O Despertar do Tigre escrita por B L Moraes


Capítulo 12
Treino II-Encontro com o mar.


Notas iniciais do capítulo

Gostaria de agradecer a todos os comentarios-bons ou ruins-que me ajudam na historia.
Espero que gostem e boa leitura.



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Anamika adiantou a nossa viajem para a caverna por quase três semanas. Fique preocupada com minha mãe, mas neste dezoito dias frequentemente eu tinha sonhos com ela e ela sempre dizia que estava tudo bem e que Lokesh não poderia fazer mal a ela.Mesmo sabendo que o plano de Lokesh não era machucar minha mãe eu estava totalmente ansiosa em salvará mas cada dia que passava meu coração ficava cada vez mais apertado.

Eu e Kishan ficamos cada vez mais próximos, treinávamos frequentemente á tarde e a noite púnhamos nossas ideias em mente. Meu pai fugia de Anamika que o seguia feito uma boba, ela parecia uma quimera da historia que ele me contou. Aquela mulher me odiava e cada vez mais eu via seu olhar abraçando minhas costas.

Kishan era a melhor companhia que tinha, ele era atencioso e divertido, mas sempre citava em como eu era criança e devia tomar cuidado. Mas algo me dizia que eu devia ser apenas sua amiga, me incomodava saber que ele fora um dia o noivo da minha própria mãe.Eu só queria ter em breve um namorado normal,um amigo da minha idade que eu conheci em uma Cyber Café ou um filho de um soldado quem sabe.

Ele me treinou com dedicação e sempre me ensinava o poder do amuleto e dos presentes de Durga e até mesmo a forma de tigre. Toda vez que eu me fazia algo certo,ele dava um sorriso suave e bagunçava meu cabelo.

À noite, ele vinha à tenda e descansava a cabeça cansada em meu colo. Ele me contava sobre o seu dia enquanto eu acariciava seu cabelo, mas sempre me dava certa angustia quando ele falava ¨Me lembrei de Kelsey¨.

Uma certa noite quando e estava falando sobre minha vida eu perguntei:

—Sabe Kishan,na carta você diz que se arrepende de seus atos quando jovem,mas você ainda esta na mesma idade então...

Serani—Ele suspirou desviando o olhar—Eu posso não ter envelhecido fisicamente,mas mentalmente eu envelheci muito.Sei que minhas antigas atitudes foram erradas,eu nunca devera ter interrompido a historia amorosa de Ren e Kelsey.Agora eu estou tentando fazer tudo certo para não decepcionar meu irmão e Kelsey,novamente.

—Pare de fazer isso Sohan.Você sempre se rebaixa,eu já disse que você é um ótimo guerreiro,companhia e acredite eu sei o seu passado,eu o que já passou—Segurei sua mão enquanto ele me olhava com encanto.

Kishan se levantou e me encarou com um sorriso e se atirou em cima de mim. Fiquei em choque e ele entrelaçou seus braços em minhas costas e me apertou.

—Ninguém nunca disse isso para mim.

Dei uma leve risada e meus olhos começaram a pesar.Ele pegou meu corpo com delicadeza e colocou em meu colchão e me cobriu com um cobertor.Encolhi por causa do frio e a ultima coisa que vi foi ele abrindo meu caderno e anotando algo.

***

Afundei em um sonho negro,sem imagens sem sons.Apenas um rio negro.Mas de repente imaginei um mar,ele estava agitado e as ondas batiam contra as pedras.Vozes masculinas gritavam e varios arpões eram disparados nas águas,redes boiavam sobre o liquido raivoso até que um dos homens avisou vitorioso enquanto puxava algo pela corda e a jogava violentamente no piso de madeira.Eu levantei com fortes luzes em meu rosto e percebi que Anamika se trocava Sem pensar, me levantei e cambaleei até ela.

—Onde você esta indo?

—Meus soldados capturaram algo no pesqueiro. Eu preciso ver o que é.

—Posso ir com você?

—Que seja—Ela deu de ombros e saiu da tenda enquanto eu a seguia.

Corremos por um tempo até chegarmos eu um lugar que eu ainda não vira,um grande pesqueiro de madeira.Os soldados gritavam para a deusa e meu coração congelou em ver o mar que dançava com raiva pelo céu estrelado.

Kishan e meu pai chegaram em cima de garanhões.Kishan se virou e me viu. Ainda segurava as rédeas do cavalo com uma mão. Ele parecia preocupado.

Meu pai deu um passo em minha direção e pegou-me em seus braços.

—Aqui é perigoso filha.

Desviei o olhar e tentei entender o que aquilo significava. Meu pai soltou-me, e foi conversar com Anamika. Todos começaram a conversar, revirei os olhos e comecei a caminhar mais para longe. Para perto da ponta do pesqueiro.

