O Caminho da Expressão escrita por GMarques


Capítulo 6
O Acordar de uma Eternidade.


Notas iniciais do capítulo

Aqui está o capítulo de sábado, espero que gostem.
Estou excluindo a antiga história (Expressar), os capítulos postados depois desse são novos.



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Dois homens,

duas pessoas,

duas crianças

e uma arma.

Uma bela mulher estava agitada e um homem tentava acalmá-la. Eles não seguiram o que queriam, eles faziam tudo em grande segredo, queriam proteger seus filhos, esperavam que o futuro, se lutassem, fosse melhor. Ela dizia: "Descobriram-nos! Eles nos descobriram!"

Duas crianças observavam quietas e calmas, como se nada estivesse acontecendo. Um garoto e uma garota, um de nove e a outra de seis.

O homem está chorando agora, as duas crianças começam a se preocupar e o garoto tenta acalmar a menor. "O que houve, papai?". O homem que já se mostrava em prantos, abraçou os dois profundamente. A mulher estava agitada, ela olhou pela janela. Alguém estava lá fora!

"Papai? Mamãe?"

A mulher põe-se no meio do abraço e todos começaram a chorar. A pequena garota está frustrada. Os pequenos não sabem o que está acontecendo. Eles não sabem!

Do outro lado da porta, dois homens a agridem. A chutam. A massacram. A porta se parte, e gritos começam a ecoar pela casa.

"Não! Não machuquem meus filhos!"

"MAMÃE!"

"PAPAI!"

A mãe é empurrada, e um cenário de guerra se projeta diante dos pequenos.

"BOOM"

Um tiro.

A mulher está no chão.

"MAMÃE!"

A pequena está desesperada.

O homem abraça o filho e lhe diz uma curta frase para a criança que está imóvel com a cena:

Non credete a loro.

E diz por último, para que ele entenda, a tempo de não ser morto:

"Não acredite neles."

