Nadie dijo que sería fácil escrita por Miss Addams


Capítulo 3
Três


Notas iniciais do capítulo

No começo do Poncho narrando tem citação da música Gotten, do Slash feat Adam Levine, recomendado que se escute para a cena: https://www.youtube.com/watch?v=PW0mCBRVL-o

;)



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Dulce

Segurava na sua mão firme para ela saber que eu estava ali com ela, mas todas as vezes que eu a olhava via que quem segurava firme mesmo era ela. E via em seus olhos um sorriso, não era eu quem lhe dava forças, era ela. Minha fortaleza.

:- Então acredito que estamos acertados? – Pedro me chamou a atenção novamente, depois de mais uma vez eu ficar olhando para a minha pequena, que olhava tudo curiosa, tudo era uma novidade. – Dulce?

:- Sim. – eu olhei novamente o contrato, já assinado.

:- Tudo bem para você, tudo certo? – ele me olhou, assim como as poucas pessoas na sala branca e iluminada. – Não vê problemas em voltar ao passado?

Pisquei lentamente antes de pensar na sua pergunta, o que ele queria dizer com aquilo. Eu senti um nervosismo a mais me dominar, eu voltei ao passado desde que coloquei os pés para fora daquele avião, ao voltar – definitivamente - ao México, meu país.

Entretanto, não foi bem o passado que eu vi ao andar pela cidade, encontrei tudo mudado, me perdi em vários lugares, mesmo tendo o sentimento de nostalgia carregado no peito e certa de que a essência de tudo é a mesma, por mais que tenha mudado.

Que a cidade, as pessoas, os lugares, tenha mudado embora a essência seja a mesma, assim como eu.

:- Como? – eu perguntei confusa.

:- Voltar ao passado, voltar para o vermelho? – Pedro seguia falando me fazendo lembrar. – Pintar o cabelo de vermelho, sabe faz parte da caracterização da personagem, Dulce.

:- Sim, claro. Eu só... – balancei a cabeça confusa – Não sei como vai ser, no começo estranho e depois... familiar? – eu ri depois de ver Pedro, e algumas outras pessoas da produção rir, afinal eu não sabia como seria mesmo, só poderia dizer, revivendo.

:- Ficarei aqui então Pedro, tenho que acerta e definir os detalhes da outra reunião com Torres. – Alice, falou para Pedro.

:- Torres? – me intrometi atenta a conversa.

:- Pois é Dulce, mais tarde será a reunião com Torres, e o pessoal do elenco que ele trará para a trama.

:- Entendo, mande lembranças a ele, faz tanto tempo que não o vejo. – sorri fechado.

:- Não se preocupe, quando começarem as gravações você o verá. Agora, dou a reunião por encerrada, todos estão dispensados. – Ele disse a todos.

Me despedi de todos, com votos de boa sorte por começarmos um projeto juntos. Dominique apenas ria e olhava para todos risonha quando eles tentavam interagir com ela. E quando se davam conta de tudo, eles ficavam sem graça.

Demos tchau acenando para todos e assim saímos pelos corredores da Televisa, como carregava Dominique no colo, assim que sai do corredor G para ir à lanchonete para comer algo. Reparei numa agitação num lugar especifico, e não teve como ignorar aquela agrupação de alguns repórteres me esperando.

Porém, antes que eles me encurralasse, tomei outro caminho para fugir deles. Andei depressa e me lembrei que Zoraida estava gravando, por ai. Aproveitei para unir o útil com o agradável, fugiria dos repórteres e mostraria Dominique para Zora.

Deu certo não só fugi dos repórteres como mostrei minha pequena para Zoraida eu só não contava com as horas que eu fiquei na companhia dela, na verdade ela tinha acabado de gravar, então ficamos no seu camarim e lá conversamos e botamos o papo em dia, falando sobre todos esses anos e os reencontros que tivemos.

Até Dominique brincar tanto que dormiu, e quando ela acordou reclamando de fome, foi minha deixa para ir embora por que se dependesse de Zora ficávamos ali até a noite.