Me deparei com um barulho vindo de perto,segui aquele som de lágrimas e ao me deparar com aquela cena nem pude acreditar,era uma jovem sereia com os cabelos lisos e negros,com a pele clara e a cauda com escamas reluzentes ao perceber que eu observava ela me olhou com olhar de ódio,ela não queria estar ali e eu não sabia o quê fazer com aquele ser tão frágil e tão lindo,era inacreditável...''E então, eu a encontrei.
Parecia com tanto medo quanto eu, com seu braço protegendo o corpo como podia. Sua pele, onde poderia ser descrita como "humana" era bem pálida, comparado a Branca de Neve — a princesa que nunca vira o sol por toda sua infância. Seu rosto poderia ser descrito com uma única palavra — belo. Seus olhos tinham uma brilho arroxeado como parte de sua calda, seu nariz era pequeno e redondo, em perfeita sintonia com sua boca avermelhada. Nem as lágrimas poderia atrapalhar aquela beleza natural. Ao contrário, só faziam parecer digno de uma pintura.
Sua calda, parecia bastante com o que se leria em relação à sereias, um mito que até agora não me parecia tão real. Mas era mais brilhante do que poderia descrever, e mais singular do que qualquer outra coisa que poderia ter visto antes. A cor era roxa, mas ao mesmo tempo azul marinho, e as escamas parecia ter purpurina, deixando tudo mais mágico e encantador. Posso confessar que, em poucos momentos na minha vida eu me choquei, mas naquele momento eu o fiz, sem medo e nem vergonha.. A cauda também reluzia e deixava toda aquela imagem ainda mais fenomenal. Tentei falar alguma coisa, mas as palavras me fugiam e dizer algo ali era inútil. Alguns momentos necessitam de palavras, outros de olhares.

Ajoelhei perto da bela criatura e ele me olhou com ódio enquanto tentava conter suas lagrimas, sua barriga remexia com dor.Ela necessitava da água. Os soldados que retornaram recomeçaram a se mover, mas olhando para mim sobre os ombros, intrigados.

—O-oi qual é seu nome? —Gaguejei.

Ela fechou os olhos e se virou engolindo seus soluços. Os soldados pegaram seus braços e a arrastam para mais longe do mar.Corri em direção a Kishan e o agarrei pelos ombros.

—Porque estão fazendo isso com ela? —Gritei.

—Anik ela é perigosa,como vamos navegar em mares com animais deste tipo e tem mais podemos retirar informações dela.

—Que tipo de informações?Nossa missão é salvar minha mãe.Esta criatura não tem nada haver com Lokesh.

—Como tem certeza?

Anamika sorria vitoriosa. Ela se manteve virada de costas para mim.

— Você sempre tem que estragar tudo não é,deusa metida a besta — falei.

Ela não respondeu.

—Nós somos criaturas também,por favor a ajude.

A deusa-guerreira balançou a cabeça e andou para onde a sereia estava.

—Pai—Sussurei. —Salve ela.

—Querida,não posso fazer nada.

Anamika caminhou e chutou com violência o corpo fraco da sereia que soltou um gemido fraco.

—Diga sua aberração,eu quero respostas.

—N-não sei de nada minha deusa...me liberte por favor... —Sua linda voz foi interrompida com outro chute.

— Não vou te libertar, não quero este tipo de lixo em meu mar—Ela se virou e gritou—A amarrem em um pilar até a luz do sol onde ela ira secar,se ela não tem respostas não ira ver seu precioso mar novamente.

— Sim minha deusa—Disse um soldado que puxou a sereia pelos cabelos e a amarrou em um pilar de madeira.

Tentei engolir minhas lagrimas.Não acredito que eles eram capaz de fazer aquela monstruosidade.

—Sua mãe teria aceitado—Disse Anamika subindo em um cavalo.

—Minha mãe tem coração.

Ela deu uma risada e acertou a costelas do cavalo para que ele galopasse.Kishan e meu pai fizeram o mesmo.E antes meu pai cedeu sua mão.

—Vamos filha?

Assenti com cautela.

***

Eu estava novamente deitada no colchão. Durga dormia pesadamente, eu não podia deixar aquela criatura ter aquele destino.

Levantei do colchão e estralei os dedos perto de Anamika e seus olhos ainda permaneciam fechados.Coloquei a jaqueta de Kishan e caminhei pelo chão frio com o maior silêncio possível.

Quando chegai no pesqueiro percebi que a sereia ainda chorava,não havia nenhum soldado á vista,os primeiros raios de sol saiam tímidos pelas nuvens,uma pequena luz pegou em seu rosto e o queimou .O mar estava calmo e triste.Caminhei pacificamente perto dela e quando percebeu se calou e fechou os olhos.

—Então este é meu fim. —Sua voz era suave e aveludada.Ela dizia aquilo com tanta certeza que deu um nó em meu estomago.

—Não este não é seu fim.Eu vou te ajudar.

Seus olhos se abriram e ela tentou dar um sorriso que se misturou com um misto de dor. Contornei o pilar e agarrei a corda,tentei desamarrar mas meus dedos deslizavam e cada vez mais o sol ia aparecendo.

