Afastado do tumulto o ninja encapuzado observava seu companheiro cuidar daquelas crianças intrometidas. Naquela noite nada poderia interferir em seu intento, tinha seguido todas as diretrizes, tinha preparado o passo a passo do mapa para a execução daquele jutsu. Torcia para que os pirralhos não dessem muito trabalho, pois tinha outras finalidades para o homem que trazia consigo e não era lutar, não era defende-lo.

Observou o pergaminho aos seus pés, reluzente como ouro, as escrituras transcritas com sangue. Aquele era um jutsu proibido que segundo as leis Shinobi ninguém deveria executa-lo. Mas um homem, há muitos anos ousou quebrar aquela regra e era por ele e por causa dele que ele ousava desafiar as regras impostas por essa sociedade de pensamento pequeno. Seu clã tinha esperado anos, séculos por aquele momento, não o deixaria passar em branco.

Os Portões Foram Abertos

Para todos os lugares que olhava Sasuke se via rodeado, em todos os cantos as sombras do inimigo se fazia presente. Como aconteceu para tantos ninjas terem passado despercebido pela percepção de Karin ele não fazia ideia, nem tinha tempo para pensar nisso. Rapidamente assumiu uma posição defensiva que foi acompanhada por Naruto, tentar escapar, claramente, não era uma opção.

— Karin, Naruto e eu vamos tentar abrir uma brecha para você correr em direção a Takigakure. Esteja atenta — disse, sem fita-la, o sharingan ativado esquadrinhando a área, procurando um jutsu, um ninjutsu uma justificativa que fosse para aquele exército repentino. Estava costas as costas com Naruto, para que cobrissem todo o perímetro da melhor e única forma que podiam.  

— Está pronto para chutar algumas bundas, teme? — A piada encobria a preocupação pelos números, o desentendimento de minutos atrás já esquecido.

— Nasci pronto, dobe — a massa humana eclodiu para cima deles. Karin se afastou, esperando o sinal que Sasuke daria para ela escapar.

Não demorou para perceberem que o inimigo não era tão poderoso assim, eram facilmente jogados e feridos, a perícia também não era boa, em uma luta corpo-a-corpo perdiam logo. O único problema eram os números e por essa razão Naruto e Sasuke passaram a fazer ataque massivos em conjunto, atingindo o maior número de inimigos possíveis.

A tática deu resultado, por um tempo, chegou a abrir um princípio de caminho, mas logo o agrupamento em torno deles voltava a crescer, como se outros ninjas surgissem do nada para ocupar o lugar daqueles que eles derrotaram em um ciclo sem fim. Essa impressão levou Sasuke de voltar a Floresta da Morte, enfrentaram um inimigo parecido, mas naquela época o número de oponentes não era nem de longe parecido com os atuais.

Karin ainda estava embrenhada na mata, observando tudo e tentando entender o que estava acontecendo. Todos eles possuíam chakra, mas não eram como os bunshin* que Naruto fazia. Possuíam assinaturas de chakras distintas, sabia que não era um número natural de inimigos para se esconder em uma orla, ainda mais com ela que era sensível a essas coisa. Tinha algo de anormal nessa história, ainda mais porque apesar da individualidade nas assinaturas, o poder deles era efêmero demais.

— Sasuke, Naruto, ataquem só mais uma vez que eu acredito ter chances de descobrir de onde está vindo tanto inimigos — as palavras de Karin foram como uma lufada de ar puro, revigorando-os, os energizando. A perspectiva os impulsionou mesmo que já se encontrassem quase no limite do desgaste físico.

Naruto deu o seu melhor no rasengan que fez e a floresta vibrou com o canto do chidori em um duplo ataque esmagador se Karin não conseguisse encontra-lo, poderia fugir porque ele tinha aberto um longo caminho para ela ir.

— Karin, corra agora! Vá para a Vila — a garota se precipitou, saindo debaixo das raízes que tinha se entocado.

— Sasuke! Eu achei! Achei! A noroeste você vai ver também a diferença — ele fixou seu olhar no ponto em que ela garantia estar o fim daquela agonia.

— Naruto, quando eu chegar lá, faça o seu melhor para distrai-los, enquanto eu acabo com isso.

A adrenalina percorria todo o corpo de Sasuke, impulsionando-o para frente. Assim que Naruto abriu uma fresta entre os inimigos, Sasuke disparou, tão veloz quanto um raio e silencioso como uma sombra. Quando estava prestes a chegar ao local apontado por Karin uma barreira de corpos se formou.

Sim, era como na floresta da morte, o material que o s fazia era o barro, a lama, no entanto diferente daquela vez eles possuíam chakra próprio e isso era intrigante. Usou mais uma vez o chidori para abrir caminho, seu último chidori, podia sentir seu chakra se extinguindo.