O homem é puxado e é levado a um carro. A mulher é deixada estirada no chão. E após os homens terem ido uma mulher entra na casa e os tira de lá, antes que voltassem. Ela sabia que ninguém gosta de testemunhas.

~~~

Eu acordo gritando, estou deitado, posto numa cama de hospital. Há curativos e máquinas por todos os lados, mas isso não me impede de sair da cama e cair de cara no chão para gritar. Foi tudo um pesadelo. E eu queria que isso só tivesse sido um pesadelo um dia.

Uma equipe de enfermeiras e médicos entra no cômodo e tentam me conter, eu estou gritando e me debatendo, estou assustado e é a única coisa que achei para fazer. Uma das enfermeiras pega uma seringa com uma agulha gigante e a enfia nas minhas costas e imediatamente o veneno, que seja, da seringa me hipnotiza e me faz dormir.

Dessa vez eu não tive sonhos, mas acordei com uma agonia enorme, e desta vez, se eu tivesse mais um surto, eu não iria me mover, meus pés e minhas mãos estão presos à cama, me sinto como se tivesse acordado de uma eternidade. Olho mais o quarto e vejo que agora Helena está do meu lado, está sentada de cabeça baixa e sua aparência não é a mesma, seus cabelos ruivos estão totalmente bagunçados e seu rosto, de lado, está um pouco machucado.

—Você acordou. —Ela só levanta um pouco a cabeça para me olhar mas depois permanece de cabeça baixa —O médico disse que foi um milagre você ter sobrevivido.

—Acordei. Mas preferia não ter acordado.

—Algo contra mim? —Ela vira seu rosto para mim.

—Não, você entendeu errado. —Ela levantou a cabeça.

—Marcos. Não podemos mais suportar isso: o mundo desse jeito!

—Fale baixo! —Helena se levanta e me desamarra e tento me sentar na cama, ainda dói um pouco —Como faríamos isso? É impossível. Ninguém nunca sobrevive, isso é mito.

Podemos ser os primeiros. Pelo menos seremos lembrados por tentar.

—Helena, o que te deu na cabeça?

—Eu não sei. —Ela se senta novamente e abaixa a cabeça.

—Ninguém nunca foi e nunca será lembrado, Helena. —Dou uma pausa para respirar —Eles escondem tudo. O sistema não se revela a nós quem é o líder, por que diria quem foi o líder de uma... —Procuro a palavra certa —...Rebelião?

—Pare de falar. —Ela começa a chorar. Parece estar muito frágil.

—O pai de Lucas já sabe o que aconteceu? —Falo em baixo tom de voz.

—Cale a boca Marcos!

—Me desculpe. Eu deveria ter ido no lugar dele. —Olho para baixo, para os meus pés —A sua mãe nos ajudou a mim e a minha irmã quando meus pais morreram. Sou grato.

—Cale a boca Marcos! Não diga isso! Olha o que fizeram com você! Ninguém mereceu isso. —Ela levanta a cabeça e um sentimento de raiva se mistura a dor —Malditos Contras!

—Não eram contrários. —Digo porque sei.

—Eram sim! Ele gritou o bordão deles!

—Não. Contrários não gritam aquilo. —Meus pais participaram do grupo Contra, mesmo sendo eu pequeno na época quando meus pais faziam reuniões em casa eu pude ouvir muita coisa, mas nunca aquilo —Era uma farsa e foi forjado. E contrários nem se vestem daquele jeito.

—Foi algo muito realista para mim. Não foi farsa, aceite. Seus pais entraram para o grupo errado.

—Antes do meu pai morrer, ele me disse para que eu não confiasse no sistema e eu lembro disso claramente, até hoje. Helena, meus pais não eram assassinos... Eles lutavam por liberdade.

—Chega Marcos. Devem estar nos ouvindo... —Ela se levanta —...Se já não ouviram tudo.

Helena vai embora. E eu fico pensando em tudo o que ela disse e principalmente em Lucas, ele era um bom amigo, mas devo, devemos ser fortes.

Não demoro muito para cair no sono novamente. Sem sonhos ou pesadelos, somente tive um bom sono, algo que eu precisava há muito tempo.

Acordo com a porta abrindo e com um médico com cara de sapo. Ele começa a me chamar, e começa a mencionar sobre alguém que veio me ver.

—Entre. —Ele dá a ordem para pessoa que veio me ver entre e sai da sala. É minha irmã.

—Ó meu deus! Marcos! —Ela corre em direção à cama e me abraça. Parece bem.

—O que fizeram com você? —Ela me solta.

—A questão é quem. Quem fez isso comigo, Júlia?

—Eu sinto muito. —Ela abaixa a cabeça —Mas olhe, o médico disse que você poderá sair do hospital ainda hoje.

—Tão cedo assim? —Não sou médico mas acho que quando alguém leva um tiro não fica somente um dia no hospital,

—Você não sabe por quanto tempo dormiu, não é?

—Foi muito?

—Por umas duas semanas. Eu vim te visitar várias vezes.

—Inteiras?

—Desisti de contar.

—Como você está sobrevivendo? —Isso me incomoda —Como você está se alimentando, hein? Julia?

—Calma! Beth está me ajudando, —Beth é nossa vizinha —e nós temos um pequeno estoque de comida, aliás que...

—Aliás? —Interrompo.

—...Que eu consegui um emprego numa padaria. —Ela abre um sorriso —Para te ajudar.

—Como? Você é muito nova para trabalhar!

—Você começou a trabalhar com dez anos e está me dizendo que sou muito nova, e eu só estou ajudando a fazer massas. Só. Não se preocupe.

—O meu caso era diferente... —E realmente era, ou eu trabalhava ou nós morreríamos de fome. —Não sei como vou pagar este hospital, Júlia... Não temos dinheiro.

—O governo pagou. —Não parece ser verdade o que ela diz.

—Já vi pessoas morrendo sem atendimento por coisas banais. Por que ajudariam agora? Não faz sentido.

—Também acho que não faz algum... Marcos, eu preciso ir. —Ela muda o tom —Se eu não for vão nos roubar de novo, sabe?

—De novo? Como assim?!

—Eu volto para te buscar, tchau. —Ela me dá as costas.

Júlia vai embora e me deixa um tanto quanto orgulhoso, ela está crescendo. Mas quantas vezes pudemos ser roubados em duas semanas? Isso me preocupa também. O médico entra de novo e junto com ele uma enfermeira. Ela tem cara de gente boa, finge que está anotando algo em uma prancheta e quando vai medir a minha pressão põe um papel próximo a minha mão, um bilhete. Ela mede minha pressão e, indiretamente, diz ao médico:

—Está tudo anotado. —Finge que é para o doutor e se retira. O médico vai atrás.

Quando os dois saem, eu mexo minha mão e trago o bilhete para mais perto e leio:

Se você quer saber a verdade

encontre-nos 23:00

R. do Comando, n°201

tome cuidado com o toque.

–C.

Esse é o endereço da minha antiga casa, onde minha mãe morreu e meu pai foi levado. O toque é o toque de recolher depois das 20:00. E eu sei muito bem o que o C assinado significa: Contra.


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Notas finais do capítulo

Comentem, eu não mordo mas sim respondo a todos.



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