—Isto é inútil.Mas obrigado por tentar.

—N-não eu vou conseguir.

—Este é meu destino.

—Não acredito nesta droga de destino.

Transformei-me em tigre e cortei a corda com minhas garras,a sereia tombou e caiu para frente.Ela me encarou encantada e acariciou meu pelo.

—Você me entende então.

Transformei em humana.

—Sim eu te entendo,venha eu vou te levar para seu lar.

Agarrei seu corpo,e caminhei até a ponta do pesqueiro.Coloquei-a no mar e vitoriosa ela afundou e bateu sua cauda contra a água.

— Adeus—Suspirei cansada ajoelhando sobre o pesqueiro.

Seus olhos brilhantes vieram a superfície novamente.

— Meu nome é Atalanta.Eu lembro que me perguntou ontem á noite.

—Anik.É um prazer te conhecer Atalanta.

—Pode me chamar de Atala. —Ela forçou seus braços para o pesqueiro e se sentou do meu lado. —Quero que saiba que não sei de nada,não sei direito quem é Lokesh.Mas sei que há algo de errado no mar,antes havia uma variedade de criaturas marinhas e sereias.Mas agora é tão difícil encontrar alguma,eu vivo sozinha por esse mar.Venha comigo Anik vamos viver juntas.

—O-oque?

—Eu sei que parece estranho,mas você parece ser uma boa garota e tem mais nós duas temos algo em comum sabemos que estes humanos são cruéis.

—Atala desculpe mas eu não posso eu tenho um família e uma mãe para salvar.Você tem que ir agora pois os soldados podem nos ver,mas espero te ver em breve.

—Eu entendo,boa sorte em sua missão Anik—Ela deu um suspiro e me abraçou,sua pele era fria mas ao mesmo tempo transmitia uma boa sensação.

Passei a mão pela madeira e um pedaço me feriu fazendo meu dedo sangrar,Atalanta olhou encantada mas depois desviou seu olhar e deu um sorriso melancólico.Suas pupilar viraram para dentro da cabeça deixando um espaço em branco,seus dentes-que ainda não tinha reparado—Eram afiados.

—Me desculpe por isso Anik,mas sabe Agora as sereias possuem uma arma ainda mais fatal do que seu canto, ou seja, seu silêncio... Talvez fosse possível escapar do seu canto: mas do seu silêncio, por certo, jamais. Tentei me levantar e correr.Seu corpo se jogou rapidamente para o mar e ouvi uma voz familiar gritando.

— Anik saia daí agora!

Senti duas mãos puxando minhas canelas. Meu corpo flutuou pelo ar durante alguns segundos,finquei minhas unhas na madeira mas foi inútil e eu fui puxada para as profundezas daquele mar.O corpo da sereia ainda me rodeada e ela recitava algo enquanto meu pulmões ardiam em brasa e tudo ficava escuro em minha volta.

— Tenho saudade do que nunca fui. Do meu olhar no rol da escada, do meu livro de histórias gregas, de uma fita de aniversário e dos meus sete anos. Tenho falta dos sete pedaços que um dia fui, de sete almas que um dia tive, de sete palmos da terra que nem sentiam meu cheiro. De viver sete dias na semana sem chorar sete vezes e sentir sete mundos e sofrer sete céus. E mais sete… e mais sete. Me cala o fio de esperança que não mora aqui, e a vida transpassada e alegre que as pessoas carregam no olhar. O meu é só vazio, é só desespero contido em um brilho ofuscado, é vontade de gritar e uma rouquidão só minha. Meu sorriso não abre alas, meu carnaval é em braile, quase ninguém saber ler. Minha festa é outra, minha festa é interna. Não tenho mais o sangue do mundo, não corto mais os pulsos. Não pulo as sete ondas, nem os sete mares, nem as sete vidas. Meu choro é calado e contínuo durando mais que sete dias, mais que sete anos, mais que as sete madrugadas de insônia. Ainda acabo, de tão imensa e desmesurada, roubando espaço dos outros, roubando sentimento dos outros. É que na verdade, sou ladra. Desde quando roubei um chapéu, desde quando matei o gato que diziam ter sete vidas. Sempre as sete vidas. Sou ladra porque saio catando todas essas loucuras e guardando em mim, e vivendo em mim. Canto e encanto com o som das sereias, e nem preciso remexer o cabelo. Nome eu não tenho, minha vida é por dentro, quase imperceptível, calada, roubada. Não vejo. Só sinto e sinto e me entrego em qualquer mar silencioso que me chame. No cheiro de maresia que entranha, mas eu nem me importo ao salpicar o corpo de areia, nem me importo em roubar todos os pecados e fazer virar estatua de sal. Pois quando canto, estonteio.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado,deixem sua opinião e até breve !
Coloquei uma imagem,não sei se gostam de historias com imagens(O desenho não é de minha autoria)