Voltei com Dominique para os corredores de Televisa, estávamos caminhando mais tranquilas para o estacionamento, parece que os ânimos estavam mais calmos por que não encontrei com nenhum repórter em nosso caminho. O que me deixou aliviada, por conta de Dominique, não queria expô-la.

E pensava que com o tempo que passei fora, certas coisas mudariam, como a imprensa sensacionalista mexicana, mas parece continuar na mesma ou pior.

Soltei a pequena mão de Dominique, para que ela me contasse melhor a sua história, enquanto eu ria do que ela me comunicava. Mas, ao olhar para frente para encontrar onde estacionei o carro me deparei com a verdadeira saudade.

O que mais pesou na minha decisão de voltar, foi a saudade. Saudade em seu estado mais profundo, de tudo. Absolutamente tudo que envolvia minha antiga vida aqui no México, e vendo o que eu via encontrei a resposta para o fim de um texto que li, algum tempo atrás, de uma escritora brasileira.

Dominique se esticou toda e conseguiu puxar minha blusa para me chamar a atenção para si, ela tentava entender o porquê de eu ter parado sendo que ela já encontrou nosso carro e enfim poderíamos ir para casa para ela comer.

E a resposta da sua pergunta veio andando e parou em nossa frente.

:- Dulce?

...

Poncho

…So nice to see your face again, tell me how long has it been, since you've been here…

Fiquei estático diante das duas, tudo bem que eu sabia que existia a possibilidade de encontrá-la hoje aqui. Mas, não esperava que fosse tão cedo e ainda mais com a filha dela junto.

Pude reparar na menina que me olhava curiosa, os olhos azuis eram mais fascinantes ainda quando enxergávamos de perto.

:- Poncho. – Ouvi sua voz que foi dirigia a mim. Suspirei quanto tempo isso não acontecia, quanto tempo eu desejei que isso acontecesse.

:- Oi. – Consegui sorrir fechado e nervoso coloquei as mãos na calça, na cintura limpando disfarçadamente o suor que veio nas mãos como um menino, que eu já não era mais.

:- Oi. – Ela me respondeu rindo sem graça, e pude notar a diferença desde a última vez que a vi. Algumas marcas rosto que antes não existiam, mas os mesmos olhos expressivos de sempre, ainda bem que expressividade foi caraterística que passou para sua menina. - Quanto tempo, como foi sua vida desde que nos vimos pela última vez?

:- Hãn, muita coisa se passou. Muitas mesmo, coisas boas e outras ruins. – fui vago e amplo na minha resposta. Por me lembrar da última vez que nos vimos e da decepção de descobrir que ela viajou. - E na sua?

:- Fiz e vivi muitas coisas também. Boas, ruins, mais ou menos e maravilhosas. – ela olhou para baixo e pegou na mão da pequena sorrindo, um sorriso feliz de orgulho, de mãe.

Naquele momento decidi falar com a pequenina que ainda me olhava curiosa, como se quisesse saber o que acontecia entre Dulce e eu.

:- Ah vejo que sim. – Sorri. – Qual o nome dela, Dulce?

:- Dominique.

:- Dominique. – repeti o nome o saboreando, era um belo nome. Puxei minha calça jeans antes de me abaixar próximo e a altura da pequenina.

:- Oi, Dominique. Que nome lindo você tem. – eu sorri para ela que por um momento retribuiu. – Tão lindo quanto você. – Passei minha mão em sua cabeça e fiz um carinho rápido.

Assim que terminei a pequenina soltou da mão da mãe e fez alguns sinais com as mãos, com a cabeça levantada para cima, com a face acompanhando seus gestos. E Dulce, também a imitou, não os mesmos movimentos, mas com movimentos. E eu pisquei lentamente com a cena que eu via diante dos meus olhos.

:- Ela é...

:- Surda. – Dulce respondeu por mim. Sendo direta.

E eu voltei a olhar para a menina que agora sorria mesmo para mim. Parecia que ela sabia que eu acabei de descobrir. E esperava alguma atitude minha.

:- Nossa Dulce, eu não suspeitava. – consegui falar superando a surpresa, agora muitas peças se encaixavam com relação às duas.

