Um lugar para ficar escrita por Renata Leal


Capítulo 11
Capítulo 11




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Não consigo me segurar. Não importa o quanto eu tente. Eu te quero só para mim.

Hands to Myself – Selena Gomez

18 de dezembro, sábado, 10h

Acordei com uma tremenda dor de cabeça. Tudo ao meu redor girava. Rapidamente, o que aconteceu ontem voltou à minha mente. Rondando-me, os pensamentos não saiam de mim.

– Finalmente acordou – Mariana entrou de fininho, percebi. – Preciso do seu rímel emprestado.

– Pode pegar – falei.

– Credo, que cara é essa?! – ela me perguntou procurando o rímel na minha bolsa de maquiagens.

– Dormi muito mal – eu disse, sem conseguir levantar.

Mariana sentou ao meu lado. Percebi que tinha algo a me falar.

– Você saiu cedo ontem – ela disse. – Perdeu o pedido de namoro – ela disse mostrando-me um anel em seu dedo.

– Jesus, Mariana! Que lindo! – eu disse. – Mas, vocês têm pouquíssimo tempo! Ele é louco!

– Eu sei! Mas, não reclamei, né?! Sei que pode parecer loucura mesmo, mas esse é o homem da minha vida. Achei meio precipitado da parte dele, mas amei a surpresa!

– Por isso que ele estava esquisito – falei. – Tá tudo explicando – eu disse sorrindo para ela. Mariana estava radiante! Como é bom vê-la assim.

– Pois é! Fiquei tão feliz! – ela disse olhando para o anel, admirando-o. – Arthur passou por aqui. Deve ter uns 10 minutos. – ela disse. – Claro, estava te procurando, então se arruma logo para agarrar o garoto!

Fiquei calada. Ela não sabia do que tinha acontecido.

– A gente brigou – falei cabisbaixa.

– Como assim?! Conta! – ela falou cruzando as pernas.

– Ele é cheio de segredos, tem uns caras esquisitos procurando ele o tempo inteiro... Não consigo entende-lo! Eu perguntei quem eram aquelas pessoas, quis saber mais, mas ele me mandou calar a boca. Fiquei muito chateada e fui dormir. É tudo tão estranho. Não dá para confiar mais nele. Esse mistério todo está me deixando confusa.

– Eu sei que sou péssima para dar conselhos, Malu. Sou uma pessoa completamente desastrada, precipitada e espontânea. Você me conhece! Mas, esse cara mudou você. Você, em pouquíssimos dias, mudou seu olhar. Você está diferente. Não deixe que o passado desse garoto estrague o que vocês podem ter. Converse com ele. Tente entende-lo. Se você não o compreende, peça para ele explicar-se. Tire suas dúvidas, pergunte. Se você não for atrás, nunca vai saber. É clichê, mas é verdade. Se você não tentar, não tem como funcionar. Vá atrás dele, procure entende-lo. Não deixe que isso atrapalhe vocês. Arrisque.

Eu podia confiar minha vida nessa garota, mas eu nunca seguiria um conselho dela. Até fazer sentido. Meu dia já começou bem. Ela tinha total razão e sugeriu que eu mandasse uma mensagem para almoçarmos juntos. Porém, quando peguei o celular, surpreendi-me.

Arthur: Quero muito me encontrar você. Por favor, preciso te explicar tudo.

Respondi marcando um encontro com ele às 13h no lago, onde iriamos almoçar. Então, não comi muita coisa no café da manhã, pois além de não estar com fome por conta do nervosismo, não queria comer muito por conta do horário ser próximo ao almoço. Pode parecer besteira estar nervosa, mas ele desperta um sentimento estranho em mim. Gosto dele.

O tempo só podia estar de brincadeira comigo. Deixando-me extremamente ansiosa, passava devagar. Surpreendi-me comigo mesma ao estar sentada no sofá esperando o horário marcado. Por que eu sou assim?

Felizmente, meu relógio marcou o horário tão esperado. Parecia até que o relógio estava sorrindo. Na realidade, era o meu reflexo no vidro dele. Respira, Malu, você precisa acalmar-se.

Pedi para meu avô deixar-me no lago, aproveitando que ele iria resolver umas coisas da doceria. E chegando lá, avisto Arthur. Sinto um aperto no estômago. Como eu gostava dele.

– Pronto, querida – meu avô disse destravando as portas do carro. Encarei-o.

– Não sei se quero descer – falei olhando para baixo.

– Como assim, filha? – ele perguntou. Ele me chama assim quando está preocupado.

– Tenho medo do que ele vai me contar – confessei. – Na verdade, estou muito nervosa. Não sei nem se vou deixar ele me contar. Sinto que é algo ruim.

– A escolha é sua: saber ou não. – ele falou. E pegando na minha mão, continuou – Filha, a decisão é sua, mas você já está cansada de ouvir que ele é um menino de ouro. Ele gosta mesmo de você. Gosta quase na mesma intensidade que gosto da sua avó – ele falou rindo.

– Tudo bem – eu disse. – Espero que dê tudo certo.

– Vai dar, querida... Vai dar. – ele disse soltando minha mão e apontando para o Arthur, que estava vindo na minha direção, acenando para o meu avô.

Arthur cumprimentou rapidamente o meu avô e me deu um beijo na testa.

– Está com fome? – ele perguntou.

– Não muito – falei olhando para baixo, extremamente sem graça. O conforto que ele me trazia se perdeu.

– Desculpa – ele disse.

Fiquei parada olhando para ele. Ele encarava-me com um olhar arrependido. Ah, como eu gosto desse menino...