Sasuke chegou a frente de um frondoso carvalho a tempo de ver o responsável pelo jutsu se afastar, embrenhando-se na mata densa e deixando para trás as criaturas que naquele momento estavam se acoplando criando um grande inimigo.

Correu atrás do ninja, não podia deixa-lo escapar, até porque suspeitava que esse era um dos interessados em roubar o pergaminho. Sua missão era proteger tal artefato, mas se ele conseguir pegar o nukenin que o desejava tanto ganharia pontos extras por isso, tinha certeza. Com isso em mente, correu o mais depressa que pode, conseguindo alcança-lo a ponto de puxa-lo pelo ombro, porém quando ia ataca-lo uma outra pessoa surgiu, o golpeando na lateral do corpo e lançando-o sobre o tronco de uma arvore.

Ergueu-se em um salto notando que seu novo oponente não era bem uma pessoa de carne e osso, mas sim uma criatura que tinha o corpo moldado com pequenas porções de minerais fundidas entre as juntas, além de formarem estruturas rochosas nas costas. Cada membro dele parecia ser feito de um tipo diferente de mineral.

A estranha aparência dele não era tudo, também era forte e seus ataques não tinham muito resultado, uma das superfícies do corpo daquele homem impedia que seus ataques penetrassem e o rosto em diamante blindava seu ninjutsu. Suas habilidades oculares não serviam para aquela luta, a não ser para prever os ataques de seu oponente.

Não tinha como derrota-lo, um ataque direto não funcionava, nem genjutsu. Sasuke se viu praticamente indefeso, com uma saída, boba, mas que poderia lhe dar ao menos tempo para conseguir ir atrás de seu verdadeiro oponente. Permitiu-se ser atacado, assim que a criatura veio para cima dele, o agarrou pelos braços executando o mesmo jutsu que seu antigo sensei tinha feito em seu primeiro dia de treinamento. Prendeu o bicho na terra, não o bloqueava por completo, mas dava tempo para que Sasuke tomasse a dianteira.

Voltou a correr pela floresta, seguindo o caminho que tinha visto ele fazer. Por sorte não demorou a avista-lo, provavelmente era necessário manter uma distância regular para controlar o essas coisas que ele invocava, nem que fosse para liberar seus chakra até eles. Ao vê-lo o nukenin voltou a se afastar, mas não tinha como escapar dele, Sasuke tinha certeza que conseguiria pega-lo.

— Não! Chega dessa brincadeira idiota, agora você não me escapa — estava prestes a segura-lo quando algo atraiu a sua atenção, na orla de uma clareira tinha outro ninja. Debruçado sobre um pergaminho executando um jutsu que ele desconhecia.

Estava caçando a pessoa errada, estava claro, aquele no chão só poderia ser o manipulador. Desviou do primeiro cara, correndo até o segundo. O seu oponente em primeiro grau tentou impedi-lo, mas deu certo. No final ambos correram em direção a clareira, ao chegar no centro dela um tremor forte de terra o fez cair no chão, um relâmpago e um raio cruzou o céu negro clareando o lugar. O homem que vinha em seu encalço estava caído ao seu lado, mas não foi pelo tremor, ele estava morto.

O pergaminho brilhou incandescente, uma luz que ofuscou a visão de Sasuke, de joelhos tapou os olhos, protegendo-os. Quando abriu os olhos estava sozinho na clareira, a lua brilhava em um céu límpido, salpicado com diversas estrelas. O ar denso tinha sido substituído, não tinha mais sinal de luta ou de inimigos, ao olhar em volta poderia jurar que a floresta também estava relativamente mudada.

Praguejou durante sua caçada e lutas não tinha prestado atenção ao caminho que seguia, Karin tinha dito noroeste, mas fazia tempo que ele já tinha saído dessa rota. Buscou por entre as copas os estragos que tinha feito, buscou por seu amigo que não sabia se ainda lutava ou se tinha arranjado um jeito de conseguir escapar também.

Porém sua procurar foi infrutífera, estava só naquele lugar e a cada minuto mais certo de que de alguma forma tinha sido mandado para uma floresta diferente. Chegou a cogitar que aquilo pudesse ser um genjutsu, tentou se libertar dele de todas as formas possíveis, mas não surtia efeito, seu sharingan nada detectava também.

Em dado momento o ar ficou rarefeito e um frio lhe subiu a espinha. Apesar de nada na floresta parecer o caminho para Takigakure a semelhança do clima que vivenciou em sua batalha o trouxe a certeza de que talvez estivesse perto, aquele jutsu poderia ser de deslocamento, algo que o mandasse para longe, mas estava para voltar. O som de água corrente encheu os seus ouvidos, era difícil ouvir a água de fora da Vila, mas talvez se encontrasse perto dos dutos, nunca se sabe. O que mais queria agora era terminar de uma vez com essa maldita missão.  

bunshin* bunshin no jutsu são os clones das sombras que o Naruto costuma criar.

Página: Fleur D'Hiver