O Caminho da Expressão escrita por GMarques


Capítulo 8
Dependemos de Você.


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal, este é o capítulo de sábado. Talvez não terá capítulo nesta próxima quarta-feira, pois não poderei.
Capítulos passados Marcos foi convidado pelos Contra a ir a uma reunião na qual terá respostas sobre o que aconteceu no C. Educacional, Júlia não estava muito de acordo a princípio com a ideia e Helena se prontificou a ir junto com Marcos.



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Ainda não sei se aceitar esse convite seja uma boa ideia. Eu vivi por muito tempo negando qualquer participação com os contrários mas no fundo sei que se eu quiser respostas, se eu quiser mudar este país, terei de aceitar este convite por mais perigoso que ele seja.

Há duas horas e trinta minutos atrás o alarme que sinaliza o toque de recolher soou, qualquer um que esteja na rua agora poderá ser morto pela Guarda da Verdade. Já estamos prontos para partir.

Helena prendeu seu cabelo em um coque e eu troquei as roupas com as quais cheguei do hospital. Não está tão frio mas peguei um moletom antigo que era de meu pai, talvez me traga sorte. Pegamos uma lanterna pois a rua fica escura durante a noite.

Júlia permanece no canto da sala. Helena olha pela janela para ver se vem alguém por perto e quando confirma que está livre abro a porta. Um vento gelado toma conta do cômodo e Helena sai primeiro, ainda com a lanterna apagada. Quando estou saindo ouço uma voz fraca vinda de dentro, é Júlia:

—Boa sorte.

—Obrigado. Prometo que voltarei. —Amanhã é domingo, nosso único dia de descanso.

—Tome cuidado. —Ela vira o rosto de volta para o canto.

—Tomarei. —Respondo baixo, ela provavelmente não me ouviu mas quero que isso se torne uma promessa, pelo menos para mim mesmo.

—Vamos, Marcos. —Helena me chama, fecho a porta e saio.

Helena liga a lanterna, que falha de vez em quando. A rua está vazia e as luzes da maioria das casas estão apagadas. Precisamos descer quatro quarteirões e virar à esquerda, virar à Rua do Comando. A casa 201 fica no primeiro quarteirão da rua.

Vamos descendo devagar pelo primeiro quarteirão. Uma, duas, quatro casas de distância a minha e nenhuma delas está com a luz acesa. Descemos o primeiro quarteirão, nos restam três agora. Ouço algum som.

—Ouviu isso? —Helena pergunta assustada.

—Ouvi sim.

Quando olhamos mais vemos que entre latas jogadas no chão há um cachorro procurando por comida. Há muitos cachorros por aqui, pois quando houve A Grande Guerra as famílias passaram a soltá-los, não tinham como alimentarem a si mesmos e aos seus animais, os cães se reproduziram e hoje muitos vivem nas ruas.

—Eu tomei um susto. —Helena diz aliviando-se do susto —Vamos continuar.

Faço que sim com a cabeça e continuamos a descer a rua. Neste quarteirão não há ninguém, como no outro. Uma casa à nossa direita está com as luzes acesas, fracas, mas acesas. Continuamos descendo e chegamos ao terceiro quarteirão. É difícil reconhecer as ruas na escuridão mesmo que com a ajuda de uma lanterna.

—Espera. —Sinto uma dor na área onde levei o tiro —Está doendo. —Me sento no chão.

—Você disse que estava bem... —Helena resmunga baixo.

—É só um pouco. —Sinto algo repuxar dentro de mim.

—Você quer voltar? —Helena se agacha perto de mim e pergunta.

—Não. Vamos continuar. —Me apoio nela para levantar e dou um pequeno gemido —Já estou melhor, está vendo?

Helena prende seu braço no meu com medo de que eu caia e eu não nego sua ajuda. Continuamos descendo e chegamos no último quarteirão, já estamos chegando. O desconforto já passou e já estamos perto da esquina. Um barulho de carro soa do nado.

—Apaga a lanterna! —Sussurro e Helena obedece —Vamos nos esconder.