Vi a pequena Dominique virar novamente para a mãe e fazer mais alguns gestos, o que fez Dulce rir antes de falar comigo.

:- Ela esperava que você a olhasse com pena. Assim como as outras pessoas, mas como você não a olhou assim, te achou um cara legal. – e ela olhou para Dominique que fez mais algum gesto. – E bonitão.

:- Poxa, Obrigado. Pode dizer a ela que eu agradeço e que também a achei linda e legal. – sorri para ela meio sem graça. Depois de ver Dulce se comunicar com Dominique sendo minha intérprete, vi a menina sorrir agradecida.

E por impulso do meu nervosismo eu vi a hora no meu relógio de pulso e xinguei baixo, por que eu não vim mais cedo.

:- Dulce tenho que me desculpar. Eu tenho que ir agora, tenho uma reunião urgente.

:- Oh claro, tudo bem. Já estávamos indo mesmo, está tarde e estamos aqui desde cedo. – Ela pegou a filha no colo.

:- Se eu pudesse ficaria mais e podíamos sair para conversar, mas tenho que ir senão Pedro me mata. – ri imaginando a possibilidade.

:- Pedro? Você tem uma reunião com Pedro?

:- Sim, com Torres. Agora. – olhei meu relógio – para falar a verdade já estou atrasado.

:- Espera, se você tem uma reunião com o Pedro Torres agora isso quer dizer...

:- Que eu também vou fazer a novela, e que vamos trabalhar juntos? Sim, exatamente isso. – foi minha vez de completar seu pensamento e de vê-la ficar surpresa, tanto quanto eu quando soube da surdez de Dominique.

:- Acho que hoje foi o dia das surpresas. – tentei quebrar o silêncio que se formou. – Então deixa eu ir agora, antes que Pedro me ligue me apressando.

Coloquei as mãos no bolso sem graça, de como me despedir delas, e desejando não ter que me despedir.

:- Certo. Foi bom rever você, Poncho. – Ela sorriu.

:- Igualmente Dulce. Muito bom. – me aproximei na intenção de me despedir com beijo na bochecha mais não achei certo, não tínhamos intimidade para isso. Então passei o polegar nas bochechas rosadas de Dominique, e a acenei me despedindo.

:- Tchau, Dulce até logo.

:- Tchau, Poncho até. – eu só ouvi sua voz e comecei a andar sem jeito, sentindo as emoções desse reencontro. Mas, parei diante do elevador e olhei para trás.

Vi Dulce acomodar Dominique no banco de trás, para depois seguir para frente do carro. Ela entrou e ligou começando a ir embora, não sem antes parar e dar uma olhada por onde eu deveria ter ido. Ficou surpresa ao me ver por ali, e depois de me olhar alguns instantes acenou dando tchau.

Finalmente saindo com o carro e levando Dominique, estranhamente agora eu sentia que podia subir, por que elas já estavam seguras indo para a casa. Ri do meu cuidado súbito, e entrei no elevador relembrando os momentos que acabaram de acontecer, a doçura de Dominique e a beleza de Dulce.

Se tinha achado ela linda ao ver os vídeos de sua volta, eu não imaginava como era vendo de perto. O elevador fechou as portas e começou a subir, me levanto para a sala de reuniões, me levando para onde eu acertaria mais um trabalho.

Um trabalho que faria com ela entrasse na minha vida e no meu cotidiano de novo.

...

“Mamãe, quem é ele?”

“Um velho amigo da Mamãe.”

...

Saudades... Sinto saudades de tudo que marcou a minha vida. Quando vejo retratos, quando sinto cheiros, quando escuto uma voz, quando me lembro do passado, eu sinto saudades. Sinto saudades de amigos que nunca mais vi, de pessoas com quem não mais falei ou cruzei. Sinto saudades dos que se foram e de quem não me despedi direito! Daqueles que não tiveram como me dizer adeus; Sinto saudades das coisas que vivi e das que deixei passar, sem curtir na totalidade. Quantas vezes tenho vontade de encontrar não sei o que, não sei onde, para resgatar alguma coisa que nem sei o que é e nem onde perdi.

Clarice Lispector.

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