– Eu não queria ter sido tão grosseiro com você. Se você soubesse do que aconteceu, entenderia a minha raiva. – ele disse um pouco sem graça, percebi. – O que eu fiz foi muito ruim, sinto-me envergonhado e fico com medo de você não querer ficar mais comigo por eu ter sido tão infantil. Você não me merece, Malu. Na verdade, você não merece um cara que fez o que eu fiz.

– Mas, você mudou, não mudou? – perguntei.

– Mudei – ele disse. – Mudei muito. Mudei antes mesmo de te conhecer, mas conhecendo você tudo o que eu fiz veio à tona. Senti pena de mim mesmo por ter jogado tão sujo. Senti-me um lixo. E eu não quero que uma garota tão incrível como você fique com um cara assim. – ele disse pegando na minha mão. – Malu, você não tem noção do quanto que eu gosto de você.

– Não se sinta assim. O que você fez, está feito, mas é passado e você se arrependeu. – falei tentando confortá-lo. Achei um pouco impossível, pois nem eu mesma estava sentindo-me confortável.

– Não dá... É horrível – ele disse olhando para baixo. Senti uma ponta de curiosidade. Eu queria realmente saber o que ele tinha feito de tão ruim, mas nesse momento, lembrei da conversa com o meu avô, Mariana e minha avó. Não quero que isso estrague tudo. Ele se arrependeu. Por mais que o erro seja grande, ele se arrependeu. Todos nós erramos.

– Eu não quero saber, Arthur. Não importa. Gosto de você e nada vai mudar isso – eu disse. Ele me encarou surpreso.

– Como assim? – ele perguntou. – Eu preciso te falar. Não vou me sentir bem enquanto você não souber. Quero saber se você vai continuar comigo mesmo depois de tudo o que fiz.

– Não importa, Arthur. Você se arrependeu. Não me interessa. Não quero saber – eu falei. – Estávamos tão bem... Pra quê estragar trazendo um passado à tona?

– Se é assim que você prefere... – ele disse. E sorrindo, me deu um beijo rápido. – Eu estava com tanta saudade de você. Perdoe-me por ter falado daquele jeito com você – ele falou com as mãos envolvendo meu rosto.

Beijei-o. E nesse momento, aquele confortou voltou. Senti-me segura.

– Olha, se você quiser, eu te conto. Não tem problema. Mas eu tenho muito medo... – ele disse, porém foi interrompido por um beijo meu.

A minha vontade era ficar nos braços dele para sempre, mas por um segundo, esqueci-me de que aquele local era público. Interrompi-o.

– Eu gosto muito de você – ele sussurrou enquanto me abraçava.

Ele sugeriu que fôssemos almoçar logo. Concordei. Ele sugeriu um restaurante japonês e eu adorei a ideia. Enquanto esperávamos o nosso prato, conversamos bastante. Logo após o almoço, tomamos o milk-shake, aquele famoso que iriamos tomar no dia que ele encontrou a galera estranha. E eu, simplesmente, amei!

Meu avô buscou-me no lago e levou-me para casa.

– Você está calada – ele disse, despertando-me dos meus pensamentos.

– Que nada, vô – respondi sorrindo para ele.

– E sorridente – ele completou. Sorri para ele. Ele sorriu para mim. – Isso significa que fizeram as pazes?

Balancei a cabeça afirmativamente e ele deu uma leve gargalhada.

– Quem diria a minha netinha namorando!? – ele disse voltando a se concentrar no trânsito.

– Não estou namorando! – falei rindo. Ele riu ainda mais.

– Não está? Na minha época isso se chamava namoro. Mas, se não estão namorando, logo, logo, irão. – ele falou dando uma piscadinha.

Sorri. E sorri mostrando os dentes, indicando que estava muito feliz, pois meu sorriso nunca sai com tanta vontade e espontaneidade como esse saiu. Senti-me transbordada. Isso que ele me causa: transbordo. Aprendi que não devo procurar alguém que me complete, mas que me transborde. Algo me diz que estou fazendo a coisa certa.

18 de dezembro, sábado, 16h

– Claro que ela pode morar aqui! Vou adorar tê-la trabalhando comigo! – minha avô disse animada enquanto fazia uns cálculos.

Acabo de sugerir que a mãe de Arthur more e trabalhe com ela. Claro, conto também que nos acertamos e que, agora, está tudo ótimo.

Extremamente animada, penso em ir para o meu quarto e ligar para Arthur, mas sou interrompida por um cara alto e loiro.

– Sentiu minha falta?

– Caíque! – digo pulando nos braços dele e o abraçando com toda força que tenho.

– Ei, vá devagar. Você é pequena, mas é pesada, Maria Luisa! – ele diz gargalhando, parecendo sufocado com o meu peso. Desço dos seus braços e o chamo para conversarmos em casa. E vamos para a sala.

– Você sumiu – falei.

– Sim – ele respondeu abaixando a cabeça. – Thadeu adoeceu, mas já está bem.

– Como assim?! Por que não me ligou? Podia ter me falado! Talvez pudesse ajudar em alguma coisa...

– Não, não precisávamos de mais preocupação – ele disse pegando na minha mão.

Assenti. Ele me explicou que Thadeu teve uma gripe muito forte e ficou dias e cama, então ele e a mãe ficaram levando-o para médicos, comprando remédios... Thadeu é advogado, então Caíque ainda teve que ajuda-lo no trabalho, pois não podia fazer todo o trabalho sozinho.

Abracei-o.

– Fico feliz que está tudo bem – eu digo envolvida por seu abraço.

– Senti sua falta – ele disse.

Aproximou-se. Ele parecia que ia me... Beijar. Antes mesmo que sua boca encostasse na minha, afastei-me.

– Atrapalhei alguma coisa?

*


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