amanheceu lindo. Porém, teve uma hora que o assunto morreu. Ele sugeriu que tomássemos uma água de coco. De cara, concordei.

– Você tá bem? – perguntei a ele.

– Estou – ele respondeu. – Por quê?

– Fiquei preocupada – disse. – Depois do barzinho. – completei.

– Esqueça isso – ele falou.

Nesse momento, avisto Fabiana. Ela está vindo em nossa direção junto com uma amiga.

– Oi Caíque – ela diz, esperando alguma reação dele.

– Oi Fabiana – ele responde encarando-a. – Oi Bia. – ele cumprimenta a outra garota, que sorri.

– E aí... Maria Luísa – ela fala dando ênfase no “Maria Luísa”.

– Oi – respondo.

– Caíque, vamos ao show da banda do meu primo hoje às 20h, você vem conosco? – ela pergunta encarando-o.

– Não sei, vou ver – ele responde. – Se Malu, as meninas e os meninos quiserem ir...

– Vocês não nasceram grudados – Fabiana retruca.

– E nem você nasceu grudada comigo. Tem alguma coisa contra eu fazer novas amizades? – ele rebate e acaba soando um pouco grosseiro.

– O problema não é esse... – ela abaixa o tom, talvez amedrontada pela rispidez do Caíque.

– Então, qual é o problema? Ficar 24h com você e o Ícaro não vai acelerar o efeito dos remédios. Para de agir que nem uma louca e ficar me seguindo para todo lugar que vou. Isso já está ficando ridículo. – ele diz. Percebo que os olhos de Fabiana se encheram de lágrimas.

– Eu só quero cuidar de você e é assim que você me trata? – Fabiana disse fazendo bico. – Caíque, eu só quero o bem para você. O que custa eu te querer perto? É pecado?

– Não, Fabiana, não é pecado você querer o meu bem e me querer perto; mas, acho que, para você, já está ficando meio feio essa sua loucura. Menina, tem vários garotos atrás de você e você fica nessa perseguição! Eu não quero nada com você! Para de tentar mostrar para a minha mãe o quanto você se importa, Fabiana! Ela já sabe que você seria a namorada perfeita pra mim, já basta ficar aguentando-a falando no meu ouvido todos os dias! Pra mim, chega! Cansei de você! – ele desaba. E ela também. Só que ele não chora, fica muito vermelho. Vermelho de raiva, deduzo. E ela vermelha de choro. Percebo que as lágrimas desceram dos seus olhos sem um comando.

– Não, você não cansou. Cansar de uma pessoa que te ama e só te quer bem?! Caíque, a gente podia estar numa boa, mas só precisou a chegada de um novo grupinho de amigos que você muda completamente! Eu só queria cuidar de você, seu egoísta. Você não pensa em mais nada a não ser em se satisfazer! Não pensou em nada antes de dizer essas baixarias para mim! Não pensou no que eu sinto! Não pensou no quanto eu te amo e no quanto eu quero cuidar de você!

– Chega!!! – ele gritou. Gritou mesmo. Gritou tão alto que ela deu passo para trás e olhou a sua volta: todos estavam olhando para eles. Meu coração disparou. O nervosismo tomou conta do meu corpo. Eu queria sair dali. Ver que eu estava atrapalhando duas pessoas de ficarem juntas me deixou com uma sensação esquisita no estômago. Eu queria sair dali, queria correr, mas sei que Caíque viria atrás de mim, o que só magoaria ainda mais Fabiana.

– Por favor, parem com isso – foi a única frase que consegui balbuciar.

– Pode calando a boca, querida, pois não chamamos você na conversa. Bastou você aparecer para o Caíque mudar tanto. Bastou você e seu grupinho nojento para afastar-me do meu melhor amigo. Bastou você! Será que você não entende que só atrapalha! Você devia ir embora nesse exato momento! Eu sei o que é melhor pra ele, eu vou cuidar dele e eu que vou ficar com ele, entendeu, mocinha? – Fabiana disparou. A proporção que foi falando, foi aproximando-se mais de mim. E eu tremendo. Eu só queria que as coisas se acalmassem. Nunca imaginaria que ela diria tanta coisa para mim.

– Fabiana, cale a boca. – Caíque disse, um pouco mais calmo.

Ele põe o dedo no rosto de Fabiana. Assusto-me.

– Da próxima vez que você falar mais uma palavra de grosseria para a Malu, eu juro que você vai se arrepender. Eu respeito o seu amor por mim, gosto de você, mas a gente já conversou diversas vezes sobre isso. Eu não te amo da mesma maneira que você me ama. Somos amigos. Apenas amigos. Entendeu isso? – ele disse paciente. – E você pare com esses seus showzinhos ridículos porque aqui não é um filme. Ninguém merece ficar ouvindo suas paranoias e seus discursos cansativos. Ninguém merece, muito menos a Malu. Ela está me ajudando e muito. Mesmo sem saber o que está acontecendo, ela é o meu conforto. Não é você. Exatamente. Sabe por quê? Porque você é exagerada, você não para de falar no que eu tenho, você não para um segundo sequer de falar sobre depressão. Não para. Eu não quero mais ouvir essa palavra, está entendendo? Não quero que você fique me lembrando a cada segundo que eu não posso beber e que eu estou tomando remédios. Não quero. Eu quero que você esqueça a minha depressão. Esqueça o que eu tive, esqueça. Simplesmente isso. É só disso que eu preciso e é por isso que eu deixei de andar com vocês. Porque a sua doença pela minha doença, só piora o meu caso. Isso me deixa sufocado. E eu cansei. Cansei de você e suas loucuras. Cansei de você e suas precauções. A vida é tão curta, Fabiana. Então, esqueça. Viva a sua vida e esqueça um pouco a minha. Obrigada. – ele falou e me puxou para continuarmos a caminhada. Não sentia as minhas pernas, não sentia o meu corpo, mas só sei que continuei andando. Mesmo sentindo o meu rosto empalidecer, não deixei que aquilo me abalasse. Continuei meus passos.

De três coisas eu tinha certeza:

1 – Caíque estava apaixonado por mim.

2 – A paixão de Caíque enfurecia Fabiana e ela seria capaz de tudo.

3 – Caíque teve depressão.


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