Coloco a touca do moletom e tento me localizar. A luz do carro já pode ser vista e clareia o local. Helena e eu subimos na varanda antiga de uma casa acabada e nos agachamos por ali, quietos a fim de não sermos encontrados.

O carro vira a esquina, é um carro de patrulha da Guarda da Verdade tipicamente verde e com uma coruja cercada de um círculo branco estampada nas portas dianteiras e no capô. Estão com lanternas iluminando a lua, procurando por algo ou por alguém. Se nos virem aqui seremos levados para ninguém sabe onde ou mortos.

A luz da lanterna passa pela varanda e nos encolhemos. O carro da patrulha para, abre as portas e um guarda sai, ele anda e ilumina a casa em frente à varanda. Uma pequena dor volta e me ajeito soltando um pequeno gemido. O guarda se vira imediatamente e coloca a luz em nossa direção, se ele se aproximar vai nos ver. Vem se aproximando cada vez mais, pondo a luz de um lado a outro da varanda quando um cachorro sai de algum lugar próximo. Está escuro mas tenho quase certeza de que é um cachorro. O policial solta um tiro, talvez assustado, e atinge o cão.

—Era um cachorro. —O guarda grita para o carro e para quem estiver dentro dele, dá meia volta e entra.

O carro sobe a rua e quando não podemos mais vê-lo Helena acende a lanterna e saímos da varanda, descemos o resto do quarteirão e dobramos a esquina, chegamos à casa 204, depois 203, 202 e finalmente 201.

A casa está caindo aos pedaços, ninguém quis comprá-la até hoje. Há uma escada de dois degraus até a porta com uma janela ao lado direito. A janela está empoeirada e pode-se ver uma luz fraca de uma vela se aproximando. Olho para Helena quase ao mesmo tempo que ela se vira para me olhar. Subimos os degraus e eu bato na porta enquanto Helena apaga a lanterna.

A luz da vela se aproxima mais da janela empoeirada e um rosto se projeta nesta, é a enfermeira que me entregou o bilhete. O rosto some e a porta começa a ser destrancada. Quando ela abre a porta nos diz para que entremos rápidos e ao ver o cômodo um flash do passado passa pela minha cabeça.

—Não achei que viria, Marcos Merk. —Ela diz com a vela na mão. Não está mais com o coque que usava quando a vi no hospital e ela parece mais pálida à luz de vela —E você é? —Se dirige a Helena.

—Sou Susane Helena Tar mas pode me chamar somente de Helena.

—Helena decidiu vir comigo se não tiver problemas. —Só estamos nós no cômodo —Só estamos nós aqui?

—Não há problemas. Estão todos atrás daquela porta. —A porta leva ao segundo cômodo da casa além deste e do banheiro. Era lá onde dormíamos.

Por que escolheram a minha casa?

Eu não preciso ser guiado, já morei aqui e não é tão fácil se perder em uma casa de três cômodos. À medida que me aproximo da porta a ficha me cai que foi aqui, nesta casa, onde meus pais morreram, como posso estar aqui?

Abro a porta, ela é de madeira e já está bem velha como toda a casa. Atrás desta há um cômodo não tão grande mas também não tão pequeno, nele tem um pequeno grupo de pessoas, com idades variadas, umas em pé e outras sentadas em cadeiras de madeira que parecem estar sendo forçadas pela idade.

Um homem de cabelo grisalho se levanta ao nos ver, ele aparenta ter uns 50 anos e tem marcas de expressões bem fortes.

—Sejam bem-vindos, somos contrários. —Sua voz é rouca e ele fala de um jeito cantado.

—Obrigados. Os Contra se baseiam em um grupo de sete pessoas? —Helena não hesita em perguntar.

—Estou convicto de que vieram por curiosidade. —O homem se aproxima e me abraça, depois se aproxima de Helena e continua a falar enquanto a abraça —Na verdade estamos em 5, e 7 agora com a chegada de vocês.

