O Caminho da Expressão escrita por GMarques


Capítulo 7
Não Aceitar Seria uma Desfeita.


Notas iniciais do capítulo

Esse é o 7° capítulo, isso mesmo produção? Esse capítulo é novinho e já não é editado da história antiga. Espero que gostem, comentem e acompanhem. :)



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Júlia realmente foi me buscar no hospital e chegamos em casa por volta das sete da noite. Ela não está mais com o pulso enfaixado e, pelo visto, se virou muito bem durante a minha ausência.

—Deve ter sido horrível, Marcos. —Ela me ajeita no colchão posto no chão. Por mais que ela tenha insistido que deitasse eu decidi ficar sentado —...Passar por tudo isso...

—Por favor, eu não quero me lembrar de nada. —Perder o enterro do meu melhor amigo já é algo com o qual terei de conviver, manter a lembrança do ataque não é bom.

—Ok, me desculpe.

Alguém bate na porta e Júlia vai atender. É Helena. Júlia a convida para entrar e ela aceita.

—Oi, Helena. —Digo.

Helena se senta numa parte do colchão, ao meu lado.

—Me desculpe por ter saído do hospital daquele jeito, foi muito grosso da minha parte.

—Não, não se preocupe com isso, todos estamos atingidos com isso. —Respondo-a.

—É verdade...

—Helena, você quer alguma coisa? —Júlia pergunta. Ela não pode sair do cômodo, pois nossa casa se baseia nisso, então tudo o que eu e Helena conversarmos ela poderá ouvir.

—Não, obrigada. —Helena recusa.

—Você pode me dizer o que aconteceu depois que você saiu para buscar ajuda? —Não hesito em perguntar —Eu não fiquei acordado por muito tempo...

—Bem, logo que eu saí todo o centro educacional estava morto ou agonizando. Eu desci e quando saí lá fora gritando por ajuda a GDV já estava lá... —Ela começa a chorar, o ataque fragilizou a todos —Pa-parecia... —Ela não consegue terminar.

—Você não precisa continuar se quiser. —Digo, não quero parecer forçá-la.

Júlia observa tudo de longe. Helena retoma, ela quer continuar. Se recompõe e continua:

—Parecia que estavam lá esperando, Marcos. Isso me deixa confusa! —Quando dá sinal que vai voltar a chorar, ela respira fundo mais uma vez —Não acredito que os contrários fizeram isso!

—Não foram eles. Nada passa pela segurança. Eu sei disso. —Lembro-me que tinha uma dúvida a ser preenchida —Helena, como você não foi atingida pela onda paralítica?

—Eu sou uma das poucas pessoas que são imunes aos efeitos da bomba paralítica. Eu fingi cair e quando iam atirar em mim eu lutei. —Ela dá uma pausa um pouco longa —Sabe, ele não resistiu muito, somente foi embora depois de um tempo e poderia ter me matado se quisesse...

—Isso é... —Helena me interrompe.

—Você quer dizer o que se lembra? —Helena pergunta.

—Sim. Eu me lembro de sentir meu corpo, ou melhor, não sentir meu corpo. Eu me lembro do homem que veio e com a arma apontada para mim e me deu um tiro. Eu me lembro de rastejar com uma enorme dor e te encontrar. Lembro-me que depois que você saiu eu desmaiei e acordei quase duas semanas depois no hospital com você ao meu lado. Minha irmã também foi me visitar e depois que saiu um médico e uma enfermeira entraram e... —Eu me lembro do bilhete —...E a enfermeira me entregou isto. —Tiro o bilhete do bolso e entrego a Helena.

Ela lê e depois passa para Júlia sem dizer nada, que se espanta.

—Esse é o endereço da nossa casa! O que vão fazer lá?! —Ela grita.

—Fale mais baixo, Júlia! —Brigo com ela.

—Se alguém descobre que você foi convidado, Marcos, talvez a Guarda da Verdade te mate pelo simples fato de ter aceitado este bilhete. —Helena adverte.

—Você vai, Marcos? Pode ser que seja uma cilada. —Júlia tem um pouco de razão.

—Tenho que aceitar o risco se quero descobrir o que aconteceu e quem fez aquilo. —Um sentimento de ódio me toma no momento —Quem matou Lucas.

—Se você for eu vou junto. Quero saber o que aconteceu, e se necessário me juntar aos contrários. —Helena diz —Mas eu juro que se eles estiverem com um dedo envolvido nisso eu os mato!

—Eu também vou. —Júlia diz. —Se forem para vocês se juntarem também assumirei o risco.

—Não! Nunca me perdoaria se algo acontecesse com você. Você fica aqui.

—Eu tenho o direito de ir! —Júlia grita.

—É para o seu bem! Você sabe o que aconteceu com nossos pais, Júlia. Só quero te proteger.

—E a você? E a você, Marcos?! —Ela abaixa o tom —Quem vai te proteger? —Ela se vira e senta no outro canto do cômodo e não chora mas também não diz mais nada.

Em parte Júlia tem razão, eu posso até protegê-la, mas quem me protegerá?

—Afinal, você vai? —Helena pergunta baixinho.

—Não aceitar seria uma desfeita. É claro que eu vou. —Digo em um tom natural. —Seus pais não vão se preocupar?

—Meus pais não vão se preocupar comigo estando aqui. Eles sabem que eu viria para cá. —Fala.

—Então está certo. Às 22:30 partimos.

—Você está bem o suficiente para irmos? —Ela se preocupa —Sabe, você levou um tiro e passou por uma cirurgia...

—Estou sim, a R. do Comando não fica tão longe daqui. —Por mais que seja perto, tanto eu quanto minha irmã sempre evitamos passar por ali pelas lembranças que o local nos traz —E uma enfermeira me deu o bilhete, acho que ela sabia que eu estava bom o suficiente.

—Está certo.

Júlia ainda permanece no canto, encostada. Quando ela era pequena costumava ter o cabelo castanho igual ao de nossa mãe, mas conforme seu cabelo cresceu ele escureceu mais, e hoje o preto combina com seus olhos méis puxados de nosso pai. Eu sou o inverso a ela, meus olhos são pretos iguais aos de meu pai e meus cabelos castanhos iguais ao de minha mãe.

Foi difícil quando nossos pais morreram. A mãe de Lucas foi quem nos acolheu inicialmente, ficamos por um ano com ela, pois seu marido não era muito receptivo. Foi ela que nos ajudou a comprar essa casa e quando ela morreu pude sentir como Lucas se sentia, pois sabia a sensação da perda e tinha um afeto com ela também. Júlia demorou muito para se recuperar, só se estabilizou totalmente ano passado, foi duro para nós dois lidar com tudo isso.


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