—Nós estamos por toda Konets na verdade. Somos muitos. —A enfermeira diz —Eu sou Alice Delboni, e esse é Fábio Delboni, meu pai.

—Prazer. Quantos exatamente vocês são? —Pergunto.

—O suficiente para não cabermos em uma casa. —Fábio responde.

—Helena, prazer. —Se apresenta —Nós viemos aqui por respostas. Queremos saber quem foi que invadiu o Centro Educacional e quem atirou no Marcos. —Helena ainda está revoltada e o principal motivo de ter vindo aqui foi por respostas —Foram vocês?

—Você terá as respostas, Helena. —Fico imaginando se a voz de Fábio é naturalmente roca ou se é só algo passageiro —E, primeiramente, é claro que não fomos nós. Foi forjado.

—Eu sabia. Contrários nunca fariam isso. —Digo. Todos me olham, quietos.

—O Sistema quer nos culpar por algo que não fizemos. —Um garoto um pouco mais alto que eu sai de um canto falando —É fácil jogar a culpa em alguém, os GDVs estavam lá fora e não fariam nada se você não tivesse saído e os visse, Helena.

—Esse é o Breno. Ele é novo no grupo. —Alice o apresenta.

—Como você sabe que eles estavam lá fora? —Pergunto sem ligar para "sua apresentação".

—Eu estudo lá também, cheguei atrasado e vi tudo. —Ele para um pouco —Se eu não me atrasasse talvez estaria morto, coincidência?

—Não prova muita coisa. —Helena contesta.

—Você mesmo os viu, Helena. —Ele responde —Além do mais, nós nem usamos armas. Já viu algum contrário sair atirando por aí nas ruas?

—Ele tem razão, Helena. —Ainda tenho que perguntar uma coisa —Por que vocês escolheram minha antiga casa para se reunirem?

—Sempre que pudemos nos encontramos aqui, foi a casa de Joseph. —Fábio explica —E você é o filho dele, não te convidamos por acaso.

—Sim, Joseph Merk é meu pai.

—Seu pai e sua mãe foram grandes contrários, realmente dedicados à causa.

—E foram mortos pela causa. —Sou direto —Para onde levam as pessoas?

—Para longe, talvez para campos de trabalho, nós não sabemos ao certo. —Alice diz.

Há duas gêmeas que só observam a conversa.

—Nós trabalhamos há anos procurando o lugar para onde são levados. —Uma das gêmeas quebra seu silêncio —Eu sou Isabella...

—...E eu sou Isabelle. —A outra fala, como uma continuação da fala da irmã.

—Isabella e Isabelle são nossas melhores espiãs, mas não têm acesso a certos dados. —Chego à conclusão de que a voz Fábio é naturalmente rouca.

—E você, meu querido, tem. —Isabelle se aproxima e diz enquanto acaricia minha bochecha.

—Como assim eu tenho? —Indago.

—Você trabalha no Centro de Pesquisas e Dados. —Isabella comenta —Então você tem acesso.

—Se me pegarem procurando algo a mais eu vou conhecer o lugar para onde as pessoas são levadas pessoalmente! —Exclamo —Não sei se posso aceitar.

—Se ele for pego quem vai cuidar da irmã dele? Ele não pode. —Helena resmunga com as gêmeas.

—Dependemos dele. —Isabella responde Helena —Não é fácil entrar lá dentro se você não é um funcionário.

—Por hoje é só. —Fábio encerra a discussão —Pense bem sobre isso amanhã, Marcos. Me encontre amanhã nesse endereço até antes do toque de recolher... —Ele me dá um papel —...Se você estiver disposto, é claro.

Para voltarmos foi mais tranquilo, sem interrupções. Quando chegamos em minha casa Júlia já estava dormindo. Ajeitei um outro colchão no chão para Helena e me deitei no meu. Não falamos mais nada sobre o encontro desde que saímos de lá e eu não sei se quero fazer isso, invadir sistemas, mas se eu encontrar o endereço de um desses campos de trabalho talvez ache outros e possa encontrar meu pai.


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Notas finais do capítulo

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